Vou por teu texto para cozinhar
Porque é assim que textos nascem,
Eles cozinham
E eu vou esperar
Com toda a paciência do mundo
O forno apitar
Pra me avisar que está pronto
No fundo o despertador sou eu que aciono
Aí, eu vou perceber
Que me enrolei mais uma vez na tua teia
Carregada de purpurina
De todas as cores
Conheço uma criança que teria adorado
Nada disso é digno de texto
Ninguém sabe que as vozes
Que escrevem em itálico
Coexistem comigo
E não são eu
Mas nós existimos
Vou me distrair
Enquanto tento borbulhar
O corrosivo molho de tomate
Que dá alguma graça pro macarrão
Talvez assim,
Se eu conseguir engolir a raiva
E meu estômago fizer a digestão
Talvez eu esteja curada
Você consegue fazer melhor que isso
Não, eu não consigo,
Eu não posso, não posso
Não, não, não
O que é que você está fazendo?
Eu não sei
Eu não faço ideia
Não vai ser esse hoje
Não vai ser esse agora
Porque a comida e os textos
Desandam
E queimam,
E passam do ponto
Ou estão sempre crus
Como eu, quando se trata de você.
Eu não sei cozinhar
Como sei escrever
Eu não sei amar.
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