Sei da tua fuga,
Sei dessa purpurina
Que tu joga por cima
Pra enfeitar tua desgraça.
Sou tudo isso.
Sei da tua necessidade
De declarar-se
Tantas coisas,
De agir, montar,
E colorir todo de preto
O teu cenário.
Sei,
Entendo.
Tenho também
Tuas mágoas.
Tenho também
Teus medos.
Tenho também
Tuas vontades
E teus impulsos.
Conheço teu egoísmo,
Finjo que não.
Conheço a tua farsa
E te apresento a minha.
Pena que eu sou tão visceral
E tão honesta nas minhas mentiras.
Pena que não manifesto a tua indiferença rude,
Porque ela não me cabe.
Pena que me dilacera
Toda forma de expressão tua.
E me ataca, borbulha, mergulha em agonia
Tudo que eu sou enquanto existo.
Enquanto gosto de você.
Porque não me doi nas horas certas,
E não me cura nas horas vagas.
Porque não me conhece e não me procura.
Porque não me ama, e negligencia.
Porque se satisfaz,
Te odeio profundamente.
Alimento ódio pela tua existência
Como quem põe carvão no fogo.
Suja tudo e queima,
E queima, polui.
Até morrer.
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