Não sei quando você nasce.
Você costumava ser doce;
Talvez tenha sido o momento
Em que eu te abri a cabeça,
com uma pancada a ferro
e o peso de meu corpo
ainda bem pequeno, porém,
o seu ainda menor:
Foi um dia vermelho.
Em que mundo eu te conheci?
Quem você foi antes de eu te matar?
Antes de eles te alcançarem?
De corromperem seu espírito
em uma nuvem letífera?
Quantos anos você já era
quando decidiu que queria ser isto?
Nunca te conheço.
Nem meu sangue,
nem meus ante-nomes,
Menos ainda tua mente,
O que te move,
O que me adormece
ou me embriaga
Teus sussurros e
códigos malditos
O que dá carga aos teus punhos,
contrai tuas mandíbulas
O que te inspira o roxo que as causa,
E os versos que me expele,
E o silêncio que me aprazes,
Frio como a superfície do gelo
fazendo-se uma cola sobre a pele humana,
tentando arrancá-la,
Vazio e distante
Qual o pico do breu da madrugada
De lua nova
Onde a única coisa que se ouve
É um nada tão alto, tão imenso,
Tão sonoro,
Que é quase tateável na brisa
A frequência dos cacos do meu espírito
Se partindo
Antes que eu me parta.
...
Mas você não notaria, não é?
Você não nunca soube meu nome.
Nunca me viu nascer.
Quando você chegou,
meu mundo já era, e continuou a ser.
Eu te convidei
inúmeras vezes;
Você quase veio,
mas nunca entrou.
Talvez você tenha tentado,
Eu nunca vou saber
se aquilo foi uma tentativa
de uma invasão
Você não me compreendia.
Eu sentia que sim
Mas era eu que enxergava seus olhos,
E não o contrário.
Eu sempre cometi esse mesmo erro.
Muito você compreendia.
Mas nunca compreenderia
que eu compreendia igual.
Que eu era um espelho estranho da sua existência.
Ao seu ver eu era um extra– :
um extra-vila,
um extra-território,
um extra-associado,
um extra-terráqueo.
Eu nunca soube se
Algum dia você realmente
quis me descobrir
Ou se você estava
tentando me demolir.
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