quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Saco cheio, estufado, rasgando

Aqui no meu quarto mora um silêncio insuportável.
Eu tento ligar o ventilador.
Eu tento cantarolar.
Mas não aguento mais a minha voz.
Vou para a sala,
Ligo a TV.
A TV me irrita.
E a minha família, e todos os barulhos,
E toda a companhia.
Tudo me irrita.
Enxaqueca na certa.
A luz da sala é forte demais.
Telefone,
Eles falam demais.
Aqui no meu quarto, é só silêncio.
E o silêncio é bom quando eu entro.
Depois eu odeio o silêncio,
E tudo mais.
Eu odeio acordar de manhã.
Eu odeio ir dormir de manhã.
Eu odeio ir à escola.
Eu odeio a internet.
Eu odeio as paredes,
E odeio estar fora delas.
Eu odeio o fato de o meu quarto não ter janelas.
E tenho ódio de quando faz sol.
O silêncio é a morte,
O barulho é a morte também.
Eu me alimento mal.
E me irrita o tanto que estou engordando.
Me frustra o fato de eu não gostar de exercícios.
De ter tanta, mas tanta raiva deles.
E saber que eles são uma ótima maneira
De tirar essa raiva de mim.
É isso.
O silêncio do quarto
Grita com meus pensamentos.
Pensamentos que eu não quero ter.
Não quero pensar.
Nem trocar mensagens fajutas.
Quero dormir.
Ou morrer.
Dormir.
Dormir e não precisar comer nunca mais.
Não falar com ninguém.
Definhar.
Eu não aguento mais toda essa agitação dentro de mim.
Não aguento esse estresse.
Não aguento esse tédio.
Não aguento esse desgosto por todas as coisas que existem.
Não aguento o vestibular.
Não aguento o enem.
Não aguento ficar toda hora buscando coisas para aguentar.
Não aguento esse desânimo todo.
E a rotina.
Que nojo dessa rotina.
Que nojo de ter que pesquisar sobre o descarte do lixo.
Eu devia era me descartar.
Num rio.
E deixar os peixes me devorarem.
Eu devia me matar logo,
Antes de precisar viver com isso tudo.
Que saco.
Que merda de vida.
Sem graça,
Chata,
Insuportável.
Estou cansada disso tudo.
O tempo todo.
Estou cansada.
Todos me odeiam porque eu odeio tudo.
E ninguém entende.
Ninguém entende o fato de eu odiar tudo,
E de achar tudo um saco.
Eu tinha que gostar.
Tinha que gostar de tudo, da vida.
Eu tinha que ser otimista,
E fazer o meu dever de casa.
Bom, a vida não é justa.
Nem a morte.

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