Não vou beber
Das tuas lágrimas,
Ou do teu gozo.
Nem engolir teus medos, cega.
Nem temer-te, e à morte.
Não vou beber o meu desejo insano.
Ignorar o desespero
É tudo que eu tenho.
E sempre que eu venho retomar-me,
Já não estou.
Não saio desta vez.
Fico comigo.
Para não beber o que me mata.
Para não beber palavras vis
Daqueles que bebem,
E nos dizem para não beber.
Sóbria, a vida já não sorri
A nenhuma das almas,
A nenhum dos corpos fajutos.
Nenhum dos copos é justo.
Nenhum dos goles é bom.
Beber-te já não me é cabível.
Já não é possível me perder em ti,
E em mais nada.
Já não posso duvidar da mágoa.
Já não posso senti-la, de fato.
E não posso mais dizer que me mato,
Nem por ti,
Nem por ninguém.
Porque a morte é vã.
E nem os baldes analgésicos me salvam
Da falta de fé,
Ou da insípida necessidade de viver.
Não bebo.
Como se houvesse um amanhã.
Como se tu não tivesses existido,
Em parte alguma.
Como se eu pudesse de fato
Ser feliz com uma limonada,
Na calçada de domingo,
De manhãzinha apreciando o sol.
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