Hoje o dia está estranho, quente.
Quente. O meu útero borbulha, e o sangue escorre grosso de mim.
O aborto nosso de cada mês.
Apesar do babaca que tenta reprimir a minha única forma de me expressar,
Comprei tintas. Tintas novas, para pintar um novo dia, chuvoso.
Que faz falta. Está muito quente mesmo.
O suor escorrendo na testa, e a morte iminente no centro ósseo dos pés, inchados.
Ao que parece, eu fui martelada em ordem crescente do umbigo aos dedões dos pés.
E o meu bebê grita. Vomita dentro de mim. Vomita raiva.
Me sinto doente. No inferno.
Há coisas boas e alimento. Preciso de água.
Água, muita água. Pra não desmaiar no concreto em brasas.
A solidão de hoje esfola a sola da vida. Dilacera.
O ir e vir mentiroso doi mais por fora do que por dentro.
Internamente eu deito em azulejos frios, e vou desvivendo aos poucos.
Durmo para sempre. Sem força, sem vontade, sem nada.
Ficam meus quadros para trás. Que sirvam de lenha no inverno.
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