Mata-me.
Mata-me, para que eu não mais possa apaixonar-me por ti. Por teus cílios e pelo desenho da sustentação de sua coluna, curva.
Mata-me para que eu não mais tenha a dolorosa liberdade de reescrever-te em mil formas. Minha pele encontra-se gasta, de tão arranhada por teus olhos. E como doi.
Devora-me de uma vez. Digere-me. Para que eu possa enfim desatar-me desta farsa, onde tu finges que me toca enquanto delicio-me de ar.
Mata-me, amor. Para que eu não mais pinte quadros, para que eu possa me livrar da arrogância de desejar-te - em parte - só a meu sabor.
E para não mais beber, ou debulhar-me em sonhos, ou acordar vazia. Faça-o porque disseste que me amas. E também porque mentiste para mim.
Mata-me, porque é tua a responsabilidade do tanto que eu sofro desde que me impuseste a vida.
Se me tens respeito, se me consideras digna do teu teatro.
Pega a tua faca cega, com que me castiga em teus breves intervalos, e mata-me.
Não me importa se a tua preferência é reclinada à garganta, ou aos pulmões. Se preferires, estaca-me o peito.
Ou busca a tua corda, amor. Faz como for do teu requintado gosto. Peculiar.
Mas mata-me.
E não te demores, se não o faço eu.
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