Você falou dos meus cabelos cheios
Dos meus seios fartos
E da minha rebeldia
Que você admirava
Cego
Você pregou as minhas mãos no asfalto
E disse:
"Voe alto"
Enquanto você descia
Me dizia sobre como queria
Ter o meu bendito útero
"Ah, que lindo"
Idealizava, burro
Convencido
Você não fazia ideia,
E ainda não faz,
Do tamanho da dor do parto
E das minhas noites mal dormidas
E do silêncio do meu quarto
Rodeado de você
E é isso todo dia
Você não entendia antes,
Não entende agora.
Você sempre mentiu sobre quem eu era
Pra você mesmo, pro espelho
Pra deus, e sei lá mais pra quem
Você amou a minha irreverência explícita
E me humilhou, ignorou, abandonou
Como se eu não ligasse
E eu ligava
E isso te deu ódio
Porque você era uma farsa
E eu era uma farsa pra você
E você me adorou,
Me masturbou a alma,
Me iludiu,
Me fez de um trapo colorido
Pra limpar o resto de gelatina da mesa
Você sempre tinha certeza
Do que era o certo a se fazer
E eu estava errada
Quase sempre só porque eu não sabia
Você me recriou e me partiu ao meio
Dois corpos gordos no meio da estrada
Estirados
E era tudo tão feio quando
você gostava quanto quando
você não me dava bola
Você fez o que bem quis
E ainda espera algo de mim
que eu não tenho
Eu acabei de te conhecer
Foi ontem, e você era magro,
Impessoal e indomável
E você fez mais uma metamorfose tosca
Eu sempre aprendo contigo, todo dia
Você é sempre tão estranho
Tentando me matar todas as vezes
Eu quero te torturar dessa vez
Te desenhar a pele toda
Calar a tua boca maldita
E revistar o teu avesso, pra ver se sobra algo de bom
Será que você vai mesmo continuar destruindo tudo?
E eu, será que continuo te adorando
a três planetas de distância e de frieza?
Não há desespero que te cure menino
Talvez a morte te devolva a ti mesmo
E talvez a felicidade te roube de mim
E se for, vá.
Não fique, não amole, não esfole.
Seja como for não me obrigue a ser você de novo.
Doi.
Doi que você seja quem é
E que eu seja quem sou.
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