Me puseram por engano em um corpo humano.
Talvez não tenha sido tão por engano assim.
No fundo não passo de uma borboleta.
Minha alma é pequena e breve.
Como a alegria.
Não deveria durar mais que dez anos.
Era esse o combinado.
Uma borboleta nunca estaria pronta para viver mais que isso no corpo de um humano.
Nunca aceitei o fardo que este carrega.
A culpa das intenções ruins ou os pecados da falta de ética.
Nunca entendi ou soube lidar com a complexidade dos sentimentos humanos, ou com o tanto que essa espécie de vida pretende durar.
Minha identidade nunca pertenceu a esta espécie.
Mas meu corpo sim.
Minha alma é pouca para tanta carne.
Esse mundo é incrivelmente interessante e novo, mas aos dez anos eu tinha toda a existência de que precisava.
Agora tudo só pesa. Já não posso voar.
Eu nunca nasci com esta previsão de vida tão interminável.
Tudo que eu podia fazer de bom já foi feito,
Agora o cálculo sempre cai pro lado feio da balança.
Eu devia morrer o quanto antes.
Minha idade está exausta a esse ponto.
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