sábado, 21 de março de 2015

Cadeado

Todos os casais eram Talita e Miguel.
Todos os casais eram eu e tu.
Mas nós dois morremos.

Ah, querido.
Este vazio não me cabe.
Essa vida não me pertence,
Nem essa existência.

Como me doi esse vácuo
Onde deveria estar o amor.
Esse buraco me suga,
Me rasga, me seca.

Eu quero morrer,
Eu quero morrer.
Não mente pra mim,
Não inventa que eu posso ser salva.

Não me escreve cartas de amor,
Poemas.
Não fala comigo.
Eu quero ficar só de verdade.

Não quero.
Eu quero ser amada como ela.
Como Talita,
Como Miguel.
Quero ser amada como eu já amei alguém,
Não amo mais.

Mas eu podia, eu podia.
E eu luto contra isso todos os dias,
Até me aparecer alguém pra me desmoronar.

Foi ela,
Foi ele,
Foi tu.

Há sempre alguém pra me bater o peito
Gritar comigo
"Me ame! Me ame agora!"
Mas eu não quero amar sem ser amada,
Não quero ser abandonada aqui de novo.
Não depois de você.

Me deixa ir embora,
Me deixa morrer em paz.
Estou tão triste,
Da tristeza você gosta,
Agora.

Mas eu só quero ficar bem.
Eu só quero tudo aquilo que eu sempre quis.
Eu quero ser quem eu era,
Quero sofrer pelas coisas certas.

Eu quero me resgatar de mim
(eu nunca vou conseguir isso sozinha).

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