quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Lar

A população da minha casa me assombra
Família
Que diabo de nome é isso?
Não tem estilo com comida no prato — e olhe lá
Eu queria um pouco de paz
Rogo
Não sei se desacostumei
A conviver com os demônios de alma
Que os de pele e carne eu tô aqui vivendo
Pregando baixinho baixinho
Meu nome na cruz

Quase não como hoje
Vai ver comi e esqueci
Que aqui só tem isso
Dinheiro e comida
Às vezes eu deixo lá pras formigas
As traças tomaram conta do meu quarto
É mais delas que meu agora
Acho que elas tão vindo me devorar

Eu tenho medo que essa casa é velha
E quando eu tomo banho escuto coisas
E quando eu tô dormindo rompem gritos 
E há um momento em que não mais me lembro
Se de fato tenho onde morar 
Se moro
Se tô no meu corpo viva
Se eu vou acordar

As pessoas-paredes
Toda uma extensão etérea de sons
Reverberados na acústica
Os outros daqui me assustam
Não sei se partir me some
Se ficar me mata
Nem sei se existo ou se há de fato
Outra voz além da minha mesma
Sei que não gosto daqui