domingo, 24 de julho de 2022

Carvão Ativado, Lembrol

Triste me deito
Alguém escreveu
Esperava uma poesia
Fiquei no ponto
Outro dia comecei um texto
Agora me lembro
De ter me esquecido
De como esse texto era
Precisava adormecer
Aceitei o luto
Um entre tantos
Definho no leito
Me doem as tripas
Escorre de mim
Até a última gota
Sonhei que ela me trocava
Por outra uma das trevas 
Em uma convenção de bruxas
E todas perdiam identidades
Abraçava o Sinistro numa casa invadida
Assustava o Papa
Em ambiente remoto
Eu prometia ir a uma farmácia
Comprar fatiadoras novas
E tentava vestir uma capa do alto

Ficava presa num plástico, num círculo,
Roubava uma tesoura, e era abusada nua 
Sexualmente 
Enquanto doente e desorientada, 
que pedia socorro

Minha cronologia debocha de mim
A semântica me vê uma grande piada
Um grupo se junta com a perspectiva 
Egocêntrica de 5ª série
E me deseja a morte
Me sinto na escola

A linguagem não me reconhece 
A psicologia não me reconhece
A minha família não me reconhece 
A minha história não me reconhece
Eu não me reconheço no espelho
Eu não me conheço nas minhas memórias
Eu sou invisível aos outros
Eu sou um silêncio que faz barulho demais

Eu não existo 
Me deito
E tento deixar de existir 

quinta-feira, 14 de julho de 2022

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Chapéu e a Matilha

O começo dele tinha gosto de fim
Tinha gosto de que eu queria que fosse o fim
Eu vi o brilho no negro do olho do lobo
Por dentro de meus olhos fechados
As folhas secas se ralavam no cimento da calçada
E ninguém entendia
O que eu tentava dizer aos gritos
Em desespero
O que eu tentava dizer em silêncio grave
O que eu calava com meus próprios braços e mordaças
E minhas inúmeras e vãs tentativas
De não ser ignorada
Meus fragmentos
Minhas amnésias
Minha literal e lateralidade
Meu preto no branco no preto no branco no preto no meio do caos
No meu apocalipse
E a minha ilha
E como o oceano que a cercava era tão imenso, mas tão imenso
Que eu nunca iria conseguir escapar 
De todas aquelas lágrimas

E como eu sou a minha ilha, e não apenas vivo nela
Não posso deixá-la
E como não existo fora deste faz de conta
E como fantasias não são reais
Nem eu, nem o lobo
Somos reais
Eu não existo
Por mais que eu tente muito existir
Eu não consigo
O mundo não tem espaço pra mim
Não me cabe
Não me ouve
Não me compreende
Eu não passo de uma coletânea de personagens

Uma série de histórias que ninguém nunca vai contar.