sábado, 31 de maio de 2014

Crush

Manda e desmanda em alguém que tu não conhece.
Salienta a minha alma e inquieta a minha mente.
Dá a ela uma esperança que ela não merece.
Me desfaço pelo vento como se não fosse gente.

Chibata, acorrenta, e deixa ao acaso.
Tudo que vejo é um enorme descaso.
A faz de idiota, e encanta com medos
Não é verdadeiro nenhum dos segredos.

Te minto
Me finges
Dançamos
Caímos

Caio eu,
Aos pés
De um estranho
Nem mesmo me acanho
Nem mesmo me apanho de volta

Não vou cair morta
Só caio dopada
Só deito feliz

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Perdas

Mais um cigarro perdido.
Onde se encontra amor?
Mais uma dose de veneno.
Sem açúcar, por favor.

Nem meus fios de cabelo
Estão podendo me aguentar
Te recuso esta dança
Já não quero me matar.

Anda logo, novidade
Vem me tirar desse breu
Estou fugindo de todos
Me mande algo só meu

Já não sei o que mais eu posso perder

- Você se preocupa demais com as coisas. Puta que pariu, menina, como você vive?
- Eu não vivo. Nem tenho essas pretensões.

Pedi ajuda a uma magia de papel e até o tarô chinês me disse que eu sou um fracasso quando se trata de você.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Poeira

  Hoje seus olhos já não me foram convidativos, nem mesmo perturbadores. 
  Senti um suave desgosto pela sua existência, mas nada desabou em lugar algum. Meu ponto final pendulou no céu, e estava entregue. Como um coração que saísse pulsando pela guela acima, por cerca de um minuto e meio.
  Não me atrevi a tocar-te, ou mesmo deixar escorrer de mim qualquer resquício de afeto. Restou apenas uma simpatia elegante de letra maiúscula iniciadora de capítulos. E é assim que deve ser.
  Você deve estar na página seguinte como mero enfeite ilustrativo, como a sombra da árvore número três na floresta incrivelmente interessante em que alguém fez o favor de se perder - para que assim houvesse algo a ser escrito. Não tronco, nem flor. Nem vento, nem borboleta. Apenas uma folha de inverno, caída entre outras mil. Vírgulas do meu passado, e no seu caso apenas um ponto necessário no lugar das reticências.
  Um contexto a ser modificado. Um instante ultrapassado no ritmo disforme em que eu sinto a vida.
Hoje você durou apenas alguns segundos. E não tardando muito para esta memória se derreta incolor nas minhas veias, escrevo mais um adeus às tuas coisas.

  Expiro-te do meu pulmão, e segue uma tosse. Só há fumaça onde você está. Minha mente há de superar essa poluição.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Duas trocas de olhares

    Os dois trocamos olhares. Nós poderíamos naquele instante explodir o mundo através de nossas mentes inquietas. E tomando conhecimento disso, eu desabei. Desabei como os casarões cariocas da época colonial, cujas belas fachadas imponentes escondem a desestrutura de seus alicerces comprometidos. A cumplicidade instalada na posição daquela perna magra, que permitia uma conversa silenciosa, era capaz de morte. Uns poucos segundos de uma irreal existência mútua, e estaríamos os dois em retorno absortos na burocracia da vida. Ele estaria, ao menos. Seria mais honesto de minha parte descrever apenas a ele como um ser capaz de tal concentração. Era como se o apocalipse não o alcançasse e nem mesmo abalasse a sua sombra. O sorriso repleto de uma ironia irreverente, e porém disfarçada, era só mais um sinal de que não estávamos nem de longe em sintonia. Perdêramos-na havia tempo. E como se fosse o único bem que tivéssemos perdido, naquele momento este parecia de uma importância insuperável. A autencidade daquele gesto se ausentava de tal maneira que me doía. Me doía no pouco que restava de concreto em minha definição. Rachava-me as bordas e corroía-me os meios. Ter seus olhos em encontro aos meus era um suplício inimaginável às testemunhas daquele diálogo invisível.
    Fui-me cambalhoteando meus próprios passos, como se buscasse o ar que ele me arrancara sem a menor misericórdia. Implorei por demônios que me atordoariam os pulmões e busquei alguma redenção no colo de outra alma perturbada. Afinal, naquela tarde tudo me parecia feito de açúcar. E mesmo que a chuva se negasse a desabar impiedosa em meu caminho, podia-se ver o tudo que estava prestes a diluir e me abandonar. No fundo era apenas triste ter que aceitar o que já não existia no mundo que eu havia modelado.

domingo, 25 de maio de 2014

Eu aceito

Ignoro-te.
E tu morres em mim
Enquanto eu morro em ti.
E os nós desatam-se.

Despeço-me.
Dos teus abraços.
De tuas palavras.
Despeço-me da tua sombra.

Aceito-te em ausência não informada.
Prossigo.

Recupero a minha fala.
E a minha vida.

Mato-te.

Resgato-me.
Do escuro.
Do abandono.
E de ti.

Vou-me.
Já fui.

E compreendi.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Luzes

Fui tão fundo no meu emocional que me surgiu essa coisa. Como se o sexo fosse me salvar, limpar a minha alma. Tomei ao menos uma decisão correta e me nasceram respostas nas sinapses. Minha libido está esparramada num colchão de água, rindo feito uma louca de felicidade. É algo que eu não entendo, realmente. Eu me sinto honesta. Eu me sinto eu. E isso é verdadeiramente incomum. É tempo de me organizar, realinhar esse caos que se instalou dentro de mim. Creio que foi tudo sua culpa, mas tudo bem, eu vou superar. Eu vou superar você, e também esse meu desespero por ser aceita. Eu já fui aceita. Só preciso voltar a lidar comigo. Como eu fazia quando estava contigo. Eu existo, amor. Eu existo sem você. É bom saber. Está tudo bem.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Desgraçado eu to morrendo

Te vejo e meus pulmões se tornam brasas. Você consegue ser pior que os meus cigarros. Você e ela... Como se fossem um. Vocês têm muito em comum. Não é à toa que... Bom. É como se eu morresse. Como se eu morresse toda vez que eu tenho que me livrar de você. É como se eu morresse todo dia. É como se eu morresse sempre eu te vejo. É como se eu morresse sempre que ela existe. O problema é que eu morro só por dentro. Eu não morro por fora, eu não posso. Ah, eu me sinto tão sozinha, querido. Eu queria que vocês morressem por mim. Isso não é justo! Eu não queria ser má. Eu não queria ser assim. Mas o mundo me devora. Vocês me corroem. Você me doi muito, amor. E eu te odeio. Eu te odeio a cada oxigênio que não entra. Eu te odeio em cada lágrima que cai. Eu te odeio em cada sorriso recíproco, e em mais tudo que sai desse lixo que você chama de amizade. Eu te odeio sempre. Eu te odeio toda hora. Eu te odeio dobrando a esquina, eu te odeio quando acordo, eu te odeio até quando como chocolate. Eu te odeio quando chove. E te odeio quando faz sol. Eu só não te odeio quando fumo meu cigarro, mas não quero me matar por sua causa. Não assim. Não quero morrer por ninguém. Quero morrer por mim. Não quero querer morrer. Demônio. Criatura maldita. Carrasco. Sádico estúpido. Morre morre morre morro morre morre. Te odeio te odeio te odeio te odeio te odeio. Você não vê o quanto eu tô sofrendo? Até os mosquitos tão me devorando. Socorro.

Saí de casa com um romance morto no bolso. Ironia da vida. No meu caminho havia um buquê de de flores de plástico.

Breve resumo sobre um maremoto

Ela chegou pra mim como se fosse um maremoto preso em dois lacinhos frágeis de titânio.
Ela era um desses fenômenos estranhos que ninguém nunca entende realmente.
Ela brigaria com você sem nenhum motivo aparente, e depois te entregaria sorrisos de uma menininha de três anos, e você perderia a razão.
Ela tinha essa coisa, que fazia os adultos gostarem dela em maioria, mesmo fazendo tudo errado, mesmo não querendo nada com ninguém.
E viria saltitando, tropeçando em quem estivesse no caminho, pra cair ali num canto, e ficar por ali mesmo.
E jogaria a fumaça de seus pulmões pretos só na cara de quem ama, só pra pessoa ficar com o seu cheiro.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Carpete

Vou fugir.
Me mandar pra tua casa,
Machucar a tua asa,
Mas te fazer rir depois.

Brincar de dominatrix mirim
Me instalar naquele quarto
E pegar aquele edredom pra mim.

Prometo que eu não ocupo espaço
Me arrumo no seu carpete
E fico bem morando por ali.

E a noite te arranho só um pouquinho
Como se fosse carinho
Como se eu fosse um gatinho
Amolando as minhas unhas em você.

Eu juro que não vou fazer barulho,
Só se você deixar
Sou uma criatura boazinha
E pelo menos contigo
Eu sei ficar no meu lugar.

Me deixa, por favor,
Eu já tô indo
Que aqui tá muito chato
Que aqui tá muito triste
Eu sei que eu vivo mais feliz se for por aí.

sábado, 17 de maio de 2014

O que vai e o que fica

Me tiraram o amor
Me tiraram minhas fodas
Me tiraram meu cigarro
Me tiraram minha dor
Me tiraram minha paz
Me tiraram minhas noites de sono

Me deixaram esse cansaço maldito
E esse ódio que paira bem no centro de mim
Me deixaram essa respiração falha
E me deixaram essa vontade de morrer

Me trancaram num quarto povoado
De coisas e de gentes que me explodem

Me deixaram uma garrafa de álcool
E umas chances de fazer tudo pior
Me deixaram uma culpa desgraçada
De tudo que faço para o meu melhor

Me deixaram uns berros
Me deixaram aos berros secos
Me deixaram sem saber pra onde ir
Me deixaram essa vontade de chorar

Mas tomaram todas as minhas lágrimas
Me tomaram meu sangue
Me tomaram meu tesão
Me tomaram até as minhas esperanças
Me engoliram a bondade
A doçura
A nobreza

Sou puta adoecida
Um cão sacrificado
Um pó que insistem em assoprar pra todo lado
Eles insistem,
Mas eu não sou ninguém
Não sou ninguém
Não sou ninguém
Não sou ninguém

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Eu faço contigo

Te chuto
Te bato
Te arranho
Te mordo
Maltrato
Te grito
Te xingo
Te aperto
Te expulso
Te afasto
Te odeio
Castigo
Te arrasto
Te nego
Te canso
Desprezo
Me zango
Te estrago
Te piso
Não ligo
Eu digo
Me corto
Machuco
Te rasgo
Te largo
E te apanho
Te tomo
Te assusto
Te choro
Tu chora
E aí me ignora
Mas não vai embora
Te falo pra ir
Se manda daqui!
Te mando pra ela
Pra tua donzela
E tu vai e volta
Feito um iô-iô
Te trato de verme
Te ponho minha culpa
A chamo de puta
Me chamo também
Me mostro também
Me jogo pra outro
Te olho
Me enojo
Que ódio
Você sempre volta
Você ri pra mim
Te coiso
Me canso
Me mato
Eu tento
Não dá
Aguento
Me irrito
Atrito
Minha pele na sua
Já tô quase nua
Na minha cabeça
Antes que eu me esqueça
Que eu me enlouqueça
Me fujo
Me sujo
De toda a frieza
Pra não ter fraqueza
De ter a franqueza
De querer você
Te empurro
Pra longe
Sem fazer mais nada
Me tombo calada
Não quero mais ser

Poesia do ódio

Te odeio quando estou doente
Te odeio quando faz calor
Te odeio quando faz frio
Te odeio no meu corredor

Te odeio na minha cama
Te odeio e a toda a gente
Te odeio quando te tenho
Te odeio irrevogavelmente

Te odeio da minha pele
Te odeio ainda na minha vida
Te odeio debaixo das minhas unhas
Te odeio com as mãos na minha barriga

Te odeio quando encho minha bexiga
Te odeio até não poder mais
Te odeio em todo colo que me nega
Te odeio porque isso não se faz

Te odeio quando acordo de manhã
Te odeio quando estou pra me deitar
Te odeio quando  você chega assim
Te odeio quando vou te visitar

Te odeio porque eu te conheci
Te odeio porque te mandei embora
Te odeio pelo tudo que eu já sei
Te odeio por não te saber agora

Te odeio toda vez que eu escrevo
Te odeio menos quando assisto frevo
Te odeio pouco quando não existe
Te odeio quando não sou pouco triste

Te odeio simples como quem não teme
Te odeio como aquela que não geme
Te odeio em teus olhos desejosos
Te odeio quando o útero não treme.

Falta norte

O cachorro foi-se embora porque preferia outra. Aliás, cachorro não. Um gato. Que gato ele era mesmo. E não era só eu que achava. E gatos sempre me esnobam. É a vida. O que é que eu ia fazer? Ele foi lá ficar com a garota. Que garota chata. Nunca fui com a cara mesmo. E nem tô falando isso por inveja, eu não ia com a cara mesmo. Uma antipatia natural. Ele foi-se lá com ela. Foi desmoronando meus castelinhos frágeis de esperança. Foi-se outro.
Uns dois onde eu já tinha depositado um pouco mais também se foram. Um deles de uma maneira terrível. Ora, mas que ódio. Foi com uma vaca sádica. Mulheres, sempre me dando problemas, não é mesmo?
E a última? Aquela pobre coitada. Só me surge com problema. Como se eu já não tivesse os meus. Já não me basta ter raiva da felicidade alheia, eu ainda me sinto culpada sempre que alguém não está feliz. Uma otária, certamente. Ou no mínimo uma tola. Tolíssima. Uma tonta incoerente.
Como se tivesse algo mais a ser feito. Mas meus pretextos são insanos. Eu só tenho esperanças quando estou só, quando transito nua pelas ruas atropeladas. Só tenho alguma paz com o meu cigarro nos lábios. Com os ouvidos trancados, com a minha veia aberta e minhas lágrimas nos olhos. Não dá pra acreditar nos seres humanos, não é mesmo? Não quando eles deixam de ser imagens para se tornar reais.
Se eu fugir eu vou acabar no mesmo lugar, dentro de mim. Se eu correr, e for atrás de alguma coisa, de alguém-coisa, eu vou acabar só. Vou voltar pro meu caminho. E todos os desvios acabam num retorno pro meu beco sem saída. Não há trepada que me salve dessa morte. Não há rebeldia que me arranque essa sorte. Não há mente sã no mundo capaz de me reorientar.
Aos estudos acabo infeliz. Aos amigos acabo tonta. Acabo acorrentada. Às sombras acabo fodida e arrebentada. Aos cigarros acabo melhor que em todos os outros estados, mas quem é que me salvaria daquela maldita dor de cabeça? Falta norte, falta norte. Se eu soubesse o que é o novo talvez pudesse me livrar de mim.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Te vai daqui

Você diz que isso corta a sua pele, e a menina vem querendo me rasgar. Tem uma outra que só anda com as lâminas, e uns alguéns que só querem se matar. O mundo tá muito sangue e morte, tá muito sofrimento, e a verdade é o que todo mundo espera. E o amor é onde todo mundo erra, é o que todo mundo quer. E eu não quero mais você. E eu não quero, eu não espero. Eu não posso mesmo mais errar assim. Não tô afim de ser tratada como tal. Vai lá pro canto, vai lá pros teus amigos. Eu não ligo. Eu não ligo. Eu vou ficar bem, eu juro. Se não tiver que olhar de novo para aquele aparelho celular. Tô sempre farta de mente, de estômago vazio e coxas insaciáveis. Tô tentando ir embora por dentro, menino. Não quero te magoar. Não quero. Não quero ficar lá. Desculpa. Não quero me arrancar toda semana uma peça essencial. A hemoglobina. Ah, querido. Vai. Te cuida. Some. A ama. Mas a ama longe de mim.

Um cigarro e uma história de merda

- Se importa se eu fumar um cigarro?

- Não, que isso. Eu também fumo.

- Menos mal. Sobre o que quer conversar?

- Sei lá, cara. Eu só quero ficar do teu lado um pouco. Tu é louca. Eu gosto disso.

- Louca é você que quer ficar por perto.

- E o que é que tem?

- Eu sei lá. As pessoas nem deviam querer ficar perto de mim.

Ela traga até tossir.

- Eita! Calmaí. Explica isso melhor.

- Não tem o que explicar não.

- Pra mim você esconde é coisa demais.

- Pior que não.

- O que você esconde?

- Ah, cara. Uma menina. E um garoto. E uma história bizarra aí que aconteceu. É uma merda de uma história.

- Que menina? Que garoto? Conta a história, pô.

- Uma menina que eu amava, sabe? Ela me matou. E tipo, veio esse garoto e foi namorar com ela. E tá tudo fodido agora. Tá tudo fodido sempre.

- Que foda, cara.

- Tu não tem que ouvir isso, sério. Essa coisa toda de dizer que a vida é um lixo. É bom que tu tá feliz, é só que... Arg. Me irrita isso de ver as pessoas felizes. Me dá vontade de morrer. Eu prefiro ficar longe de todo mundo.

- Entendo.

- Você não queria dizer alguma coisa?

- Ah não, não tem importância não.

- Aham. Eu vou embora agora antes que eu bata em você, okay? Tchau.

- Ei! Ow, peraí!

...

Tolice

Meu amor, eu estou me sentindo doente.
Você vem me visitar?
Você larga dessa sina?
Você sai dessa neblina?
Você troca finalmente de lugar?

Meu querido, meu amor já está dormente.
Deixa a minha cama quente.
Me acalenta com seus olhos.
Vem aqui, vem do meu lado me ninar...

Meu castigo, sinto muito a sua falta.
Isso tudo me revolta.
Mas tô fraca. Tô sem forças pra brigar.

Aqui deitada,
Bem cansada,
Chateada,
Machucada,
Adoecida.

Meu menino,
Nunca venha me salvar.
Não se não for sem ela.
Se não for acender vela
Quando eu for me matar.

E se eu for,
Você nunca na sua vida vai me achar.
E ainda sim sei que vou
Te amar
Pra sempre.

Bem do fundo da tolice que habita em mim.

Intervalo

Eu olho pra você. Ela olha pra ele. E os outros dois se beijam.
Eu olho para mim. Olho pra dentro. E não me importa mais pra onde você tá olhando.
A única coisa que eu quero eu não posso nem querer ter.
Você é a minha única vontade que não passa.
Um capricho enlouquecido. Uma mania. Compulsão.
Estrangulo a minha mente para não mover as mãos.
Não te olho. Não te olho. Nem sequer tiro um pedaço da sua carne.
Te ignoro. Te esqueço. Me emputeço. Minhas mãos são muito interessantes.
Eu tô quase chorando, porém seca. Ela ri pra mim e me diz alguma coisa que eu não entendo.
Todo mundo se amontoa e eu nem sei o que é que está acontecendo.
Eu não tô vendo. Eu nem mesmo estou ali.
Ela me chama. Eu queria a sua cama.
Fujo se disser que a ama.
Fujo sempre que eu te ver.

Todo mundo já tá indo.
Eu nem queria ir, mas me mandaram.
Já tô indo pra bem longe de você.
Mas você tá do outro lado.

Pedaço de gente

Vou te arrancar pedaços
Te rasgar os braços
Entortar teus passos

Remover teu baço
Beber teu cansaço
Te prender num laço
E te deixar gritar

Te deixar sozinho
Desfazer teu ninho
Ir pro meu caminho
Te deixar pra lá

Vou embora agora
Que ela tá lá fora
Esperando a hora
De vir me matar

Um arrepio quente
Já tô lá na frente
Não tem mais a gente

Finge que não mente
Finge que nem sente
Morte entorpecente

Vou morrer pra lá

terça-feira, 13 de maio de 2014

Vai, rato

Você é a minha dose mensal de depressão revigorante.
É a pior pessoa que já me aconteceu.
E a melhor.

E aquela sua amiga é o ser mais apavorante.
De todas as pessoas que você já conheceu.
E dela eu sei de cor.

Dessa vez ando inquieta.
Passos tortos.
Vou discreta.
Todos mortos,
Eu vou vendo.

E o mundo inteiro se desfaz.
Minha mente salta.
Feito borboleta tonta.
Se exalta.
E você se satisfaz.

Ela te diz verdades que nunca quis me contar.
Eu fico repetindo, sempre quero me matar.

Me afasto
Me escondo
Eu volto
Me mato

Me arrasto
Pro rombo
Revolto
Que rato!

Te queimo
Te pó
Te cheiro

Que dó
Te odeio
Pior

Te tenho
Rasgando meu peito
Quebrando as paredes

Se indo
De vez
Em quando

Voltando
De vez
Mas quando?

Te vai de uma vez!

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Verdades em caquinhos

Os segredos que em mim habitam
No tempo vão virando pó
Na casa nunca transitam
E sempre fico tão só

Em anos viram parede
Em dias viram reboco
Me enrolo na própria rede
Me afogo só mais um pouco

Tudo entra, nada sai
Todo mal vai pro meu rim
Toda a beleza se vai
Não sei o que é ser feliz

A rima já se perdeu
E eu me perdi também
Nem ao vento eu sei falar
Nenhuma verdade eu sei

A verdade é que eu não rimo com ninguém

terça-feira, 6 de maio de 2014

Gaiola

A mesma paisagem.
A mesma melodia.
A mesma voz.

O mesmo chão de metal.
O mesmo vento.
A mesma água.
A  mesma chuva.
O mesmo sol.

O mesmo medo.
Os mesmos versos fracos.
As mesmas rimas.

As mesmas mentiras.
Os mesmos amores.
As mesmas dores.
Os mesmos pulsos.
Os mesmos gritos.
Os mesmos aflitos.

A mesma vida.
A mesma morte.
A mesma falta de sorte.
O mesmo silêncio.

A mesma paralisia.
A mesma analgesia.
A mesma fantasia.

A mesma gaiola enfeitada.
Cheia de pó.
De purpurina fina.

A mesma borboleta desatina em nós.

domingo, 4 de maio de 2014

Mentira mentira mentira. Um saco de vento.

Eu sou um frasco. Uma caixa vazia. Um espaço, um espelho. Um vácuo. Eu sou a que só pode ser preenchida, e por isso não sou confiável. Todo dia eu minto sobre quem eu sou, pra todos eles. Todo dia eu quero mentir um pouco mais. Se eu vejo um filme, eu me torno o personagem. Se eu escrevo sobre alguém eu me transformo. Se eu leio, se eu escuto, se eu conheço. Não importa o que aconteça, eu sempre vou me parecer com o que se aproxima. É terrível ser eu mesma porque na verdade eu nem mesmo existo. Eu sou uma consciência abstrata. Um padrão lógico de reconhecimento externo que analisa a minha mente. Dia após dia eu encontro uma nova doença, uma nova falha, um novo padrão. Noite após noite eu me torno um novo ser humano. Completamente diferente. E permanece esse sentimento de que nenhuma de minhas memórias realmente me pertence. Eu não tenho cheiro. Eu não tenho reflexo. Eu não tenho uma voz que me pertença. Eu não tenho uma casa, eu não tenho um eu, eu não tenho ninguém. Tudo que eu tenho é um corpo gasto e uma voracidade pela existência alheia. E quanto ao quarteto? Ah, o quarteto. Eles só significam um pedaço da minha consciência que eu não quero ser obrigada a reconstruir. Não agora pelo menos. Mas eu sou mutável. O desprendimento está na minha veia, apesar de tudo. Sou amante da solidão. E nossa paixão supera tudo e todos. Sou um monstro, não que eu realmente me importe. Quero foder, foder, foder. Comer. E sair por aí atuando. Copiando faces, desorientando almas, derrotando todos. Desfazendo as estruturas. Bom, eu nem mesmo tenho uma. Me quebro e me refaço. Sentimentos são superficiais. O que há de concreto é a minha mutabilidade. Não pertenço a nada. Logo, não existo. Não existo. Não existo. Logo, não me importo. Palavras se rearrumam. Sentimentos se rearrumam. Pessoas se reconstroem. Corpos se deterioram, e depois voltam da terra. E tudo é um mero ir e vir. A consciência é uma farsa. Eu sou uma maravilhosa mentira.

Double

Pela manhã a garotinha que venera as borboletas. Quando o sol nasce, e quando o sol se põe. A criatura frágil e amável. Um doce do qual escorre amor em sua forma mais pura. Uma arte, um desejo, um texto. A amizade e a vontade de ser agradável, de alcançar a perfeição. Uma música suave, um piano, e um cigarro mentolado. Um chá, um milkshake, ou um pedaço de chocolate. Um caderninho de bolso, uma caneta caindo e um sorriso no rosto. "Eu gosto de você, e os seus olhos são bonitos". Abraços de graça. Beijinhos no topo da cabeça. Quietinha num canto sorrindo pra janela.

Pela noite, uma avalanche. Uma garrafa de rum, pernas abertas, poucas peças de roupa. Cigarros aos montes, amassados no bolso de trás. Risadas psicóticas. Uma lâmina na língua, uma fuga incalculada. Um suicídio na garganta. A mão que não se limita, que não se basta. E sai percorrendo os becos, os traços, as peles. Lábios que se arrastam e uma música diferente. Uma música de morte, ou de procriação. Mordidas profundas, olhos secos. "Não aguento mais mentir sobre você, eu vou morrer". Um corpo que se joga no caminho, e que se queima.

Duas faces. Os dois lados da mesma moeda. Uma margarida e uma rúcula. O sol e o frio. O vazio de não ser alguém, de ser fase. De mudar a cada passo, a cada respiração. Um, dois, sim. Quatro, cinco, não. Hm, dou, sim. Quarto, cinto, não. Talvez.

Não quero ser concreta, só quero ter companhia...
Quando leve, quando chumbo, quando pó.
Quando corpo, quando sussurro, quando só.
Não quero ser alguém.
Não quero existir.
Só quero sentir alguém.
De verdade.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Como você se chama, Talita?

Me sento na janela, como ela tinha o costume de fazer. A noite é fria. Só tem eu aqui. Preciso lidar com essa ideia de que tudo que eu sabia sobre ela não é mais definitivo. Mais do que independente, agora ela é real. Ela tem o próprio nome, tem os próprios pais, o próprio útero e um amor cujo nome já deve ter sido escalado para representar seu redentor. Não consigo me dissociar da história, e um bom escritor talvez precise fazê-lo. Estou reamente muito só nessa noite de inverno.

Há uma espécie de fascinação desesperada. Uma vergonha de existir do lado dela. Um medo de que qualquer toque a desfaça em pó. Ela se diz forte. Talvez seja mesmo, mas até que ponto? Talvez ela seja mesmo corrosiva, como se diz, e como se dizia Talita. Talita, minha musa inspiradora. Não consigo mesmo agir normal ao lado dela. Eu tento. Não consigo não sentir essa coisa, esse sentimento de ter encontrado algo muito valioso. Eu fico a observando apavorada. E só de pensar nisso me arrepio, perco a fala. Já nem sei mais como se bombeia sangue ao resto do corpo. Como se aspira oxigênio.

Socorro, socorro. Eu queria beijar os pés dela. Mas se ela soubesse poderia ter medo, ou me pisar. Quem não gostaria de pisar em alguém que quer lamber seus pés, não é mesmo? E ainda sim eu sou capaz desse absurdo de esquecer de vez em quando das minhas vontades mais insanas. Aquele romance escrito em infinitos textos, em infinitos papeis. Ele me afoga.

Ela tem seus pulsos, Talita. Ela tem seus pais. Ela tem suas vontades, suas palavras. Ela tem o seu olhar. Ela tem o seu fogo, e a sua selvageria. Ela tem sua escuridão, e ela tem o seu passado. Ah, meu deus, Talita. Como é que eu vou resistir a essa história? Eu preciso estar ao lado dela. Como uma sombra estaria sempre ao lado de um assassino. Como uma sombra estaria sempre ao lado de um moribundo. A sombra não depende de nada para estar ali contigo. Ela só te segue a todo lugar. Incondicional. E... E eu quero escrever sobre ela. E ela gosta disso. Você vê que Miguel se perde nisso tudo? É impossível não reescrever mil maneiras de viver essa loucura.

Já me imaginei na cama com ela, Talita. Mas isso fica entre a gente, tudo bem? Isso é tudo uma grande bobagem sem tamanho. E eu me digo sempre pra fugir para bem longe, até desaparecer. Eu queria desaparecer. Eu estou com muito medo dela, Talita. Mas eu não tenho medo de você. Eu tenho muito medo de mim. E das minhas esperanças.