sábado, 30 de outubro de 2021

Geleia magnética

Me digo um plástico, elástico
Um emborrachado alienígena
Mas racho, um cimento velho, asfalto
Me espatifo em mil pedaços,
Argila, barro, blocos deslocados,
Costurados, pendurados,
Por minhas articulações de pano

Quero fazer uma casa na água
Virar de vez um peixe
Ir morar debaixo
A gravidade doeria menos
Meus pulmões não serviriam de nada
E nadar certamente cairia bem 
Como um exercício

Porém tenho pensado,
Se não desmorono
ou deságuo
Poderia fazer um som nos meus cacos?
Será que se eu criasse alguma melodia,
Faria sentido,
Como as poesias que escuto
até que me explodam os tímpanos
Ou
Eu só faço sentido assim em silêncio 
e invisível;
Uma geleia de nada?

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

It's the little things

Os dias eram como desertos
Os lábios rachados
A gordura ia forrando um manto
Que ao secar esfarelava
Minha tempestade de areia
Uma que me afogava
E não me permitia dormir
Contava contos antigos
Sobre ter sido sereia
Na terra das águas
Mas mal me restavam pernas
Quem diria esta cauda
Que a muito havia esfarinhado
E desaparecido no ar

Habitava um buraco no meio de mim
Que me sugava as entranhas
Em minha cabeça havia essa figura
Feita somente de sal
Aguda e fria, como pimenta
Sei que não fará sentido
Mas esta era ela
Me parasitando branca
Reluzindo, lâmpada fluorescente
Enquanto os dentes afiados
no centro de meu estômago
Tentavam me devorar

Frequentemente eu me sentia
Como se fora desabar
O mundo era um carrossel que não parava
Uma roda gigante da qual eu não podia descer
E eu tinha medo de altura
(dessa vez era eu que tinha)

Vez ou outra pulava um inseto estranho
Um gafanhoto gigante
Ou neon
Uma traça-rainha-dourada
Eu olhava os humanos de longe
Com o estranhamento de nunca ter conhecido a espécie

Eu sentia como se o mundo nunca mais fosse parar de girar

O sol estava a pico
Meio dia e meia
O céu se fechou

Despencou uma tempestade
(de água)
Cheirava a alecrim

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Moletom Vermelho

Não sei nem como começar a descrever
As agulhadas e choques
na pequena eu
A primeira náusea
Que talvez tenha sido aí
que comecei a tentar me limpar
Os meus primeiros tracejados
Intruções de molde
Os testes sobre testes 
de resistência
As experiências
As balas, velas, cubos, objetos
Era uma tela cinética
Sinestésica,
Têxtil,
Virgem,
Inoperada.

Queria voltar no tempo
Não curtir o cheiro de sujo
Como chocolate
Nunca ter cortado aquela fita
Vermelha
Laço de inauguração
Embrulho de presente para ser rasgado
E atirado no lixo
O meu casaco

Se eu fosse nomeá-lo
Restos de etiqueta,
Recortes:
Picote aqui,
Alvejante.
Queria alvejar-me.

Escrevam na minha lápide assim:

******

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Três anos de pôr-do-sol

Os dias nascem,
e cessam.
Poderia ser mais um texto
sobre a banalidade dos dias
Mas não é
Este não é.

Sinto falta do farfalhar 
das folhas ao vento 
do fim da tarde
Do burburinho 
das mentes aflitas
das pessoas 
Na estação Central 
de transporte "público";

Sinto falta das pernas doloridas,
costas arqueadas,
corpo dependurado,
A coluna uma toalha molhada,
torcida e atirada, 
antes de posta no varal;
A cabeça uma âncora,
precipitando-se;
E os olhos como cortinas pesadas,
a forçar o fim 
de uma noite de espetáculo.

Sinto falta de
no queimar de meu pavio
bem no fim, antes que apagasse
encontrar um resquício de pólvora:
Ver algo brilhar na escuridão
do meu fim diário
De existir diariamente
De saber que este morrer
Esta luz e este brilho,
Trariam o profundo escuro da noite
Que me traria outro dia
E eu estaria de volta
E eu teria sempre algo novo
que incendiar. 

As nuvens caminham,
os pássaros colocam seus ovos
nos ninhos,
as mariposas copulam sobre as frutas e fazem filhos,
a terra sofre erosão e a mata queima. 
Partidos políticos mudam,
pessoas nem tanto, 
tenho um dejavu escrevendo um texto;
Se minha casa fosse meu país, 
eu estaria vivendo na guerra,
Se eu estivesse vivendo dentro da minha casa, eu estaria morando no meu país. 

O sol nasce e se põe todos os dias e faz 3 anos que eu mal consigo vê-lo.
Meu quarto tem uma janela, embora eu sempre diga que não,
Mas eu nunca a abro.
Nunca abro as cortinas, e mal tenho estado de olhos abertos quando há luz no céu.
Que tanto o faça.

Os dias nascem e cessam em mim.
E isso basta.

domingo, 24 de outubro de 2021

Joints

He puts me in a cage
And I know
That I shouldn't stay
But 
Damn
It feels so cozy
Damn
And it fits so well
Think: it should feel like hell
But,
Now I live in there
Moved in by free will

And then I realize
I welded by myself
I begged to come in
Yelled at him to lock me in
And threatened him into hurt
So I'd get him scared
And he would rage me out
And I'd get messed up
And blame on him back

Say he locked me in
A cage
And
Wouldn't let me out
But
I didn't wanna' out
I wanted inside him
Slipping between his guts
Scratching it with my plans

Not sure if
The cage was to protect him
From my appetite
Or if that was he
Who was in the cage all along

sábado, 23 de outubro de 2021

Texto Sem Título

Faço em mim
uma salada doce
que arde fria
Porque sou um banquete vermelho
Servido sem prato
Sobre a toalha limpa
sem talheres
Mas com guardanapo
de trapo
azul celeste;
(àspero)

Poderia depois 
de fabricar aroma
e desvendar mistério
pela metade
(sobre escape de confeito
                           irreversível)
Deixar que findasse um branco
Um simples
Um glacê flavorizado
Raspas de limão
Receita da tia

Mas em todo branco
Há um
Há vários
Em todo silêncio
Em tudo que ninguém nunca pensou
Que um dia poderia ser dito
E ninguém disse
Em todos que nunca puderam ser nada
Se não um sopro
Uma gota
Um tropeço na batida do peito
Antes de
Nada mudar;

isso

E eu não sei dar nome a isso
E isso não tem hora
Apenas é
O tempo todo é
E é
E é
E é.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Monsters don't know how to do hygiene

70%, I take a bath of alcohol 
As if I were, myself, the virus
I'm trying to get rid of.

I shower up from dirt
A crystalized, tainted
Sort of sand
That shatters, dusty, 
Between my catty nails 
And my nasty baby chubby fingers.

I bath myself on cream
As if I were a mud cake
Cooked under the hole of my grave,
With the 37°C heat of the sun,
But still somehow managed
to keep the mold freezed between it all.

I guess, I sprinkle a bit of amnesia and insomnia. 
Since I had the last paragraph fully planned, and none of it was this. What was it?

I take a bath of pure adrenaline
And it's so weird
'Cause I don't even recognize this place
anymore.
I only wish for a cup of tea
Cinnamon, please.
But no one offered.

It's getting out of hand, 
I know it is. 
I shouldn't be in place 
to have to hide my feelings like this.
Not like this.
Have I talked already about my
Probably more than — two very close to suicide attempts?

Ha. I dive in.
Fully gone to swim on a suicide ocean.
But I stay alive.

I go into the shower
For another night of a living hell
I take a soap and water 
Kind of soup
First the main course 
Then an icy dessert;

It starts with an endless effort
To untangle my hair noodles
What quickly develops into
Zombie monsters resurrecting
Trying to invade my space
(that of course was locked, because of zombies apocalypse)
And them screaming and hitting at my door trying to get me out of there at like 3h30 a.m. 
What a terrible timing. 
Who would have said at this time you would be safe, right? 
I mean. 
Zombie apocalypse, man.

I take deep deep breaths breaths. 
Deep deep breaths breaths.
Deeeeeep breeeeaaaths.
I breath. 

So I get back my guts
My shower
My life
My body

And I formulate a plan of survival in here. 
If they manage to pick up the lock and force their way into me one more time, 
I'll start seeing them as cockroaches and treating and detetizing them as such.





quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Nights

I now realized
Was it yesterday
Or another
I finally saw the stalking figure that haunts me
It was a colored blur
Someone moving fast
Corner of the eye
Couldn't see much
They seemed to wear red.
Red and black perhaps.
Someone taught me that when you don't know someone's gender you call it they/them.
Is ghost a gender?
Or maybe dead?

It was a silent shock
A lonely one
I couldn't share it
I even tried but
It's not like someone alive would actually listen to me, right?
At least not in this house, anyway.

But then I was reading 
And giving a few thoughts on my
Three steps to thing
Started to count

I could give you two versions
In the first I've had two tries and "the third is the charm" as they say.
On the second, I've had three tries, which confirms that next one will be definitive.

I could of course say I've had several but that certainly lacks poetry and a bit of the so needed enthusiasm we're looking for. 
I aim for universal perfection.
And that can only be done at one way.

Maybe I'm flirting with that blur apparition.
Maybe I'm finally trully loosing it.
I always wondered when that day would come. 
The day I'd go insane with no return.
I think it's time now.
This is my train.

Maybe I've never made sense at all,
You all just invented some sense upon me.

Não funcionou

Há dias em que olho pela janela através das grades, 
como um passarinho tentando escapar.
Há um ninho na jardineira que fica no parapeito de mármore.
Não sei se é uma homenagem.
Agora eles não tem mais como chegar até aqui.


Ele nunca teria conseguido voltar.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

I wish someone could love me so I wouldn't have to love death. :(

Fever

The art fever gets me at 3 a.m.
Predictable time
I'm getting super lazy at writting words
Why would I feel like doing art or
Even expressing myself in the middle of the day?
Or — god forbid! — in the afternoon!
Could you even picture that?
Me, doing things, while there's still sun in the sky
Even if considering that yesterday was a heavy rainy day
And the day before
So all we could see was dark gray coulds but
Still
In my favorite type of weather
Could you imagine me doing anything even?
Being awake and actually intending do move...
I can't even be faithful to myself about my decision to sleep.
Even less about starting activities.

But art 
Art is everything
The only thing
If there was ever a thing to be 

And as it seems I am an anxious vampire 
Or at least a bat with serious sleep problems So
That's when it gets me
At 3
The only moment of the day
When I might possibly exist
Just a little bit

That sick heat
That feeds me,
A shaped darkness
Lost of sight,
So I can puke something shiny
For you to feed
Like it's gold

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Tablatura

Uma flor amarela desabrocha sobre minha cama
Eu coreografo uma performance secreta
Que a nomeio de Salto da Fome
Esse nome omite a palavra sacrifício
E todos os significados fragmentados
Enquanto escuto essa melodia 
Me dedilhar as tripas arregaçadas
Como cordas que imagino
Em um lindo recital
Em um maravilhoso balé 
Que crio em segundos de absoluto tédio
Em minha incrível mente
E me parabenizo, pelo talento
Da minha obra de arte
Meus dedos percorrem a cama simulando
O que seriam as moças
Sendo as cordas violentadas da canção
Cada uma seguindo apenas uma corda
Que se movimenta ao ser tocada
Pelo dedo dele
Um homem, é claro
Sempre um homem
Por que não seria?
Eu sou uma corda arrebentada
Não sirvo mais
Machuquei alguém
Machucaria mais
Quero machucar mais
Eu poderia ficar bem em algum pescoço
Mas você sabe qual meu verdadeiro lugar.


Dias

Meu tempo está quebrado
Não há relojoeiro capaz de consertá-lo
Eu queria que fosse noite nos meus textos,
enquanto escrevo,
Como é em todo o resto
As horas e os dias
E todos os momentos que transitam
Gangorreando
Como se nunca deixassem de ser
exatamente o mesmo 
único instante a acontecer
Eu não sou mais capaz de apalpar o sol
Ou tatear o vento
Discernir o dia 
Ou ouvir os pássaros
Eu me tornei o ser etéreo o qual eu temia
Que vagasse a casa sem rumo
E sem vida
Sem intento
Uma sombra do meu próprio eu
Uma sombra invisível
Inodora, muda,
Inacessível

Inexistente

Estou a três passos de tirar minha vida
Três é meu número preferido
Costumava ser quando eu era humana
Mas eu não sei se eu ainda sei contar até três.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Não pode rir

Flashes dissociativos às 4:27 da manhã
Eu tenho tido medo de escrever
Medo de escrever
Medo de escrever
Medo de viver
Medo de olhar pro lado e descobrir 
Que tem alguém me observando
De me ver no escuro
Uma imagem, o reflexo da minha sombra

Eu tenho pensado em todas aquelas coisas
De novo
E de novo
Estou escrevendo de novo
Como se fosse um texto novo
Como se eu fosse outra
Uma pessoa fênix
Alguém que brotasse de uma metamorfose cíclica
De uma incubação recente

Mas nada mudou

Eu sinto o fim nas minhas entranhas
Crescendo e sendo gerado no meu ventre
Nutrido no meu útero
Corrompendo minhas paredes por dentro
Me arrebentando, 
Apodrecendo os ossos da minha construção,
Demolindo meus órgãos e meu universo,
E engolindo a si mesmo,
Como uma estrela, que ao morrer se explodisse, 
E engolisse a si mesma, abrindo um buraco negro no espaço
Um buraco negro no meio de mim
O meu apocalipse

Eu sinto o medo
Forrar a minha pele
Fechar e abrir meus olhos
Como uma tempestade e ventania
Que sacudisse e batesse as janelas contra as paredes
Como a água que encharcasse toda uma cidade
Alagasse, afogasse
Atlândida
Esse é o medo me cobrindo

Eu tenho desistido todos os dias um pouco
Deprimida
Doente
Transtornada
É só um rótulo
Você não é a sua doença
Há muito mais que isso
Eles não entendem
Eles não entendem
Eles não entendem
Ninguém entende.

Eu sinto a morte respirar nos meus ouvidos
Eu sinto o bafo quente dela no meu pescoço
Quando ando à noite pela casa
Eu sinto o sopro gelado encostar meus tímpanos e me perfurar quando me deito para dormir
Eu sei que ela está ali
Me esperando

E eu estou esperando por ela

A gente tá brincando de quem vai primeiro
É tipo um jogo do sério