domingo, 31 de agosto de 2014

Alternativa a nós

Chovias em mim.
Cá chovo só.
Floreço, frutifico, estremeço.
No outono sou chão.
Sorrio.
Mas para mim do que a ti.
À luz da lua e do sol.
Beijo aquele mar que te beijou.
E sou livre, mesmo dentro de mim.
Existo sem teus versos,
Inversos.
Fujo como sabia,
No ponto em que te encontrei.
À deriva num mar de monstros,
Cercado de um aroma doce.
Pólem.
Vivo apesar de tua beleza.
Negra.
Inconsistente.
Encantadora.
Vejo em outros cantos
Paz.

Deixe que o mundo venha
E apesar de ti
E apesar de mim
Posso.

Nesse meu mundo só meu,
Sou Deus.

Mundos de paz

Uma música boa no ar.
Uma felicidade recente.
No fundo uma paisagem delirante.
Companhia.
Esperança.
Há mundos e mundos de paz,
Por detrás do medo.
Há orgasmos no dia-a-dia.
Há raiva.
Há tristeza.
E é tudo tão maravilhosamente
Interessante.
Há perdas e pedras no caminho.
E fora dele há nuvens,
Noites bem dormidas,
Pessoas que não existem.
Escondida da realidade,
Há satisfação.
Como aquela de um Janeiro entorpecido.
Como a de chover num domingo.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Lagartas Melancólicas

Eu só queria ficar quietinha e desaparecer do mundo.
Mas deitar a minha alma só sobre o lençol me devora todo dia. 
É como se eu estivesse entregue às traças.
Como se nem me doesse o processo de decomposição.
Eu estou descosturando a esperança. Mas ela ainda existe.
Existe como a água evaporada que eu não vejo no céu pela manhã.
E o teto insuportavelmente azul.
E eu no centro, ardendo.
Ardendo tudo ao meu redor.
Secando todo o amor que existe em terra, e em casa cansada alimentando minhas lagartas.
Alimentando o que me mantem aqui. E pensando em você enquanto tropeço nos meus sapatos jogados no caminho.

If we didn't live at Earth.

Me desculpe se eu venho sendo muito má contigo, meu amor.
Me desculpe se fiz parecer que eu havia te matado por aqui. Mas de fato, eu andei matando algumas coisas.
Eu sou uma assassina, meu amor. E estou mergulhada em um tédio imperioso, monumental.
É uma espécie de lição que eu me ensinei.
Já que eu não posso ter tal coisa, eu trabalho a minha vontade de tê-la até que ela desapareça.
E então eu viro um imenso oco. Um pedaço de madeira podre. Mas de fato eu não entro em depressão.
Não sofro, não sinto, e não cogito me matar. Porque eu prometi.
Eu olhei nos olhos das pessoas que eu amava e disse com os meus que eu não ia me matar.
É uma promessa que existe sobretudo dentro de mim.
Eu falo com você e sei que sou uma má pessoa.
Esse é um dos piores sentimentos que existem.
E eu não queria que você soubesse que é assim.
Eu também te prometi em off que cuidaria de você.
E seria boazinha, e seria otimista.
Mas eu não consigo, eu não quero, eu não consigo.
I don't belong here, my darling.
I won't be fine here, my man.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Eu e tu, e a vida.

Amar-te não doi.
Doi é perder-te.
Ver-te morrer todo dia.
E todo dia acordar,
E amar-te de novo.
Sabendo que todo nascer
É um novo morrer.

Morremo-nos
Os dois.
Apaixonados,
Sóbrios,
E perdidos.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Pergunto ao futuro: O que é um namorado?

O primeiro enfeitiçado tem fobia social. Me acalma, me socorre, mas não quer nada normal.

O segundo que me ama tem suicídio na história. Se joga do precipício e me canta a sua glória.

O terceiro se afoga nas esquinas povoadas. Necessita o meu amor, mas me diz não querer nada.

Todos três com suas dores, e suas flores manchadas.
E uma moça imatura que me deixa apavorada.

E um travesseiro verde embebido em solidão.
Que eu amo, que eu amo, como se fosse meu chão.
Deito-me toda noite, e um copo me devora.
Sempre peço por socorro, peço que não vão embora.
Por dentro eu choro as danças com a morte, que por pura falta de sorte eu ganho.
E toda manhã sonho
Que um próximo amor vai me completar.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Depressão pós-parto.

Desculpe ser um fardo,
mas é que minha alma
quando suja
não é como um copo de vidro,
que pode ser lavado facilmente
em qualquer poça de lágrimas.

A morte em mim,
é como o cheiro impregnado no carpete.
E às vezes desconfio que só sai pegando fogo.
Que eu só me curo morrendo.
Que não sirvo mais pra mim.

Ainda me mora aquele tal dilema
sobre viver sem ti,
ou não sobreviver.
E é fatal que essa desaproximação
não mais me doa.

Mas morro. 
A carcaça de mim é o que não te ama.
E se antes eu era fã dos urubus,
hoje me escondo.
Porque apesar do amor,
não posso me deixar ser devorada.

Esse não existir,
que é também não me matar
me assombra.
E amar-te me apavora.
E a marte vou,
Porque talvez por lá eu não te aviste,
Nem te queira.

É muito vazio decidir ficar aqui.
O paradoxo é que nunca me socorre.
Queria que o sol pela manhã não me doesse a face.
Queria que as gotas pudessem sair de mim e não do céu.
Queria poder me sentir em casa quando eu pensasse em você.

Mas não posso.
Você me doi sempre que eu te lembro.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Maré baixa

Amar-te não significa
Querer-te por perto.
Equivale a precisar-te.
E para que minha alma seja livre,
Deixo-te.

Quero que o teu amor vá escoando aos poucos,
Enquanto eu tenho tempo de escrever-te poesias.
Despedir-me.

Algo no frio ensolarado desta manhã me faz não te querer aqui.

Quero que escorra de de mim
Como a luz do sol se escorrega
Dentro da melancolia da água.

Um desapontamento
De lápis
De criança na pré-escola
De pais descuidadosos.

Perdoei-te.
Mas minha mágoa não passou.

Te morro aos poucos,
Como se não me doesse.
Como se toda morte
Não fosse mesmo vã.

E se nossa morte é mesmo vã,
Eu viro água.
E escorro pelo nosso vão,
Cheia de mágoa.
E se não fôssemos nós,
Atados.
Atearia-nos fogo.
Ia.
Ia só.
E ia pó.

O fogo e o mar

Deu-me vontade num momento,
De pôr fogo naquele teu texto.
E no meu vestido,
E na minha cama.
Tive o impulso de atear fogo
Ao meu cabelo,
E à tua pele,
E à nossa casa.
Tive o desejo mórbido
De também pôr em chamas
O teu filho.
Que grita aqui em meu ventre,
E desespera-se
Por não existir.
E ele não vai.

Tornaria cinzas igualmente
O livro que escrevi,
Só aqui dentro.
Que não pude vomitar em letras,
E em que falava sobre ti.
No meu texto,
Matava-te.
Como o fez,
Mal faz um mês.
Tornou tudo real.

E se este fogo que me deixa esta vontade,
Superasse o sol que me batia,
Enquanto eu te amava
Naquelas ruas estranhas.
E não importava
Quem passasse perto.
Porque eu te amava,
Em cada esquina em que meus pés doíam,
De tanto te acompanhar.
E mesmo o mar,
Que ameaçava tudo,
E que te trazia peixes pra matar.
Até o mar ardia em brasas ao te ver.

E se eu pudesse nos queimava juntos.
Consumia o nosso amor,
E a nossa existência.
Se eu pudesse,
Devorava essa saudade,
E engolia-te em chamas,
Antes que fosse tarde.
Antes que desse tempo
De nos salvarmos de nós mesmos.

Antes que desse tempo,
De eu não mais me afogar em ti.
E respirar a brisa
Da felicidade
Sem amor.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Você me abandonou, mas eu vou te amar pra sempre.

Segunda-feira quente.

Lembro-me da sensação aterrorizante do calor de segunda-feira. Da tarde, da solidão, e do cansaço de domingo.

Lembro-me de me deitar a tarde inteira, aconchegando meus cabelos no teu coração pulsante. E arrepios quentes percorrerem toda a superfície do meu medo.

Lembro-me de estar apaixonada, e procurar socorro em tuas mãos. E encontrá-lo, sempre. Mergulhando em erros, negando tudo a todos, e dançando na avenida. Correndo entre os carros, gritando, e sorrindo-te.

Lembro-me de separar os lábios, e prestar bastante atenção neste gesto. E de certa forma a sugar-te a alma.

Lembro-me de me lembrar de tudo que era negro. De tudo que era triste sem ti, e afirmar que a vida era mesmo insuportável longe dos teus braços. Mesmo que os deixasse na esquina.

Lembro-me de duvidar da felicidade, e vê-la esvair-se pelos cantos do meu delineador.  Só. E desabar o mundo ao meu redor. Por escolha própria.

E de perceber enfim, que o passado é passado e que resides nele hoje, e que não moras mais em mim. Mesmo que eu te visite de vez em noite.

Daisy Delivery

Não tão fácil quanto ontem, mas quase com a mesma certeza, e o mesmo afobamento apaixonado, eu te diria sim como quem aceita um doce. Como se a vida não fosse mesmo complicada, e a perspectiva de obedecer-te superasse todas as felicidades. Aceitaria cada condição tua. Cada pedido, cada segredo, e cada individualismo decorado. Diria a ti um sim por inteiro. E se a vida por acaso se mostrasse de algum valor, minha decisão estaria tomada. Porque contigo eu sou flor, que vai na mão de quem a leva, e não fala e não reage. Apenas definha em efeito de maus tratos. E sorri se provida de água e sol. Eu sorrio se provida de você. Mesmo que em doses poucas. Pode me arrancar do galho, se quiser.

The next day

O estômago se engole. O cheiro do universo parece tão absurdo. Tão insuportável. Uma cascata surge inesperada. E só de pensar em sentir o líquido queimando tudo por dentro o labirinto se perde de novo. Por que destruir tudo? De novo. E de novo. E de novo. O desespero da vida que se alastra e se propaga. Um sufocamento natural. Um passado e um chão pra limpar. Uma memória repulsiva. Decisões de proteção temporárias e incoerentes. Na semana seguinte outra viagem ao fundo do poço.