domingo, 29 de dezembro de 2013

Passé

  Meus pulmões estão sentindo. É algo maior. Maior que minha existência no presente. É mais sobre quem eu nasci. Um agosto ou dezembro molhado, e um estranho no fundo chamado violão. Tantos desconhecidos da infância. Tantas nostalgias abstratas. Quantas vontades natas de estar num meio assim tão agitado. A batida no fundo e uma rejeição branda. Dulce vitta. Toût passé.

29/12/2013

Pray

Everytime I think of you it gets me angry.
Everytime I think of you I try to think anything else.
And there's this piece, this smalest part of me, that wants to cry.
But I won't let it.
Because baby, I am over.
I'm done here with you.
I'm done of your pretty awesome hands,
I'm done of your safe arms.
And I don't care about your funny way to calm me down.
I don't want it anymore.
My home got down.
You can no longer stay inside of my life. 
Neither of my heart.
I'll leave the love you gave me in a box,
And burn it down.
I'll change your name in every poem made for you, and call it past.
I'll forget about what I used to call peace,
And stop believing  in something that doesn't really exist.

Tudo o que fazemos na vida pode ser resumido em dois propósitos. Calar a mente, ou aumentar o volume.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

L'ombre

"Deixe-me tornar-me
A sombra da sua sombra,
A sombra da sua mão,
A sombra do seu cão,
Não me deixe.
Não me deixe...
Não me deixe!"

"Laisse-moi devenir
L'ombre de ton ombre 
L'ombre de ta main,
L'ombre de ton chien,
Ne me quitte pas.
Ne me quitte pas...
Ne me quitte pas!"



Edith Piaf - Ne me quitte pas

sábado, 14 de dezembro de 2013

Visita

- Senti sua falta.
- Vadia.
- O que foi que você...?!
- Vadia. Você é uma bela de uma vadia.
- Quem é você?
- Até parece que você não sabe. Pelo amor de deus, Talita.
- Desde quando você me chama pelo meu nome? O que aconteceu?
- Estou cansado.
- De quê?
- De você. Dos seus joguinhos, dos seus caprichos, dos seus sumiços. Dos seus serviços... De tudo.
- Entendo.
- Eu quero morrer, Talita.
- Eu também, querido. Eu também.
- Você nem se importa. Tá mais preocupada com a própria depressão do que com qualquer um no resto do mundo. Sempre egoísta, não é?
- Me desculpe.
- Não fale isso da boca pra fora! Sua falsa, fingida! Você sempre faz isso, não é? Chega aqui dizendo que sente minha falta, que se importa... Você só mente pra mim.
- Não existe verdade, você sabe...
- Por que você mente pra mim? Por quê, hein?
- Eu não tenho essa intenção, você sabe disso.
- Por que você sempre tem que voltar?
- Porque se eu não voltar, eu morro.
- Mentira.
- Não posso te convencer disso, mas é verdade.
- Você disse que não existem verdades.
- Eu digo muitas coisas contraditórias.
- Por que você vai?
- Porque ficar aqui me sufoca. Porque minha mente é agitada demais pra permitir que meu corpo more em um só lugar.Mas eu te amo. Eu te amo, juro que amo.
- Droga, garota. Eu te amo. Eu te odeio porque te amo. Eu me odeio porque te amo.
- Não se odeie, por favor.
- Então pare de fazer isso comigo.
- E se eu prometer que vou passar seis meses aqui?
- É confiável essa promessa?
- É. Sem fugas. Só não posso prometer que vai ser sem brigas.
- Seria bom. Só...
- Se eu precisar sair, eu juro que vou te avisar e explicar aonde eu vou.
- Eu queria que você não saísse nunca mais...
- Eu sei, querido, eu sei.
- Mas você não pode.
- Não.
- Eu te perdoo por me deixar aqui sozinho.
- Obrigada, meu amor.

breath

Todo sentimento tende à morte.
A cama sussurra meu nome e eu danço como se quisesse viver.
Meu estômago ruge e minha boca nega o prazer de qualquer alimento.
A única coisa boa que me resta é minha mente de trajetos cíclicos e logicamente insanos.
Morra... Morra... Morra.
Preciso dormir para que meu inconsciente aja.
Minha mente vai me salvar desse tédio que é a realidade.
Life is made of frustration and disappointment.
Vou fugir, vou fugir.
Matar alguém,
ou cortar os pulsos.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Analgesia fúnebre

    Sentamos lado a lado e olhamos o nada pensando no mesmo, pensando no silêncio. E ao abrir a boca, somos apenas mentiras, e um joguinho sujo fetichista, no qual somos terrivelmente viciados. Tudo se resume a palavras bestas. Lógicas, e metáforas. Dançamos fatalmente pisoteando a nós mesmos, em prol de uma superioridade forjada. No silêncio não pensamos na verdade, porque esta é extremamente perigosa, e sabe-se lá quem pode ler os nossos fracos pensamentos. A verdade não existe. Só existe a dúvida. E assim, somos quem precisamos ser, somos quem é capaz de nos dar mais orgasmos. Orgasmos da mente, e nossos sonhos depravados. A humanidade adoeceu. E nós realmente não somos doentes. Ou talvez sejamos os mais doentes de todos.
    Sentamos e quebramos vários ossos. A violência supera o sexo, e a sutileza paira soterrada, em estado de choque. As carnes pegam fogo, e os gritos ninam as criancinhas indefesas entre nós. Somos a morte. Prédios, e casas, e escadas de emergência. Parques, e praças, e academias podres. As pessoas, os bichos e as plantas. Tudo desmorona, e se corroi ao nosso redor. Nosso veneno é tamanho que tudo se esgota. And we know we're gods. Analgesia. Nem se o próprio sangue escorrer em nossa pele, fará alguma diferença. Nem mesmo se for nosso.
    Enquanto o mundo acaba, somos só palavras. Sussurros obsessivos e conflitos que não falam o que dizem. A sensação da euforia e do poder é maior que tudo, é maior que o mundo, é maior que nós. Dispostos a promover a tragédia em cada coração. A gritar verdades ensandecidas a cada mente fraca. E até a torturar por diversão.
     Psicopatas brincando de confissões tão mórbidas quanto ingênuas. Tão cruamente inocentes. Tão quaisquer e tão vazios, que não nós. E nem ninguém.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Queda e silêncio cheio.

   As vozes não falam, mas seus sentidos cruzados estão ali, e eles gritam. Berram vontades opostas, mimos, revoltas. Indignações e uma esperança conquistada. Briga! Briga! Briga! A ânsia pelo silêncio oscila de solidão a suicídio. Passa pela libido adoecida e pela fantasia. As mentiras e verdades engolem umas às outras. E só resta uma certeza: é preciso fugir. Mas não há escapatória. Estar em casa não é estar em paz, e todos os lares são defeituosos. Talvez porque o defeito está em mim. Talvez os meus problemas sejam fruto desses lares transitórios, inconstantes. Pessoas são lares melhores, mas lares que me chutam, que me odeiam, e me deixam ao relento. Preciso me acostumar a estar na rua, a estar só. Mas tanto meu pulmão quanto o estômago não estão nem de longe preparados para tanto. É como se eu estivesse apodrecendo. E sei que estou. Por dentro e por fora, a decadência lerda e imutável. O gosto de morte dorme e acorda comigo. Não sei o que ainda pode me salvar daquelas crises. As companhias são todas fracas, não há objetivo. Não há sentido, e a esperança oscila. Morre e desmorre quando quer. Estou completamente perdida. No limbo, no vácuo, no abismo. Em queda permanente, sem nunca chegar ao chão.

sábado, 30 de novembro de 2013

Te amo por amar

   Te amo. Te amo quando me liga, e quando passa a unha em mim. Te amo quando me encosta, quando me abraça, e quando me cheira. Te amo quando ri. Te amo quando pergunta, e quando me responde. E amo cada elogio, e cada olhar que me faz sentir presente. Te amo quando me diz 'sim', pra cada pedido e cada teste que te faço, louca. Te amo também sempre que me entende, sempre que me aceita, e quando se lembra de mim. Me amo quando você quer estar comigo, e te amo quando sente a minha falta. Te amo só de estar ao seu lado, ou mesmo só de ouvir a sua voz. Te amo lendo o que eu mesma disse sobre você. Te amo ao pensar que você fala em mim. Te amo nos meus sonhos e nos seus. Amos seus gemidos, os seus medos, e sua cara emburrada. Amo os seus segredos, e o fato de você saber os meus. Amo a nossa calma, e amo o próprio amor que eu tenho por você. Amo cada detalhe, e cada  mentira que cabe em nós. Te amo no passado, no presente e no futuro, com toda a sua bipolaridade. Amo seu transtorno de personalidade, e todos os 'você's. Amo nossas semelhanças, nossa sintonia, e até nossos conflitos. Te amo ao infinito só pra te odiar depois. Te amo pela sua ignorância, e pela sua paciência. Te amo pela sua inquietude, e pelos 'não's que você sabe me dizer. Te amo até quando você não está. E te amo quando só consigo pensar na sua morte. E te preciso muito quando estou só. Amo como eu me sinto suficiente quando estou contigo, e amo não temer nada mais. Te amo tanto que viveria de amor, pra jamais ter que ir pra longe de novo. Te amo tanto que eu moraria em você, e até deixaria de ser eu mesma, só pra ser feliz.

Idiota

    Querido, acho que você nunca será aquela pessoa. Mas você é, de alguma forma, essa pessoa. E isso me deixa muito confusa, realmente. Porque você talvez tenha sido, e talvez eu nunca chegue a entender o que aconteceu aqui. O que eu fiz, amor? Pode ser que eu tenha feito tudo certo, ou pode ser que eu seja mesmo incorrigível, mas estou cansada de dizer que não preciso de você. É bem verdade que eu te queria num papel impossível, mas mesmo fora dele eu te preciso aqui comigo. Minha autoestima é tão derrotada que até hoje não sei como você chegou. Por que escolheu a serpente? Eu podia ter te matado, seu masoquista doente. Pervertido. Transtornado. Mas o que mais me irrita em você é que você me acalma. Você é mais a minha casa que a minha própria cama. E às vezes isso me faz querer fugir de você. Porque eu queria morrer no seu abraço. Porque não é bonita, amada, ou importante que eu me sinto ao seu lado, é segura. Não há lugar no mundo onde eu me sinta mais segura que com o rosto afogado em você. E é torturante não poder ir para casa quando estou assustada, ou quando eu quero morrer. I'm homeless. I'm hopeless. E eu te amo de uma forma que nem eu sei explicar. E não queria estar em nenhum outro lugar. Só com você. A salvo. Feliz. E até idiota, se é que me entende.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Floco de neve

   Não vejo mais nenhuma capa, proteção ou armadura. Estou de carne exposta, cérebro afetado e alma vulnerável. E voltei a ser aquela espécie de tapete fofo em que você se deita, rola e ri sem se preocupar. Eu sou um bom tapete. Sou boa em muitas coisas, aliás. Mas estou aqui de novo. Perdida e atada a vocês dois. E vou te observar me deixando de lado quase sempre, e vou deixar de falar com ela. Porque tudo isso ainda me incomoda. Sempre, não importa o que aconteça. Porque o 'nós' de vocês me faz sentir tão só... Estou fraquinha porque a raiva foi dormir. Até ela se cansou. Só faço querer chorar, dormir, comer. E agora, escrever um pouco. Não quero mais amar. Não quero nada, entende? Estou deprimida mesmo. Como se só existisse eu no meu mundo, e como se só coubesse eu mesma nele. Mais ninguém. E como se eu não me encaixasse em nenhum outro além do meu. A solidão é tão intensa, e ao mesmo tempo tão sutil... Vocês vieram tão erosivos, vieram como uma nevasca em pleno deserto. E eu não sei mais o que fazer, mesmo. Nem o que eu achei que me alegraria deu certo. Nada dá. E hoje eu me senti sozinha como não sentia havia tempo. Eu não quero ninguém por perto. Quero ser água, quero ser neve. Derreter, evaporar, congelar... A minha vida já anda tão parada mesmo. Não consigo ser mais um ser humano. Serei neve. Um floco sozinho perdido no ar.

Percebo que estou não só no auge, como na beira do abismo quando oscilo entre o orgasmo (ou euforia) e depressão.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Embalada a vácuo.

    Sabe aquele vazio que dá? Aquela coisa com gosto de fim de tarde de domingo... Aquela coisa de estar sozinho e não estar mais sofrendo de amores por ninguém. É só o vazio. O vazio e você. Um espelho feio, um tédio. Uma vontade quase morta de viver. Um canto solitário dentro de mim, e a solidão ali, como única companhia perpétua. Um nó seco no peito, e os pensamentos relampeando loucos. Vou ficando sufocada, e sentindo tudo pesado. Uma espécie de afogamento ao contrário, como se o mundo fosse acabar em nada. Como se  fosse melhor viver sem o ar. O ar é pesado demais. A falta é pesada demais, é cruel.
   Chorei ali na cama, de soluçar. Caí naquele abismo antigo por alguns instantes, e temi não sair nunca mais. Sempre temo. Sempre aquele mesmo maldito abismo. Uma porta de entrada fácil ao inferno. Mas quem disse que a vida aqui é muito melhor? O problema todo tá dentro dessa coisa, essa cúpula miserável que mantém os pensamentos ricocheteando nos mesmos pontos. Meu crânio já tá gasto. Eles têm que sair por algum lugar. Ou no mínimo, eu preciso dos novos. Os novos pensamentos, sentimentos, sensações. Mas tô vivendo de vazio. E o vazio me mata mais que qualquer coisa.
    O tédio, a solidão, o medo, o desespero. Pânico da minha existência se esvaindo. Pavor da desesperança firme e imponente. Nada, nada vai melhorar. Tá tudo errado aqui dentro, e assim que vai ficar. A minha mente é teimosa, e a única coisa em que eu consigo me manter, é no amor. E o resto é resto, é pó. É morte. O amor seria muita sorte, mas seria também sobreviver. Não quero mais nada. Fora o amor, é vácuo. E uma intermitente vontade de voltar a respirar.
    Quero morrer, quero morrer. Repito cegamente as mesmas palavras tristes. Nem mesmo posso ouvir a minha voz. Não tem pra onde fugir. Quero dormir. E não acordar nunca mais. Seria eu capaz? Quero fugir.  Desaparecer. Entre o nada e eu não faz mais diferença. Não muita mesmo. Já posso ir. Sumir.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

O relógio e o sexo.


Tic. Tac. O relógio da parede nos assiste, e marca discretamente o tempo que leva a progressão do nosso descaramento. Quase não o noto. Quase não noto a ausência do meu antigo servo também. Pouco a pouco o mundo vai perdendo forma, perdendo importância. E eu vou perdendo a consciência. Os medos e as vontades implodem em mim, paradoxando. Vou permitindo que minha mente se derreta enquanto o fogo arde no ponto central da minha existência. Caminho da vida. Caminho do meu orgasmo, ou da felicidade.

Olho para ele e mando novos sinais. Nada discreto, nada controlado. Deixo meu útero falar por mim. Quanto mais lentos meus olhos se movem, mais eu vou esquecendo os problemas que me aguardam aqui dentro. Minha mente anestesia.  Uma euforia branda se instala em meus nervos. A mão bruta na minha coxa. A mesma mão nos meus seios, e depois ela me puxa. Olhares suaves indo e voltando, permeados de uma agressividade nata, de uma sensualidade bruta. Gemidos ecoando em minha mente. Vagamente eu me lembro de poder ser percebida pelos ‘transeuntes’. Escondo o rosto repetidas vezes, na tentativa de amenizar a declaração estampada em minha cara. Eu gosto de sentir essa dor.  Quero mais, quero mais forte. Abro as pernas e mergulho em seus olhos. Vamos, você sabe o que fazer. A linguagem corporal se confunde com telepatia. Ele me atinge, bruto ainda. Bruto, antônimo de lapidado. Bruto, sinônimo de agressividade. Meu masoquismo agradece. Deliciosamente animalesco. Levo a mão ao meu pescoço. Desprovido da vagarosa sensualidade, ele prossegue. Tusso. Apesar de tudo, é maravilhoso ser tocada.

Dou um beijo anomalamente sutil em sua pele, na tentativa de encontrar uma zona erógena. Recebo a reação e a interpreto otimista. A mão vai pra minha nuca, e a minha agora passeia entre minhas pernas. Arrepios, provocações. Uma leve puxada de cabelo. Vou me masturbar aqui, agora. Dessa vez eu digo mesmo, sussurro em sua orelha. Quero que ele sinta que o estou fazendo por ele. Porque quero que ele veja, porque quero que ele goste.

O mundo volta à tona. Interagimos desconcentrados. Ele se senta, e logo eu desço ao seu colo. Ele me ajeita. Posso senti-lo contendo seus gemidos, coisa que eu já não faço com muita dedicação. Alcanço seus dedos, vagamente atenta aos outros. Minha boca está nervosa. Eu quero, eu quero. E você sabe o quê. Levo-os à minha boca. Tento chegar à minha garganta, mas ele retoma o controle e brinca como acha melhor. Eu só acompanho. Me movo inquieta sobre ele.

O ar que engana, em sua temperatura mais baixa que a real, já me conhece há vários anos. Sabe que meus movimentos não são novos, mas a minha excitação é fresca, apenas no sentido de recente, que de corpo eu sou apenas quente. E cada vez mais. Nos obrigam a abandonar nosso conforto. Levantamos, agraciados com um breve momento a sós na sala. Disfarço arrumando as minhas coisas, sem saber bem por quê. Ele se põe atrás de mim, mas de modo que nossas línguas possam finalmente se tocar. O momento é bom, mas precisamos mesmo ir. Só mais um pouco... Não nos permitimos uma distância que ultrapasse alguns centímetros, e ainda de costas pra ele, me insinuo, me esfrego.  Tentado, ele me puxa com tamanha força que me tira um pouco do chão. Perco a voz, o ar e a sanidade. Demoro a me recuperar, e quando consigo, apenas solto algumas risadas de satisfação. Sei que chegamos ao auge do que nos será permitido hoje.

Saímos cúmplices e satisfeitos (não completamente), e o sol nos torra a alma do lado de fora. Até o calor é bom enquanto eu curto a umidade da minha calcinha.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

domingo, 10 de novembro de 2013

Um dia (in)útil.

   Me encontro com ela pela manhã. Cinco malditos dias na semana são assim. Meus olhos a perseguem, mas ela os evita quase sempre, e isso é tremendamente incômodo. Especialmente considerando todas as vezes em que os olhares dela eram só meus... Como se não houvesse mais ninguém ali conosco. Apenas eu e ela, e seus olhares pervertidos só pra mim. Ela me evita, e de alguma forma me enfurece não ser mais suficiente. Conheço bem o que é certo, mas ela está ali, me provocando. Mesmo quando não me olha. Eu sei o que ela está fazendo, e que ela nunca deixa de notar minha presença, assim como nunca deixa de agir como se eu não existisse. Pisa em mim.

    - Bom dia!
    - Bom dia.
    Sorrio ao responder numa tentativa fracassada de reaproximação. Ela sorri de volta um sorriso falso. Quase assassino. Não sem demonstrar sua simpatia venenosa. E só me faz querer estar ali com ela de novo. Não posso, nenhuma das duas permitiria. É torturante.
    Se senta ao lado dele. Não é novidade a facilidade dela para se ‘doar’ a alguém, ou a sua necessidade de aparentar intensamente libidinosa.  Recosta nele. Eles estão tão perto... Ela resolve interagir. Fala comigo, sentada no colo dele. E todas as reações dela enquanto ele a aperta. Os olhares... Eu conheço tudo. Ela nunca foi minha, na verdade. Posso sentir na minha coxa o peso dela que ele sustenta agora. Ela sorri. Sorri como sorria nos quartos comigo. E em qualquer outro lugar em que estivéssemos a sós. Ela sempre teve esse dom de convencer a lealdade inquestionável apenas com o olhar.
    Me olha como se fosse minha, o olha como se fosse dele. E se exibe aos dois ao mesmo tempo. Deixa incomodamente explícito o que ela faria se não houvesse mais gente por ali. Sua boca, suas coxas, suas unhas. Seu corpo conversa com a gente e não nega muito do que diz a sua voz. Gargalha e modela sua farsa, tão fácil de segurar nas mãos quanto água.
   Foge com ele ou sozinha... Uma borboleta negra dançando dócil e fatal. Mais um dia de semana cansativo. Mais um dia sem ela. Mais um dia só.

sábado, 9 de novembro de 2013

Mania n°14: Tomar banhos de madrugada (entre 1h e 3h).

A vida é sobre o amor.

   Masoquismo mesmo é o amor. Não cego, mas burro, sim. Ultrapassa as barreiras de lógica, e engole rapidamente qualquer cálculo de probabilidade. O amor supera a matemática, mesmo sendo nós tão educados para respeitá-la fielmente. O amor supera a dor, supera o dinheiro e supera a morte. Porque o amor se dá na mente, e a mente é incurável, simplesmente. O instinto excita a violência, e a balança interna força a submissão em nome da paz. Oscilo entre possessividade e tolerância. E a esperança aparentemente inabalável se gasta aos poucos, dia a dia. Um fantasma me acalenta em forma de serpente, e enche meu pulmão com sua viscosidade tóxica. O medo nasce do amor, e pelo amor será vencido. Como eu disse, o amor é masoquista, e toda dose de amor vem com uma de medo da qual eu não vou abrir mão. Não dessa vez, não de nenhuma. Sou cachorra inteligente, porta manipulada. Esquizofrenia enclausurada. A que pressente, alerta, e que não desvia do próprio destino infeliz. "Ah, mas ela o fez porque quis". Meros mortais. Não entendem que a minha esperança depende do meu sacrifício sempre. Ou morro, ou morro. E tudo em nome do amor.

Mania n°13: Sempre querer estar limpa, fresca e sem sede para fumar.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Confessionário:

Querido, não gosto de você. Gosto do seu pau. Querido, não te quero mais perto, te quero morto. Querido, o que diz a minha agenda é passado morto depois de posto sob tortura. E você não é quem está escrito lá. Querido-futuro-morto, você precisa sofrer de alguma forma, e por isso estou me aproximando. A minha confiança foi devorada, corroída, depredada. O desgaste foi tamanho que tornou-se algo irreparável. Agora você só é um futuro cadáver. Uma vítima que outrora fora facilmente minha e agora está aí se decompondo, nas mãos de uma necrófila qualquer. Alguma bactéria nauseante.
Engulo a partir de agora, e por tempo indeterminado, meu orgulho e meu ódio. Viverei da libido violenta, e direi como se o passado intermediário não houvesse. Sorrisos, abraços e 'bom dia's. Dizem que inimigos a gente vê de perto. E você não sabe do quão perto eu sou capaz de estar.
Eu sou uma bomba-relógio, querido. Você não sabe. Você não teme. Ignorante como a própria carne envolta em um desejo egoísta e corrosivo. Inconsistente e imaturo. Prato cheio para o meu mais novo degustar.
Não tome cuidado, não fuja. Não vai dar certo mesmo.
Estarei lá.

A uma víbora deliciosa.

   Você me inspira do útero às unhas. Me instiga a ser má, e a ser superior. A você ou a qualquer outro. Estou tão acostumada a ser fraca que essa súbita autosuficiência que nasce em mim chega a ser assustadora, mas reconforta. Fiz planos para nós dois. Fiz planos para outros vários. Fiz planos para uma menina também. Agora eu percebo que a melhor maneira é o manuseio da aparência. Eis que a verdade não reina mais aqui. E percebi que as armas usadas contra mim, são as únicas capazes de derrotar os oponentes. De qualquer forma, não espero a morte me devorar as tripas. Serei tão dissimulada quanto vocês todos. E a solidão, se há de me perseguir, há de fazê-lo não importa aonde eu vá.
   Agradeço aos seus conselhos venenosos (seu adorador de víboras), aos seus elogios falsos, e à sua simpatia calculada. Desconfio da humanidade, mas a sua companhia é agradável. E uma esperança afogada em malícia - mesmo com requintes de crueldade - ainda é esperança.

domingo, 3 de novembro de 2013

Um não habitual.

   Ela o observa. Ele está absorto com seus textos, com seu novo projeto. Pretende publicar um livro. Ela o admira. Sua coragem, sua dedicação. Ela admira a capacidade de permanência que ele tem. Inclusive a paciência que ele tem com ela. Vestindo apenas um conjunto de lingerie preta e rendada, ela se senta na cama, e recosta na cabeceira. Acende um cigarro. Ela tem consciência de que está linda, mesmo com o cabelo totalmente despenteado. Brinca com os próprios pés na cama, sobre o lençol escorregadio, e expira bastante fumaça.

 - Eu já disse que te acho lindo?

   Ele se distrai do que está fazendo e olha para ela.

 - Não. Você acha?

 - Acho. - ela dá uma tragada mais forte que o normal - Diria até que... Você meio que faz meu tipo.

 - Não achei que você tivesse um tipo.

 - Na verdade eu não gosto de me ligar muito nessa coisa de aparência... Mas eu sou atraída por garotos magros. De preferência com cara de dócil.

 - Com cara de menina.

 - É. Não me entenda mal, mas você tem cara de quem tem potencial pra ser submisso. Mas essa sua atitude é ainda melhor.

 - Que atitude?

 - Dominante. Suas palavras, suas ordens... Você sabe que eu não obedeço, mas adoro ouvir você mandar.  É sexy.

 - Ah, é?

 - Aliás, você podia aproveitar pra me bater agora, né? Ou me foder.

 - Você sabe que eu não vou fazer isso. Não agora, pelo menos.

 - Sim, eu sei. Nem tão cedo. Eu... Ah, porra.

 - Que foi?

 - Nada. Esquece. Você tá ocupado.

 - É, mas...

 - Vá se foder.

 - Aonde você vai?

 - Vou fumar lá fora.

 - Assim?

 - É, assim. Aliás, vou pegar uma jaqueta que está frio lá fora.

 - E se alguém fizer alguma coisa com você?

 - Bom, pelo menos alguém vai fazer alguma coisa comigo. Ao contrário de você. Até mais tarde.

 - Não!

   Ela bate a porta e some na noite com seu maço de cigarros e isqueiro na mão. De lingerie preta rendada, uma jaqueta de couro preta, e uma sandália de dedo combinando. Completamente insandecida.

sábado, 2 de novembro de 2013

One thing.

 - Já tive vontade de te matar.
 - Já tive vontade de te estraçalhar.

 - Por desejo ou por raiva?

 - Eu não sei... Com você, raiva e desejo... Tudo se une. Como se fosse a mesma coisa.

  - Isso é excitante.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

sábado, 26 de outubro de 2013

Paz temporária

   Há uma brecha no espaço-tempo que me permite finalmente estar em paz. Por um tempo programado, sem uma gota de álcool, e a tal ponto que não me lembra de precisar ser alimentada. Uma ausência bizarra e confortável de mim mesma, e toda a insegurança que me habita como um caracol habita sua concha.
   Aquela paz que se assemelha ao sexo.

Como vocês esperam que eu saia dessa maldita caixa?

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Palavras são como prostitutas. Seus corpos já estiveram em muitas mãos e em muitos pensamentos, e por isso alguns as consideram banais. Ou até mesmo inferiores. Mas sempre há os que vão amá-las por não encontrarem conforto em nenhum outro lugar.

Eles que disseram

   Disseram-me que eu tenho um dom. Que minha prosa é agradavelmente incomum. Mas fiz uma promessa ao meu espelho, de não acreditar em nada do que eles me dizem ser bom. Um medo preocupante de ser suficiente, de bastar. Quando é o que eu digo desejar, constantemente. Paradoxos lentos, cansativos, tediosos.
   Convenceram-me de que minha singularidade é o desenho das palavras. As ordens, associações e pensamentos deturpados sobre a vida, e principalmente sobre mim. Tudo mergulhado em um certo egocentrismo e um narcisismo inverso. E a vida já começa a perder a lógica.
    Faltou-lhes o aviso de que eu sou a prata envolta em vidro. De que sou apenas reflexo de todo o mundo que eu invejo e que me soa inalcançável. Desenho porque outro alguém desenhou. Escrevo apenas porque desejava ser capaz de tanto. E isso realmente não me faz talentosa. Especialmente quando todo o meu sentido vem de fora. Porque alguém já o fez antes.
    Alguém com um defeito no quesito sanidade, até chegou a me dizer que eu poderia (e deveria!) ser famosa. Mas por esse lado eu sou até um tanto humilde. Queria que apenas alguém entendesse sobre o que eu ando escrevendo. Não que me achasse talentosa, ou que admirasse alguma história. Na verdade eu escrevo porque gostaria que alguém me conhecesse lá de dentro. Porque seria bom alguém bem perto. Alguém que só quisesse estar ali. Perto de mim e das minhas palavras tortas.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Mas que porra?

    Ah, eu estava tão feliz... Essas malditas reviravoltas emocionais. Euforia, depressão e o surto psicótico agressivo com o qual eu recomeço o ciclo. A minha autoestima deu defeito e ninguém sabe como consertar. Ah, meu amor. Você sabe que eu preciso mesmo de alguém pra chamar de amor... Alguém que me entenda. Alguém que me entenda de verdade, cara. E eu tive uma vez. Mas desconfio que ele nunca me entendeu de verdade. Quem me entende? A questão não é simplesmente saber que eu sou uma menina mimada e covarde. A questão não é saber que eu preciso sempre de sexo e que eu sou carente. E a questão não é saber que eu sou chegada ao sadomasoquismo, serial killers e coisas meio dark. E pra falar a verdade, também não é sobre como eu sou maluquinha ou sobre minha tendência a ficar triste ou ser escandalosa e agressiva. O que eles todos não sabem é que boa parte disso são só reputações que eu preciso manter. Como a minha vontade incansável de comer. E como eu abro mão da vontade de ser autêntica para ser bonita magra? Tem algo muito errado por aí. Quem quer me entender (não, isso não existe) precisa entender quem eu nasci. Precisa ver quem eu era quando bebê, quando criança, e quem são meus pais. Quem realmente são meus pais pra mim. E não essa coisa toda que eu falo sobre como eles são egoístas e como eu não devo satisfação pra ninguém. Quem quer me entender precisa me dizer (apenas uma vez!) sobre como eu gosto da minha mãe e como ela deve estar preocupada comigo. Quem me conhece sabe que eu odeio muito ordens, e que não acho que as pessoas podem regular a minha vida. E aí alguém precisa entender que eu sempre fui boa, e sempre quis as coisas boas pra mim e para todo mundo. Eu sei muito bem abrir mão do que importa pra mim quando quero o bem de alguém (ou talvez eu seja masoquista). Eu sei ser boa mesmo dizendo que já não acredito em nada, em ninguém e muito menos em mim.  Alguém que leia os meus textos. Alguém que possa interpretar a minha agressividade como uma necessidade desesperada de atenção. Alguém que não brigue comigo por querer atenção. Ora, que há de mal nisso?
   Realmente ninguém entende que eu preciso tanto ser entendida... Preciso de alguém que diga "eu sei como é isso, às vezes eu também não quero sair do casulo". E que me convença de que não é tão ruim assim, que eu consigo. Mas não, esses seres estúpidos insistem em brigar comigo e jogar na minha cara o quão ruim eu sou por decepcionar todo mundo e só me importar comigo mesma. Por que precisa ser assim? Pressionar não é bom.
    Ó, céus! Agora uma paz triste e uma vontade sonolenta de me dissipar. Desaparecer no ar e fazer meu cérebro dormir. Quem sabe pra sempre? Ah, essas oscilações de humor...

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Declarações.

"- Te amo.
- Te amo."

"- Ok.
 - Ok."

"- Oi.
 - To."

Mania n° 11: Cantar no meio da rua (no metrô, no mercado, no shopping, no táxi... e em qualquer outro lugar).

Mania n° 10: Viver sentada no chão por aí.

Mania n° 9: Demorar demais no banho (fazendo diversas coisas).

Mania n° 8: Viver adverbiando os substantivos.

Um tolo soluçando.

   Te ver hoje tão soluçantemente rubro me partiu o coração. Eu juro. Estava por um fio, a ponto de desandar a chorar contigo. Porque você precisava de mim? Será que precisa? O problema é que a confiança é a base de tudo (frase clichê, eu sei, mas é verdade). E irrecuperável. Especialmente quando se trata se gênios fortes e instabilidade emocional. Eu cometi dois maiores erros na minha vida. Bom, pelo menos foram dois relacionados a você. O primeiro foi te deixar (e acredite, eu o teria feito outra vez do mesmo jeito). O segundo foi te apresentar a ela (esse extremamente desnecessário, eu mudaria). Mas como eu poderia imaginar que chegaria ao ponto de odiá-la tanto? Não se espera esse tipo de sadismo de si mesmo. Eu esperava conseguir resgatar a minha inocência otimista, e não desenvolver o meu lado assassino brutal. Tá cada vez mais difícil, amor. "amor." Inexistente. No meu dicionário não consta.
   A questão é que hoje se tornou ainda mais forte a minha decisão. E cada dia tem sido. Você disse que não queria precisar de mim, então não precise. Disse que não me queria nos momentos ruins, se eu não o quisesse nos bons (diga-se de passagem, depois de me dizer que não queria mais que eu o quisesse). Não me parece justo você sentir minha falta agora. Entenda, você teve sua chance. Você escolheu. Me desculpe se eu sou mais forte que você. Me desculpe se eu preciso disso para sobreviver. Aliás, não me desculpe de porra nenhuma. Eu quero mais é que você suma da minha vida. Para sempre. Quero que suma dos meus pensamentos (e isso não é lá muito difícil de conseguir, já que tenho memória fraca a longo prazo). E que eu esqueça que um dia a conheci também.
   Ah, querido. Deixe de ser tão patético. Fuja de casa, faça qualquer merda, mas não me dê um abraço incômodo de meio século para depois passar um tempo inteiro de aula chorando de soluçar. E depois dizer que não vai contar a ninguém o porquê de estar chorando. Estou cansada de você. Muito cansada. Some de vez. Por favor, desapareça. E vê se aprende alguma coisa com a vida, viu? Em vez de só me dizer que eu tenho que aprender com a minha. Vê se cresce por dentro, e não só na parte ruim.

Curioso perceber que enquanto eu tinha medo que você não fosse mais meu, ela já tinha te roubado e enfeitiçado havia muito tempo.

A  decisão foi mais por mim que por você. Estava tudo tão claro. Você já era dela. Todo dela.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Texto número 375 (ou mais)

   Vou falar sobre você, porque já não tenho mais o que dizer. Porque foi você que agora resolveu se instalar na parede do meu estômago. Mas contra as expectativas, a comida ainda tá me descendo legal. Não é que eu não queira chorar de vez em quando, não me entenda mal. Ainda sou essa manteiga derretida que vive da dramaticidade. Mas é que eu estou realmente decidida dessa vez. A ponto de começar a confundir o que me fazia falta em você. Será que era a euforia do meu ponto G, ou quando você me acalmava de um surto psicótico? Só tenho certeza que sinto falta de te machucar. Isso a gente não encontra em qualquer canto. Seu masoquismo era às vezes uma espécie de entorpecente para a minha alma. Você foi realmente muito mau comigo. Mas eu acho que o que realmente me faz falta é a ideia de ter um namorado. De ter alguém que se importa mesmo. Alguém que me coloca em primeiro lugar e que cuida de mim. É uma ideia meio deturpada, aprendida em muitos filmes não-nacionais que meninas assistem com mais frequência do que deveriam. Mas me faz falta. Ah, romântica incorrigível. Obsessiva e viciada em prazeres físicos. Sou abominavelmente eu, querido. E agora, eu sem você na minha vida. E você nem vai se dar ao trabalho de ler o texto número 375 que eu escrevi pra você. Não que você tenha lido os outros 374. Você não se importa com o que é importante para mim. E isso doi. Porque provavelmente eu nunca vou encontrar o que eu vi naqueles filmes idiotas. Porque nem existe. E talvez nem mesmo eu exista nesse mundo tão sobrecarregado (luto contra a minha terapeuta para existir, eu juro).
   Amor, você nunca entendeu minha filosofia. Nem minhas estranhezas, nem meus sentimentos. Você nunca entendeu minhas necessidades, e provavelmente não entenderia como agora eu não preciso de você. Mas em algum lugar, te quero. E se tudo correr bem, não por muito tempo. E de alguma forma, essa minha decisão ainda me incomoda. Não sei mesmo como você pôde se deixar levar por essa ladainha venenosa, mas quem sou eu pra dizer quando fui a mais intoxicada? Eu sinto muito que você tenha que ir. Sinto mesmo. Mas não há outra saída, se não me livrar do que me atormenta. E vocês dois me atormentam mais que os meus demônios de 2011. Sinto muito que tenhamos os três nos tornado quem nós somos. E, adeus.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Nós

[...]
Eu... sei que me disseram por aí
E foi pessoa séria quem falou
Você tava mais querendo era me ouvir cantar por aí
Eu... sei que você disse por aí
Que não tava muito bem seu novo amor
Você tava mais querendo era me ver passar por aí.

Trecho de Nós,
[...]

Trecho de Nós, de Tião Carvalho, na voz de Cássia Eller.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Talita being Talita

- E se você me matasse?
- Oi?
- E se você fosse meu assassino? Digo, como naqueles livros de serial killers, ou amantes obsessivos. Seria tão bonito...
- Eu não teria coragem.
- É, eu sei. Mas e se eu te obrigasse? Tipo colocar uma faca no seu pescoço e te mandar me matar?
- Você tá com aquele olhar de novo.
- Sei...
- ...
- Me mata?
- Não.
- Por favor.
- Não.
- Me mata!
- Não.
- Por que você é tão mau comigo?
- Eu poderia dizer o mesmo.
- Se eu sou assim tão má, você devia me matar.
- Não vou te matar, desiste.
- Então pelo menos me machuca.
- Vai se sentir melhor se eu te machucar?
- Vou. Bastante.
- Tá bom, então.

- ...

- ...

- Não vai me machucar?
- Podemos fumar um cigarro antes?
- Sim, podemos. Mas por quê?
- Não gosto de te machucar.
- Ah.

- Mas eu te amo.
- É.
- Muito, até.
- Não deveria.
- É, querida, eu sei.

- Cadê o cigarro?

Heart

 Vou amar a todos eles, e fingir que já não sonho. Fingir que já não me importo, e que já não te desejo. Vou amar a todos eles, e até odiar alguns, mas a minha cama sabe quem eu moldo em minha mente. E pesas sobre o meu corpo sempre que me sinto só. Sussurro alguns versos soltos, e te peço pra ficar. Adormeço delirando com a imagem de teus dedos. Carinhosos, sedutores. Meu querido, sabes que é por ti que meu coração tão negro bate. Bate lento, sombrio e decadente. Sinto os olhos assassinos do teu ser invisível frente a mim.
 És a mais real das mentiras que eu me conto. Minha mentira preferida. Aquela pela qual morro de amor.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Pequenina.

   Sentada no chão ela escuta. E suporta. E se dispõe a ajudar a qualquer hora. De joelhos, ou deitada, ela venera. Ela ama e se submete como ninguém. Uma escrava da própria necessidade de ser amada. Posso ajudar? E lamber seus pés, eu posso? Estúpida. Sofre, sofre, sofre. Mas ela não se importa. É maravilhoso poder amar alguém. Até que todos a deixam quieta num canto escuro. Numa caixinha preta e apertada. Onde o vazio a sufoca. E de repente ela está tão sozinha que entende que não deve amar a mais ninguém. Nem a si mesma.

Epitáfio

   Por aí anda a garotinha. Sorridente, carismática, exuberante. Todos a conhecem, todos a adoram. Por que não? Ela é um amor!
   Maremoto número um. O mundo transtornado da garota já não tão pequena, a acorda para uma vida que ela não conhecia. Onde tudo deve ser questionado a todo momento, e todos insistem em contrariá-la.
   De repente ela se vê só.
   Um tornado, um furacão. O mundo subitamente está fora do lugar. Ela está abandonada, e odiada, e rejeitada, e excluída. A auto-rejeição toma conta de todo o seu ser e apodrece toda a doçura encontrada na garotinha de antes.  Ela se torna amarga.
    Agora, um estopim de amargura chega ao fim e ela explode em fúria. A menininha se torna um monstro. Muito do agressivo, aliás. Violento. Ela se volta contra si mesma. Seu corpo explica aos menos íntimos o tamanho da sua dor. Ela parece nem sentir... É agora um turbilhão de sensações cíclicas e indistinguivelmente entrelaçadas.
    Paz. Um pôr-do-sol tranquilo. Ou vários. Repletos com seu vício preferido... E crise. Um mar de emoções não pode passar tanto tempo sem suas ondas magníficas. Foge.
    Sobre um plano de fundo pintado de uma dor negra, com gostinho de culpa, ela se diverte na escuridão da noite. O sol vai embora sob outra companhia. O vício salva tudo. Cruel.
    E crise.
    E tudo se torna vazio de verdade. A bondade que já não se ausenta, a mente amadurecida. A vontade branda de ser melhor. E o passado tenebroso. Tudo pisoteado ao redor daquela insana garotinha. E todo aquele amor abandonado no caminho...
    Uma confusão permanente se instala numa alma perdida. Um vai e vêm entre felicidade e tristeza toma conta de dias intermináveis. Nada novo. Nada vivo.
     Às vezes garotinha, às vezes monstro.
     Às vezes mar, às vezes pó.
     Mas sempre, sempre, sempre, sempre só.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Segunda-feira.

   Ela acorda pela primeira vez na segunda-feira, já mais tarde do que deveria. Acorda e pensa em Yuri. É estranho acordar e pensar nele, em vez de Louis. Manda uma mensagem. É como se fosse Yuri a pessoa certa a quem pedir ajuda, a quem pedir consolo. Ela não tem escolha. Ele é a esperança dela. Trocam algumas mensagens e ela volta a dormir. Já perdeu o dia, de qualquer forma.
   Um som estranho de algo vibrando interrompe um sonho onde duas pessoas a querem. Ela se pergunta se o sonho tem relação com sua própria vida, ou com o livro que ela anda lendo. A vibração continua. Ela toma consciência de que era o seu celular e olha quem é. Louis. Por quê? Ela atende e pergunta por que ele interrompeu seu sonho. Logo pergunta o que aconteceu. Ríspida, áspera, fria. Pensar nele a incomoda. Ter seu sonho interrompido a incomoda ainda mais. Mais que isso, ela não queria estar acordada, ou viva. Se pudesse, ela viveria sonhando. Perfection belongs to the mind. 
   Em poucos instantes a voz dele já é um tanto triste. Ela diz tudo o que pensa no automático. A sinceridade às vezes doi. Ele precisa ir de novo. Ela volta a dormir.
   Ao acordar, e dessa vez por conta própria, ela resolve pegar o livro abandonado para ler. O livro faz ela se lembrar de Louis. E antes que ela mude de ideia, ela tenta ligar para ele. Pedir desculpas... Tentar se reconciliar. É um erro, mas ela não pensa. Ele está falando com a namorada. De novo. Ela se lembra do porquê de ter tratado-o tão mal. Se entristece.
   A vida é um pouquinho solitária. A esperança agora foi dormir.






Amie Barroso D. B. O.
Yuri Fag Dorrac 
Louis Rad Garreef

domingo, 22 de setembro de 2013

Geni e o zepelim - Letícia Sabatella


Truly moon, truly yours.

   A lua. Bela lua e sua máscara de mármore divino. Absoluta doçura impenetrável. Primeira impressão... O romance reluzente nos seus olhos. E não os vejo. Mas discreta ela me diz tanto, que meu coração aprende a bater de novo. E com tanta intensidade que aprendo finalmente a pôr esse todo no papel. O amor à lua branca é devoção. Primeira degustação de companhia. Quem me acompanha na noite fria? A lua... O amor da minha vida. E essa feminilidade oculta, desapercebida sob essa camada de perfeição. Nos casamos.
   Descubro chocada que a lua não me pertence, e sou obrigada de súbito a voltar à minha triste realidade. A noite turbulenta e depois vazia... A escuridão toma conta de tudo que existe. Mas a lua que é lua sempre volta. E logo a noite brilha incansável. Prevejo suas fases e entendo o que é amor, antes mesmo de comprovar a minha certeza de eternidade.
   Depois que a aceito como é, a lua me conta todos os segredos mais secretos sobre o mundo. As filosofias, e toda a maldade do mundo. A lua me conta sobre as sordidezas da noite, e compartilhamos devoções à luxúria. Sou tão noturna quanto a lua... E passamos de amantes a almas irmãs em um espaço de tempo que nunca pôde ser medido. Emoções são mesmo imensuráveis.
   E de repente é tudo tão real e tão sublime que é do pouco em que eu ainda confio. Mesmo oscilando tanto como maré. A lua sempre volta. Sempre. E sempre vai me oferecer suas sabedorias e seu coração.
  My blue moon was my first true love, my first true friend, the first that understood my soul. And still does. 
I guess the moon ain't just my soul mate, but also the love of my life. 

sábado, 21 de setembro de 2013

Primeira vez

   Pela primeira vez eles se olham. Uma certa curiosidade obsessiva se instala em seus olhos. Se observam com a mesma voracidade com que gozam sob seu fetiche em comum. Se desejam. Desejam seus corpos como desejam devorar a mente um do outro. Uma espécie de atração singular. Excitação baseada no estilo de organização literária. O espaço do desconhecido é grande, mas o movimento seguinte é carregado de obviedade. É tudo o que realmente sabem um sobre o outro. É o laço que os une.
   Ele se aproxima. É irresistível. Instintivamente ele leva a mão em direção ao pescoço dela. Está claro em seu olhar que ela necessita esse ato tanto quanto ele. Mas quando ele está prestes a tocá-la, ela segura seu pulso. Seu olhar muda. Ele se ofende um pouco com a rejeição. Não a compreende, mas aceita sua decisão. Se afasta. Isso a irrita. Ele não entende sua irritação.
 - Por que sempre faz isso comigo?
 - Isso... O quê?
 - Você foge.
 - Não sei te responder.
   Passam um tempo em silêncio. Ela parece frustrada, e isso o incomoda.
 - Eu odeio essa distância.
 - Não podemos ser mais próximos.
 - E por que não?
   Ele não responde.
   Ela respira fundo e se aproxima dele novamente. Pega a mão direita dele, beija o dorso e a leva até o próprio pescoço. Olha em seus olhos e ele entende o pedido.
   Em pouco tempo ela se debate sem ar, e tudo corre como esperado. Previsível, insano e prazeroso. Sua nuca está discretamente apaixonada pelos dedos firmes que ameaçam penetrar sua garganta - por um caminho um tanto anômalo. Sua mente volta a nutrir a obsessão que repousava num canto obscuro. Uma ideia que ela desconhecia de paixão.

   É uma pena que tudo na vida seja temporário,e insuficiente.

Mania n° 5: Anotar mentalmente a continuação de todos os assuntos iniciados numa conversa.

Mania n° 4: Sempre andar com uma agenda e uma caneta na bolsa (ou bolso), e escrever textos em qualquer situação.

Françoise - Curta Brasileiro


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Nuit.

   Coloquei minha mão para fora e tateei a noite. Ela era maravilhosa. Descobri que meu coração era cego nesse mesmo instante. Talvez esteja apaixonada porque sou feita de escuridão. Como é possível amar algo que não se vê? Minha alma é só um pedacinho do céu à meia-noite.

domingo, 15 de setembro de 2013

Infância

- Mamãe, socorro!
  Eu surgia em meio a mais um de meus surtos de desespero infantil.
- Que foi dessa vez, Débora?
  Acontecia mesmo com muita frequência. Contei a ela sobre alguma situação de extrema trivialidade, e ela riu.
- Por que você sempre ri da minha cara? Você não liga pra mim! É sério, mãe!
- Que bobagem! Você é tão dramática...
  Ela sempre dizia que era drama. Não que ela não se importasse, ela só sabia que eu era muito mais forte do que eu precisaria ser para esquecer do que quer que fosse a bobagem do momento. Era importante pra mim, claro que era. E ela sabia. Mas nem doía tanto assim... A vida era muito maior que isso. 
  Acabou sendo verdade. Aprendi com ela, e quando ela precisou eu fui mais forte que ela.
  A vida é muito mais que tristeza, ela me ensinou. E eu demorei a entender. Mas é dessa frase que eu me alimento hoje pra me manter aí no mundo.

A Miguel (5)

   Amor. Que saudade de você, sabia? Mais ninguém me deixa ser sádica como eu sou com você. Eu queria voltar a te estrangular. Queria te cortar. Você se lembra daquela cicatriz? Ainda acaricia ela como costumava fazer quando queria me mostrar que era meu? Ah, querido, você não faz ideia. Sinto muita falta de te dominar. De te bater, de te arranhar... Sinto falta sobretudo de você me dizendo que eu posso. E que você não vai me deixar nunca. Sabe, essas coisas... Você está tão longe... Sei que não posso chegar perto de você. Para o seu próprio bem. Sinto sua falta, querido. Sinto sua falta, escravo. Sinto falta do seu amor vassalo.

Sua amada tóxica e cruel, Talita.

sábado, 14 de setembro de 2013

Ruborescer

   Ela estava anormalmente magra. Só um sentimento podia ser visto em seus olhos, e este era fúria. Ela entrou em casa com a mesma atitude de sempre, mas o ar estava um pouco mais pesado. A porta tremeu assustada quando ela entrou. Por alguma razão que ele não entendeu, ela rasgou as próprias roupas. Estava suja, e ele não fazia ideia do que poderia ser aquela mistura escura que cobria algumas partes de sua pele. Sua estranha magreza não a tornava mais bonita. Talvez a fúria fosse fome. Teria ela optado pela anorexia? O aspecto do corpo dela era bizarro, realmente. Talvez fosse cocaína... Ela teria culpado a falta de sexo, se tivesse dito algo. Mas ela não disse. Apenas invadiu o espaço dele e começou a quebrar tudo que via pela frente.
  - O que você pensa que está fazendo?
   Contagiado como sempre pelos sentimentos tão nobres daquela moça que valia tanto a pena, ele decidiu que dessa vez ela tinha passado dos limites. Tentou segurar seus pulsos para que ela parasse de quebrar as coisas. Ela imediatamente se jogou no chão e puxou as pernas dele com tamanha violência que ele sentiu-se tonto ao cair no chão. Não satisfeita ela o puxou pelas pernas e de alguma forma derrubou sobre seus pés a cômoda, o prendendo ao chão. Ainda quebrava coisas ao redor dele. Ele ainda não sentia medo, mas uma fúria imensa e contagiosa, e a dor só fez aumentá-la. Ela provavelmente tinha quebrado todos os dedos de seus pés.
  - Puta. Você tá me ouvindo?! PU-TA! - urrou.
   Ela voltou novamente sua atenção selvagem a ele, e o olhou esperando que ele voltasse ao seu lugar de obediência e submissão. Não funcionou. Ele estava realmente furioso, e isso a irritava ainda mais. Mas estava pra piorar. Assim que ela abaixou, ele deferiu-lhe um tapa no meio da fuça. Ele sabia... Sabia que não deveria fazer esse tipo de coisa. ELE SABIA!
   - Você não...
   Não terminou a frase. O ódio a sufocava. Atingia agora o estágio da Ira. Sumiu.
   Voltou da cozinha com a maior e mais amolada faca que tinha encontrado lá. Ela mesma a tinha comprado. Ele insistentemente ainda não sentia medo. Teimosia a ela era algo desprezível. E ai de quem a associasse a tal defeito. Mirou dois dedos acima do umbigo descoberto dele. Ele tentou impedir, mas ela desceu os braços com tanta força que o que estava na frente foi cortado também. Enquanto os joelhos dela se chocavam brutalmente contra o chão, dois cortes profundos foram feitos, uma na palma da mão dele e outro no antebraço. Uma poça de sangue rapidamente se formou ao redor da faca mergulhada na altura de seu estômago.
   Em pouco tempo ele tossia sangue, e ela repetia a dose freneticamente. Os cabelos cobrindo seu rosto, mergulhados entre os órgãos recém-dilacerados dele. Seu olhar já era vazio de sanidade no momento em que ela pisara na casa. Agora seus olhos não podiam mais ser vistos. Ela era apenas um contorno animalesco lambendo uma bela faca e sua mão ensanguentada. Um cadáver rubro e afogado no chão a seu lado. Nenhum sinal de vida humana por ali.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Estranho

   Estranho no meu passado tanto o bom quanto o mau. Estranho no meu passado você, e todo o amor insano que eu decidi ter por você. Estranho no meu passado toda a dor, e todo o desespero. Estranho as traições, as esperanças. Estranho essa emoção morna que chamam de nostalgia. Estranho cada música nossa, e cada suspiro, e cada lembrança. Estranho cada caminhada e todas as vezes que ouvi o som da sua voz. Estranho a expressão "eu te amo", e acho que todas as vezes que eu a disse foi mentira. É passado, é estranho, não tem como confirmar que existe mesmo. Estranho toda a paz que entrava em meus pulmões, límpida, com um efeito mais divino que qualquer droga poderia ter. Estranho pensar no que é inspiração.
   Estranho as noites mal dormidas, estranho os choros sufocantes, e estranho a fumaça rasgando meus pulmões, enquanto eu fazia o mesmo nos pulsos. Estranho cada história que você me conta, estranho cada risada, cada sentimento. Estranho até o que eu pensava, quem eu era. Ontem a mesma estranha de que me lembrarei cega amanhã.
   O passado é um poço de água turva e sensações extremas que muito raramente eu encontro no presente. É estranho até quando eu sinto de novo. Sou ancestral de mim mesma, e vivo a tentar me fazer entender que mesmo estranho, todo o antes aconteceu. E não me deixar levar por sentimentos falsos do passado. No hoje só sinto: estranho. Vou fugir de novo a essa estranheza elaborada, e montar passados para o não-tão-breve futuro. E será tudo estranho de novo.

- Quanto tempo leva até você ir de novo?

   Ele voltou a me fazer essa pergunta. Já era de se esperar. Estávamos os dois nus na cama. Eu namorava o meu cigarro aceso e o consumia como sempre fiz com todos os meus amantes. Ele parecia invejar a minha nicotina, em dúvida se me pedia ou não um trago.
-  Esquece isso, amor...
   A fumaça foi saindo entre as palavras, eu sabia que seria inútil o que quer que eu dissesse a ele.
-  Quantas vezes você ainda vai me deixar até ir embora de vez?
   Sempre odiei essas certezas súbitas dele. Ele tinha uma certa dificuldade para confiar em mim às vezes.
-  Eu nunca vou te deixar de vez. Meu amor, eu volto sempre. Sempre vou voltar.
-  Por que mente para mim?
-  Eu não sou mentirosa. Todas as minhas incoerências são verdade.
   Resolvi apelar. Ele estava deitado me observando. Sentei em cima dele e ofereci um trago. Queria que ele relaxasse. Era nosso momento, sabe? Ele aceitou.
-  Sei dessas suas verdades.
-  Eu apagaria esse cigarro na minha perna, mas acho que você não está no clima...
   Olhei em seus olhos como faço quando quero hipnotizá-lo.
-  Não, querida. Agora não...
   Afundei suas unhas na minha coxa, apaguei o cigarro na beirada da cama. Ele gemeu.
-  Você me ama?
   Ele parecia não ter entendido muito bem. Esperei a resposta.
-  Amo... Claro que amo. Sou seu escravo, você sabe...
-  Meu escravo, é?
   Levei minhas mãos ao seu pescoço. Seus olhos se arregalaram um pouco. Medo. Ele sempre teve medo de mim.
-  É...
   Sua voz era tão baixa que eu quase não pude ouvir.
-  Então, querido. Quando a gente ama, a gente não abandona. Nunca. A gente só tira um tempo pra si mesma. Entende? Eu sempre vou voltar. Sempre. - segurei seu pescoço como um pouco mais de firmeza - Porque eu te amo.
   A essa altura ele já não estava em condições de continuar mais conversa nenhuma. 

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A linha tênue entre manter a vulnerabilidade e cortar os pulsos.

Preciso

Preciso de alguém que entenda tamanha importância, e tamanha poesia.
Preciso desse alguém pra me comer, e completar a fantasia.

Me falta a plenitude. Me falta o toque, a dor, e o orgasmo.
Me falta a onomatopeia não muito discreta. Me falta você.
Me falta você e mais três, mais seis. Me falta outros mil até que eu possa esquecer suas mãos.
Me falta dizer muitos "não"s até que eu possa aceitar meu próprio adeus.

Shhh.

   Uma espécie de dança fatal do acasalamento. Palavras venenosas, olhar ácido. Brutalmente erótico, romance alternativo. Todo amor a mim é assassino. A fúria é parte da libido. Indispensável. Lá por dentro, eu gosto dessa minha ânsia de te devorar literalmente. Arrancar a carne com os dentes, estrangular... Gosto de querer quebrar teus ossos e rir como uma garotinha lunática de 3 anos de idade. Amo meu ódio por você, apesar de este ser desejo. Quero amarrar-te e segurar pelo pescoço. Morder teu rosto, apertar bem no meio de tuas pernas e te chutar como se fosse tão selvagem e irada quanto uma égua indomada. Te direi tudo aquilo que não me permitiu, e dessa vez eu juro que você vai ouvir. Mas shhh, fique quietinho. Amordaçado. Te solto quando achar que o seu ódio é suficiente para que transforme seu orgulho em submissão, em nome da vingança. Divirta-se imóvel, e chorando. Tudo bem, isso me excita. E se você não gosta, vai aprender a gostar.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Empty

   Comecei ontem a reperceber que sinto sua falta. Não é algo que me agrade, não é algo aceitável. É estritamente necessário que você deixe de ser necessidade. E seu corpo... Ó, deus, seu corpo! Já estou exausta de tanto desejá-lo, de tanto me sentir assim só. Quanto mais eu penso em você mais eu sinto que meus pensamentos estão todos tão perdidos que já nem sei quem sou.
   Hoje me peguei pensando em álcool, mas o que é isso? Estou desesperada sentindo falta de alguém que eu nunca fui. Quero forjar uma identidade com  a qual eu possa ser feliz. Será que dessa vez você me entende ou não será capaz disso jamais? Preciso parar de pensar na sua boca, na sua maldita voz no telefone, nas suas mãos... Preciso descobrir uma saída alternativa, porque sei que a minha paz não pode estar presa dentro de você.
   Estou voltando a todos os passados, sofrendo tudo de novo. Estou muito perdida,  muito vazia. E todo mundo só vai achar uma explicação. Melhor, ninguém vai achar é explicação nenhuma, e eu serei obrigada a dizer-lhes que é tudo culpa sua, ou minha, ou de nós três. Os piores dias de terapia são aqueles movidos pelo tédio.
   Menina mimada sem presentes. Menina tarada sem sexo. Menininha triste sem razão. E lá no fundo uma fúria tão própria e tão desgastante que precisa ser descarregada em alguém. Urgentemente. Ora, mas não em você.
   Hoje foi o meu primeiro teste. Quanto eu consigo resistir assim? Não posso mais me obrigar a te ligar. Não faço mesmo a mínima ideia do que fazer pra me sentir mais real do que eu me sinto agora. E quando eu fizer o que pretendo... É, você sabe que eu vou me arrepender. Mas o que é que eu devo fazer? Me sinto vazia, querido. Vazia... Minha vida é vazia. Vazia sem você. Mas é aí, do lado de fora que você deve estar.
   Até quando eu vou conseguir me enganar?

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Acho que nunca hei de encontrar um espelho que reflita cegamente esses meus instintos tão peculiares...

Virgem:

   Toda(o) aquela(e) que não realizou a penetração anal ou vaginal. Nem em outro, nem em si mesmo.
   No caso da mulher, especialmente a que ainda possui um hímen é considerada virgem.
   Sim, sou.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Renovar.

   Aqui estou. Onde exatamente? No ponto onde já posso ser chamada de vadia obsessiva. Sabe sobre aquelas mulheres que matam por amor? Que matam por posse? "Não, você não vai me deixar! Nunca!" É mais ou menos por aí. Se eu quiser te machucar, eu vou te machucar. Não ligo para o que você quer. Serei tão cruelmente falsa quanto sua amiga me ensinou a ser. Instável. Bipolar. Não é assim que os loucos fazem? Não é assim que eles me enlouquecem? Pois bem. Serei boa, serei má. Serei fria, e serei quente. Bem, quente. E vulnerável, e infantil. Sentarei no seu colo e direi o que você quer (mas diz que não) ouvir. Serei tão incoerente quanto você tem sido. Vou pela maré.
   O que faz os homens rejeitarem as putas? As putas são maravilhosas! A ninfomania é divina. Sex is supposed to cure their souls. And it will. A partir de agora, eu sou egoísta. Do fundo do meu coração. Escolhi ser assim com ela, e escolhi agora ser assim com você. Você se pronunciou vezes demais. Se você tem um objetivo, este está bem claro para mim. E se não, está incoerente demais para exigir algo de mim. A partir de hoje, serei eu. Serei puta. E serei de qualquer um que não de você. Let her bark for you.
   Sabe de uma coisa? Não vou mais dar em cima de você. Vai ser o único. Se cuida, viu?

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Adeus.

   Quantos textos será que eu já te escrevi? A relação de submissão e posse é muito, muito complicada. E encantadora, devo admitir. Você não percebe o quanto magoa sua dona quando se solta das correntes? Meu querido, eu pertenço à minha vítima sempre que estamos sozinhos na sua cela. Mas você está sendo envenenado por ela, pela víbora... Ah, maldita asquerosa. Ela vive te soltando de onde é o seu lugar. Sei que ela vai te levar um dia, eu sei... É só questão de tempo, não é? Apenas a inércia de estar ali preso que ainda te mantém por perto. Isso e talvez um pouco da dificuldade que nós todos temos de tragá-la sem nos sufocarmos. Ela é maravilhosamente tóxica. E espero que você seja realmente imune a esse veneno. Espero que você não tenha nascido com este mesmo dom. Estou deixando você ir de dentro de mim. Porque você está me afastando. E vou deixar aos poucos. E vai continuar doendo. Mas eu sei que você vai embora. Eu sei. Adeus. Adeus de lá de dentro de mim. Espero poder deixar uma bela de uma cicatriz antes que você se vá.

A chuva é feromônio para qualquer um que não tenha o seu cheiro. E sou sua, e sou deles... Meu corpo é da chuva como você é dela.

La nymphomane.


Você sabe o que fazer.

   Querido indeciso. Mamãe já dizia "não fode nem sai de cima". E a definição dela é mais que apropriada para tal contexto. É perfeita. Porque significa não só a metáfora do que você é, mas também a literalidade de nossa situação. Digo, você sabe o que eu quero. E eu deixei isso bem claro. São duas coisas bem específicas. A sua amizade, e sexo. E às vezes (me condene por isso), o sexo vem em primeiro lugar. É como se eu não fosse sentir sua falta se você ao menos me desse a opção de transar contigo uma vez por semana. Se você pusesse as mãos nos lugares certos, na velocidade e posição corretas. Eu sei que você sabe como fazer. E eu sei que você gosta. Ou será que é só fingimento? Ou será que a culpa te corroi tanto nesse coraçãozinho instável que você não aguenta me ver de cima fazendo você-sabe-o-quê? Queria me empurrar pra longe? Ou quem sabe é só hipocrisia... Fica difícil acreditar em você quando você muda de opinião todo dia. E não estou falando só do que você me diz com voz, mas do que me diz com o corpo. Você sabe... Você não é tão idiota quanto faz parecer. Eu te conheço melhor que ninguém. Demorei a conhecer, mas conheço. E não sei se confio na sua raça, honestamente.
   Não me leve a mal, eu não queria ser hostil, mas você sabe por que isso está acontecendo. Resolveu se fazer de santo e purificar a alma. Traição realmente não é algo aceitável. Ah, me poupe, garoto. Me chame de arrogante o quanto for, mas foi você que quis meu corpo, minha bunda, minha boca gemendo pra você. Foi você que quis. Eu não fiz nada disso sozinha. Agora termine o que você começou.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Problemas.

- Oi.
- Bom dia.
- Tudo bem?
- Não.
- Que foi?
- Só pra você ficar ligado, eu tenho vários problemas.
- E quem não sabe disso?
- Bom, é que as pessoas acham que me conhecem, mas geralmente não sabem da metade. E olha que eu deixo tudo à mostra.
- E o que é que eu não sei?
- Que eu sou ninfomaníaca.
- Todo mundo sabe que você só pensa em sexo.
- Não, não. Aquilo é brincadeira, ou só eu mantendo minha reputação. A questão é mais grave que isso. Eu sou viciada.
- Ainda não me parece novidade.
- Digamos assim, eu tenho um limite de uma semana sem ser tocada. Depois disso a situação começa a ficar feia. E não tô falando simplesmente de um orgasmo. Não consigo passar uma semana sem orgasmo...
- Explique melhor.
- Eu fico estressada, triste, minha autoestima baixa, fico incomodada, infeliz. Entenda, eu pre-ci-so ser tocada, ser fodida, toda semana. Sem falta. E uma semana já é um tempo longo...
- Entendo.
- Olha, talvez você não entenda isso, mas eu nem me importo de você ficar com outras. Só preciso que esteja disponível pelo menos oitenta por cento do tempo.
- Acho que posso viver com isso.
- Não, você não pode. Mas quero você na minha cama de qualquer jeito.
- Então acho que você não tem muita escolha.
- Não, porque eu sou ninfomaníaca. Como eu disse, tenho problemas...

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Tripofobia

Peito asqueroso, pele macia;
Muito nervoso, quase fobia;
De noite terror, esqueço de dia;
Eu vejo de novo, muita agonia.

Meus pelos sozinhos dançam em mim;
Socorro, socorro, eu tô pra morrer;
Meu deus, que frescura! Por que tanto assim?
Olá, terapeuta, preciso te ver.

Lei da vida

Violetas vêm primeiro,
Mas assim não deve ser;
Não importa o que eu faça
Eu sempre vou me foder.

Blue Moon

Rosas são de qualquer cor
Violetas são azuis
Eu adoro o seu amor
Lua que tanto reluz.

Jogo dos 7 erros





quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A casa que matava madres.

   A primeira era conhecida como ex. Havia recentemente perdido uma cadelinha, do mesmo mal que agora a tinha, quando ela veio nos visitar. Ou despedir-se. Veio ela com um novo cachorrinho, apelidado Gigante por sua minusculeza, e este passou a residir conosco. Enquanto ele crescia em meio à fúnebre confusão, uma filha de um casamento antigo veio ouvir as últimas palavras da primeira moribunda que partiria daqui.
   Já da segunda já se esperava há um bom tempo algum novo problema grave. Coração. A anterior teve câncer, e a coisa lhe tomou o corpo inteiro. Já essa estava também já sem chance, mas de um mal diferente e aleatório. Estado agravado em todos os sentidos. Quatro filhos chorosos de uma não-tão-velha dona que já não queria mais estar aqui. E então, foi-se. Eu também não estava aqui.
   A pequena bola de pelo preta que festejava pelos móveis e camas do recinto amaldiçoado surgiu como notícia de morte, provavelmente no tempo exato entre estas duas mortes. E a filha só se safou porque se foi logo daqui.
   Tenho novas de uma outra que está chegando aí. Que vem porque já temem que esta também seja empacotada logo, logo. Acho que só eu canso dessas morbidezas por aqui. E depois fica aquele clima eletrizante de espíritos sádicos que rondam as paredes empoeiradas. E isso fora uma outra de que tô ouvindo falar. Uma indireta que eu espero que não acabe por aqui também. Afinal, eles parecem recolher as almas das pobres. Acho que já basta. Três tá bom. Tá, eu sei que a terceira ainda não morreu, mas é de se esperar, não é?
   Fora a maldita minha que fica adoecendo de graça o tempo todo. Trato-a como a um bebê. Atenta às doenças, e qualquer tipo de choro ou incômodo que ela externe. Não quero que a minha morra. Tá cedo ainda. Não mesmo. Já até sonhei com isso. Espero que por ser filha da última, ela esteja imune a esta praga. A necessito.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Irritação.

   Drama, drama, drama. O relógio fazendo insistentemente esse tic-tac revoltante. Todos eles tão dormindo agora. Você não, que você tá falando com ela.
   Eu tô tão irritada com o que você veio me dizer (e isso definitivamente não é algo racional), que desisti de tentar escrever um texto que não seja um puro desabafo. Direto. Cortante.
   É a única maldita coisa que eu sei fazer. E me desculpe por querer mostrar isso pro mundo, ok? Desculpa se eu preciso tanto que as pessoas me amem um pouquinho mais. Aliás, desculpa por querer aumentar minha autoestima extremamente vulnerável. Desculpa se eu sou uma filha-da-puta, e desculpa por te pedir pra não se afastar dessa vez. Só porque queria que você continuasse sendo aquele que se importava comigo mais do que ninguém. Desculpa por ser uma sádica desgraçada, e uma víbora traiçoeira. E mil perdões por te desviar do caminho amoroso de fidelidade com aquela outra naja doentia.
   Desculpa por não gostar quando você me critica. E por querer mentir pra minha mãe. É! Desculpa por te fazer sofrer tanto por guardar um segredo que nem te diz respeito de verdade. Desculpa por querer beber na sua frente, e por só querer transar com você no meio da rua. Desculpa por querer buscar felicidade da maneira mais errada (claro, na sua opinião). Desculpa se odeio tudo que você odeia em mim.
   Quero brigar, quero brigar. Estou com raiva de você.
   "Meu amor... Eu tenho ódio de você!" 
    Tudo bem. A dona calma veio pra me ajudar a dizer boa noite. Estou profundamente incomodada com o seu esforço pra me dizer que eu sou uma filha ruim, uma aluna ruim, uma namorada ruim, uma amiga ruim e uma pessoa ruim. Sou muito grata por isso. Especialmente agora que o meu humor estava tão melhor. Só vou ficar quietinha amanhã e tentar não arrumar muito problema pra você. Boa noite, cara. Boa noite.

Parabéns. Você me fez querer engolir tudo que eu já escrevi na minha vida. Muito bem.

Você sabe das aleatoriedades

   Você sabe que eu preciso de sexo pra sobreviver. De sexo e de mimo. Você sabe que eu preciso de atenção e de carinho. E de comida. Eu preciso de muita comida. E quem sabe uma pitada de exercício bem discreta, só pra não morrer. Ah, você sabe que eu preciso que tu faça minhas vontades. Que me diga sempre sim, e só me diga não quando eu pedir pra não ser mais feliz. Você sabe que eu preciso de capricho, e que tudo seja um pouco triste, só de vez em quando. E que eu vou te machucar quando me der na telha só pra jogar na sua cara que eu sou mesmo má.
   Você sabe que eu vou me fazer de vítima, enquanto eu não me fizer de puta. E que no final, quem vai sentir culpa e pena vai ser você, enquanto eu digo que me sinto muito mal. E ainda vou alegar que é tudo sinceridade, e pureza. Não é. Eu sou um monstrinho, amor. Mas dessa vez não tô dizendo porque quero que você me tenha pena; compaixão. Até porque não espero que você me leia agora. Não espero que você me leia nunca. Só tô dizendo porque tenho raiva de você. E porque eu quero mesmo ser assim tão egoísta, egocêntrica e arrogante. Dessas palavras que tem o G forte. Que soa como um vomito sobre os pés de alguém.
   Te odeio toda vez que você me diz pra ficar longe. Me odeio toda vez que você ameaça chorar. Te odeio toda vez que você para pra pensar em você mesmo. Te amo quando você resolve me comer. De várias formas, mesmo. Eu só gosto de você quando você faz o que eu quero. Quero só seu corpo. E não me leia, que eu tenho esse direito de dizer a merda que eu quiser. Você vai brigar comigo de qualquer jeito, mesmo. Eu sou toda, toda errada. Minha vagina é toda errada. Minha bunda que você gostava de deixar roxa é toda errada também. E você adora. E se odeia por adorar. E aí vem brigar comigo. Para tentar ter mais confiança em mim. Admita que eu sou traiçoeira e vá. Mas me deixe ser feliz. Eu preciso matar alguém.

Sepultura

   Vi-me presa em ti. Sufocada. A deteriorar-me ao passo que aranhas povoam o canto. Masoquismo querer ser assim tão sua e intocada. Achar teu cheiro tão vulgar e preferir senti-lo até que já não possa respirar de tanto pó. Vi-me seca, abandonada, amordaçada pelo seu maldito amor. Fugi pra mim mesma e suicidei. Suja e vazia. Fruto deste tão mais puro amor.

Pedido.


   Soprei a vela fina e pensei um tanto desabitada de especificidade. Sussurrei sem quase mover meus lábios pintados. Desejei. Eu queria você e isso estava bem na minha testa, bem na minha coxa. Isso estava no meu salto alto e na minha meia-calça preta. E eu ainda não entendo por que você me é tão necessário. Não há maneira de o querer sem ser quem você quer que eu seja. E sendo quem você quer que eu seja, uma hora você há de estar insatisfeito com a minha deficiência a respeito da fidelidade.
   Sou o corpo negro. Sou o olhar macio, e o lábio divertidamente ousado. Sou o inesperado conhecido. E você me quer. Talvez por conta do feitiço nunca antes concluído. Ou talvez nunca notado. O fogo apagou rápido e eu fui tão decidida que não tive tempo de memorizar as exatas palavras do que eu não havia dito. Eu sei o que eu queria. A calda de chocolate oculta também sabe. E até a o círculo derretido que se escorreu para dentro de mim, e de minha desabitação. Te quero em mim, mas quente. Complacente. Saliente. Incoerente.
    Te quero hoje, agora. Lá, aqui. Te quero até durante os intervalos. Te espero. É só me dizer que vem. E você veio. As velas não mentem, querido. E meus olhos também não. Você sabe de onde vem a minha paz. É de onde vem a sua? Então venha cá, amor. Sei que agora você está aqui comigo. Ora essa, é o meu aniversário!