domingo, 29 de novembro de 2015

Por todos os textos que você não teve a oportunidade de ler

Pelos textos que te escrevi,
Faço este resumo.
Desde os brados narcisistas de morte
Ao erotismo lírico fracassado.

Entre os textos que te escrevi,
Deixei tanto as falhas da minha pele
Quanto as minhas esperanças ridículas.
Você nunca realmente esteve no meu passado.

Então, em ordem cronológica,
Eu relembro o sexo baldio,
O coro de marchas a favor da guerra
E a espera pelo apocalipse.

Por conseguinte, eu recordo
Os diálogos breves em tom natalino,
A displicência lúdica da juventude
E o silêncio sobre o período anárquico da alegoria.

Eu continuo, repasso
Os retornos indecentes
E a ausência perene,
O fascínio lascivo
E a psicopatia lancinante.

E é preciso recitar
Dois sórdidos segundos,
Nossa miséria exibida em toda a extensão.
Ambos desumanamente atados,
Como pudéssemos desvanescer a solidão.

Nunca poderíamos,
Não nós.
Quaisquer outros dois,
Não nós.

Entre duzentos
E cinquenta e quatro,
Ainda contando,
Eu esfolo tudo que já me excedeu
Em forma de identidade.

E onde tu te arrastas,
Raramente sóbrio,
Estou.

E onde tu me arrastas,
Eu certamente caio,
Estou.

E em tudo que faço,
Vejo, amo, temo,
Ou sequer condeno,
Estás.

Se fossem eles
Duzentos e cinquenta
E cinco,

Fossem mil não lidos,
A tua ausência
Não diferiria em nada,

Ainda serias
Infinitamente eu
E eu, tu,
E seríamos
Agonizantemente infindos.

Amar:
Incomensurável,
Ininterrupto,
Infinitivo,

Tal qual a morte
E a literatura.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Tangente de y

Porque quando me chamam,
Meus ouvidos ainda são teus
Tentando calar os gritos que você não deu

Quando me pedem conselhos
Minha boca está tão cheia de discórdia
E não te posso descontar,
Então desabo neles

E meus braços tão machucados
Que deveriam estar acostumados
Com um carinho barato
Não anseiam por nada
Que não seja as tuas unhas imundas

O meu amor
Definha na tua ausência
Eu tento me matar aos poucos
Mas só mato a minha paciência

E quase nada me resta
De morte em morte,
Tudo fica vago
Eu queria que alguém me ocupasse
Mas toda vez que penso
Sei que sou um desastre
E tu é de onde tudo isso se origina

Eu sou uma pecadora
E tu, a minha sina
Eu vou te carregar
No peito, nos ombros,
Nos calcanhares feito um calo que não sara
E caminhar sobre uma trilha rara
De cacos de vidro sem fim
Eu vou te carregar em mim
Talvez até a morte
Se eu tiver sorte,
Eu chego lá em tempo
De dizer mais uma vez que te amo
Até não estar mais ao alcance
De ninguém

E aí,
Ser
Finalmente

Condenada

Tangente de x

Não tenho ouvidos
Para quando falam comigo
Não tenho voz
Pra quem precisa de meu alento
Não tenho coxas
Para servir de colo necessário
Não tenho braços
Pra proteger aos tolos indefesos

Não tenho amor
Para distribuir a estranhos
Nem paciência
Para semear entre os familiares
Não tenho energia
Para desperdiçar
Com estes miseráveis
Nem autoestima
Para suportar minha imagem no espelho

Não tenho vontade de acordar
Se não me lembrar do teu rosto
Não tenho paz para dormir
Se não imaginar teu corpo

Nada me satisfaz
E tudo que eu sinto é muito pouco
Eu só quero gritar e sair daqui
Estou apavorada
E exausta
E desesperada
(Isso não é novo)

Mas a tua penumbra
Me carrega
Pro lado eterno da passagem
Entre o mundo dos mortos e dos vivos
Eu nunca estou lá
E nunca estou aqui
E este é o nosso fim aflito

Pacificação

Se outra pessoa diz que te ama,
Eu dou um passo atrás, desvio a rota,
Sigo em frente e finjo que não ligo.

Se outra pessoa diz que te ama,
Eu abro espaço, cedo a vez,
Deixo o lugar vago
Para quem quiser ficar contigo.

Se outra pessoa diz que te ama,
Eu dou prioridade
A quem quer que for a dama
Ou cavalheiro.

É mais que óbvio
Que o amor alheio,
Qualquer que for,
Vai ser melhor que o meu.

Se outra pessoa diz que te ama,
Eu esqueço tudo aquilo
Que você me prometeu.

E eu sobrevivo, esqueço,
Tento outros corpos,
Tento outras mentiras, sorrisos,
Tento outros passos
De trilhas ou de dança.

Se outra pessoa diz que te ama,
Eu me aperto, esfolo,
Quase sufoco
Para não ser mais tão criança
E precisar da tua atenção.

Mas se você me diz:
"Não,"
"Eu não a amo",

Se você me diz:
"Prefiro estar contigo",

É um perigo
Tudo que diz em seguida.
É uma corrida
E eu detesto competições.

Se outra pessoa diz que te ama,
E eu digo que vou embora,
E você me diz que me ama,
E eu digo "então, não demora"

E você chora, me devora,
E desabamos juntos,
E vamos seguindo juntos, avalanche,
Vamos seguindo sempre, assim espero,

E se você desacelera, para,
Some, foge, grita, some,
Eu não esqueço teu nome,
Mas me proíbo de pronunciá-lo.

Eu sinto fome,
Como se você fosse tudo
Que eu preciso ingerir,
Eu sinto sede,
Como desidratasse,
Em meio ao deserto dela
Em todo o seu pavor.

Se você me promete
Que a resposta dela
Vai ser sempre a mesma,
Por que eu sei que a minha
Vai ser exatamente igual?

E se eu dissesse
Que te amo
Ainda,
O que você diria?

Mentiria mais uma vez
Ou colocaria um ponto final?

terça-feira, 24 de novembro de 2015

As drogas

Dei dois míseros tragos
Mal tive tempo de curtir minha alegria
O sono veio
Logo eu já era eu novamente
E aquilo de certa forma
Me deprimia
Então eu dormi por 12 horas
Com muitas pausas, bexiga cheia
Resolvi não ir à aula
Tudo que eu queria era um acostamento
Por que é que eu estava pensando em suicídio todo dia?
Por que é que eu estava me sentindo cada vez mais doente?
Por que é que eu queria me machucar assistindo tv?
Eu às vezes não fazia sentido nem pra mim mesma

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Eletricidade

Os flashes invadem a minha janela
Pelas minhas cortinas entreabertas
A noite fotografa a minha agonia
E deve haver algo de realmente belo
Antes que as nuves rosnem agressivas
Para a minha pequena porção de satisfação

Não posso sentir o frio do outro lado
Do lado de cá eu sinto, e absorvo
Meus dedos gelados contrastam
Com o calor fervente de meu ódio

Tento acalmar-me, sabes como
Mas nada do que faço adianta
Há um ciclo etéreo do demônio
Entre meus pavores e meus regozijos

Estendida em meu solo verde
Mais uma vez
Escuto a exclusão da natureza
Dentro do concreto
Condeno a raça humana
E desrespeito as regras

Ajo indevidamente
E há um respingo de alegria sobre o feito
Sinto-me justa e incoerente
Sinto-me existente
Mesmo que me cale sobre teu leito

Suicide friendly

Eu visto uma calcinha velha
Ponho o meu colchão no chão
E continuo narrando meus movimentos
Como se isso valesse uma poesia
Todos os meus amigos estão em crise
A maioria deles não tem o que fazer da vida
Todos nós nos sentimos completamente inúteis
Pois ainda não somos adultos o suificiente
Não temos liberdade ou sabemos o que fazer
Eu tomo um copo bem grande de água
Eu me masturbo mais frequentemente do que deveria
Eu me preocupo com as coisas mais supérfluas
E não demora quase nada
Para que eu passe a idolatrar a melancolia
Eu me vicio nesse sentimento
Volto a ele três vezes por dia
Eu busco o que me maltrata e me destroi
Porque não quero conhecer outra saída
Eu acho que vou sempre estar aqui
Todos eles estão
Por que comigo seria diferente?
Eu sinto o meu corpo cansando aos poucos
De tudo que eu faço
Eu sinto saudades da única pessoa
Que já conseguiu me fazer tamanho mal
Eu penso quase todos os dias em suicídio
Mas aí eu me lembro do dia em que eu sonhei
Que tinha me matado
E meu pavor foi tão imenso
Eu tenho um medo tão grande da morte
Que às vezes chega a me desesperar
Às vezes meu coração acelera e não para por nada
Às vezes eu só quero que isso tudo acabe logo
Eu acho que sou doente
Eu queria ser feliz, queria que alguém me amasse
Mas eu mal quero aguentar as minhas amizades
Não quero nenhum dos meus amigos,
Estão todos sofrendo demais
Ou de menos
E nenhum deles realmente me entende
Ou se importa
Ninguém tem que se importar
Eu devia estar morta
Eu escolho o fim disso tudo
Porque não quero mais sofrer
Eu entendo por que as pessoas se matam
Eu entendo, eu juro que sim
Eu só tenho um pouco de medo
Eu acho que estou ficando louca
Não tem ninguém aqui pra me escutar
Eu estou presa debaixo da terra
Falando comigo mesma
Comigo mesma
E quando eu me respondo
Tudo só piora
Eu tento rir um pouco
Eu tento pedir ajuda
Mas quando eu vejo
Estou pedindo pra acabar
Eu quero dormir, fugir, comer
Isso não é vida
E essa solidão me doi
A minha coberta não vai me salvar
É o meu esquecimento que vai

Esqueça

Esqueça

Esqueça

domingo, 22 de novembro de 2015

Light Lag

De volta ao cheiro de tinta do meu quarto,
De volta ao meu pézinho de maracujá,
De volta à minha cama quebrada,
De volta às minhas cortinas longas demais,
De volta à bagunça, aos mosquitos,
à temperatura desequilibrada,
aos bichos de pelúcia empoeirados,
De volta aos travesseiros velhos,
De volta aos livros esquecidos na estante,
De volta ao meu cansaço e pesadelos,
Estou de volta ao meu conforto estúpido de sempre.
Lar, doce lar.

Amor zumbi

Ele veio e me disse
Que eu não sabia fazer
Uma das poucas coisas
Que eu de fato sabia

Ele chegou e me olhava
Como se eu fosse a dona
Da tristeza profunda dele
E eu não era

A solidão
Que havíamos combinado
Por manter distante
Nos alcançou
Demasiadamente rápido

Quando ele veio
Nosso tempo
Já tinha se esgotado
Ninguém me avisou

Ele nunca esteve aqui
A verdade que nos dobrava
Era que ele já estava em casa
Antes de vir

E então quando nos olhamos,
Quando nos beijamos,
Quando deixamos que tudo
Desse tão errado,

Quando enfeitamos o espaço,
Quando rimos juntos,
Quando dormimos abraçados,
Aquilo era só mais um fim

Tudo que conhecemos
Está sempre prestes a acabar
Todos perecemos sempre
Nada pode nos salvar

Atraso

Quando me olho no espelho
Boca aberta, olhos transbordando
A melhor das agonias,
É você que eu vejo
Me agourando
Me caçando
Me observando, rasgando e arrastando
Como se eu fosse teu hobby
Como se eu fosse o brinquedo
Mais estúpido da tua infância
O mais inútil de todos

Alguém me disse que o amor existia
Eu preciso de um sentido pra minha vida
Eu vou comer até vomitar
Porque todo mundo sabe
Que eu não sou boa o suficiente
Eu sou uma desgraça
A infelicidade reina aqui
Eu volto logo
Mas na verdade nunca voltarei
Sempre te pertenci,
Mas estou morta

Estrada

Volto para a tristeza dentro de mim
Eu queria que alguém arrancasse os meus pulmões
Os dois logo de uma vez
Eu tenho pavor da morte todos os dias
Se não fosse isso, eu provavelmente estaria morta
Eu tenho medo da minha própria mente
Eu quero esquecer
Esquecer, esquecer
Quem ou o quê
O passado e as mentiras
Rosa, por favor, eu preciso de ajuda
Essas minhas certezas me esgotam
Por favor, Rosa,
Os meus amigos disseram que eu preciso de medicação
Eu não confio em mais nada
Onde eu encontro alguma paz?

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Quase lá

Eu bebo coca-cola como se fosse álcool
Eu derramei mais da metade do meu vinho no ralo
Nada disso faz sentido, sendo sexta ou quinta-feira
Eu só quero sair daqui, e morrer talvez de repente
Eu só quero que alguém me ame e me ache digna
De alguma atenção que valha a minha alegria
Eu só quero fugir como sempre fugi
Eu só quero dormir e esquecer disso tudo
Eu preciso comer um pouco
Eu nunca tinha realmente pensado
Ele bebe todos os dias
Será por isso?
Será que ele entende tudo isso que eu sinto?
Ou será só a adulteza dele se manifestando?
Eu queria morrer, ficar bêbada
Fumar até ter uma crise asmática
Eu queria saber o que fazer
Eu queria não precisar me esconder por tanto tempo
Mas já era
Eu já fiz besteira
Eu já fui embora
E não demora eu vou acabar desabando
De verdade
Por conta das consequências
Eu não ligo
Eu vou sofrer de qualquer jeito
Eu sofro o tempo todo
Eu não tenho salvação
Eu estou deprimida, deprimida, deprimida
Não tenho a quem recorrer
Não tem ninguém que se importe
Eu já nem sei mais o que dizer
Estou num lugar ruim
E acho que nem vou sair daqui

"Essa música é como se alguém pegasse toda a minha felicidade e toda a minha alma e colocasse dentro de uma garrafa com sabão de bolha, sacudisse bastante e daí eu ficasse olhando o brilho das bolhas presas dentro da garrafa."


Chandelier

Um vinho branco barato
Às vezes sinto falta
Não dá pra beber tequila toda hora
Não dá pra viver de festa todo dia

Um cigarro
Um cigarro, por favor
Daquele convencional
Veneno de rato e nicotina
Que os cigarrinhos de rua
Chamam muita atenção
Eu quero um descanso lento
Uma risada de deboche
A vida não é alegria o tempo inteiro
A vida não é companhia nos domingos
Está tudo sempre acabado aqui e agora
Está tudo acabado hoje e sempre

Eu quero largar minhas costas pelo chão
Minhas roupas sobre a cama
E o meu passado em uma vala qualquer

Eu quero esquecer dos meus desejos
Nesse vinho amargo, suave
Já faz mais de um ano
Que a garrafa está aberta
Não me importa
Nada disso

Eu só quero sentir minhas saudades
Tranquila
Vazia
Desbotada

Eu só quero ir embora
Mas em vez disso
Eu ando para trás
E me perco
Em fins que
Já acabaram

It's over.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Sacristia

Poemas são poemas.
Poemas filhos da puta,
Poemas tolos,
Poemas vazios
Ainda são poemas e, portanto,
Intocáveis, sacros,
Quase satânicos de tão sublimes.

Poemas atrasam pessoas
do mundo real.
Poemas ferem o peito
dos inocentes.
Poemas nutrem o brilho
dos imprestáveis.

Poemas são poemas.
Ninguém pode concluí-los,
Ninguém pode matá-los,
Mas poemas podem ser
contaminados.

Poemas são poemas.
Esvaziam os pobres coitados,
Enfeitam as coisas feias,
Alteram o passado
E fingem um belo futuro.

Poemas são obras de arte
Que justificam
Que os apaixonados sejam
Os seres mais perigosos do mundo.

Nós, artistas,
Somos capazes dos piores feitos
E da salvação da humanidade.

Eu,
Eu vivo no meio termo.
Escrevo meus poemas tóxicos,
Extremamente sóbrios,
Ironicamente puritanos.

Eu,
Eu sou a destreza incoerente
De minhas palavras.
Eu sou a santificação da morte.
Escrevo a onipotência dos sentidos.

Eu não sou absolutamente nada
E os meus poemas também não são.

Papai Cruel

Eu, na rua,
Sozinha
Debaixo da chuva.
Teimosia:
A chuva hoje decidiu me esquentar.
Eu, no calor da água
Dos céus,
Sozinha.
O mundo virou de pernas pro ar.

Café, pra mim não importa.
Palavras, por outro lado, são valiosíssimas.
Palavras, na minha terra, são moeda.
Só não valem mais do que o silêncio.

Minha tristeza nunca passa.
É a mesma tristeza de sempre.
Já faz tempo que diziam:
Tenho olhos tristes.
Eu tenho olhos de fim,
Desde os meus onze anos.

Todos os meus amigos
estão mortos.

Todos os meus amigos
Bebem veneno de rato,
Como se ratos fossem.
Todos os meus amigos
Gostam de brincar
de pique-esconde.
Todos os meus amigos
Vivenciam momentos sublimes
De agonia.

Todos os meus amigos
Querem morrer.

Então, eu fico só.
Por raiva, por medo, por sensatez.
Por não querer suicídios coletivos,
Por não querer saber
Da bondade alheia.

Eu fico só
E fujo todos os dias do fracasso.
Injeção letal no amor alheio.
Eu sumo, não quero,
Não ouço, não posso,
Não me importo com ninguém.
Não quero saber.

Eu saio debaixo da chuva,
Sinto calor e frio,
E esqueço de todos eles.

New York row

I have a New York heart
I can never sleep inside
I can hear the chaos all night long
I smell pee on streets
Every country speaks of me
There are always couples
Fast-fuck celebrating, running
Asking for some food
Death-delivery
Candy, Poison, Flowers
I barely see sun
So many hours lost
Inside those buildings
I'm a rush, a fail, 
A full-time competition
The deepest sadness belongs 
To my two lungs
But I pretend it doesn't hurt
I'm all pure anger, sex, desire
I sometimes just think
Of putting fire
To everything I have
I like to get drunk a little
I like to tell some lies
To freeze myself before I start
The next round of serial killing
I am some sort of a terrorist
Lost in a big city
I'm trying to suicide
And my agent never rests 
I'm often tired
But I can't do anyhing about it
I have a huge, polluter heart
That is constantly trying to explode
This is the nature that
Eats me from inside
With no salvation
No clue of where to go
I have no place to go
I'm on my death row

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Radiação

Deixa a raiva passar
Deixa a raiva sair
One, two, three
And these will set you free

Meus dedos tremem
Quando eu tenho pensamentos maus
Se você puser seus óculos
No lugar certo,
Também não vai enxergar o que acontece
Eu não quero que ninguém saiba
Dos meus planos
Eu sou uma mentirosa profissional

Eu já perdi o ritmo,
A métrica, a rima,
O amor e a esperança,
Agora eu perco a bondade,
Você e a lembrança
Eu perco tudo, tudo
Pouco a pouco,
Você verá, seja quem for
Quem eu realmente sou
Desapareço

Grennouille

Ninguém sabe quem eu sou.
Nem da minha bondade,
Nem da minha crueza.
Ninguém me conhece
Ou é capaz de reconhecer.
Ninguém me enxerga,
Ninguém me nota.
Eu praticamente não existo.
Eles não sabem do que eu sou capaz.
Eu sou uma criatura acuada,
Eu sou uma manipuladora perversa,
Eu tenho as piores intenções do mundo,
Eu sou uma louca.
Talvez todos sejamos.
Ninguém sabe que eu estou aqui.
Ninguém escuta meus pensamentos,
Ninguém me protege deles.
Ninguém me impede de realizar meus planos.
Eu planejo minha morte todos os dias,
E às vezes é apenas vingança.
Eu sou insana.
Insuportável.
Eu deveria ser banida da terra.
Eu deveria morrer.
Porque se eu for minimamente boa
Nada disso se justifica. Nada.
Se eu for realmente boa,
Eu prefiro morrer a viver aqui.
Onde não importa,
No fim das contas,
Ninguém vai me encontrar,
Me ouvir, cheirar, me ver.
Ninguém vai saber quem eu sou.
Eu continuarei sendo ninguém.

sábado, 14 de novembro de 2015

Vulto

Meus dedos ainda tremem
Quando tu escreve textos
Me pergunto se são meus
Busco deslizes, atos falhos
Busco pra matar meu narcisismo
Outras pistas
Que indiquem o seu destinatário
Meu coração ainda acelera
E meus olhos ainda se perdem
Mesmo que eu nunca te reencontre
Mesmo que eu nunca acabe contigo
Mesmo que eu não te reconheça
Em lugar nenhum
Eu perco meus movimentos
Minha fala
Minha força de fazer qualquer coisa
Minha fome
Meu sono
Tudo
Eu ainda me perco
Quando você fala
Eu ainda quero me matar
Quando você cala
Eu sou tão absurda e patética
Eu sou tão desprezível dialética
Eu deveria ir embora, mas não vou
Não abro mão dos teus discursos estúpidos
Abro mão do teu carinho
Já que tuas mãos enfermas
Não o permitem
Abro mão de teus beijos
De teus contratos
De tuas verdades secas
Ou mentiras peçonhentas
Abro mão de todo o resto
Mas não das palavras que me dobram as pernas
Que me falham a voz
Que me deixam lenta
Não supero teus textos
Quem é você?
Eu sou louca
Quem é você?
Estou fraca
Nem consigo ler
Quem é ela?
Quem é você?

Roleplay, o show

Vamos fazer um teatro
(vamos brincar de casinha).
Vamos ser um casal
E aí você me chama de "minha".
Eu vou ser minha mãe, você meu pai
E então vamos morar juntos.
Você vai ter que cuidar de mim
Como ele não cuidou,
Como eu que tive que cuidar dela.
E quando formos felizes
E estáveis, além de apaixonados,
Eu vou engravidar de você (de mim)
E vamos me ter.
Eu vou me parir.
Aí, vou poder me amar
E você vai me amar (nos amar).
Seremos felizes os três, os seis,
Seremos felizes no meu teatro.
A plateia vai sorrir, chorar, cantar.
Vai ser maravilhoso, eu e você.
Tudo se trata disso.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Erro perceptivo

Escuto poesias
recitadas sobre o ar
tais quais canções
que cantei outrora
e que semeei dentro de mim.
Memória:
a audição não bem distingue
o dito do desdito,
o agradável do desprezível,
o melódico do meramente prático.
A mente em comando de voz:
reproduzir,
não sabe o poder que carrega,
não sabe de si
ou o que a leva
a banalizar o som da agonia.
A verdade às vezes espia
as brincadeiras,
figurino da tristeza.
Nós taxamos de riqueza
o que devia ser ruim.
Quem foi que disse
que devia ser assim?
Quem foi que fez de nós
quem somos?
Temos cura?
Temos solução?
Eu sou o defeito da espécie.
Sinestesia, falha, ponta à cabeça.
Acho que nem Deus sabe
o que fazer aqui.

Tudo isso pra nada

Eu ando devagar
Estou atrasada
Continuo andando devagar
Eu me sinto gorda
Queria parar de comer por três dias
Passo o dia inteiro comendo
Você me deixa triste
Eu abro teus textos
Escuto uma música que me faz pensar em você
Eu queria pôr um cigarro na boca
Mas eu parei de fumar
Eu queria me embebedar hoje
É sexta-feira 13
Dia de beber e ter azar
Que azar, não tenho dinheiro pra beber
Talvez eu tenha, vai saber
Não vou contar e descobrir
Não vou beber e fumar
Embora seja tudo que eu quero
Eu também quero você
Mas nunca o terei
Então qual é o propósito disso tudo?
Para que beber quando eu tenho vontade?
Para que fumar quando eu entro em abstinência?
Por que não morrer de fome?
Eu não tenho você
Nada disso faz sentido
Nada disso importa mais
Ninguém vai me amar
Como você disse que amaria
Eu queria morrer
Mesmo quando estou feliz
Eu queria morrer
Nenhum futuro vai me fazer feliz
Eu estou calma agora
Tudo bem sentir essa tristeza sem fim
Eu não te odeio agora
Mas eu nunca vou ter você
E mesmo que você me ame
Você vai embora
E se não for, quem vai embora sou eu
Eu vou te deixar, Peter
Você não vê?
Nós estamos no fim
Mas não da vida
Estamos no fim de nós
Se você soubesse
Como eu odeio finais
Nunca teria começado nada
Eu não vou me matar
Não hoje, agora
Eu não vou me matar ano que vem
Acho que você também não vai
Não importa
Eu sempre fui assim
Você não sabe
Eu sempre fui assim
Eu fico te dizendo que eu sei como é
Você nunca levou a sério
Eu falo como se já tivesse passado por isso
Mas ele disse que eu ainda sou assim
E é verdade
Eu   ainda   sou    como    você.
E se eu pudesse
Ah, se eu pudesse...
Eu vou embora, Peter
Porque eu nunca vou ser feliz contigo
Porque não é isso que você quer
Ou talvez porque eu mereça ser infeliz e sozinha
Não importa
Eu vou embora
Eu vou embora
Eu só queria chorar feito eles
Feito vocês

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Desaviso, teimosia, compasso

Me dizem para dançar
Eu paro
Me dizem pra falar
Eu calo
Me dizem pra cantar
Silêncio
Não batuco, não sussurro ou assobio
Me dizem pra cegar, espio
Me dizem pra existir,
Desapareço

Me dizem para amar, odeio
Se me pedem confiança,
Eu já receio
Se me gostam já de cara,
Eu apavoro
Se me dizem pra sorrir,
Eu quase choro
Seco os lábios até ver
as rachaduras
Recomendam que não risque,
É só rasuras
Fecho os olhos
Quando falam pra enxergar
Quase sufoco:
Me dizem para respirar
um pouco mais fundo, devagar
Eu perco as forças
Se me dizem para andar
Eu atormento
Se me dizem pra parar

Eu fecho as portas
Quando chega uma visita
Exigem calma
Mas eu só me vejo aflita
Se me pedem atenção
Eu fujo logo
Se me chamam pra jogar,
Eu nunca jogo
Ignoro:
Me recordam, não demora
Mas se me superam,
Nunca vou embora
Se me gritam, não escuto,
Eu ensurdeço
Me perdoo,
Se me dizem que mereço

E assim, segue
Me pedem,
Não faço
Me querem,
Não posso
Me agradam,
Não quero
Com tempo,
Não espero

Me odeiam,
Permaneço
Me apaixonam,
Eu pereço
Eu não peço,
Me socorrem
Quero perto,
Quase morrem

E se cansam
Me condenam a teimosia
Eu insisto a negação
E já dizia
Não espere de mim
Muita obediência
Não carrego o dom
Da subserviência

Psicologia inversa
Sempre falha
Quando eu noto
Tudo cai sobre a navalha

Não faço, faço,
Desfaço quando quero
A rima é minha
A bipolaridade é minha
E o livre arbítrio
Da nossa nova era
A métrica, a vontade
E tudo que me cabe
Não respeito o que dizem
Mas existo por mim
Assim existo
Porque eu agora escolho
Este é meu fim

Súplica

Volte, volte
Volte a ser quem você devia
Volte a ser quem eu queria que fosse
Volte, volte
Volte pra casa
Volte pra minha mentira
Mente, mente comigo
Volte pro nosso faz de conta
Pra nossa terra do nunca
Pro nosso país das maravilhas
Volte pra minha cama
Volte pra nossa casa
Volte pra minha vida
Volte, volte
Volte no tempo
Volte para quando você dizia que me amava
Volte pra quando você não achava
Que eu ia me matar aos 20 anos
Volte, volte
Volte pra quando você não
Falava sobre morrer o tempo todo
Volte pra quando a gente brincava
De caça e presa
Volte pra quando a gente trepava de mentirinha
Volte praquele momento
Eu não queria que tivesse terminado
Em que nós dois éramos fofos um com o outro
Volte pra quando éramos duas crianças
Organizando as tarefas da casinha
Volte, volte, volte
Por favor, volte pra cá
Saia daí
Eu sinto tanta raiva, tanta mágoa
Eu quero te matar, eu fico torcendo
Pra você morrer e acabar logo com isso
Eu me olho no espelho e eu me odeio
Eu me sinto um monstro
Você me deixou assim, eu não sei por quê
Você fala sobre guerras e mortes
Você fala sobre hipocrisia e egoísmo
Você diz que nada disso faz sentido
E destroi cada resquício de esperança no futuro
Que eu guardava com tanto cuidado
Volte, volte pra cá
Volte pros meus travesseiros
Volte pros meus sonhos
Vamos dizer que daria tudo certo
Vamos nos falar mais um pouco
Deixa eu te contar a parte boa do meu dia
Vamos falar de alegria
Vamos falar sobre como tudo faz sentido
Eu tô desabando
Eu tô desesperada
Eu tô deprimida, tão deprimida e sozinha
E irritada
Volte, volte de novo
Conserta tudo, se faz de bonzinho
Diz que se preocupa, que se importa
Diz que me ama
Eu te amo também
Mas não quando você odeia tudo
Porque aí você me odeia também
E a vida se desconstroi rapidamente
Volte, volta
Me beija, me chama, me escreve
Me liga, sente minha falta
Para de fugir de mim
Para de fugir de tudo
Para de dizer que vai dar tudo errado,
Eu acredito
Para de dizer que me odeia
Eu sei que é verdade
Você nunca deveria ter me amado
E eu nunca deveria ter te amado de volta
Nós somos tão ingênuos, tão sujos
Nós não sabemos, não podemos amar
Mas eu te amo
Então volta
Volte, volte pra mim
Pra dentro de mim
Pro meu peito, pro meu coração, pro meu amor
Porque é exaustivo te odiar todos os dias
Porque é insuportável me deixar te esquecer sempre
Eu tenho vontade de morrer o tempo todo
Mas eu sei que é só por sua causa
Porque se você voltasse,
Se você voltasse,
Tudo ficaria bem
Eu seria feliz de novo
Uma puta iludida, uma mentirosa
Alcoolizada, drogada, ingênua, carente
Eu seria feliz,
Ou pelo menos teria uma paz forjada
Mas não seria isso que é agora
Isso agora é horrível, terrível
Eu odeio a minha vida agora
Eu queria ser formatada
Você tá acabando comigo
E eu já era ruim antes

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Miserability

Acordei e toda a minha miséria secreta estava exposta
Perdi tanto tempo encarando-a que me atrasei pra aula
Eu não queria ir
Meu estômago estava vazio, mas eu não tinha fome
Eu queria comer porque não suportava minha vida
Eu me sentia um monstro por querer morrer
E era apenas tédio
Eu não tinha minhas meias coloridas ou qualquer companhia
Eu não queria companhia
Eu queria morrer
Mas não assim suavemente
Eu queria sentir pavor, ódio, dor alucinante
Eu merecia ser castigada e não suportava tamanho vazio
Eu odiava estar acordada
E minha cama não me aguentava ali
Era um dia ruim

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Everydayland

Vem aqui.
Volta pra cá.
Mora em mim.
Monta em mim.
Vamos foder a noite toda
E dormir o dia inteiro.
Vamos gritar pra eles
Que nada disso importa.
Vamos ficar pra sempre
Entre a cozinha e a cama.
Vamos fugir disso tudo.
Vem, volta.
Fica comigo.
Fica pra sempre.
Fica o tempo inteiro
Aqui comigo.
Não sai de mim
Nunca mais.
Eu sou um monstro
Devorador de almas.
Eu nem mesmo finjo
Ser tão boa quanto você diz.
Eu nem sei se me importo
Mais esse tanto.
Mas eu sou apaixonada por você
E pela sua loucura,
Pela sua sujeira,
Pela sua bagunça.
Eu sou apaixonada por você
E pela sua fraqueza,
E pelo seu desespero,
E pela sua arrogância.
Eu te quero por perto.
Eu não me importo
Se você vai falar que eles não servem pra nada.
Eu não me importo
Se você vai dizer que eles deviam morrer,
Que devíamos todos.
Eu não me importo
De te ouvir dizer que me odeia,
Não só porque sei que você me ama,
Mas porque sei que as tuas verdades
Não são conclusivas.
Por favor, vem.
Diz que me odeia, me fode.
Me machuca das formas que sabe,
Eu sou mais forte do que todo mundo pensa.
Eu sou mais psicopata do que todo mundo espera.
Vem.
Eu finjo que sou boazinha.
Te dou atenção, sou submissa, cuido de você,
Se você vier e souber o que fazer comigo.
Eu digo tudo o que quiser ouvir.
Vem, me anima, me tira daqui,
Antes que eu faça alguma besteira,
Antes que eu machuque alguém.
Não, isso não é uma ameaça.
Eu só tô sentindo sua falta.
E o pior de tudo é que eu estou falando com você.
Mas você não está aqui.
Não está comigo.
Não estamos fazendo planos,
Não estamos brincando de casinha.
Eu às vezes me sinto tão sozinha.
Eu queria você.
Eu só quero você.
Você sabe que nos parecemos muito.
Desde os surtos a convencer todo mundo
De que somos bonzinhos.
Nós sabemos que somos capazes
De coisas grandes e terríveis.
E às vezes tentamos fazer a coisa certa.
Você sabe, somos tão parecidos.
Deveríamos ficar juntos.
Mas nós dois sabemos que não daríamos certo.
Mas vem mesmo assim.
Vamos dar errado juntos.
Daríamos errado sozinhos também,
Por que não juntos?
Porque você me abandonaria a qualquer momento?
Porque eu sei que eu faria a mesma coisa?
Porque nós dois sabemos que nosso remorso
É meramente racional?
De que importa isso tudo?
Vem. Vamos nos machucar.
Dois suicidas, dois psicopatas.
Dois esquizofrênicos problemáticos.
Volta pra mim. Mente comigo.
Eu gostava daquilo, eu gostava tanto.
Eu odeio esse vazio que toma conta de tudo.
Eu vou tentar destrui-lo a qualquer momento.
Eu queria que você estivesse aqui.
Aí este mundo não precisaria existir.
Com você, eu não existo. O mundo não existe.
Só nós. Eu e você. E nada mais precisa fazer sentido algum.

Lost - Katy Perry

"I'm out on my own again
Face down in the porcelain
Feeling so high but looking so low
Party favors on the floor
Group of girls banging on the door
So many new fair-weather friends

Have you ever been so lost?
Known the way and still so lost?

Caught in the eye of a hurricane
Slowly waving goodbye like a pageant parade
So sick of this town pulling me down
My mother says I should come back home
But can't find the way 'cause the way is gone
So if I pray am I just sending words into outer space

Have you ever been so lost?
Known the way and still so lost?
Another night waiting for someone
To take me home
Have you ever been so lost?
Is there a light, is there a light?
At the end of the road
I'm pushing everyone away
'Cause I can't feel this anymore

Can't feel this anymore
Have you ever been so lost?
Known the way and still so lost?
Another night waiting for someone
To take me homeHave you ever been so lost?
Have you ever been so lost?"

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Interlocutor

Não posso falar de baratas,
De prelúdios, democratas,
De prepúcios, cortes, vícios.
Não quero falar de precipícios.
Porque quando falo,
Quero me atirar.

Não posso repassar os teus segredos.
Não posso revelar as tuas farsas.
Não posso impedir as tuas traças,
Que agora devoram os textos
Que tu me escreveu.

Traço firme, corda bamba.
A linhas tortas na calça
Confessam tudo.
Quando você acha que sabe,
É absurdo.
Nada disso faz sentido
Pra você.

Emudece, querido.
Vira uma serpente.
Quando não mente,
Morde as minhas canelas.
Morde a minha nuca,
A boca, a língua.
Como se não doesse ainda,
Como se fosse isso tudo
Um grande teatro.

Mas não posso falar de flores, de cenário,
De diálogo ou itinerário,
De atos, maus tratos, maldições.
Não posso semear-nos condições.
É fato já não nos pertencemos,
Nunca foi verdade.
Nunca existiu livre arbítrio.
O que sequer é liberdade?

Não posso recitar poemas,
Tirar fotografias,
Me esconder num canto,
Ler tuas poesias,
Enviar cartas,
Mencionar baratas,
Sujar minhas telas,
Abrir minha janela,
Inventar futuro,
Ter fé nas pessoas,
Ver as coisas boas,
Me encontrar com ela,
Me negar a fazer,
Deixar que os afogandos se afoguem,
E que os incinerantes se queimem,
Ou que os cigarros fiquem acesos,
E que os pulmões permaneçam
Em sua eterna luta solitária,
Deixar que me vejam sendo tão otária,
Escorregar ou ter alguma falha.

Se estou tão perto do abismo,
Se a rocha insiste em estar cheia de musgo,
E o mar impiedoso  racha as pontas,
Eu preciso ter cuidado.
Não posso escolher o assunto errado.
Não se acende um fósforo
Num quarto escuro:
Ele pode estar cheio de dinamites.

Então não falo disso ou daquilo,
Me esqueço dos nomes, dos signos.
Deleto as evidências da minha trilha
E sigo forjando, falsificando
Todas as vitórias.
Eu digo que você está na escória
Ou que vem me salvar, não importa.
Eu só preciso mentir pra ganhar tempo
De me esconder da lógica,
Da nudez reversa,
Da crueza de espírito
E da miséria alheia.

Safe place

Eu preciso
De planos estúpidos para o futuro
Que nunca vai chegar a acontecer.
Eu preciso
De uma cumplicidade ingênua:
Partilhar hipóteses,
Criar refúgios,
Semear matos, flores, árvores
Na minha espécie de lugar seguro.

É ele que agride
A minha flora e fauna fantásticas.
São eles que não entendem
Quem eu sou.

Ou pelo menos não se importam.
Por que alguém se importaria
Com a minha verdade,
Com a minha fantasia?
Por que alguém compraria
As minhas mentiras coloridas?
Todas em vão minhas tentativas.

Eu vou e venho de buracos de coelho,
Tocas de Alice, Terras do Nunca,
Mundos maravilhosos.
Eu preciso disso.
Sem esse brilho encantado,
Vida nenhuma vale a pena.

Eu quero brincadeiras,
Quero falar da minha infância,
Quero chorar com bobagens,
Quero pensar na minha casa
E nos meus futuros filhos,
E no aborto a caminho,
E no dia que vamos dominar o mundo
Ou até dormirmos juntos.
Eu quero pensar na culinária conjunta,
Nas histórias contadas,
Na convivência sublime.
Eu quero um mundo
Onde eu possa consertar os erros deste
E fingir que eu sou feliz com maestria.
Eu só quero fingir que sou feliz
E tenho companhia.
Não tem ninguém pra brincar disso comigo.
Ser filha única é uma bosta.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Não existe lar para os pecadores ou para os trouxas. Não existe lar para ninguém.

Escape

Eu aperto meus dedos contra a palma da mão.
Eu quase não percebo.
Quando eu vejo estão doendo,
Tamanha a força que faço.
É involuntário.
Você.
O menino que só aparece de madrugada.
Alguém tá me mandando dormir mais cedo.
Sempre reclamam
'Não vai não'.
A madrugada é dos carentes,
Mas eu só quero dormir.
Eu preciso.
E você quase já não cabe
No meu querer ou precisar.
Eu tenho saudade às vezes,
Mas não é forte.
É verdade que algo em mim
Não quis finalizar a tua ida.
Estou sujeita a coisas
Que não gostaria de admitir.
Mas meus dedos,
Apertando a bolsa, confessam
O que eu me esforço tanto
Pra esconder.
E não é como se minhas palavras
Fizessem um trabalho melhor.
Nem meu coração parece aceitar
Que precisa bater mais lento, descansar.
Nada me obedece.
Tudo me entristece e cansa
Toda hora.
Não demora eu encontro outro motivo.
Hoje tem textos seus pra ler.
Eu sempre olho,
Eu sempre me entrego.
Eu esqueci de ler a tua história.
Isso está dando meio certo
Mas talvez não dê.
Eu nunca sei o que eu estou fazendo.
Você só aparece quando eu tô tentando dormir.
E eu escolho dormir.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Depression task

I'm really tired of your "it's a secret" game
I'm tired of "you're he only one who knows"
You once told me a secret
The worst secret anyone could tell
You gave me this sick gift
I thought it would make me special
But it never did
It's not like you intentionally wanted
To make me feel so bad
I told you I loved you so
But I could never predict
That it would end up like this
You get my hands dirty
I don't wanna know your secrets anymore
I don't wanna touch you
I don't wanna se you
I have to vanish my soul
Everytime I say hello
And that kills me
Because I know I will
Eventually
Really hurt you
And I don't mean to be mean
I'm just too tired
Too sad, too sick, too nauseated
I'm overwhelmed
And you never knew the consequences
On your acts
Or you never actually cared
While I forget who you are
And I often do
I keep loosing myself
On my way to home
I don't who I am
Or where am I
You make me lost and sad
I can't handle this
In fact, I can, but I don't want to
I wanna go home, be safe
I wanna be away
From you

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Indiferença, alvejante

Escrevo tudo que vejo
Tudo que sinto
O chão que desprezo
O ar que revisto
O meu reflexo deturpado no espelho
A feiúra desgostosa da gente
A euforia, a funebridade,
A celebração da castidade
Ou da vulgaridade inconformada
Escrevo quando estou chapada
Escrevo quando sou amada
Se isso sequer existe
Escrevo a desvantagem de ser triste
O desespero, a falha, a navalha
A fornalha onde não jogo teus textos
Pretextos inventados por mim
Para me permitir a tua falta
E quando morre, me mata
Mas não posso mais sentir
Teu gosto de sangue jorrado
Imaculado fruto da derrota
Quando não pudeste mais
Cumprir as promessas que me fazia
Logo não podias mais fazer promessas
E aí tudo se esfria, gela, racha
A superfíce do lago, polar ártico
Assim que lhe arranha a agonia,
Cede, afoga, afaga, líquido
Os alvéolos exaustos
Mas não há dor pra ser sentida
Dormente o gosto,
Dormente a partida
A vida que não tenho já se acaba
Para nascer de novo, chocada
Debaixo do calor de um preto e branco
Um garçom, um manto,
E na sobriedade a abertura
Antes que eu de novo seja
Antes que eu tenha tempo de me machucar
Me cura de nosso fim, me cura
Me perdoa os erros já previstos
Perdoa os meus desejos mal vistos
Te apaga em mim
Para que eu não perceba simplesmente
Que existe esta realidade
Onde não sou o deserto da antártida
Aqui, onde os amores
Nunca foram registrados no cartório
Nesse eterno velório
Sem velas, sem choro, sem compaixão
Sem medo, sem riso
E definitivamente
Sem perdão

To cry, to dry

Tired so tired
Seasick of you, boat
Jetlag of him, heavy cloud
I don't wanna do this anymore
I don't wanna fly
I don't wanna drown
I don't wanna swim
I don't wanna fall
This is what I get
For breathing so hard
This is all I have
Please, don't go so far
I have to go alone
This is just my life
I am not supposed
To be someone's wife
And this little poem
Does not even make sense
Makes me look so dumb
I should just give up
I should just go on
I shall not be me
I only wanted to be free
And I deserve it
But as I can see
There's no company
On my pretty path
There's no company
On my future beds
I must go alone
I must be on my own
I'm sick of you two
Of you three
Of everyone
I should say I'm gone
But I'll never be
I'll never be
I belong to dirt
I belong to me

A insuportabilidade do traidor por perto

Não faz isso.
Não fuma, não bebe, não foge.
Para de fugir. Para.
Nem o corpo dele importa mais.
Não deixa o menino te pegar, Emily.
Não deixa o bicho papão chegar aqui.
Vai dormir.
Descansa, pinta sua mandala, vai pra aula.
Prepara a fantasia e o quadro,
Sai dessa internet.
Você tá tão desesperada pra falar com os teus amigos.
Você abandonou todos eles, não foi?
Mas eu os amo.
Eu quero falar com eles.
Mas por outro lado, quero ficar em paz.

Vamos lá, um pouco mais,
Verdades frias na tábua.
Falar com esse garoto me irrita.
Me desespera, incomoda.
Ele só faz ir embora, todas as vezes.
Tudo que ele me fala é sobre ir embora.
Como se ele estivesse num interminável
Processo de morte.
Ele morre, morre, morre todos os dias.
Me incomoda. Atormenta.
Eu não quero assistir.
Ele me convida, eu vou.
Ele sugere, eu topo.
Ele pergunta, eu concordo.
Mas eu não suporto, eu não suporto.
É como se esticássemos um fim
Que já acabou há anos.
Por que eu estou fazendo essa caridade falsa e suja?
Por que eu não falo logo a verdade e acabo com isso?
Eu não quero matá-lo,
Eu não quero provocar-lhe dor.
Eu só quero ficar longe todas as vezes possíveis.
Dele e seus cigarros, dele e seus tormentos,
Dele e seus desesperos, corpos, imagens.
Eu não sei o que fazer.
Ele é um mau presságio.

Ele não sabe, mas agora sinto
Que todas as vezes que eu precisar tocá-lo
Eu terei que estar minimamente alta,
Para não querer me matar
É como se fosse tóxico
Se eu o encosto, morro
Definho, apodreço, pereço
Isso já nem faz mais sentido
Traição, será?
Quando tempo leva até você perceber
Que eventualmente você vai embora
Que isso já começou faz tempo, tua partida
Talvez já tenha notado, talvez apenas ignore
Isso me machuca
Você logo vai embora de vez
E vai doer mas eu quase não vou sentir
Porque quando você me matou
Eu virei um monstro
O bicho-papão em mim agora existe
Agora pode
E eu não posso com ele
Eu preciso que ele durma
Então vamos dormir

Crueza, crueldade

Debaixo de todas as verdades
Que nos cobrem nas noites frias
E não nos aquecem
Está essa:
eu não posso te salvar da partida dela
O perigo do amor
Foi desde o início escolha tua
E eu tendo ou não concordado
Incentivado a tua ida ou vinda
O coração condenado era o teu
O risco estava exposto,
Estendido sobre a mesa
Você sabia que podia cair
A qualquer momento
E eu não posso dizer que te avisei
Porque de fato nunca fui tua mãe
Ou tua consciência
Eu apenas sei
Que todos os amores
Carregam este perigo do fim
E eu te digo desde sempre
Que não confio na eternidade das coisas
Se você insiste em me contar
Da duração de teu sentimento
Que resiste, rocha, às porradas da água
Eu apenas aceito e digo "vá"
Se quando te machuca, você gosta,
Se quando acaricia, vale a pena, vá
Mas no teu retorno, não tenho culpa
Não posso te curar,
Não posso ser tua foda do perdão
Não posso ser o alívio que o Universo empresta
Aos apaixonados suicidas
Não posso te salvar da ida dela
Nem do teu coração partido
Não posso cicatrizar tua solidão
E se o desamor te carrega toda a alegria que sobra
Ele tem o mesmo efeito sobre mim
Quando a escolha é minha
E não é como se eu estivesse imune à tua falta
Todos sofremos
E a tua dor não é responsabilidade minha
Nem por isso vou-me embora
Nem por isso cubro minhas orelhas
Nem por isso recuso um agrado,
Um cafuné, um café, um abraço
Mas não posso te curar e é necessário
Repetir isto em voz alta
Para que todos saibam
Que além de não ser psicóloga,
Não sou curandeira ou santa,
Não sou doutora de maneira alguma,
Não sou abençoada,
E tampouco sou o amor de alguém,
Qualquer salvação ou ícone,
Tampouco sou a dor de alguém,
Não que nunca tenha antes sido,
Não tenho o dom de mergulhar
Os moribundos em esperança
Eu tenho duas coxas, colos,
Tenho dois braços, pesos confortáveis
Para os teus ombros magros,
Tenho meus lábios dispostos
A te dispersar a mente,
E uns olhos confusos
A tentar te confundir também.
É tudo que tenho,
E um copo meio cheio de água gelada,
Se quiser minha companhia, venha
Mas além dela, não tenho nada
Nada te especial a te oferecer.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Conte de fées

O mundo parece irreal.
O cheiro da chuva desnorteia os meus sentidos.
Há um lago se formando na minha  rua.
As saudades que eu sinto agora
Não inofensivas como as saudades
Que eu senti pela manhã.
Tudo se inverte.
De uma hora pra outra,
Eu já não estou pedindo que minha vida atarefada retorne.
Eu quero que esta paz nunca acabe.
Se eu trabalhar vez ou outra, essa não deve ser minha vida.
Eu não quero ser melhor que ninguém.
Eu não quero ser "bem sucedida".
Uma profissional admirável, invejada.
Eu não quero estudar na melhor faculdade,
Tirar as melhores notas, ganhar o melhor salário.
Eu não quero ser reconhecida pelo meu trabalho.
Eu quero ser conhecida, de verdade.
Eu quero ter amigos, ser amada, ser divertida.
Eu quero que as pessoas possam contar comigo.
Quero uma vida íntima, quero poder sair e falar sobre tudo.
Eu não quero a vida que os adultos esperam de mim.
Quero ter uma grana, pintar minhas telas,
Conseguir ser minimamente dona da minha vontade.
Quero poder ser espontânea, viver aventuras estúpidas,
Ficar em casa durante todo o fim de semana.
Eu quero ser digna de mim mesma.
Preciso de uma identidade.
Eu não vou fazer o que me pedem.
Eu não vou cobrar de mim algo que não sou.
Eu vou ser peculiarmente mediana.
Ordinária, comum, medíocre.
Eu vou tirar as notas que preciso, arrumar um emprego,
Sem compromissos eternos com carreira.
Eu vou viver os relacionamentos que forem necessários,
Sem precisar ser a pessoa perfeita todas as vezes.
Sem precisar ser maravilhosamente bonita
Para desconhecidos me admirarem na rua.
Isso não faz sentido.
Eu não quero ganhar um troféu.
Eu não quero representar uma marca.
Eu não gosto de competições.
Eu prefiro quando alguém sorri e diz que pode contar comigo.
Esse é o meu presente, a minha dádiva de Deus.
Estar ao lado de alguém, é tudo que eu quero.
Eu não devo nada a ninguém.
Eu não preciso ser a mais ética, a mais correta,
A mais doente, a mais escrota, a mais sofrida,
A mais esperta, a mais gostosa, a mais bonita,
A mais divertida, insubstituível ou incomum.
Eu só quero ter o direito de existir.
Eu não devo nada a ninguém.
Eu só preciso sobreviver, e buscar um pouco de felicidade.
É isso, tudo ou nada, me esforçar todos os dias, ser grata,
Me buscar em todos os cantos e em todas as pessoas,
Contatos, passeios, céus, é isso.
Eu preciso me construir como uma nova cidade,
Prestes a ser habitada por pessoas inacreditáveis.
O mundo parece irreal, como se fosse todo meu.

Fast As You Can - Fiona Apple

I let the beast in too soon
I don't know how to live without my hand on his throat
I fight him always and still
O' darling, it's so sweet
You think you know how crazy, how crazy I am
You say you don't spook easy
You won't go, but I know
And I pray that you will

Fast as you can, baby
Run, free yourself of me
Fast as you can

I may be soft in your palm
But I'll soon grow hungry for a fight
And I will not let you win
My pretty mouth will frame the phrases
That will disprove your faith in man
So if you catch me trying to find my way into your heart
From under your skin

Fast as you can, baby
Scratch me out, free yourself
Fast as you can
Fast as you can, baby
Scratch me out, free yourself
Fast as you can

Sometimes my mind don't shake and shift
But most of the time, it does
And I get to the place where I'm begging for a lift
Or I'll drown in the wonders and the was
And I'll be your girl, if you say it's a gift
And you give me some more of your drugs
Yeah, I'll be your pet, if you just tell me it's a gift
'Cause I'm tired of whys, choking on whys
Just need a little because, because

I let the beast in and then
I even tried forgiving him, but it's too soon
So I'll fight again, again, again, again, again
And for a little while more
I'll soar the uneven wind
Complain and blame the sterile land
But if you're getting any bright ideas
Quiet, dear - I'm blooming within

Fast as you can, baby
Wait, watch me, I'll be out
Fast as I can
Maybe late, but at least about
Fast as you can
Leave me, let this thing run its route
Fast as you can

Fast as you can
Fast as you can
Fast as you can
Fast as you can

Timeless 24 hours

O cronômetro começa sua contagem
Eu te chamo aqui
Você vem
E quando chega
Existe uma distância escondida
Eu só quero pular esses segundos
E te jogar contra a parede
Mas é quase certo
Que mal tenho forças pra isso
Está tarde
Tarde, tarde da noite
A gente sai, vai comer alguma coisa
Eu estou morrendo de fome
A gente come uma pizza
A melhor pizza da minha vida
É tão exótico e divertido
Eu dispenso talheres
E me entretenho com teu degustar
Nós rimos
Em tudo que fazemos, risos
É tudo muito engraçado, eu e você
Nós damos certo
Eu sujo muito os meus dedos
Limpo com os lábios
Você também
Nós agimos parecido 
Quando estamos perto
Nós dois damos bem certo
Dá pra ver

Vamos embora, pra casa
Bebemos uma coca-cola
Fazemos um pouco de nada, conversamos
Estamos rindo de novo, 
Trocamos de quarto,
Para não acordá-los,
Não estamos sozinhos
Mas isso não é problema
E no outro quarto, tudo escuro
Você me faz confissões, eu me preocupo
O ar ali pesa um pouco 
E eu estou quase triste

Quando eventualmente começamos
A nos beijar
E aí é tudo muito estranho
E vai continuando
É como se nos pertencêssemos
E sabemos eu e você
Que somos muito iguais
No que diz respeito a amar outra pessoa
Mas nós damos certo
E nos socorremos
Nos socorremos em braços, pernas, bocas
Ambos os corpos inteiros
Pedindo socorro
E meus lábios nunca pertenceram melhor
A qualquer lugar que não a sua barriga
E tudo agora está turvo
Eu consegui te distrair da tua solidão
E você me distrai da minha
Agora estamos juntos
Muito juntos, pois nós damos certo
Sem nos embolar

Mas aí eu estou cansada
E a gente faz uma pausa para deixar
Que o peso que o ar carregava
Agora caia sobre nós
E nos cobre feito o meu edredom
Está tudo quente
Quente, quente demais
Eu ligo o ventilador
Pra esconder os nossos prantos, gargalhadas
Pra limpar o ar do nosso ambiente
E logo a gente volta a recitar
Poesias, poesias cruas
Melodias nuas
Eu e você estamos enfim no ponto certo
Porque nós dois damos certo
A gente se entende nos lugares secretos

E quando já é dia, a gente sabe
A gente dispensa os imprestáveis
Que decidiram dormir durante a noite
Dormimos durante o dia
Para não ver o sol
Para esquecer o que as manhãs decifram
A gente acorda de tarde
E a essa altura nada mais importa
Nos conhecemos, nos encontramos
Como se nunca tivéssemos ido a lugar algum
Somos eu e você, atemporais
E almoçamos, vamos dar uma volta,
A cidade é nossa, podemos vê-la inteira
E o vento alegra os meus cabelos
E as árvores que assistimos
Eu ponho meu braço sobre teus ombros
Queria te agarrar ali no meio das pessoas
Mas me contenho
E passeamos mais um pouco
Vemos os estranhos, 
E até o sol acaba não me machucando

Mas paramos num canto, conversamos
E está tudo prestes a entristecer de novo
Você é muito sincero quando tenta não ser
Eu te enxergo
E queria poder acariciar o que você esconde
Eu não posso fazer nada
Mas nós combinamos
Eu e você
E essa nossa parte de dentro

Então começamos uma caçada
A alguma bobeira nossa
Uma tentativa de ficar feliz,
Encher o estômago
Fazemos um milkshake fraco
Fica bom
E aí eu não me lembro o que eu faço
Mas te encontro no quarto deitado
Você não parece bem de novo
Então te encho de beijos
Beijo, beijo, fica bem
O que é que está acontecendo?
Você continua aqui
A gente se consome
E está tudo ótimo
Nós engolimos o tempo 
E tudo corre devagar
Não faz sentido
É como se fosse acabar mas não acaba

A gente levanta, toma banho
Precisamos comer alguma coisa
Eu tento fazer um arroz mas entro em pânico
Eu na verdade não sirvo nem pra isso
Mas você está aqui
Então fica tudo bem

Eu estou cansada
Eu não durmo direito há anos
Eu preciso de mais um abraço, já foram uns mil
Eu preciso de mais uns beijos
É como se eu não te deixasse em paz
E a gente está no quarto errado, rindo
Rindo, rindo, rindo tanto
A gente vai acordar alguém com certeza
As bobeiras mais bobas de todas, o meu sono
A gente vê desenho
E eu fico abraçada contigo pra sempre
A gente se conhece
Mas eu sei que tá tudo esquisito lá no fundo
E mesmo assim nós damos certo
Eu e você damos certo
A tal ponto que eu na verdade me esqueço disso tudo
Você está na minha cama
E diz que me ama
Você diz escondido
Mas é perfeito
E eu continuo fazendo charme
E em algum momento
Você está tão exausto
E eu te peço pra não dormir
Não dorme
Porque se você dormir
Vai acabar indo embora
E eu só quero que você continue aqui
Eu moro em você
É chato ficar longe de casa

Mas a gente dorme
E depois de um tempo
A gente acorda
E o cronômetro continua contando
O tempo passou, passou aos montes
E eu preciso tomar um banho,
Me arrumar,
Você precisa ir pra casa
Mas eu não quero que você vá
Eu fico te beijando
Não vai, não vai
Deita aqui comigo
Mais um pouquinho
Eu te beijo, beijo
Depois te abraço
E beijo, beijo

Deu a nossa hora
Você precisa ir embora
Minha mãe pergunta se você vai ficar
Eu queria dizer que sim
Mas não posso
E na verdade tenho medo
De não poder te salvar
Mas nós ficamos tão bem juntos
É como se tudo desse certo
Nós damos certo
Você sabe disso, eu sei que sim
E aí você vai embora
E eu não consigo me despedir o suficiente
Mas eu me distraio e sigo em frente
Você me diz que vai voltar
Meu padrasto faz questão de repetir
O que você disse
Eu anoto aquilo e tento ficar calma, feliz

Eu aproveito metade do meu dia
E a outra metade eu passo dormindo
Eu sonho contigo
No meu sonho você está feliz
Genuinamente
E eu acordo com saudades
Saudades, saudades
Eu devia ter te amarrado na minha cama
Eu devia ter te dito que te amo
Mas eu morro de medo
Eu tenho medo de tudo
Tanto que espero o dia inteiro
Pra escrever esse texto
Sobre o tempo que não se calcula
Sobre a tua estadia aqui
Sobre como esse tempo
Foi o período mais certo do meu ano
Porque nós damos certo
E eu te queria mais aqui
Queria que você fosse meu 
É como se fosse
Mas é tudo tão confuso
Eu te digo
Estou confusa e curiosa
E você ri
E a sua risada faz sentido
Mas todo o resto não faz
Eu só preciso ficar aqui rindo com você
Pra me salvar
Volta, volta, fica aqui
Não vai, não vai
Para o tempo de novo comigo
Volta e não vai

domingo, 1 de novembro de 2015

Armadilha

 Você com quitutes
Você com vasilha
 Você lá na ilha
Chapéu e a matilha