domingo, 31 de maio de 2015

Jumpy

Meus cigarros não vão entender
Nem as vinte colheres de brigadeiro
Nem meu dedo que insiste em me machucar por dentro
Não tem ninguém para entender
Nem o espelho, nem as flores na minha janela
Nem os pássaros, nem os ratos, nem as formigas
Muito menos as borboletas
Não tem ninguém que alcance esta falta
É apenas isso, falta
A ausência que se alastra por todo o resto
Fim de domingo, de semana, de existência
Minha vida já não faz sentido a cada "não" que repito.
"Não vais fazer isso, moça. Não mais"
E tudo vai morrendo.
Sagu é o novo prato principal.
Há vontades fracas de coisas proibidas,
De desproibi-las para resgatar a falha
Pois esta arde no lugar de tamanho vão
É tedioso e fúnebre
Não justifica uma estadia tão longa.
Não há voz de consolo, nenhuma
É tão inconsistente que não há solução.
Minha coberta também não compreende
Ou a cama quebrada
Ou a calça rasgada estirada no chão
Ao lado do sapato imundo.
Se alguém pudesse ver isso aqui
Esse momento,
Talvez fosse capaz de entender a todas as outras coisas.
Meu ir e vir incansável
Talvez este seja o normal.
Dizem, saudade.
Saudade e domingo combinam demais
Especialmente nesse frio chuvoso.
As realidades estão mudando,
Nada vai me tirar daqui por enquanto
Mas não sei quem serei amanhã.
Não sei de nada.
Sei que falta,
Que se ausenta,
Que não está preenchido
O meu vazio.

Despedidas duvidosas

Me desfaço fielmente
De outras coisas.
Pessoas, lugares
E memórias.
Aprendo a jogar fora
O que me importa.
Sem luto a longo prazo,
Sem choro na lápide,
Sem drama em todas as conversas.
Preciso aprender a tua ausência.
Mas é triste,
Como é triste o teu não-estar.
Queria não precisar saber
Que a arte de perder as coisas
É assim tão simples
De se dominar.
Há um lado meu que desiste
Cinco vezes por dia
De te deixar.
Eu te amo tanto, ainda.
Nem sei o que é isso.
Amor é um absurdo.
Perto de ti morrerei
Se tudo permanecer como estava.
Talvez...
Esse talvez me acaba.
Você enxerga esperança em algo mais?
Queria conversar.
Me desfaço de todo contato
Com a tua imagem inerte, virtual.
Florentina escolhe esquecer.
Queria eu.
Todas as lacunas são realmente tristes.
Amanhã conversamos,
Quem sabe?
Talvez nunca mais depois.

Such a sad face

Teu nome se escreve sozinho
Em cima das coisas
Que não te pertencem.
Versos antigos,
Melodias tortas,
Caminhos, plantas,
Precicios,
Papeis sujos de rabiscos,
Meus pés doloridos
De tão pesados os passos.
Teu nome se escreve
Nas latas vermelhas,
Na minha pele,
Na chamada, na história.
Em lugares improváveis
Você está.
Sem aviso prévio
Ou justificativa plausível.
Sem socorro, sem saída,
Sem futuro.
Teu nome só pretende me sujar.

Sei que não escuta
Quando te sussurro pro vento.
Confesso que ainda não aceito
Tua partida.
Percebo que ainda te amo
Quando me falam sobre umas coisas tais
Que sempre acabam te envolvendo
Na minha possibilidade.

Sempre existe perdão
Em todas as coisas já ditas ou feitas,
Mas eu vou insistir que não há.

O que me machuca é que você não me aceita.
O que me entristece é que você a prefere.
O que me confunde é que você me quer.
O que me mata é que você se fere.
O que me irrita é que você mente
Até pra si mesmo, então imagine pra mim.

Há tantas outras coisas que precisam me explicar
Por que a tua ausência é correta.
São só quatro dias. Quatro dias é tão pouco.
São tantos castelos de cartas
Construídos milimetricamente
Só para te esperar aparecer e dar um sopro.

Preciso ir e não sentir a tua falta,
Mesmo que seja o meu motivo tão inconsistente.
Deus e o Diabo,
Suicídio, namorada.
É tudo tão simples quanto banal
Perto da minha vontade.
Eu preciso ir,
Mas queria que você me chamasse
E me pedisse pra ficar.

Você nem se importa com nada disso,
Eu entendo.
Você precisa de paz
And so do I.
Você não vai ler esse texto.
Eu preciso ir.
Eu preciso.



Sinto sua falta.
Que triste.
Não posso querer você.

sábado, 30 de maio de 2015

Sky is over - Serj Tankian

Everybody knows
Everybody knows
That you cradle the sun, sun
Believe you
Living in remorse
Sky is over

Don't you want to hold me baby
Disappointed, going crazy

Even though we can't afford
The sky is over
Even though we can't afford
The sky is over
I don't want to see you go
The sky is over
Even though we can't afford
The sky is over

Behind closed eyes lie
The minds ready to awaken you
Are you at war with land
And all of its creatures
Your not-so-gentle persuasion
Has been known to wreck economies
Of countries, of empires, the sky is over

Don't you want to hold me baby
Disappointed, going crazy

Not even from the sun
Not even from the sun
Not even from the sun
Don't you want me to run

Even though we can't afford
The sky is over
Even though we can't afford
The sky is over
I don't want to see you go
The sky is over
Even though we can't afford
The sky is over
I don't want to see you go
The sky is over
Even though we can't afford
The sky is over
I don't want to see you go
The sky is over
Even though we can't afford
The sky is over
The sky is over us

Paredes brancas, não verdes

Você vai embora
E eu me torno o lixo do lixo
Na dor e no precipício
Meus textos já não fazem sentido
Se eu não me desesperar
Para sentir o gosto da tua pele
Cadê aquela tua navalha
Que me fere?
Já não posso me pintar de sangue
Não há mais espaço
Não há mais tempo
Não enquanto você surge
Com esses versos mórbidos
Ou religiosos
Às vezes ambas as coisas
Assim não.
Me disseram que amor
A gente aceita
Seja como for
Então isso não é amor
Não é, nunca foi
E eu também nunca fui amada
Nem de longe
Eu nunca pude ser eu, realmente
Não existo perto de você
Aí, apenas te sou.
Com todos os nomes
E sobrenomes
E diferentes línguas e promessas
Mentiras e mais mentiras
Um infinito teatro
É a nossa brincadeira
Era, sempre foi
Não quero mais
Se eu ao menos coubesse na tua cama
Nos teus pensamentos
Na tua vontade
Ou no teu futuro torto
Existe mesmo um futuro
Nas coisas que você recita?
Talvez eu seja muito grande
Ou muito líquida
Talvez eu escorra ralo abaixo
E não tenha mãos para me segurar
Em um lugar visível
Você também mente
Quando me fala do meu talento
Talentos não existem,
Apenas sorte
Não tenho sorte se não te tenho
Faz parte abandonar o egoísmo
Para te abandonar também
Só existe alma nos meus textos
Quando me permito doer
Da tua ausência
Quando grito teu nome
Para toda parede vazia
Ou saturada de tanta reclamação

Lado 2

Desde que tu partiu,
Eu já não me recorto tanto.

Escuto músicas e mais músicas,
Para não ouvir meus pensamentos.
É tão mais simples quando você não está.

Me sinto quase sã.
É uma calma enorme que toma tudo.
Não precisar tomar decisões
Ou ser alguém.

Aceitar que a vida seja
Ou desfaça as coisas.
Lembrar que pessoas
Morrem e nascem
E que é assim que funciona
A coisa toda.

Há momentos em que
Eu aceito outros amores,
Há momentos em que
Não acredito no amor, de fato.

Posso acreditar ou desacreditar
No que eu quiser.
Liberdade.
Liberdade, amor.
Liberdade.

Desde que tu partiu,
Eu fumo mais cigarros.
Tudo parece tão
Superficialmente profundo.
Às vezes eu acho que sou louca.

Está certo,
Tudo assim,
Sem você.

Sinto que estou perdendo algo.
Já era hora.
Nada se resolve,
Mas é sempre assim na vida.

Eu hei de encontrar
Um novo propósito nela.

Há sempre dois lados
Na mesma moeda.
Na paz que me conforta
Cabe todo o caos do mundo,
Só não cabe você.

Lado 1

Desde que você surgiu,
Tudo ganhou um novo sentido.

Havia cores por todos os lados,
Fumaça vermelha e sirenes,
A substância-tu correndo
Nas minhas veias.
Lucy in the Sky
With Diamonds.

Desde que você tocou
Esse teu dedo tóxico
Nos meus pensamentos
Hipersensibilizados,
O sangue de repente existia
E o calor ardendo a alma,
O desespero, a causa,
O sopro de vida suicida.
Parecia real.

Eu não queria mais nada.
Eu sinto a tua falta.
Eu queria que queimasse a pele
E rasgasse tudo.

Eu queria, no fundo,
Que você me escolhesse
No lugar dela,
No lugar dele,
No lugar da tua insistência
Pela morte.

Eu nunca esperei
Que fosse apenas meu.
Queria que fosse meu de alguma forma.
Mesmo que também os pertencesse.

Queria planos, verdades,
Aquela honestidade
Que tu finge não conhecer.
Queria que quando
Cantasse meu nome,
Fosse verdadeiro.
Eu nunca acreditei no
Teu velho romance farsante.
Eu ainda não acredito.

Eu sempre gostei de ti
Pelo que tu não dizia.
O teu existir mascarado
Ainda é melhor
Do que essas mentiras
Que tu conta.

E eu ainda te amo, afinal.
Mas detesto a maneira
Como se veste.

Metade de mim foi embora.
Metade ficou.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Psicose

Vou escrever de novo,
Porque a minha vida agora
É comer arroz.
Não há graça
Nem amor,
Nem felicidade.
E, na verdade,
Sexo também não.
O que é esperança exatamente?

Eu sou os prédios
Sempre na mesma paleta de cores;
Eu sou o cimento
Que modela o meio-fio;
Eu sou a faixa amarela
No meio da rua;
Eu sou a buzina,
Os gritos dos camelôs,
Os milhares de passos apressados;
Eu sou o trilho do trem
E os bocejos durante o trajeto,
E a dor nas costas
De ter sempre a postura errada
De desânimo,
Água em temperatura ambiente,
Chinelos gastos,
Tênis desbotados,
Carregando histórias medíocres
E bactérias;

Eu sou todas as vozes repetindo:
''Eu devia me matar,
Eu quero agora,
Mas deixa pra amanhã'';
Eu sou a ausência
Em carne e osso,
Sem desejo ou propósito,
Fingindo coisas,
Forjando metas,
Usando maquiagem,
Acessórios,
Roupas confortáveis
E palavras que não me pertencem,
Cantarolando o presságio
De morte,
Pregando a minha baixa
Autoestima
E querendo,
Na média consciência,
Salvar todos que estiverem
Na minha frente;

Eu sou o orgasmo barato
E as coisas que nunca chegam pra gente,
O ponto de ônibus,
O cinzeiro,
A mesma árvore de sempre,
No centro da cidade,
Que ninguém nota;
Eu sou a derrota
Em todas as tentativas
De ser alguma coisa,
De ser alguém.

Sou o vazio
Que o vento finge não ser
No fim de tarde de domingo
E o não estar de uma pessoa
Para outra
No fim de todas as noites
Que precedem dias
Exatamente iguais.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Not peter, not pan

O dia começa,
Com ou sem você.
Com sol na janela,
Pássaros cantando.
Tudo segue em frente,
Mas não demora
Até que a sua falta me machuque.

O meu cabelo nunca esteve
Tão bagunçado.

Ontem eu precisei
De quatro travesseiros
E alguns pedaços de tecido.
Não cabia,
Não cabe ainda.

Me sinto culpada.

Não posso lidar
Com tamanhas consequências.
Quantos foram?
Eu já perdi a conta.
Todo mundo diz
Que vai se matar.

Eu preciso
Desesperadamente
Ser salva.
Nem que seja por mim mesma.

Tudo fica muito claro
Quando eu admito
Que é mera doença
Psicológica.
Eu vou na terapia
Sexta-feira.
Amanhã,
Uma da tarde.
Já perdi dois pontos
Na aula de amanhã.

Mas o que são dois pontos
Perto de perder você?

Eu me perco também
Todos os dias.

Às vezes eu tenho repulsa
Pelas flores cor-de-rosa
Da minha cortina.
Às vezes eu tenho repulsa
Pela tua imagem.

Eu me perco um pouco
Cada vez que eu me lembro
De você.
Eu me desencontro
Sempre que eu percebo
Que é sempre assim.

Eu não consigo salvar ninguém.

Nem ser salva, afinal.

É triste, meu amor.
E a vida segue.
Eu vou tentar não doer
Enquanto der.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Luto 2.0

Mate todas as certezas
Mate todas as memórias
Esconda todas as verdades
Duvide, desconfie
De toda e qualquer afirmação
A tristeza profunda, existencialista
Reina sobre todas as coisas
Não serei salva
Não existe redenção
Estou perdida
Na minha incapacidade
De sequer manter um ser humano vivo
Imagine perto de mim
A longo prazo
Ninguém sabe, conhece, entende
A solidão é o deus onipotente
É preciso matar mais uma aula
Eu nunca me senti tão deprimida
Largo tudo, tudo mesmo
Estou de luto outra vez
Envenenei alguém em mim
Quem foi que tomou veneno?
Quem foi?
O meu despertador toca,
Mas o piano não mais
Eu já não sei o que fazer
Muito menos onde encontrar esperança
Não vejo motivo pra lutar por coisa alguma
Eu preciso de atenção, de carinho, de amor
Eu só queria chorar a vida toda
Queria colo
E queria morrer
De verdade
Nunca mais precisar pensar
Sobre quem eu sou
Ou o que fazer com a minha vida

Tudo

         Doi

                Demais

Ó querida Florentina.

Bordel 2x0

Vai, putinha.
Todo mundo sabe
Que você não nasceu
Pra ser a boa garota.
Você até queria,
Mas vê bem.
Olha de perto.
Vai perceber que nunca
Vai dar certo.
Você nasceu pra sair
Se dando por aí.
Então, por que tão pouco?
Por que insistir
Nesse sentimento
Que não tem valor lógico?

Simbolismo não cura
O corpo de ninguém.
Sem um bom corpo,
A alma se desabriga.
É tudo questão de conforto.
Quem não sabe é tolo.

Liberta essa tua ideia.
Deixa que voe
Pelas camas alheias.
Deixe que goze o ir e vir
De quadris e gestos nobres.

Se eu tivesse
Alguma garantia...

Deixa ir.
Deixa que as faces
Se ponham rubras
De esforço,
De absurdo,
De compulsão.

Se fosse só isso...

Larga mão de ser igreja.
Os bordeis estão
Em plena atividade.
Que assim seja.

Guarda lugar pra ele
E só.
Não é preciso muito
Além disso.

Sua mentirosa hipócrita.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Esôfago

Leite materno
Água
Vinho branco
Cerveja
Chá de morango
Coca-cola
Tua saliva
Terra

Letter

Dear Peter,
You didn't hear my voice
Reciting this text that you gave a 2+ to
I recorded twice
But it didn't matter anyway.
Beloved Peter,
I'll leave you this key
On the table
My heart is all yours
Don't you ever, ever leave me
I love you.

Melody, Melody, Melody.

A fumante.

Não terminei o meu cigarro
Porque essa alegoria é feia
Tomei um banho gelado
Foi incômodo, não poético
Estou sendo ela antes que eu perceba
Antes que dê tempo de dizer não
Não, Talita, não.
Não há Miguel,
Não há salvação
Eu sei que isso é bom
Que isso funciona
Mas você tinha um plano, Débora
E agora o que faz com isso?
Deita na cama
Conversa
Você sabe com quem conversar
Está completamente sozinha
E agora, onde coloca isso tudo?
Numa caixa, num texto?
Não cabe em lugar algum
Se não no peito
Não se mate
Nem aos 20 anos
Nem depois

Falsete

Primeiro você me olha
E quando eu não olhar de volta
Você fala
Eu vou escutar
E enquanto eu responder
Você se distrai
Pode ser com uma borboleta
E aí eu vou te tocar
Talvez você se assuste
Não sei bem como funciona
Mas se não doer
Deixa
Porque é daí que tudo parte
E eu me parto em duas
Para ser o que você precisa
Não eu
Nunca eu
E se um dia
Você descobrir meu nome
Escrito por debaixo desta pele escravizada
Me chama
Que aí eu serei tua
Só tua
Inteiramente
O todo, e não as partes

É preciso antes de tudo
Paciência
Para ter amor
Como ninguém jamais ouviu falar
Como o calar
Que cabe em todas as árvores
Do verde meu
E teu

domingo, 24 de maio de 2015

Veneno X

Toda perspectiva é incômoda
Quando só a presença de espírito
Deste homem
Sossega o meu desespero
Mas o mundo insiste em girar
Sempre mais depressa e voraz
Quando cogito a falha na vida
"É quase certo que isto irá prejudicá-lo"
Creio que o amor não existe
Ou não o mereço
E a existência doi
Só posso suportá-la com ele
Estou perdida.

Primeira opção

Não consigo escrever
Estou ficando maluca
Maluca, maluca, Alice

Querido me deixa em paz
Não quero saber sobre ela
Não quero saber sobre ele

Me deixa aqui quietinha
Pra morrer, sozinha
Me deixa ir, me deixa

Me salva só depois,
Deixa passar um tempo
Pra eu voltar correndo

Uma semana, duas
Eu não tenho paz
Eu não consigo

Isso não é um texto
Isso não é uma pessoa
Isso não é uma vida

Você não percebe as coisas
Eu só queria ter pra quem ligar
Era só isso
Alguém que me atendesse e dissesse
Vai ficar tudo bem, eu te amo

Mas nada nunca dá certo
Nunca dá, não vai dar
Eu queria que fosse você
Eu fiquei insistindo

Você diz que vai me salvar
Mas eu que tenho que te salvar
Disso aí
E você sabe do que eu to falando
E te incomoda
E se eu andar prum lado doi em mim
Se eu andar pro outro doi em você
E eu não posso nem respirar
Pra não me mexer
E cair do lado errado

Eu preciso de espaço
Eu preciso de tempo
Nada vai ser curado
Eu devia me matar
Mas eu não vou
Só me deixa em paz
Ou resolve alguma coisa
Você não vai resolver nada
Escolhe a primeira
Escolhe ela

Leave me alone, Peter.

sábado, 23 de maio de 2015

Melody Melody Melody

Patacolá

Qué,
Disse o Pato
Patético era o seu discurso
Tentou fazer poesia
Não entendia
Pra ele sempre rimava

Mas Patolina insistia,
Não se faz poema
Com um único fonema

E o Pato só ouvia
Qué
De volta
E rimava

Era poesia

- (Para Fred)

Vudu

MORRA,
Débora,
Morra.

Disse a boneca.

Emília,
Marie,
Recitando versos
Sem rima,
Pregando rezas
De morte.

Pensei

"Por favor, não"

Em seguida, pensei

"Tudo bem"

E continuamos.

Cama

Eu sei que não parece muito,
Mas na minha cama cabe
Muita gente.
Gente.
Na minha cama cabe
Muita coisa.
Na minha cama
Me cabe
E cabe Emília.
Cabe você,
Ô, se cabe.
Metade da minha
Cama minúscula
É só tua.
E quando tu não está
Cabe a saudade.
E na minha saudade
Só cabe o teu corpo
Para estar
Ao lado
Do meu.

Preciso aceitar
A maneira como só o ar
Me toca.
Preciso dormir
Apesar de não sentir
A tua pele,
Quente.

Há tanto aqui
Daquela coisa
Que a gente nomeia tanto,
Que eu seria boazinha.
Eu seria, sim.

Se tu quisesse, eu ia.
Se não quisesse, eu ficava
Bem quieta,
Falava baixo.
Eu só te queria aqui.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Cafézinho

Entrei
Dentro de mim
Assim
Com pleonasmo
Mesmo
Te achei
Aqui
Te beijei a testa
Fotografei teu rosto
E decorei tua aura
Verde clara
(Ela não deveria
ser azul?)
Meus olhos
Te disseram
Que eu te amo
Não sei se você
Ouviu
Com os teus
Mas já estava dito
Então eu fui embora
E você
Ficou
Aqui
Dentro de mim

Leucemia

Uma vez a cada milênio,
Eu tenho uma vontade
Genuína de fumar.
E agora vai mais um
Só pra você.

Talvez você não aceite
Este presente.
Nem todo mundo entende.

É que eu tenho sempre
Dois lados.
Como a moeda
Que eu ganhei recentemente.

Cara de um lado,
Cara do outro.
A minha moeda
Nunca mostra a sorte.

Percebe?
É sempre a mesma.
Mas são sempre dois lados.

Dentro e fora.
Qual será o verso
Que eu vou resolver mostrar?

Se eu for feliz,
Estou triste.
E se eu quiser morrer
É que eu te amo.

Mas eu te amo
Por toda a parte.
Partida, inteira,
Ralada e derretida.
Também te amo
Quando não doi.

Eis a minha vida
Incoerente,
Quando te ponho
Em todo futuro plausível.
Inconcebível, até.
Te esfrego em tudo.

Tanto quando medo
Quanto quando vontade.

Prendo meu novo amuleto
No pescoço.
Para ocupar o lugar da corda,
Você sabe.

E preciso ter sempre em mente
Que meus dois coexistem.
E ambos te amam.

Eu estarei aqui pra sempre.
Até que alguém me mate.
Mas você diz que
Nunca vai deixar.
Então,
Eu acredito.

Rush

Meu coração bate bate bate
O que é uma noite bem dormida?
Eu já não me lembro
Tá tudo muito confuso por aqui
Eu tenho medo de não poder te salvar
Não gosto quando você fica longe
Me sinto uma mãe sem seu bebê recém-parido
Eu não gosto de privar ninguém de ninguém
Não gosto da raiva dela

Cubículo verde

Não tem mais cigarros nesse lugar.
O que eu faço com esse cinzeiro?
Onde eu ponho?
Me ajuda aqui.
Podemos reciclar?

Eu preciso pedir ajuda sempre.
É assim que funciona, não é?
Mas nós dois sabemos
Que eu preciso ser
Independente.

Abro meus olhos.
Mantenho eles abertos.
Eu amo que estas paredes sejam verdes.
Eu amo o prefixo cubículo.
Essas duas palavras não combinam:
Prefixo e cubículo.

Elas são parecidas demais.
Nós não.
Nós somos diferentes um do outro.
Mas nos encontramos
No escuro
E agora nos encontramos neste verde.

Não há alma num texto como esse,
Mas há de haver em algum outro.
Se você tiver paciência,
Se tiver tempo de esperar
Tudo cozinhar por inteiro.

Não só as bordas,
Não só o meio.
O todo.

Hei de me sentar
Numa escada de dois degraus
Preta e branca
E esperar a cor mudar,
O som da água
Conversar comigo.

Hei de assistir
E mexer de vez em quando
Com o garfo que deixei separado
Só pra isso.

Meus dedos passeando
Por dentro do peito.

Vou continuar aqui,
Mas vai ficar melhor se tiver um cobertor.
E se eu souber o que fazer
Com aquele cinzeiro.
Onde eu ponho ele?
O que ele vai ser agora?

A água ferveu, de novo

Vou por teu texto para cozinhar
Porque é assim que textos nascem,
Eles cozinham
E eu vou esperar
Com toda a paciência do mundo
O forno apitar
Pra me avisar que está pronto

No fundo o despertador sou eu que aciono

Aí, eu vou perceber
Que me enrolei mais uma vez na tua teia
Carregada de purpurina
De todas as cores
Conheço uma criança que teria adorado

Nada disso é digno de texto

Ninguém sabe que as vozes
Que escrevem em itálico
Coexistem comigo
E não são eu

Mas nós existimos

Vou me distrair
Enquanto tento borbulhar
O corrosivo molho de tomate
Que dá alguma graça pro macarrão

Talvez assim,
Se eu conseguir engolir a raiva
E meu estômago fizer a digestão
Talvez eu esteja curada

Você consegue fazer melhor que isso

Não, eu não consigo,
Eu não posso, não posso
Não, não, não

O que é que você está fazendo?

Eu não sei
Eu não faço ideia

Não vai ser esse hoje
Não vai ser esse agora
Porque a comida e os textos
Desandam
E queimam,
E passam do ponto
Ou estão sempre crus
Como eu, quando se trata de você.

Eu não sei cozinhar
Como sei escrever
Eu não sei amar.

Sol, Solidão, Sol

Eu queria um cigarro agora
Eu queria
Mas eu não preciso fumar
Eu só queria companhia
E hoje eu penso em você
E me sinto tão só
É isso.
Estar pra você todos os dias
Aqui
Porque é aqui que eu devo estar
Será?
Eu ajudei uma pessoa hoje
E não faz sentido nada disso
Estou perdida, de novo, de novo
Eu queria um cigarro só de pirraça
Estou dolorida de tanto me masturbar
Porque me sinto sozinha
Eu odeio esse vazio que me alcança
Depois que eu paro de falar contigo
E que às vezes se estende até
Quando conversamos
E quando eu sinto
Que não estou me abrindo
Até a carne
Até o lado negro de mim
É como se eu te contasse a maior das mentiras
Eu nunca posso ser boazinha
Não, nunca boazinha
I am a bad girl
Você nunca entenderia
Não
Você nunca entenderia
Quando você arrancar esse rosto
Da minha frente
E quando os teus olhos queimarem
Vai doer muito
Você não percebe a catástrofe
Mas eu sim
E eu não vou sair puxando ela pra cá
Eu vou continuar aqui te amando
E eu nem sei por quê
Eu apenas vou
Até que o tudo que eu espero aconteça
Outra vez
Mais uma vez
Sempre
Porque a vida gira
Como um maldito carrossel
Porque a vida é a Terra
Transladando,
Dançando ao redor do sol
E sol sou eu

E ninguém nunca para pra pensar
Em como o sol se sente sozinho
Ninguém
Só eu

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Comédia ou tragédia

Nomeio os sentimentos
Como se fossem todos
Exclusivamente meus
Escrevo, canto, ressuscito
Como Jesus
Seria eu
Outra espécie de Deus mutante?
Seria eu
O prodígio da paródia dele?
Releitura, minha mãe disse,
Releitura.
Todos fazemos isso
Eu e ele especialmente.
Somos profissionais
No amadorismo
(e em amar também)
Nos amamos
Como jamais alguém
Poderia amar outro alguém
Será que está tudo bem de fato?
Será que ainda estamos
No primeiro ato?
Ou será que já chegamos no final?

Respiro a incoerência dele
Porque é de onde tiro a minha paz
Não questiono, não justifico,
Não explico
Apenas respiro,
Respiro ele,
Respiro tudo,
Respiro mais.

Encaixe

Dormi.
Entrei em mim
Como uma lagarta
Entraria no casulo
Como se eu coubesse aqui
Como se harmonizasse
Ou fizesse algum sentido
Como se fosse ali que
Eu deveria estar
Ali, dentro de mim

Meu pai não entendeu
Minha mãe não entenderia
Nem Nícolas
Nem Deus

Ninguém mais entenderia
Só eu

Porque era eu que estava ali
Entrando em mim
Eu e eu

E pra mim
Tinha toda a lógica do mundo
Estar ali
Existir
Dormir

Ocorrência

Queria poder falar
Sobre o que acontece
Mas não posso
Ainda não cozinhou direito
Só a bordinha tá meio dourada
Só a borda
Por dentro está tudo cru
Cru demais
Há verdades
Que só devem ser ditas bonitas
Nunca nuas e despenteadas
Deixa a verdade ter seu tempo
Deixa as coisas se entenderem melhor
E já que nada faz sentido
Deixa ser, sem que precise justificar
E agora o arrepio
E depois o medo
E depois eu escrevo de novo,
Quem sabe?
Repassar o texto
Digitar o caos dessa semana
Talvez até recolocar
As coisas na prateleira
Vai ficar tudo bem
Não se preocupe, menina, melody
Vai ficar tudo bem
Você aguenta essa
Você aguenta tudo
Você é mais forte do que parece

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Pós-Melody

Vai doer
Até rachar os lábios
Até borbulhar a pele
Explodir
Rasgar
Derreter
Vai doer
Vai doer sim
Vai doer lá dentro
E lá fora
E em todos os cantos do ser
Vai doer o que não é
E o não vir a poder
Existir
Vai doer porque é assim
Que a vida é
E você vai chorar
E morrer de enxaqueca
E pensar todos os dias
Em beber,
Em fumar,
Em se cortar
E destruir as coisas
Em se matar
E em pedir socorro
Você vai pensar
Em se drogar
De todas as maneiras possíveis
E tentar fugir disso tudo
Vê a depressão
Levando a casa
A vila
A vontade
Vê como arde
Acordar todos os dias
E estar sozinha
De novo
E de novo
E de novo
Você não pode
Você não aguenta
Mas vai continuar aí
Deixando doer
E doer
E doer
E tentando fazer alguma coisa
Que não vai ajudar em nada
Em nada, Isabel
Em nada, Débora
Você nasceu para morrer
E não para amar
Ou ser feliz
Ou sequer ajudar alguém
Morrer, e apenas morrer
Todos os dias
Até ser enterrada

terça-feira, 19 de maio de 2015

Coma-me. Beba-me.

Caro Coelho Branco,
Venho tentando resgatar uma velha amiga.

Isso não é real.

Às vezes tenho a impressão de que eu corro mais do que você e o seu paletó.

Por que o seu relógio gira os ponteiros num tempo diferente do meu?
Bem, você tem razão. Eu não tenho um relógio.

Mas eu parecia contar as horas muito bem, hoje pela manhã.

É tarde, é tarde!

Nada tem feito muito sentido desde então.
Presumo que hoje seja o dia três.

Se você chegar a ler isso, saiba que ao final de sete dias eu estarei de volta, com o par de luvinhas brancas e o leque da rainha.

Não se preocupe.

Ass.: Mariana

domingo, 17 de maio de 2015

Tinker, Peter.

Peter,
Oh,
Peter.

I've gone mad.
Just like Alice.
I'm sorry about that.
No, I'm not sorry.
I've gone mad.

Peter,
Oh, Peter.

It was such a joy
To be by your side.
It is a heavenly way to die.
I mean, by your side.

Peter,
Oh, beloved Peter.

It hurts so much
To hurt myself
Because of you.
It hurts so much
When you kill yourself
Because of...
I don't really know.
It could be anything.

Peter Pan,
Oh, my exclusive Peter.

That doesn't grow up.
That doesn't take care.
That doesn't love me back.

Peter,
That doesn't even know
My fairy name.

Peter.
That doesn't even like
Your real name.

Peter,
Oh,
My Peter.

You can tell me the same story
Everynight.
You talk to me about our
Neverland.
But you could never save me
From hell.

Peter,
Pan,
Peter.

You say you love me
Again,
You say you love me
Again,
You say you love me.

But I could never believe it.
There's no redemption for
Bells melody or
Melody's bell.

sábado, 16 de maio de 2015

Bye, J.

Hey, Jimmy.

You gotta kill me, Jimmy.

Just do it, ok?

Hey, Jimmy.

I love you.

Goodbye.

With all my heart,
Jean.

Louca louca louca louca

Estou sozinha em casa
Vendo um filme profundamente triste
E eu coço meus olhos desesperadamente
Porque não consigo chorar
Eu queria que você me salvasse
Eu tentei te ligar
Eu sinto tanto, tanto
Eu sinto tudo dentro de mim
Eu queria que a tua voz me acalmasse
Eu queria ficar em paz amando você
Eu queria entender o que está acontecendo
Mas não
Agora eu estou chorando, eu acho
Eu só queria me encolher e chorar
E chorar
E chorar
Por favor, me salva
Por favor, me atende
Por favor, faz isso parar
Eu não quero enlouquecer
Eu não quero
Eu só quero ser normal
Eu só quero ser feliz
Eu queria que você pudesse me abraçar
E me apertar em você
Até doer
Pra eu me sentir segura
Pra eu me sentir a salvo
Eu tento aceitar a realidade
Mas eu não sei o que é real
Eu queria que você aparecesse
E tudo ficasse bem
Queria não sentir que tudo é tão insuportavelmente insano
Sentir que eu não tô louca
Talvez eu seja esquizofrênica
Talvez eu tenha alguma doença psíquica

Break up

Mais cedo
Ou mais tarde
Você vai me levar a
Me matar.
Essa relação é
Muito destrutiva
E obsessiva.
Precisamos nos
Despedir
E dar um tempo.
Pelo menos um mês.
Eu não quero morrer.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Mamãe

Mamãe me ensinou
Como se ama.
E talvez em algum ponto
Ela tenha me ensinado
A ser amada.

Daí em diante,
Me pus a procurar
O amor ideal.
Ela estaria
Todas as noites
Chorando.
Então, deveria eu.
Era normal doer.
Amar era sobre o outro,
Quase sempre,
Mas chegaria o momento
Em que voltaria
A ser sobre nós mesmas.
Todo mundo tem seu tempo
De ser só.

Mamãe me disse que
Eu precisava
Ser sempre tolerante.
Minha mãe gritava sempre
Até desabar em prantos.
Escorpiana com os pés no fogo,
Ela ia me ensinando a ser ela.
E por mais que eu fugisse,
Me via sempre no mesmo caminho
De volta pra casa,
Seguindo seus passos tortos.

Como se ama, mamãe?
Eu tô fazendo direito?
Ninguém nunca vai te amar
Como eu te amo.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Divã

Não. Não vamos conversar. Eu vou sentar aqui e começar a falar sobre esse súbito sentimento de maturidade. Eu nunca consigo me prever. Eu vou e venho e a minha psicóloga nunca considera isso um retrocesso. Eu acabo no mesmo lugar, porque não resolvi. Meu problema é insolucionável.
Escrevi teu nome no uniforme colorido do meu super-heroi. Você deveria vencer a minha solidão. Desculpa. Eu devia ser um ser humano melhor do que eu sou. Às vezes eu tento, às vezes não.
Não tomei banho hoje, mas dormi bastante. Tive quatro sonhos, um deles sobre a existência. Ele me assustou. Como me assusta agora a ideia da consulta de amanhã. Rosa pediu que eu fosse de novo lá.
Meus pais ficaram preocupados. Eu não disse nada a eles. Não tinha porquê. Eles não iam poder fazer nada a respeito, de qualquer forma.
Apesar de tudo, você tem sido bom pra mim. Você se tornou um motivo e também um caminho para que eu me enxergasse melhor. Obrigada. Obrigada por ser tão parecido comigo. Obrigada por ser tão diferente de mim. Obrigada por existir independente de mim e ainda assim me fazer sentir como se eu pudesse de fato conversar com alguém. E não apenas fingir.
Às vezes eu tenho medo de interagir tanto comigo mesma. De existir só dentro de mim. A Rosa diz que isso vai me ajudar a me tornar uma boa psicóloga. Eu não acredito. Mas estou aqui, não estou?
Eu sei que em você existe esse lado sensato também. Eu sei que ele também te incomoda às vezes.
Ela me mostra que apesar de saber das coisas às vezes eu nego elas. Porque doi. Uma professora minha chama isso de "mecanismo de defesa".  E ele é comandado pelo inconsciente, eu acho. A faculdade me ensina bastante coisa. E eu gosto de aprender.
Acho que está bom por hoje. Eu disse bastante coisa. Como se existisse essa linha entre meus pensamentos e a linguagem. Como se meus sentimentos pudessem ser de fato tão claros.
Eu continuo te amando.

Isabel (carta de um pai aflito) - Cícero

Isabel anima qualquer coisa
Pra sair de casa.. Pra rodar na rua
Pode ser que aconteça
Isabel anima qualquer coisa
Pra sair de casa... Pra rodar na rua

Pode ser um dia ruim...
Isabel, a vida não
Vai melhorar assim... Onde você estiver

Isabel anima qualquer coisa pra sair de casa
Que a maldade te esqueça!!!
Isabel, a vida só vai melhorar
Aí dentro da sua cabeça
Onde você estiver (dentro da sua cabeça)

Transplante

Carrega o meu peito
E estica, e rasga.
Usa os retalhos
Pra expandir o teu
Espaço, apertado.
Me mora,
Faz dos meus restos
Tua salvação.

Apelo de amigo

"Não se mata
Volta pra casa
Volta pro colo
Vive de nada
Trabalha e reza
E se permite morrer
De velho
De novoutra vez!

Vamos voltar a ser o que éramos antes
O que éramos antes
Sem sonata de despedida
Sem carta suicida
Sem mágoa do amor perdido
Sem dor do pulso cortado
Sem desamparo

Engrandece esse ego porque?
Se é tão grande pode te esquentar
Volta pra casa, se enrola em si mesmo
Vive feliz, vive disso, vive daquilo
Apelo infeliz do teu eu esquecido
Volta pra mim
"

Boneca de lata

Se eu sou o joelho,
Ele a cabeça
E ela a cintura,
Quanto tempo leva
Pra desamassar a boneca de lata
De toda uma geração?

Sede, peso, dia

Espero você deitar,
Me deito ao teu lado,
Me aproveito.
Apoio meus pés em ti,
Recosto.
Tapete, cama.
Esse meu peso não te pertence.
Eu vou gostar se você ainda
Conversar comigo.
Eu vou gostar se você ainda me elogiar.
Mas eu não posso,
Não posso te amar desta forma.
Porque doi em todo mundo, entende?

Serei boa,
Apesar de não me reconhecer
Em tal estado.
Vou dormir, acordar,
Pintar meus quadros, talvez.
Escrever todos os dias,
Conversar contigo.

E tudo vai ficar bem.
Espero que você também fique.
As coisas vão dormir,
Como ursos alimentados no inverno.
Eu vou fingir que cresci,
Que entendi a coisa toda.
Eu vou voltar pra onde eu estava,
Aguentando a escassez do dia a dia.

Uma hora a sede passa,
Passa sim.
E não precisa ser bebendo você
Todos os dias.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Godot

Não reseta,
Não morre,
Não some.

É pedir demais,
Eu sei que é.

Mas deixa eu te amar, pelo menos.
Não desiste, não me põe no canto.

Eu te amo.
Eu quero te amar.
Eu decidi aceitar isso.
Eu gosto de te amar.

Eu fico aqui pra ti,
Juro que fico.
Não precisa ir embora.

Deixa eu querer você,
Apesar dos pesares.
Deixa eu ficar aqui,
Eu cubro o verso.

Eu abaixo a voz,
Eu espero a minha vez.

Fonte que não seca

Rabisco meus tracinhos vermelhos.
Deixo a ansiedade servir de combustível.
E sonho, e sonho bem.
Faz mal pensar tanto assim em você?
Faz mal falar tanto assim com você?

Me deixa, Rosa.
Eu gosto dele.
Presta atenção, Rosa.
Uma pessoa como eu não pode se dar ao luxo de desperdiçar vontades.
Nunca se sabe quando eu vou querer algo de novo.
Eu sei que você me acha mimada e que às vezes torce contra mim.
Mas eu vou ficar bem.
Eu vou, Rosa. Eu vou.
Desculpa, mas eu preciso do dinheiro.

Busco você.
Todo dia tentando toler essa minha ânsia de te engolir.
Talvez você goste dessa minha compulsão.
Talvez não.
Sabe, eu aprendi a respeitar as dúvidas que me existem quanto a você.
Você sempre tinha raiva de quando eu te definia.
Numa parte eu acertei, eu sei.
Porque se eu só enxergasse aquilo que você me exibia,
Eu nunca teria percebido que você é doce.
Tampouco teria decidido virar diabética.

Eu quero tentar ser normal um pouco,
Só pra descansar.
Mas você fica me enchendo de amor
Até quando não está.
E os apaixonados são todos loucos.
Bom, eu sou uma louca que escreve.
Eu vou escrever até não existir mais nada.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Ladrão que rouba ladrão...

Toma.
Pega.
Leva tudo.
É tudo teu, mesmo.
Coloquei tudo no teu nome.
Dos meus fios de cabelos aos meus calcanhares,
Sou toda tua.
Aproveita.
Tua letra tá marcada no meu braço.
É concreto, é fato.
É oficial.
Tu pode me arrastar pra onde quiser.
E os textos todos teus que tu me rouba.
Não é roubo, afinal.

Toma, meu amor.
Pega as minhas noites de sono.
Leva a minha calma e embaralha tudo.
Carrega o meu peito e aperta
Sempre que o teu acelerar.
E sempre que faltar espaço, me mora.
Usa os meus pulmões pra respirar,
Quando os teus cansarem de tanta fumaça.

Se encontrar algo que possa ser usado,
Se utiliza
Da minha boa vontade.
Vai respigando teu cheiro
Pelos cantos,
Pelas minhas coisas.

Vai, ladrão.
Pega tudo que estiver na tua frente.
Rabisca por cima, assina.
Teu nome é bonito demais pra ser negado.

Eu quem roubo

"Me dá
Que eu quero
Me dá
Que eu preciso
Usar das tuas coisas
Pra provar que as minhas
Fazem todo o sentido

Me dá
Que eu abusarei
Em todos os campos da sabedoria
Que eu sei
Me dá
Não vou chamar de meu
Você perceberia
Se eu não fosse tão opaco
Que eu gosto disso

Me vende
Sabes que rende mais
Mas gostas do meu usar
Então me dá
Deixa eu aproveitar
Todas as tuas coisas
Não as jogue no mar
Continua entre nós
Me dá tudo
Não deixa livre
Porque isso pode se desgastar
Não deixa mudo o que se pode gritar,
Não toca tudo no mar
Me dá..."

- Nícolas Arths em cafeoucigarro.blogspot.com.br

PEGA LADRÃO!

Incoerência, Tua.

Mary Marina

Mesquinha.
"Esta menina faz economia de amor",
Diz a placa.
Mas sempre tem alguém pra passar e dizer que ela está desperdiçando.
Se no mundo o amor valesse mais que o dinheiro,
Ela seria uma empreendedora.
Mas se o que valesse fosse o tempo,
Ela estaria endividada até o pescoço.
Atraso é seu nome,
Incoerência sua morada.
As palavras como sempre suas amantes,
E Emília, a  sua boneca amaldiçoada.

Just Don't

Eu sei que se você decidir
Eu vou saber
Eu vou sentir
E tudo vai desabar antes que você perceba
Que eu descobri

Por favor, não.
Por favor, não.
Por favor, não.
Just don't.

I love you to much
I'll fight for you everyday
Love will fuck me up, but
Who said I care
I'll be there, I will

You belong with me,
This is where you gonna be
I'll do everything I can
Stay.
Stay here.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Peter Pan 2 Neverland

Chove.
Chove em mim, que eu deixo.
Eu sou um balde perto de ti,
A terra, a grama.
Chove em mim até que eu transborde.
Você é mil vezes melhor dentro de mim
Do que aquele antigo vazio.
Você me faz brotar todos os tipos de coisas.
Casa comigo?
Eu prometo que fico contigo pra sempre.
Eu prometo te amar todos os dias.
Vamos ser ruins?
Vamos ser péssimos!
E vai ser maravilhoso!
Mas você vai me trair todas as vezes.
Eu aguentaria isso.
Mas e se eu não puder ser assim tão ruim?
E se eu quiser te sequestrar e te por
Numa casa no campo cheia de crianças?
Ora essa, seria uma tortura.
Eu não te falei sobre o trailer e a casinha.
Não te falei sobre estar sempre te esperando
Na minha imaginação.
Não te falei sobre Amyr Klink,
Nem sobre como eu encaixei sua loucura
Na minha farsa de futuro.
Não. Não posso.
É tudo muito lindo quando se trata de você.
Mas não é real.
Nunca é.
É uma espécie de esquizofrenia.
Você é a minha esquizofrenia mais maravilhosa.
E se você virar depressão eu corto os pulsos.
E vale a pena? Claro!
Mas não pode ser assim todos os dias.
Te amar e amar e amar.
Eu amo quando você é bonzinho.
Amo te amar.
E amo te odiar quando você é mau,
Muito mau comigo.
E te amo pela minha raiva.
E você me alcança por todos os lados.
E eu nunca me senti tão livre.
Liberty.
Você sussurra o meu nome
Nos olhos de todas as outras pessoas.
Não, querido.
Não. Não. Não.

domingo, 10 de maio de 2015

Thoughts.

The longer I watch my scars
Deeper I wanna cut

Talk to me.
Say anything.
No.
Do not tell me facts,
Talk to me about reasons.

This time is not because you're silent.
You told me something.
I'm trying to understand
Whats's going on there.

In fact, I'm gonna love you
With or without her in the middle.
But it does make difference
On how will I do this.

I'm here.
Nevermind,
Take your time.

See ya, sweetheart.

Eu não choro

Seis e seis da manhã. Eu ainda acordada, devido a um processo acelerado de sobriedade-alteração-ressaca. Com direito a enxaquecas e náuseas. Estou agora fisicamente bem. Cansada. Pensando em você, lendo nossos textos antigos. Ignorando pateticamente a dor nos meus novos hematomas. Como ignoro a dor dos meus cortes. Eu ignoro todas as dores que eu consigo ignorar. Ignoro você. Choveu quando eu voltei e eu não chorei. Eu não chorei quando voltei pra cá. Eu não sei mais chorar. Ainda acho que você não consegue ser menos doloroso que nada. Essa dor que eu tenho é só tua. Eu espero que em outra pessoa eu encontre mais felicidade que tragédia. Mas eu amava você. E eu ainda me importo, eu acho. Só não posso te amar. Não, não posso. Mas, às vezes... Bom, não importa. São seis e dezesseis da manhã e eu preciso dormir. Porque a vida segue, e eu continuo tentando existir em algum lugar. Mesmo que longe de você.

Amar é morrer. Amar é morrer. Amar é morrer.

Amar é morrer. Amar é morrer. Amar é morrer. Amar é morrer. Amar é morrer. Amar é morrer. Amar é morrer. Amar é morrer. Amar é morrer. Amar é morrer. Amar é morrer. Amar é morrer. Amar é morrer. Amar é morrer.

Mil quatrocentas e cinquenta ovelhas correm em direção ao precipício. Eu corro na tua.

Cama, tu

Preciso de colo, um pouco.
Só agora, só por essa noite.
Eu me sinto tão triste.
Se você deixar eu te conto
Sobre as coisas que se passaram.
Sobre o que acontece comigo
Quando eu fujo tão desesperada de você.
Talvez eu consiga te explicar
A minha insistente projeção.
Não é por mal. Eu não controlo isso.
Eu só quero amar você.
Não é por mal.

Você está agora em outro lugar.
Seus olhos atentos,
Seu corpo quente.
Você está lá. Aí.

Mas se pudesse, de repente
Passar a mão na minha nuca,
Talvez ficasse tudo bem.
Tudo sempre vai doer.
Eu te amo.
E queria estar contigo agora.
Desculpa.
Eu queria ser feita só de felicidades
Pra te fazer feliz.
Eu queria ser feita só de você.

Posso ir te ver?
Quando ela for embora, eu posso?
Você pode me amar um pouco?
Acho que tem coisas que a gente nunca supera.
Será que vai dar tudo certo?
Será que eu estou mentindo?
Eu queria ouvir a tua voz,
Mas vou dormir.
Vou dormir pensando na tua cama.

Fui embora

Às vezes doi ainda
Quando eu penso
Na tua partida breve.
Que ainda leva todo esse tempo,
Que ainda me leva pra longe de mim.
Às vezes arde a garganta
O choro entalado aqui dentro.
Você indo de novo e de novo.
Às vezes me esqueço
que passado é passado,
Às vezes me esqueço que você é fim.
Tem algumas palavras espalhadas,
Os livros que a gente
escreveu e despedaçou.
Foi isso. Um dia a gente soube
o que era amar.
Tem dias que eu nem sei
O que você costumava ser.
Tem dias em que não me reconheço.
Entristeço, hoje.
Só hoje.
Porque o dia amanhece
E eu tenho medo de tudo desde que
O seu ciclo terminou.
Existimos um dia.
Foi bom, doeu.
Agora não faz mais sentido.
Eu morri contigo.

sábado, 9 de maio de 2015

Be mine

I fucking love you, boy
I love you a lot
I want you to fuck me every night
I wanna be your girlfriend, I wanna be your lover
I wanna be everything, anything
I'm all yours
I am so fucked up, and so are you, but I don't care
I don't fucking care
I love you

Eyes

Te amo
Sem conseguir me sentar
Te amo
Morrendo de fome a tarde inteira
Te amo
Com náuseas tamanho o sono
Te amo
E isso salva a minha sexta-feira

Te amo e preciso repetir isso
Um mantra compulsório
Que soa na minha garganta
Irredutível
Te amo a qualquer momento
De graça ou tragédia
E sempre que eu me sinto viva
Me sinto viva porque te amo

Só precisava dizer isso,
Só isso.
Te amo completamente.
Enquanto tu dorme,
Eu abro meus olhos pra te amar.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Gretchen and Jimmy

A eterna batalha dos sexos.
Ego versus Ego,
Parceiros sexuais.
Promessas orgasmos e ausências.
Desabafos, dividir o prato,
Seja ele de ódio ou de satisfação.
Não pude falar contigo hoje,
Foi ela ou foi ele.
Aprenda a esperar quando eu não ligo,
Que eu aprendo a ser um amigo melhor.
Amizade,
Com planos para o futuro
E ciúmes espalhados por toda parte.
Discursos contraditórios,
Textos e mais textos sobre tudo.
Uma necessidade terrível de equiparar o status.
Passados férteis,
Futuros desfocados,
E as declarações impertinentes
Sobre um avião qualquer.
É isso,
É assim que tem que ser.
E ele e eu e tu e ela
E todo o caos novamente organizado.
Umas porradas, umas três gotas de sangue,
E tudo se acerta na nossa bagunça.

Bad girl

Preciso dizer que sou uma má garota.
Que dei vários surtos e pedi ajuda.
Que eu confirmei presença no quarto dele porque queria apanhar. De verdade.
E agora só penso em você.
Preciso confessar que eu tenho sido volúvel.
E que eu te amo acima de tudo.
E só queria foder com você. Só com você.
Mas nem tudo na vida é isso.
Tenho a impressão de que você forjou essa fidelidade em mim.
Mas tudo bem.
Hoje ainda eu vou levantar da cama,
Tomar um banho,
Me sentir muito gostosa e ir pra faculdade,
Sair de lá exausta e ir deitar na cama de outro.
Eu vou pedir que ele me bata até o meu limite.
Bastante.
Com força.
E vou chegar em casa pensando em você, só em você.

Tu.

Por mim, um mantra de morte
Por ti, um mantra de vida
Tamanho egoísmo ou
Tamanha devoção?

Teus dedos,
Teus cabelos,
Teu braço desenhado,
A palma da tua mão,
Suja de morte,
Tuas coxas,
Tua nuca,
Tua boca que recita
Versos e mais versos
De maldição,
Teus olhos,
Teus pulmões,
Tua voz incoerente,
Tua pele e tudo que ela sente,
Teus pés descalços,
Acariciando a brasa,

Tua mente absurda,
Suicida, maravilhosa,
Insuportavelmente linda,
Tua mente, que sorteia
As tuas palavras,
Que perfuram a minha vontade
Que se fazem minhas entranhas
Aturdidas.

Tu.
E toda essa fumaça que te envolve.
Tu.
E toda a poesia que carrega.
Tu.
E todas as coisas ditas,
Por bem ou por mal.

Tu.
E todo o meu desejo
De te devorar inteiro.
De saber o gosto
De todos os teus pedaços.

Estadia

Eu rezo pela morte
Toda noite
"Vem aqui e me leva"
"Pra eu não precisar mais vislumbrar futuro"
E quando estou sozinha é isso.
Não adianta mentir.

Também não vou mentir
Sobre quando acordo de manhã
Com vontade de não existir
Ou quando patética, eu resolvo sorrir
Pra tudo
Pra você,
Pra vida.

Você é a morbidez mais bonita que eu conheço.

E agora, você fuma os teus 52 cigarros,
Eu fumo três e me sinto mais perto de você.
E agora você se corta incontáveis vezes,
E eu te sinto mais perto da minha maldade.

E é quando doi que existe, não é?
E é quando eu amo que doi.
Doer é bom, afinal.

E como é que eu te explico
Que te quero bem,
Quando a sua dor me apaixona?

Como é que eu te convenço
De que existem várias coisas boas
Depois de venerar a morte?

Será que basta se eu disser
Que me sinto imensamente viva
Enquanto finjo que estou perto de você?

Isabel.
Isabel sabe de tudo.
Isabel conhece a morte e prefere viver.

Isabel.
Isabel te ama.
E também Diona.
Débora ama você.

Talvez não seja nem de longe
Suficiente pra suprir essa demanda
Nossa de esperança.

Mas fica.
Hoje.
Tenta de novo.
Tenta mais uma vez.
Quando no fim das contas,
Continua sendo você que me dá vontade
De existir além de sobreviver.

Eu quero poder te amar por muito tempo,
Quero poder te amar em carne e osso.
Quero sentir teu cheiro de nicotina.
Não me tira a chance de te tocar.
Fica.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Troca

Dia por noite
Prazer por dor lancinante
Minha paz azul por veneno
Amor por dedos pequenos

A lua por girassol
A flor pelo lá bemol
A isca pelo anzol
A concha por caracol

Leão por escorpião
Escorpião por leão
Leão por satisfação
Talvez por sim e por não

Dúvida por decisão
Por dúvida por coração
O sono por pulsação
Minha nuca pela minha mão

Avião por chão
Por corrimão
Por tentativa de encontrar alguém mais são
E tudo em vão

Então, a corda por oxigênio
O dia dessa vez pelo milênio
As mentiras de ontem pelas de amanhã
Como quem trocasse frango por maçã

Agonia

Dirty whore number two
Pernas abertas,
Saliva escorrendo da boca
Olhos cheio d'água com tamanha depravação
A poça manchando a cama
O cheiro, o calor na pele
O cabelo despenteado
Com gosto de humilhação
Ódio, lama,
Tudo que desanda no ser humano
Tudo que dá vontade, de verdade
Instinto, sexo, violência
E a liberdade de não ser correta,
Limpa, agradável
A solidão suja do quarto
Vadia suja,
Vadia suja número dois.
Orgasmo,
Mais um,
Dor,
Incômodo se arrastando pela nuca
Por cada pedaço do ser humano,
Sufocamento,
Voz alta demais,
Grito ignorado
Gozo, gozo e um pouco mais
Desespero esguichado sobre tudo
Sobre a existência,
Sobre o corpo,
Sobre a sensação de não mais pertencer.
Vadia,
Vadias foram feitas pra morrer.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Desgosto preto

Sei da tua fuga,
Sei dessa purpurina
Que tu joga por cima
Pra enfeitar tua desgraça.
Sou tudo isso.

Sei da tua necessidade
De declarar-se
Tantas coisas,
De agir, montar,
E colorir todo de preto
O teu cenário.

Sei,
Entendo.
Tenho também
Tuas mágoas.
Tenho também
Teus medos.
Tenho também
Tuas vontades
E teus impulsos.

Conheço teu egoísmo,
Finjo que não.
Conheço a tua farsa
E te apresento a minha.

Pena que eu sou tão visceral
E tão honesta nas minhas mentiras.
Pena que não manifesto a tua indiferença rude,
Porque ela não me cabe.

Pena que me dilacera
Toda forma de expressão tua.
E me ataca, borbulha, mergulha em agonia
Tudo que eu sou enquanto existo.
Enquanto gosto de você.

Porque não me doi nas horas certas,
E não me cura nas horas vagas.
Porque não me conhece e não me procura.
Porque não me ama, e negligencia.
Porque se satisfaz,
Te odeio profundamente.

Alimento ódio pela tua existência
Como quem põe carvão no fogo.
Suja tudo e queima,
E queima, polui.
Até morrer.

Bungee Jumping

Foi como naquela vez
Em que a carne exposta
Me levou a sentir tudo de novo.
E ardeu o gesto,
Ardeu a fala.
Foi, como sempre é
Quando sou fraca,
Quando tenho tanto medo
Que me afogo mais e mais
Na crença estúpida.
Você se fez teatro na minha frente.
Carnaval ou halloween,
Tanto faz.
É tudo fantasia,
E eu sabia,
Eu sempre sei do que
Está pra acontecer.
Eu quebro minhas frases
No meio.
Eu esqueço de rimar o verso.
Eu espero que tudo se resolva,
Quando não há solução plausível.
O ser humano não é solucionável.

Você me pinta
E pinta outra,
E é fato:
Eu nunca esperei
Que não o fizesse.
Era esse o pacto.
Na época,
Não tinha sangue.
Nem promessas, nem vozes,
Nem tentativas.
Mas todo mundo sabia
O que que era.
O que éramos nós.

Como lagartas viram borboletas

Você vai trepar,
Vai contar as belezas
Espalhadas por ela
E vai escrever sobre isso.
Com intervalos muito
Grandes de tempo,
Você vai trazer
Meu alimento
E eu vou ler.
Eu vou, no início,
Abrir teu blog
Todos os dias.
Depois,
Toda semana.
E, por fim,
Descobrir teu ritmo
E conferir tuas
Novas publicações
No tempo certo.
Eu vou ler sobre ela,
Sobre outras,
Sobre tudo.
Eu vou invejar
Todos os teus orgasmos,
Pensar coisas que
Não deveria
E te amar,
Então, na mesma
Medida em que
Recebo textos novos.

Não vamos conversar.
Não vamos nos amar.
Nada será recíproco.
Vou me masturbar
Às vezes,
Pensando em você
E depois vou dormir.
Fim.

Te amo, adeus

Você some.
Você fode.
E eu te amo
De longe.
Te amo entre
As pernas dela.
Queria,
Você sabe
O que eu queria.
Eu disse vezes demais.
Você me disse
Que sumiria.
Eu entendi.
Não quis,
Mas entendi.
Como sempre,
Entendo tudo.
Só consigo
Pensar em me
Despedir.
E toda vez que
Eu te leio,
Eu fico triste.

Não cabe

Acordei e a minha cama estava um caos,
Mas eu nem pensei em arrumar.
Eu não teria tempo nem de tomar banho.
Acordei e o meu cabelo estava um caos.
E eu não ia arrumar a minha vida ainda este ano.

Me vesti e minha calça me apertava.
A vida me apertava.
Para onde ia todo o meu tempo?
Para dentro de mim, desconfio.
Talvez.
Saí de casa, e não era a calça ou o cabelo,
Não era a meia cor-de-rosa usada pela quarta vez,
Nem o casaco fedendo a gozo, de novo.
Sempre tinha algo com cheiro de gozo.

Sempre tinha a foto de alguém emoldurada
No quarto de hóspedes.
Todo dia, uma por vez, emoldurada.
Dessa vez era ele, em breve seria outro.
Eu só queria que ele passasse a noite.
Talvez aí eu arrumasse o meu quarto.
Quem sabe?

Eu tinha medo de ficar parada.
Cartão na fenda, esbarrando em todo mundo.
Mas o meu medo era quando eu esperava.
Ele só me deixava esperando.
Logo, eu não tinha uma foto.
Nem visita.
E eu tinha ainda mais medo de ficar só.

Eu acordei, peguei meu trem
Às oito e meia da manhã,
Torcendo para não querer morrer, de novo.
Esticando meu peito para caber mais gente,
Sempre mais gente.
Enquanto eu amasse,
Estaria a salvo de mim mesma.

Eu nunca soube amar fantasmas,
Não daquele tipo.
Eu nunca estaria a salvo.
Minha cama raramente estaria arrumada.
Nada pra mim era mais triste
Que o futuro e a ausência dele.

Sempre haveria um nome na porta
E nunca alguém para dormir.

Só sinto fome

Não me diga que me ama.
Não faça planos para o nosso futuro.
Sem filha, sem casa, sem trailer.
Não cogite a minha visita.
Esquece a viagem.
Não me escreva textos.
Não diga que eu devo ficar viva.
Não finja que se importa.
Não peça permissão.
Não espere a minha ajuda,
Porque eu não sei te ajudar.
Não diga que me ajudaria.

Não vou embora
Porque não sei ir.
Não desapareço
Porque não sei ignorar.
Me importo cada vez menos.
Eu disse. Preciso de companhia
Para me importar. Desisto.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

O mar-espelho

Não me alcança,
Não me alcança.
Para os meus pés
Não existe chão.

Repete o verso,
Repete o verso.
Para o meu peito
Não existe amor.

Não preenche,
Não preenche.
Nada faz sentido
Quando se trata de tu.

Não te conheço,
Não te conheço.
Você me mata e
Ainda é um estranho.

Quem sou eu,
Quem sou eu.
Não vou descobrir
Quem eu sou.

Não importa,
Não importa.
Decidi te abandonar.

Vou me matar,
Vou me matar.
Todo mundo sabe
Que eu não vou,
Porque não sou,
Até mudar de ideia.

A lua morreu,
A lua morreu,
A lua morreu.

Existe um reflexo
Na superfície do
Mar, do caos.

E brilha,
E brilha,
E brilha.

E quanto mais eu
Olho, mais eu me
Afogo.

E me afogo,
E me afogo
Em mim.

domingo, 3 de maio de 2015

Maremoto.

Meu maremoto é só meu.
Apesar de pertencer a todo mundo.
Meu maremoto só me enche.
Apesar de destruir tudo ao redor.
Meu maremoto me afoga.
Apesar de afogar outras pessoas.
Meu maremoto conversa.
Só eu falo a língua dos maremotos.
Meu maremoto me ama.
Não importa se nem sempre ele desaba.
Meu maremoto se esconde.
Mas eu sei procurar um maremoto.
Meu maremoto me alcança,
Me arrasta, me leva pra dentro.
Meu maremoto me engole.
Em seu âmago, que só os maremotos têm.
Meu maremoto me mata,
Mas meu maremoto é só meu.

Morre

Morre, menina, morre.
Morre porque o amor existe.
Morre porque a tua carne é suja.
Morre porque ser vadia não basta.

Morre porque ele é teu.
Morre porque ele é livre.
Morre porque ele permanece.

E como permanece?
Onde encontra tamanho suicídio?
Onde abandona tamanha covardia?

Morre, querida, morre.
Morre porque ainda há tempo
Para ter controle.
Morre porque já não há mais
Pouca esperança.
Há toda.

Morre, Isabel, morre.
Morre Alice, morre Diona,
Morre Talita.

Morre porque a vida é toda isto.
Morre porque faz sentido.

Morre porque vive, porque existe.
Morre porque é triste, porque é feliz.

Morre porque ama, porque abomina.
Morre porque acorda cedo.
Morre porque dorme tarde.

Morre porque perde a tarde inteira
Tentando recuperar o tempo
Que perdeu se apaixonando.

Morre porque toda fantasia
É de verdade
E porque não é.

Morre,
Meu amor,
Morre.
Apenas,
Morre.

Contradição contraditória

Eu vou e venho
A culpa é sua e aí é minha
Aí eu te salvo e depois me mato
E depois te chamo pra gente morrer junto
Eu durmo e acordo
Eu falo e depois não falo
Eu amo e aí apavoro
Eu sou o próprio paradoxo
O meu eu que te odeia é o mesmo que te adora
Eu estou tentando fazer a melhor coisa a ser feita
Eu sou bipolar
E morro de medo de tudo
Morro de medo de você
Eu sinto que vou morrer sempre que eu te ligo
Eu falei pra algumas pessoas que eu ia suicidar
Será?
Quero que você volte e me diga que eu tenho uma chance
Quero que você volte
Mas querer não me dá o direito de mandar em todo mundo
Eu quero saber que você se importa mesmo
Quero que seja sincero comigo
Se você não ligar eu vou ficar péssima
Mas eu só quero que fale a verdade, mesmo que eu me foda
Desculpa por ser tão complicada
Mas ela insistiu tanto que você ia me fazer mal
Ela disse que você não existia
E eu surtei completamente
Acabei com tanta raiva que eu queria que os dois sumissem
Ela e você
Eu queria me matar quando eu saí de lá
E você, ao que tudo indica
Me dizia vários "não"s
Toda vez que ignorava alguma coisa muito importante que eu dizia
Perguntas, indiretas, pedidos
Você simplesmente ignorava
E era meio "você sabe que a resposta é não"
E eu não consigo te entender
Nós somos tão diferentes
Como você pretende me manter aqui?
E se não pretende, por que me diz aquelas coisas?
Por que fazemos planos pra um futuro que não existe?
Por que, menino, por quê?
Por que você diz que eu não posso ter outro, e aí não me quer, mas quer ficar com ela, mas a odeia, mas a ama, e aí ela é só um objeto, o que eu faço com isso?
Por que você me faz perguntas que propõem coisas e aí já não se importa ou pede ajuda e aí por alguma razão tem raiva?
Por que você me diz pra tentar falar com você em vez de me matar se você não vai me responder de qualquer forma?
Seja sincero comigo,
Seja claro.
Eu sei que eu me engano,
Mas eu quero prestar atenção na verdade.
Pra ninguém me odiar por isso.
Por favor, fala comigo

sábado, 2 de maio de 2015

Gás

Exista.
Eu espero que
Alguém se importe.

Fuja.
Eu espero que
Alguém esteja.

Fique.
Eu espero que
Você entenda.

Não.
Eu não quero que
Você desapareça.

Contradição.
Alguém me disse que
Entendia a incoerência.

Pulso.
Eu só queria que
Isso me abandonasse.

Vem.
Eu não te peço que
Retorne nunca mais.

Leio.
Eu percebo o que
Você só diz pra mim.

Inútil.

Eu sei que
O que eu espero que
Alguém me diga, que
O que eu queria quando
Eu te pedi que
Percebesse o que
Eu esperava,
É complicado demais.

Ninguém entende
Ou aceita.
Não posso esperar.
Olá.

Três folhas.

Escrevo uma carta,
Faço três cortes no pulso.
Três é o meu número predileto.
Performance.
Doi.

Tento manter o foco.
Não posso pedir ajuda.
A morte é solitária.
Assim.

Busco desesperada
Por algo
Que eu tenha perdido no caminho.
O que foi que eu deixei de resolver?

Presta atenção.

O que precisa ser feito?
É agora.
Eu já desisti.

Apenas faça.

Mas eu preciso explicar
A lógica forjada de sempre.

Você não pode se importar.

Mas, veja bem,
Precisa ter um sentido pra isso tudo.

Não precisa.

E se eu tiver outra chance?

Não olhe para o lado.
Controle-se.

Tudo bem.
É isso, está feito.
Eu só preciso de mais um ítem.

Droga. O cenário está incompleto.

Ainda bem.

Fecham-se as cortinas.

"Eu só queria parecer maluca e imprevisível"

Me ausento.
Aprendi com alguém,
Talvez você o conheça.
Como se eu soubesse
O que eu ando fazendo.
Não sei.
Eu perguntei a todos que tinham ouvidos
E escutei a todos que tinham resposta.
Eu pedi, eu supliquei,
Tentei ajudar a todos que se interessavam.
E aí?
Eu insisto nessa decisão insana,
Que desde o início pretendia ser
Não mais que uma incoerência.
É isso, não é?
O nome do blog,
A minha essência.
Eu precisava não fazer sentido,
Por fora,
Porque por dentro eu já não fazia.
Não poderia dar o braço a torcer.
Não posso.
Preciso que me alcance a crença
De que tudo vai ficar melhor em algum momento.
Não suporto o desencaixe das peças humanas, não.
Não suporto toda a incompreensão.
Me agarro aos vômitos egocêntricos.
Milhares de palavras sujas
Atiradas no mesmo prato de sempre.
E eu como.
Estou tentando resolver alguma coisa.
Mas não, não é uma fase.
É quem eu sou.

"E quem és tu, Débora?"

Eu não sei.
Só sei que não posso ser esta.

Codificação

Procuro o meu passado, perfuro
Talvez algum evento ignorado
Seja capaz de explicar o que acontece agora
Você não entendeu nada
Nem eles
Ninguém entendeu
É uma imensa tortura à pessoa
Que se expressa com tanta desenvoltura
E necessidade
Ser de repente atada
A ponto de sonhar com a falta de voz
Com a impotência física
Com o desespero do interno apenas interno
Não é pra mim
Você não entendeu nada
E não importa o quanto eu explique
O silêncio sempre vai dizer mais
Você não entendeu nada
E eu preciso fingir que sou quem eu era
Não sou
Eu sempre mudo de uma semana pra outra
Não há retorno
Só doi
Você não vai entender nada
E eu vou continuar cantando
Meus versos fúnebres
Até não cantar mais
E você ainda não terá entendido nada
Porque o sentido nunca foi esclarecer
Era sobre existir, sempre foi
Existo agora num sufocamento solitário
A espera permanente de estar à deriva
Frente à tempestade marinha
Querido incompreensor,
Não adianta me ver de fora
E fazer perguntas
O que pode fazer sentido
Não vai me alcançar.
Exista.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

O avesso de Absolem

"Quem és tu, afinal?"

Pergunta a lagarta a Alice.
Alice não responde.
Alice não dá a mínima.
Quando está prestes a ir embora,
A lagarta tenta:

"Não vá. Fique mais um pouco!"

No que Alice responde:
"Por quê?"


"Eu sinto saudade... Às vezes... Adeus."

A arte de perder a vida

O silencioso frio
E eu,
E tu,
Dentro de mim.
Os duendes
Continuam
A me soprar
Coisas.
Eu preciso
Ir embora
Daqui.
Eu preciso
De companhia
Pra não me matar
Por impulso.
"A arte de perder
É fácil de se dominar."
Basta acostumar-se,
Não é?
Obrigada, Lizz.
Cá estou,
Desenvolvendo
O meu talento
Na arte de
Perder a vida.
Além de você.
Além dele.
Eu quero me
Perder
Também.