sexta-feira, 19 de março de 2021

Pinduca, consanguíneos e o coral

O dia nasce, 

eles gritam

Eu penso que é você

Na minha janela

Gritando pra mim


Você foi embora,

mas ficou aqui

E ficou tanto que não me deixaram 

trazer outro para te substituir


Pelo menos assim eu poderia dizer

Que você voltou pra mim

Renasceu das cinzas

Reencarnou

Que era você de novo, no outro

Que você veio atrás de mim para me proteger


O dia nasce, eles gritam

Eu tento descobrir 

se é você voltando pra mim

Ou se ainda estou esperando você partir



sábado, 13 de março de 2021

Inconsequência

Às vezes, fazer as coisas como se não houvesse amanhã

É ter fé

Nas soluções e no que virá

Às vezes,

Fazer as coisas como se não houvesse amanhã

É tentar fazer

Com que não aconteça o que você acredita que está prestes a acontecer

É ter fé que o fim nas suas ações de alguma forma findará o fim das ações que a sua fé crê que findarão.

Às vezes, fazer as coisas como se não houvesse amanhã

É não ter amanhã

E fé

Apenas na falta do amanhã.

sexta-feira, 12 de março de 2021

Corpo

Lavo meu cabelo com álcool 70

Minha unha vira ao contrário enquanto eu tento me limpar

Passos rápidos, pelada pela cozinha

Torcendo para ninguém me notar, mas

Sigo nessa competição sem nexo

E tenho pedido atenção, como fosse fazer diferença

E decidi me omitir, pois não quero que me notem nua pela cozinha

Digo,

Ao contrário, suja, 

O cheiro que me sobe dos poros e 

A casca que raspo para manter-me achável,

Tolerável, tragável, 

Ma nu se á vel

Me tranco num quarto escuro da mente

Um quarto calmo

Um quarto de morte

Durmo infinitamente

Mas levanto às vezes, pra alimentar o corpo.


quinta-feira, 11 de março de 2021

Quase

Deixei um texto pela metade

Minha vida pela metade

Meus dias sem lavá-los

E as horas, os quadros, os restos jogados no chão

Por todo o chão

Por todo lado

Metade do quarto

Metade de mim

Me sinto um coral

Arrebentado

Pelos rebotes do mar

Macerada, embotada 

Pela força divina das águas

E da seca das nascentes

Da morte de todas

De ambas as minhas metades

E minha cauda

E meu pó

Fechei meus olhos

Porque era março

Um mês qualquer pra se morrer em vão

E eu estava assim por dentro

Partida, ferida

Triste

Deprimida.