sexta-feira, 30 de outubro de 2015

A dualidade do dia trinta

Eu levantei,
Comecei a me arrumar,
Dividi o meu cabelo em duas partes
E de repente
Era como se eu pertencesse
A dois continentes distintos
Mas o mais importante
Eu agora sabia
Que a verdade era só uma
E saindo de casa
Em minha camisa nova
Nitidamente mais azul que o céu
Eu sabia
Que nem tudo estava perdido
E mesmo que eu ainda o amasse
E mesmo eu ainda estando doente
E mesmo sendo sexta-feira
- essa era a melhor parte -
Eu estava bem
Há dias, eu sei,
Em que eu fico bem
E esses dias,
Para ele que tinha perguntado,
São o que me motiva a viver.

Se eu sei
Que os trens vão e vêm
Em dois sentidos
Da mesma direção
Se por genuíno empirismo
Eu posso dizer
Que os trens continuarão
A ir e vir o tempo inteiro
Eu preciso aceitar
Tanto a paz quanto o caos
Que me visitam
E aguardar a partida
De cada um
No seu respectivo
Passeio.

A rotina da falta

Sentada na cama
Sinto meus órgãos
Já desconfortavelmente acomodados
Faz apenas duas horas que acordei
Perdi sete horas do meu dia dormindo
E quatro horas e meia
Não fazendo absolutamente nada
O tédio me dá náuseas
Eu só sinto que preciso descansar
Mas meu quarto está muito bagunçado
Eu mal consigo me mover aqui dentro
Eu só queria um pouco de disposição
Pra qualquer coisa
Mas eu estou perdendo meu tempo
Tentando salvar alguém
Eu sou péssima nisso
Eu não sei o que eu estou fazendo
Eu não sei como é que vou viver disso
Eu moro num casulo
Apertado, quente,
Que me esmaga por dentro
Eu estou tentando coisas
O tempo todo
Mas não é como se eu tivesse escapatória
Eu estou produzindo erros
Despejando pedras no caminho
Para meus futuros tropeços
Que absurdo
Eu queria ser perfeita
Mas eu sou exatamente o oposto disso
Estou cansada da luz
E do calor
E de comer
E de manter-me acordada
Eu queria desmaiar, hibernar,
Fingir de morta
Me sentir finalmente descansada
Eu quase não me lembro o que é descanso
Sono, tédio, nada
É quase a minha vida
Isso tá ficando insuportável
Mas é só a vida de todo mundo
É isso mesmo
É normal
Insuportavelmente normal

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Truth (2?)

Ok, nevermind, eu perdi minha coragem. Adiós.

Truth (1)

"A verdade", ela disse. A verdade.

Ninguém nunca gostou de meus textos pela veracidade de seus conteúdo.
As pessoas querem a fantasia, o exagero, as mentiras, a ritmia literária de costume.
Ninguém realmente se importa com a verdade do outro além do que nos serve de entretenimento.

Mas ela disse que a verdade era importante.
Ela disse que a verdade salvaria o nosso mundo.
Eu percebi que eu costumava acreditar nisso.

Eu dizia: "nunca que eu vou deixar de fazer algo por orgulho".
Eu era estúpida.
Imatura, ingênua, protegida.
Envolta pela ignorância infantil.
Quem dera ainda fosse.
Quem dera tivesse medo apenas de lugares altos.
Quem dera acreditasse ainda em papai noel.
Talvez meus natais fossem melhores.

"A verdade", ela disse.
E ecoou em mim.
Eu não suporto essas mentiras.
Elas me cansam.
Às vezes penso que se tivesse a chance de ser completamente sincera, todos os meus medos iriam embora. E todas as dúvidas.
Às vezes tudo que eu quero é poder falar o que realmente penso, o que realmente sinto.
Isso é uma prisão.

Como exercício,
Como válvula de escape,
Como também autosabotagem,
Visto o contexto atual,
Vou despejar aqui algumas verdades.
Elas precisam ser ditas.
Na medida do possível, é claro.
E enrolo tanto porque tenho medo.
Mas sei que preciso parar de enrolar,
Dizer coisas fúteis,
Preciso desabafar
Com alguém de quem não tenha medo.
Ou seja: o papel.

Mas farei isso no próximo post,
Porque sim,
Para manter o foco.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A psicossomática do desamor

Fiquei doente.
Por um momento, pensei
que minhas mãos estivessem com defeito.
Tive medo de não conseguir mais escrever.
Vi que esse não era o meu problema
quando meu coração disparou
e se manteve acelerado
por mais de uma hora direto.
Meu pulmão fazia força desesperado.
Eu estava hiperventilando e achando que
era tudo pura ansiedade.
Pronto. Logo mais eu tinha febre,
exaustão, dores no corpo,
uma garganta ferrada,
uma dor de cabeça chata e muito frio.
Não precisava ser nenhum gênio
para descobrir por que eu estava doente.
Eu disse a algumas pessoas:
"Eu me recupero logo"
e era verdade.
Talvez por eu passar muito tempo
não fazendo nada além de descansar.
Depois que eu tomei o primeiro remédio,
não tive mais febre.
Eu senti falta da febre, pois ela me fazia dormir.
E, dormindo, eu esquecia.
Eu esquecia de tudo.
Ficar fraca e com frio, presa debaixo de uma coberta,
consciente da temperatura subindo cada vez mais,
me libertava.
Fazia muitos anos que eu não me sentia bem
por adoecer.
Era quase como se eu simplesmente
não quisesse melhorar.
Eu queria ficar ali, doente, na minha cama.
Morrer, talvez.
Eu não queria saber das coisas.
Eu não queria ficar triste.
Eu não queria pensar na solidão ou na saudade.
Mas a minha mãe já estava marcando médico -
ela queria que eu melhorasse logo,
porque ela logo não teria mais tempo
de ficar aqui e cuidar de mim.
Eu me senti amada.
O amor em tempos capitalistas
acaba sendo meio triste,
mas ainda pode ser notado.
Se eu pudesse, diria a ela:
"Não quero ficar boa",
mas eu não podia.
Eu precisava amá-la de volta.
E não era como se ela estivesse muito melhor que eu.
Então, foi isso.
Eu fiquei doente.
Eu tinha uma mãe para cuidar de mim,
mas não muita vontade de viver.
E provavelmente ia ficar bem,
durar mais algumas dezenas de anos,
fazer bens e males à humanidade.
Mas pelo menos eu podia escrever.
Meus dedos estavam funcionando
maravilhosamente bem.
E vendo por este ponto,
eu estava em perfeita saúde,
e portanto, a salvo.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Porcelana e mercúrio

Eu fumo um pouco,
Eu bebo um tanto,
Eu deixo pra trepar
Semana que vem.
E vem ano novo,
E vem natal,
E vêm férias de janeiro.
Eu vou sair no próximo
Final de semana
E no outro
E no seguinte.
Halloween, aniversário,
reencontro com alguém do meu passado.
Eu sei que tudo isso está errado.
Eu sei que quem espero nunca vem.
Eu sou é louca. Completamente louca.
Mas quem se importa nunca me sacia.
Eu preciso de sexo, mas também de agonia.
Então procuro
Mais uma festa,
Mais uma farra,
Mais uma noite pra não dormir direito,
Mais uma febre - resmungo do meu corpo.
Procuro mais um canto pra encantar os sentidos
E esquecer da dor que tanto me lembro,
Que nem sempre tem nome ou endereço,
Que nem sempre existe de fato
E se esconde debaixo de quem nem conheço.
Me poupe
De mim mesma.
Já não me aguento mais,
Por isso fujo.
Bebo e fumo mais um pouco.
Agora vou trepar - mato a saudade - porque estou mesmo na idade.
Nunca é tempo para ser amada.
Nunca é tempo de quase nada.
Nunca é tempo de ser feliz
Como eu tanto quero,
Como eu sempre quis.
Volta, Isabel, que a gente te precisa
Pra sei lá quem nunca dar o tiro da partida
Pra gente ficar aqui e não sofrer demais.
Sai, faz bagunça, vende sonhos, compra com ouro de tolo.
Tudo isso, você sabe, está errado.
Mas enquanto o futuro não vem,
E não vem, nunca vem,
Dança, desce, gargalha,
Metralha os realistas, os moralistas e os religiosos,
Cospe no lombo de todos,
Rasga a própria cobertura,
Carência explícita,
Sai de casa, faz alguma coisa.
Mente, mente, mente, mente, mente.
Mente por todos nós, Isabel.
Nós te amamos.

Covardia

Estou com medo.
Por todas as pessoas da humanidade,
Eu estou com medo.
Por todas as pessoas que eu deveria salvar,
Eu estou com medo.
Pelas pessoas que já disseram me amar,
Eu estou com medo.
Pelo pobre infeliz que vai acabar encontrando meu corpo,
Eu estou com medo.
Pelas pessoas que não estão preparadas para os meus surtos,
Eu estou com medo.
Pelos objetos espalhados no meu quarto,
Esperando serem atirados, quebrados, queimados, esfaqueados,
Eu estou com medo.
E pelas pessoas que não sabem, mas correm os mesmos riscos,
Eu estou com medo.
Estou com medo da culpa que eventualmente vou sentir
Por coisas que eu sei que vou fazer.
Pelo meu estômago levado ao seu limite,
Pela minha pele sobrecarregada de trabalho,
Pelos ossos dos meus joelhos e pés,
Pelo meu cabelo desfiado,
Eu estou com medo.
E pelo meu talvez anjo da guarda,
Eu estou com medo.
Pelos meus futuros pacientes e pelos meus colegas de classe,
Eu estou com medo.
E pelo menino que não existe,
Eu estou com medo.
E pelo menino que existe,
Eu estou com medo.
Pelos meus dias contados,
Eu estou com medo.
Por não conseguir contá-los,
Eu estou com medo.
Eu tenho medo todos os dias
De querer saber exatamente
Quantos dias são.
Eu tenho medo
De ser obrigada a dizer
O que tanto me assusta.
E tenho medo, sobretudo
Daquilo que não pode ser modificado ou prevenido.
Pelas manhãs de sol
E noites de chuva,
Eu estou com medo.

Teu eco

Como um passado distante
Que mal faz cinco minutos
O fim é sempre um tapete
Do que ainda está por vir
E mesmo quando não faz sentido
Doi a casa vazia
A cama com espaço de sobra
O silêncio de nenhuma companhia
Mesmo que sonolenta ao meu redor
Eu queria que eles ficassem aqui pra sempre
Talvez eu fosse mais feliz
Eu sei que em tudo dá-se um jeito
Quando tenho com quem conversar
Quando tenho corpos pra abraçar
Piadas pra fazer
Bobagens diversas pra comer
Quando tenho você
Quando tenho você aqui
É quase nunca que você vem
E eu mal sei o que fazer contigo
Mas é quase um amuleto de sorte
A tua presença
É quase um feitiço de paz
Você dormir comigo
Não vai embora
Não tive tempo de matar saudades
Não tive tempo de beber umas e outras
Me conta mais das tuas histórias
Reclama que tá cansado mais um pouco
Fica aqui enfeitando meu caminho
Até eu lembrar das coisas que me afligem
Para esquecer de novo da tristeza
Fica aqui, descansa
Deixa eu te ver dormindo
Só um pouco
Eu sou criança quando você chega
É quase como se eu fosse normal
E não fizesse mal a ninguém
É quase como se tudo tivesse salvação
Nem sei de onde você veio
Ou quem eu era quando te conheci
Não me lembro
Mas às vezes
É encantador pensar
Que uma pessoa pode me deixar assim
Tão tranquila
Eu acho que você é a pessoa
Que mais me acalma no mundo
Eu só queria ser boba um pouco
Agradecer tua visita
Te pedir pra ficar mais
Quando você já foi
Te chamar pra voltar sempre
E não fazer nada mesmo
Obrigada, fica, volta
Você deixou um pouco de felicidade
No meu travesseiro
Dá até vontade de dormir mais

sábado, 24 de outubro de 2015

Encanto do esquecimento

Somos dois espelhos
Posicionados um frente ao outro
Mesma altura
Mesma profundidade de reflexão
Nós somos um eterno
Conjunto de reações
Desde que nos colocamos neste lugar
Desde que o primeiro raio de luz
Atingiu o recinto

Se esse raio de luz
Fosse puro o suficiente
Seríamos capazes de suprir
Um a demanda do outro
Mas eis que as trevas também reinam
E também refletimos a escuridão
Porque somos
Resultado de um fenômeno
Que não pode ser explicado
Pela raça humana

E agora sabendo a verdade
Sabemos que tudo que me destroi
Segue em tua direção
E tudo que te destroi
Segue em minha direção
E tudo que me salva te acaricia
E tudo que te salva me alcança
Somos uma convergência infinda
De energia recíproca

Mas somos também demasiado fracos
Para suportar a nossa própria força
E se atacados, certamente
Destruiríamos um ao outro
E é por isso que aqui morremos
Que a nossa divina salvação
Descanse em paz
Em seu pequeno lençol de seda
Como se nunca tivesse acordado
Que durma até que a escuridão
Não tenha tanto poder
Sobre nós, mortais

E que o agora
Que soa como
Um interminável feriado de luto
Se faça sentir como sempre
Até que a realidade
De ambos os corações de prata
Derreta o vidro que nos cobre
Deforme o que nos corrompe
E se projeta
E até que sejamos livres
De todo o mal
Amém

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Voice Note

Existe uma voz em mim
Que quando sai estremece
Arrepia, aquece, geme
Existe uma voz em mim
Que tudo teme
E borbulha feito água na chaleira
Alguém esqueceu o fogo aceso
E derrete feito chocolate
Em banho-maria
E gruda feito caramelo quente
Na pele virgem
Existe uma voz em mim
Que me alivia
Que apazigua
A permanente guerra
O cão que berra
As preces que ninguém atende
E justamente pretende
Expulsar do corpo
Toda a dor que as autoridades
Repreendem
Essa voz que me cabe
Que me acaricia
As chicotadas,
Que me expressa,
Em verso,
A agonia,
Me sacia a ânsia da morte
Se eu não existindo, falasse
Essa seria a voz
Que me escaparia
Indomável, como meus dedos
Incurável, como meu pulso esquerdo
Inalcansável, como a alegria.

domingo, 18 de outubro de 2015

Extraordinary

O que eu devo fazer
Com meu transtorno de personalidade,
Com as novas amizades que eu arrumo,
Com o meu celular sujo de orgasmo?
E com essa falta, o que eu faço?
Com os livros que eu tenho pra ler? (leia)
Com as telas que tenho pra pintar? (pinte)
Com a minha falta de vontade de fazer tudo? (minta)
Eu só quero dormir o dia inteiro (tome uns comprimidos)
Eu só queria dormir até que você voltasse
Eu odeio, odeio, odeio ficar sozinha
Mesmo quando não surto, não me corto
e não brigo com ninguém
Eu odeio viver sem você
E você brinca de me dizer aquelas coisas
E eu sei que você não está brincando
Quando eu vou no cinema
E eu percebo nos personagens
De onde você tira aquelas coisas pra me dizer
É tão falso, mas é genial e extraordinário
Como você faz minha vida parecer um filme
Mas até no filme você morre
Então eu chego em casa e me masturbo
Apressadamente, vorazmente
Eu me machuco escondida
Dos seres humanos normais
Até que eu seja tomada por mais uma taquicardia
Um problema, mais um orgasmo
Os nervos à flor da pele
Um pavor absurdo
E no meio disso tudo
Você desaparece
Se desfaz em gotas
Mas eu te amo como se o tempo já não fosse o tempo
E é como se você estivesse ali
Me olhando, esperando meu próximo passo
Às vezes eu me lembro de que estou enlouquecendo
Mas quem se importa?
Você se importa?
Você continua fazendo aquilo
Você disse "não vou sumir" e sumiu
Da última vez você disse "eu achei que dois dias fosse de boas"
E agora já faz mais de três que você não me responde
Eu sei, amor
Eu sei que você faz isso de propósito
Eu te conheço melhor que eles
All I know is I cannot pretend
Mas não é como se eu não fosse continuar vivendo minha vida
O que tem aqui para se viver?
Ora, há muita coisa, eu sei
Mas não é como se eu realmente ligasse
Eu só queria você
É muito difícil entender quando eu digo isso?
Eu só queria você
Aqui na minha cama,
No meu caminho,
Nas minhas manhãs e noites,
Nos meus sacrifícios,
Nos meus apelos,
Na minha promiscuidade,
Na minha santificação,
Eu só queria você comigo pra sempre
Vai lá, me odeia
Me despreza e me mutila
Quando perceber que eu quero te salvar
De seja lá o que isso for
Pisa na minha fraqueza
Quando eu te disser que te amo
E que te quero bem
Eu vou sobreviver
Se eu não fosse tão frágil
Você nunca teria se aproximado tanto
Se eu não fosse forte
Eu não seria um desafio pra você
Eu não sou uma garota comum, você sabe disso
Eu não vou deixar isso passar como se nada tivesse acontecido
Eu vou gritar, e depois chorar, e depois pedir socorro
E conversar com Deus, e trepar com estranhos na rua,
E encher a cara, cortar os pulsos, quem sabe voltar a fumar
E eu vou rir na frente de todo mundo
Antes de brincar que vou me atirar na frente de um carro
Você sabe que eu sou assim
E que ainda terei coragem de dizer
Que sou boazinha
Que só quero colorir meus livros e ficar em paz
E depois vou quebrar alguma coisa
Porque sinto tanta, tanta raiva,
Que ela às vezes me consome
Mas eu sou imortal, e a raiva não pode me engolir até o fim
Eu vou continuar aqui
Porque não é a minha hora
Porque eu não quero ir
Porque eu quero ficar com você
Mesmo que nem faça sentido
Eu vou acabar dando um jeito
De resolver tudo que precisa ser resolvido
I promise you, everything will be just fine

Agora, Alegoria

Eu abro a janela
Pra te observar
Na minha rua escura
Às vezes eu acho
Que você me visita
Na brisa que sacode
Os meus fios de cabelo
Como se você me assistisse
Passeio pela casa
Rego minhas margaridas
Me encolho no chão
Ou estiro no sofá
Estou pensando sobre
Aquelas coisas
Que a gente não fala
Que a gente deveria estar fazendo
Não preciso que você
Fale comigo
Pra ouvir a tua voz
Me seduzindo
E mesmo que eu não possa
Te contar
Sobre a minha vida vazia
Sem teus prantos, reclamações
Ou fantasias de guerra
Sem as doutrinas espíritas
Sem os desgostos diversos
Mesmo que aqui seja tudo diferente
Sem você
Eu ainda posso ouvir
Teus ecos no meu corredor
Eu ainda estico a minha pele
Pra sentir você passar
E ignorar os meus recados submersos
Eu escondo mal escondidos
Os meus poemas desesperados
E fico conversando, mentindo
Para o céu e as estrelas
Enquanto a água não desaba
Eu escureço a sala
Eu espero, espero, espero
Eu crio mais um mundo
Como se ainda sobrasse espaço
Eu conto as cores
Quando meus olhos abrirem de manhã
As respostas vão estar lá me sorrindo
A fuga, a paz, as fitas de embrulhar presentes
Não sentes a sutileza do meu pesar
Não sentes coisa alguma que parta de mim
Mas eu aguardo
Como a tudo na vida
É só questão de tempo, dizem

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Apocalipse

Sentada na mesma sala
Assistindo um comercial de sofá
Pensando em magia negra
Eu começo a chorar
E a invasão alienígena
Disseram que vai chegar
E os cegos repetem
"Chega logo!"
"Estamos te esperando"
Estúpidos adoradores da morte
Como se eu não pensassse
Todo santo dia maldito
Em como eu vou me matar
Covardes, todos
Eles ficam esperando,
Torcendo pra acabar logo
Eu desligo o som da T.V.
Agora estão todos mudos
Eu coloco o CD de um herdeiro
Está quase fora de moda
Fui num show mentiroso
Noite passada
Dancei o que quer que estivesse tocando
Até ficar surda
Mas hoje eu acordo
E só penso nos desabamentos
Eu estou sozinha no mundo
Tenho poderes
Que ninguém conhece
Tenho uma solidão
Quase suportável
E mesmo que eu pule
De corpos em corpos
E mesmo que eu escreva poesias
E mesmo que eu faça o que me pedem
Ou até mesmo o que me mandam
Eu sei que a minha verdade
Está em um lugar que ninguém mais alcança
No orgasmo das artérias
No lugar de onde nascem
Minhas tremedeiras
Não há ninguém que possa
Enxergar o que eu enxergo
A beleza e a feiúra
A maldade e a bondade
Tão claras e intensas
Quanto a luz do sol
Ou a escuridão completa
É como se ninguém mais
Soubesse da verdade
Eu preciso voltar ao útero
Renascer o demônio
Cuja missão é salvar a humanidade
Eu preciso novamente compreender do que se trata
Então eu me deito
Hiberno, um urso em pleno verão
Semeando indiferença pelos corações
Já congelados e egoístas
Fracassados, perdidos
Como eu nunca vou me permitir
Eu retorno, colhendo as flores
Que os seres desta terra
Já não mais cheiram
Ou marcam presença
Álcool e açúcar
Aceitação, rejeição
Eu sei que existe algo
Que está acima de nós
Eu sei que nós possuímos
Um poder que desconhecemos
Eu sei que cada um de nós
Tem consciência
Do único poder que nos parece concreto
Todos sabemos
Que podemos cometer suicídio
Mas não entendemos o resto
Da mesma maneira
Cá estou
O corpo triturado
Estendido sobre a coberta
A desesperança
E os confeitos coloridos
Quero chorar
Pois sinto que não há volta
Pois me revolta a insensatez dos homens
Pois não admito a desistência de todos
Pois não compreendo que não lutem
Pelo que possuem
Pelo que são
Escrevo mais um pouco
Deixo a racionalidade
Me tomar o sangue
E tudo ir se esvaindo aos poucos
Até que eu volte a ser
Pura depressão
Em meu mantra de todos os segundos
Eu vou ficar bem
Eu não vou me matar
Eles nunca terão razão

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Hole

Eu disse
"Tudo bem"
E fui dormir
Estava desconectando
A minha preocupação
A minha depressão
O meu desespero
Eu precisava desligar
Toda uma vida
Hoje eu vou sair
Fazer alguma coisa
Ser feliz
E talvez mais tarde
Eu apareça
E te diga que te amo
Antes de ir descansar de novo
Bem, eu te amo
E vou te deixar um pouco
De espaço, de tempo
Porque chocar-me contra ti
Não vai adiantar de nada
Eu sempre vou estar errada
Quando eu for gentil
E quando eu for cruel
Preste atenção, querido
Meu coração é só teu
Eu sonho contigo quase toda noite
Eu sei que você
Vai melhorar
Eu sei, porque eu vi
Eu sei que você quer ser feliz
E eu estou aqui, te esperando
Vai ficar tudo bem
Sabe, eu tenho fé em você
Às vezes eu preciso
Dar um ou dois passos
Para trás
Mas não ir embora
Não ir embora
Ficar aqui
Pra sempre

terça-feira, 13 de outubro de 2015

A reza boderline

Que a efemeridade do nosso amor tolo pouco nos doa
Que a nossa insistente ostentação de batalhas seja perdoada
Que saibamos diferenciar sempre os dias de vitória e os de fracasso
Que possamos amar-nos um ao outro e aos demais tal qual odiamos a nós mesmos
Que quando formos capazes de desatar nossos laços de nylon,
Sejamos também livres de nosso passado
Que Deus saiba mesmo o que está escrito, que nos ajude
Que o Diabo nos tente até o fim de nossos dias
Que a carne queime nos becos assombrados
E que a boca escorra glitter pela manhã dos carnavais
Que visitemos praias, montanhas, casas de pessoas estranhas
Que encontremos sempre templos em corpos nos quais tenhamos chance de descarregar toda nossa fúria acumulada
Que façamos o que não nos permitem
Que agrademos aos que não merecem
Que nos consumamos um ao outro como oxigênio em forma de organismo
Que uma mente estupre a outra simultaneamente
Que estejamos sempre distantes um do outro
Que a partida e retorno do trem leve a sabedoria rotineira da paz infeliz
Que eu seja forte o suficiente para aguentar o esticar da minha pele
Que meus tímpanos não estourem com teus gritos todas as madrugadas
Que tu tenhas silêncio dentro de ti para que me possa ouvir sem desmontar
Que tu tenhas fé, mesmo que insossa, para me contar histórias da carochinha
Que tudo que pretende acontecer conosco, aconteça
Que esteja forrado o chão no qual vamos nos esfregar em desatino ou delírio
Que eu possa trepar um dia com tudo que tu és
E tu, com tudo que sou
E que se formos a mesma pessoa um dia
E se formos abortados pelo tempo separadamente
Como gêmeos ao sair do útero
Possamos seguir nossos caminhos
Sem que um morra da dor do outro
Sem que a independência espiritual nos faça pó

Padlock song

Money is the anthem of success
So I take another drink
And put on a pretty dress

I put on a pretty dress
I put on my pretty dress
And I spend a lot of money
I don't have my mommy's chest

I'm too heavy, I'm too tall
I'm too big, she's too small
I would crush any soul
Don't you cross my way so slow

I don't really wanna go
I don't really wanna go
I am dieing, it's all wrong
I'll kill myself if I stay home

Money is the anthem of success
So I get down pretty nasty
And light up a cigarette

I'll light up a cigarette
I'll light up a cigarette
'Cuz I have to spend on something
This is what will make me glad

Sex is the anthem of everybody's joy
I'm sure it makes you prettier
To be their brand new toy

I won't be their brand new toy
Wanna be their brand new toy
Keep telling them to fuck me
But I really love you boy

Oh, boy
I'm not gonna stay on the backseat
And wait for you to get saved by God

Oh, boy
I'm really not into these spiritual chats
I just wanna hang out with you
And maybe stay on drugs

Oh, boy
If you just think I'm an angel
Or some sort of a demon
I have to tell you
You are so wrong

Death is the new anthem of success
They're still into beauty
And I keep on saying yes

And I pull off my new dress
And they might say I'm the best
I know how to move my body
But I am a huge mess


Inspired by
National Anthem by Lana del Rey

Ainda que pudesse não ser, seria. Ainda que pudesse não existir, existiria. Mas se pudesse não mais sofrer este tanto, ficaria aqui para sempre.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Post-it surreal

Eu guardo poemas para te mostrar
Rabiscos de você escondidos sob a coberta
Abraço o meu amor junto aos meus medos
Às vezes escapa um ou outro
Eu tento não falar sobre tudo que penso
Eu tento não pensar sobre tudo que sinto
Mas em tudo que acontece
Eu acabo escrevendo teu nome
E o verde das tuas paredes
Acaba escorrendo
Pela vitrine dos meus dias
Então, quando eu pinto e quando eu leio
Quando falo, quando escuto
Quando construo, quando descubro
Quando reajo e quando reconheço
Tudo que me perpassa ou abandona
Eu acabo etiquetando
Escrevo datas propícias
Como se eu tivesse tempo de te mostrar tudo
Ou como se eu caminhasse
Perdida entre árvores e mais árvores
Eu deixo setas no caminho
Pedaços de tecido, galhos quebrados
Largo migalhas e pedrinhas
Porque se você passar por ali
Vai saber que ali estive
E ali te amei
De uma forma única
Na singularidade presente
Em cada momento da minha vida,
Eu te amo exclusivamente
Acumulando arte no nosso sempre
Eternidade,
Liberdade,
Peter Pan

domingo, 11 de outubro de 2015

I need to calm down. I don't know how yet, but I'll find a way out. I promess.

Hospedagem de sábado

Estou em cada rejeição esquecida no caminho
Estou em cada segurar brusco de quadris
Estou nas constelações formadas no pescoço
E no atraso, e nas dores de cabeça
E na dormência da língua
Que passeia entre bocas alheias
Estou no filme evitado
Por causa do que doi nas lágrimas
Estou no exagero do toque
Em espaços que não deveriam ser invadidos
Estou no lixo asqueroso abandonado no chão frio
Estou nas meias coloridas e no sapato surrado
Estou nos calos dos pés,
Na tensão dos ombros, nos olhos atentos
Estou nas cartas que retornam
Estou nas orações de fé turva
Estou na moeda de lados idênticos
Que pende acima do peito
Estou no subir e descer das pálpebras
Nos sorrisos promocionais
Estou nos encontros relatados
Nos planos para o futuro
Estou nas vozes que repetem
Estou na toxina dos teus cigarros
Estou nos teus pensamentos indecentes
Estou na agitação de todos os dias
Estou no nascer do sol
Em dia bruto
Estou no sangue lunar
Em noite de violência
Estou na liberdade da prostituição gratuita
E estou sempre presa à consciência
De que estou nos textos que te escrevo
Mais do que aqui no mundo
Eu digo a ela
Tento explicar o que acontece
Todo mundo sabe
O quanto sou volúvel e insana
Porque insisto em me colocar na tua cama
Projetando-me sobre o teu corpo
Nem Deus sabe das minhas intenções
Eu estou dentro de ti
Sei disso
Eu estou nos três quartos que tenho
Eu estou nas três salas de aula que adentro
Estou na perplexidade das pessoas
Perante a minha interpretação de coincidências

Eu estou simultaneamrnte
Em cada lugar que conheço
Estou nas casas que nunca mais vou visitar
Estou em tantos lugares
Bonitos, pavorosos ou desertos
Mas não estou aí
Não estou contigo
Apesar de estar, não estou
Nunca no teu caminho
Nunca na tua paz plena de espírito
Nunca nos arco-íris que que tu enxerga
Nunca nas paredes negras
Que você agride
Não estou contigo
E espero que isso não nos mate um dia
Se eu pudesse fugir daqui e estar contigo
Eu estaria

sábado, 10 de outubro de 2015

Porque você fica.

Você me disse
Que eu não reconhecia
A sua estadia tão longa
Interminável a ponto
De eu esquecer que existiam
Outros lugares para você estar
Eu gostaria que você soubesse
Que todas as vezes que eu disse
Que agradecia a sua companhia
Era uma maneira de
Ter orgulho de ti
E de sentir-me realmente grata
Por você ficar
Na verdade, eu noto
Eu escrevo sobre isso
E me perdoa se eu reclamo tanto
Se eu não aceito teus surtos
Teus sumiços justificados
Me perdoa se eu ainda
Sou muito imatura
Para simplesmente aceitar tua beleza
Eu te amo
Você sabe disso
E não pode nunca se esquecer
Eu quero te trazer comigo
Te ter por perto
Em vez de te observar de longe
Perdido no próprio mundo
Eu quero viver no mesmo mundo que você
Me desculpa
Se eu arrumo tantas brigas
Eu vou aprender aos poucos
Que há momentos em que você precisa ir
Mas eu te amo
Eu preciso me lembrar
Que você sempre volta
Eu me confundo na sala de espelhos
Já não sei o que é real
Mas eu te quero, te espero
Eu preciso de uma coberta
Para esperar deitada
Para ficar em paz
Eu quero só poder dizer
Que eu sinto saudades
Quando você demora
Quando não falamos de coisas boas
Quando tudo parece meio esquisito
Eu sinto uma saudade sem fim
Do teu carinho
Não sei se você entende isso
Talvez entenda sim
Eu posso dizer que sinto saudades?
Ou eu já disse vezes demais?
Volta logo, Peter
Tudo fica bonito quando você vem
Volta pra gente se amar só um pouquinho
Tudo bem
Eu espero
Eu sei que você precisa mergulhar em si
Para voltar à superfície e cantar pra mim
Eu sei que você precisa desse tempo
Eu só quero que você fique bem
Eu preciso que você fique são
Eu me importo, querido
Com o que te aflige,
Com o que te doi ou magoa,
Com o teu esforço
Eu me importo
Eu vou continuar tentando
Pensando bem em como eu sou
Pra ser boazinha
Pra te ter comigo quando der

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Ansiedade não é de

Eu queria descobrir
Que ele na verdade mora perto
Eu queria provar
Que nós daríamos certo
Eu queria que meus venenos doces
Lhe alegrassem a vida
Queria poder curar
Todas as dores dele em uma lambida
Ah, se eu pudesse
Cerrar meus olhos
Apertar meus braços ao redor
Se eu pudesse
Salvar de todos os medos
Não faz isso
Não aceita ser infeliz
Vem comigo pro lado do bem
Eu sei que não sou
A melhor pessoa
Mas eu tenho boas intenções
Se eu conseguisse
Se o trajeto entre ombro e nuca
Fosse um pouco mais curto
Eu não sei para onde vou em meio à tua tristeza
Não sei o que fazer quando me deparo
A um você que se consome
Meu maremoto, meu buraco negro
Meu milagre apavorante de Deus
Se você soubesse
Quão viáveis se tornam meus planos
De alcançar tua pele
No outro extremo do mundo
No lugar onde crianças não crescem
Ah, Peter
Não fui ver teu filme sozinha
Gastei meu dinheiro em flores
Eu poderia estar indo praí
Que agonia estar distante
Que agonia a tua agonia
Empatia às vezes arranha a garganta
Mas amor
Amor de verdade, esse que tenho
Faz perder-se o mundo de fora
Por dentro te sou, te levo no peito, no colo
Eu queria ser mais responsavel
Mais competente
Preciso crer que meu mal é ansiedade
Você melhora

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Os vagões

Se eu não tivesse medo
De ir para onde não vou
Se eu não tivesse medo
De não ir para onde vou
O trem talvez perdesse
Seu propósito
Por outro lado
Eu poderia seguir
Aquele trajeto
Dizem as alegorias
E as propagandas
Que seguir
Caminhos novos
É bonito
Dizem as propagandas
Que certos caminhos
Carregam consigo
Um perigo
Intolerável
Então chego cedo
Em meu conhecido destino
Praticando a espera
Comumente ansiosa
Da cidade
Em horário de rush
Não sigo
Para outras estações do trem
Não fujo
Do que foi programado
Para mim
E tento apenas
Sobreviver
Em meio ao que já sei
O medo
Nos protege das coisas,
Dizem
O medo
Nos influi
A continuarmos
Controláveis

A-corda

Bom dia
Sinto fome
Não, não quero
Tenho sono
Ah, me deixa
Anda logo
Deixa eu me
Lembrar do sonho
Vai, levanta
Ai, meus olhos
Tão vermelhos
E eu tô gorda
Teu cabelo
Tá arrumado?
Tô com sede
Não tem água
Pega Matte
Ah, que vida
E a prova...
Tudo bem
Vai dar certo
Boa sorte
Ainda dá tempo
Um cachorrinho
Como assim?
Eu sonhei
Um poodle branco
E biscoitos
Mundo estranho
Mundo chato
Carro, trem
E lá vamos
Mas e ele
Cadê ele?
Não importa
Pega a folha
Pega a fruta
Anda, vamos
Tchau,
Bom dia
Lê um pouco
Mas eu não
Já foi embora
Agora vou sozinha
Não queria
Abrir os olhos
Levantar da cama
Ir sozinha
E o cabelo
Caindo na cara?
A blusa preferida
A medalhinha
Tentativa
De colorir o dia
Mas tá chato
Não chove,
Não molha
Não queria
Que fizesse sol
Mas esse frio doi
Eu tô cansada
Quero meu cachorro
De volta
Tenho que
Ir
O trem
Com destino a
Futuro
Vai sair
Da plataforma
Qual
Atenção
Portas se
Fechando
Logo eu chego lá
Logo eu volto
Pra ficar
Deprimida
Em paz
Que tal hoje?
Não sei
Vai ler
Vou
Sai daqui
Saio
Não responde

Já to indo
Fui
Bom dia
De novo?
Agora fui
Fim

O Narguilé

  Quem
                Sou
                             Eu?

Uma estranha dedilha
Meu coração chora
Cry baby heart
Não sei quem sou
Não sem você aqui
Que medo enorme que tenho
De existir
De não existir
De ser triste
De ficar só

Projeto futuros
Saio com amigos
Por que nada disso faz sentido?
Falo teu nome
Releio
Digo que te amo
Por que nada aqui parece real?
Faz um ano
Eu sabia que eu ia morrer
E agora?
Se quero viver, por quê?
Como me chamo?
Qual é meu verdadeiro nome?
Onde moro?
Como faço pra ser feliz?

Penso em te ver
Me animo
Falo contigo
Te peço uma ajuda
Que talvez você possa me dar
Talvez nunca
Me perco aqui dentro
Não sei onde termina a fantasia

Só quero sentir teus dedos
Teus abraços, teus lábios
Só quero ser amada
Quero que você me precise
Que me queira
Quero que me carregue
Pra perto de ti

Sinto tanto medo
Da falta das coisas
Da tua
Do fim dos absurdos
Do fim que nunca
É o fim da vida
Às vezes tenho vontade
Você sabe

Nada disso faz sentido

Eu fujo para além do arco-íris
Para depois das colinas
Eu digo que te amo
Que sou boazinha
Que estou fazendo tudo certo
Que vai ficar tudo bem

Em outro momento fico triste
Homeless Alice, so scared
So insecure
Peter ain't no home
Peter has no salvation
For you, Alice
You're all alone
He is so far
He's just a new friend
A special soul
But he'll never be
Mom's chest
Mom will never have
This chest you need
There's no home
You need to stop
I need to stop

Eu preciso parar
De procurar o caminho de casa
Se eu não mentir
Nunca vou chegar a lugar algum
Eu preciso de amor eu preciso
E de amizades
Eu preciso beber
De vez em quando
Eu preciso me esfregar
Em alguma coisa
Em alguém
Eu preciso comer,
Mas não quero

Eu quero existir
Quero ser bonita
Quero atingir o ápice
E lá permanecer
Eu quero sentir
A perfeição de uma vida
Completa
Eu quero ser amada
Eu quero te tocar, Peter
Eu sou obsessiva

E quando você não vem
Quando você não vem
Alguém me mostra versos
De quem eu era
De quem eu não quero mais ser
Eu não quero morrer
Eu não quero abrir meus pulsos
Eu só quero sentir teu cheiro
Mas aí eu choro
E já não sei de nada

Eu não me encontro em lugar algum
Detesto ficar só
Vou fingir que você está aqui
Mas tenho medo
De ficar louca
Tenho medo de morrer
Depois que eu te encontrar

sábado, 3 de outubro de 2015

Tequila

Antes de tudo, o medo. Não. Antes do medo, a vontade. A alegria da realização de alguma ideia. No geral, e libido comandando tudo. Id, id. A satisfação, onde mora? Mora no outro, quase certo. Minha felicidade só existe na interação. Então, temos o medo. Todo o desabamento que pode ocorrer enquanto levitamos. Eu sinto o pânico nas minhas veias e é aí que eu percebo que estou exatamente onde eu desejava. A tirolesa, meu esporte preferido. Te alcanço em breve, me solto da corda, mergulho em ti. E por um periodo limitado, me afogo. Me afogar é fundamental. Enquanto não engulo água, não há verso. Não há graça em nada que pratico. O grito, a boca aberta e o impacto são ítens de suma importância no processo todo. Então eu caio, afundo, bebo água. E lá do meu âmago surge o impulso que me leva à superfície. Subo em desespero, procurando a luz, o ar, a vida. E essa superfície é quando eu tomo consciência de que amo. E quando amo alguém, amo tudo à minha volta. Se há um horizonte até onde meus olhos enxergam, depois dele ainda é possível encontrar amor. E aqui estamos, na superfície. Há oxigênio, consciência, sensação e satisfação. A felicidade mora nesse estágio. Onde o descrevo em vista de lembrar-me sempre como alcançá-lo. E quando todo o movimento breve, porém intenso e agonizante, termina, é quando entra a tequila das tequilas. Meu corpo conhece o lugar onde se encontra, meu mundo aceita o outro facilmente. Meu peito quando acelera, e se transborda de prazer, é capaz de perceber a paz acima de todas as coisas. Tequila é meu ingrediente sagrado para momentos únicos de perfuração. Mas uma boa perfuração. Uma profundidade em si, uma noção verdadeira de todas as verdades. Uma verossimilhança infinita entre o que é inventado e o que é material. Quando os céus são capazes de conversar com o meu espírito e meu corpo é capaz de relaxar-se sobre todas as coisas.

Quando amo. Quando conheço. Quando desejo. Quando realizo.
Quendo quero. Quando recebo. Quando preencho. Quando sou.
Quando está tudo certo. Quando está tudo absurdo e calmo.
Quando me resgato da minha própria diversão insana.
Tequila é meu bem de todos os bens.
Apenas para estas ocasiões.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Organização Padrão

Não era eu.
Vivia outra vida
Em outro mundo
Em outro tempo
Em outra ocasião.
Tinha outro nome,
Alguma outra vontade.
Possuía outra identidade
E essa não era forjada.
Existia em outro lugar.
Eu não acordava.
Eu não conseguia.
E aí, vida maldita.
Se houvesse um ladrão de sorrisos
Logo o fariam suspeito:
Interrogação, quarentena.
Até meus olhos estavam tristes.
Havia muitas coisas erradas,
Eu sabia.
Eu precisava estar naquele estado.
Não tinha avisado srta. Ana
Das visitas.
Dormia.
Um pedaço de papel impresso
Me aguardava.
Eu quase fiquei doente.

I was never Tinker, after all.
I had been Alice all this time.
And I'd try so hard to be
A good girl.
In the end,
I didn't know what to do.
How to act, who to be.
I didn't know what to say.
My mistake.
Silence.
The first quiet morning in weeks.
Lonelyness didn't bother me.

Sabia da liberdade que tinha.
Sabia como fazer aquilo.
Tinha consciência de que
A imagem se formava
De dentro para fora
E às vezes invertida, contra-lateral.
Eu decidia todos os dias
Meu futuro.
E ele era incerto.

Ele era incerto.
He was never fate.
He was a human.

Não me recordava
Do sonho.
Eu enxergava
Importâncias demais
Em tudo.
Eu era estúpida.

Mas o desatar diário
De minhas próprias mãos
Permitia o perdão exato
De tudo que eu sentia.
Eu poderia ser triste,
Eu poderia ser feliz.
O meu eu liberto
Me aceitava em todas as formas.
Eu sabia que naquele momento
Havia apenas eu e eu.

Sem sinais,
Sem Universo,
Sem a realização
De todas as coisas,
Sem catástrofes.

How to guide a stranger?

Aquelas palavras
Continuavam vindo.
Eu falava coisas que não queria.
E tudo, tudo
Era insano e insosso.
E eu estava bem com isso.
Porque aquele lugar eu conhecia.

   

Acorda, menina. Vai dormir.

Recito uma melodia gótica
E que toda a tristeza faça parte
E que a solidão tenha nome
E poder sobre a humanidade
Todo o sentido
Que mora em todas as coisas
Se descolore facilmente
É preciso doer para viver
E tudo isso faz parte
De quem somos
Nós, humanos
Pessoas, nós
Essa raça estranha
Que estudamos na faculdade
Quem sou?
Não importa
Quem se importaria
Com quem eu sou
Além de mim mesma?
Somos seres egocêntricos
Tudo gira em torno de nós
E somos egoístas
Tanto na felicidade
Quanto na tristeza
É isso que somos
Apenas mudamos
A nossa crença
No que vai acontecer
A cada um de nós
É preciso estar só
É preciso estar mal
É preciso ser real
Admitir as verdades que arranham a pele
Não adianta pintar tudo de rosa
Ainda há o preto que permeia o espírito
Sempre haverá
A distopia, o ranking,
O ir e vir dos trens ou automóveis
Sempre haverá as relações
O amor, o ódio, a frustração
Sempre haverá algum tipo de espera
Em cima de tudo
A verdade
Ah, a verdade sobre todas as coisas
Às vezes é preciso estar só
E às vezes é preciso novas companhias
Não fumo
Não fumo
Não fumo o meu cigarro
Não me maltrato
Mas é fato que vou me encher de álcool
Alguma coisa eu preciso fazer
Não sou santa
Não sou puta
Não sou ninguém
Não sou Alice
Cansei de dizer que vai ficar tudo bem
Cansei de dizer que vou ser pessoa melhor
Cansei de dizer que amo
Cansei de ser criança, de ser insana
Cansei do algodão doce e do chocolate
Cansei de querer o que está fora do meu alcance
Cansei até daquelas margaridas que citei outro dia
Eu vou-me embora desse potinho de doces
Vou calar-me
Até que minha estupidez volte a raiar com o dia

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Sobre a serenidade

Não sei onde estás,
Mas sei quem tu és.
Sei que o sou
E sei que me amas.

Sei que o amo,
Que existo,
Que existimos
E que tua presença em mim é perene,
E que a ausência do contato entre o eu e tu
Quase não faz sentido,
Porque sei que estás e que estou,
E independentemente de onde,
Estamos.
Existimos.

Somos:
Eu e tu,
Nós.

Inarredável, intrepidez

"Acho que não vamos nos falar hoje. Tudo bem."
Tudo bem? E quanto à minha saudade?
E quanto à minha ansiedade,
O que eu faço?
Tudo bem.
Não tem motivo pra estresse.
Não tem motivo pra agonia.
Eu sou absolutamente sã.
Não sou?
Meus dias,
Perfeitamente capazes de regozijo,
Mesmo sem a tua companhia.
Mas nunca sem teu espectro,
Tua inaparição reconfortante,
Nunca realmente sem tu.
Não que eu não possa ser feliz
Sem tua imagem decorando
O meu lobo occiptal,
Eu apenas já não sei desvencilhar-me.
Como abortar a beleza de si?
Não há razão.
É belo,
É fato
E da tua beleza não abro mão.
Se tua ausência me incomoda,
Pratico o silêncio dito.
Escrevo, datilografo, rascunho.
Meu punho direito estremece
Com o excesso de trabalho que lhe dou.
Respiro.
E todo o mundo que me cerca
Independe da tua presença.
E mesmo assim, estás presente
Em todos os objetos e seres
Do mundo que me cerca.
Tudo é tu, apesar de não o ser,
Apesar de não estar.
E se eu sorrir para a tua ausência,
Como se ela exemplificasse
A plenitude da tua permanência,
Todo o resto que agoniza se esvai.
Existe um mantra abstrato
Que se refere a quem eu preciso ser
E o que precisa ser feito,
E que funciona melhor sem títulos.
Porque agora o sei.
Sei como devo agir
E onde devo focar a minha reflexão.
O não-tu também é tu
E esta consciência me alivia.
Sei que parte do que compõe
Todo o ar que existe entre o cá e o aí
Materializa ou imaterializa
O fio ininterrupto e inexorável
Entre eu e tu.
Logo, há sempre companhia.
Logo, não há problema algum.
Logo, todo o silêncio conforta,
Todo sono é agradável,
E todo amanhã carrega consigo
A potencialidade do encontro de nós
Com nós mesmos.
Eu em mim, tu em ti.
E em parte, se esquece a dissociação
Entre os dois seres.
Sublime se faz a noção da eternidade.

Universo

Faz diferença?
Se chamo de Deus ou Universo
Se são forças superiores
Ou guias espirituais
Se são um punhado de energia
Se dependem
Se é o destino ou
Se parte de dentro de mim
Se amanheço cansada
E agradeço
Se sei que ele me ama
E o amo de volta
Se quando tenho raiva
Digo gostar da vida
E quando gosto da vida
Digo estar apaixonada por todas as coisas
Se sou feliz, mesmo quando chateada
Se tenho consciência
Do mal que me morde à noite
Se tenho consciência
Da manhã que precisa ser vivida
Se realmente tento
Ser melhor pessoa para o mundo
Se luto pelo que amo
Que mal há no nome que dou
Para quem me trouxe fé e esperança?
Que mal há se tento ser grata e justa?
No fim das contas
Há sempre dois caminhos a seguir
E faz muito tempo
Que eu escolhi meu lado
O resto é só confusão temporária
O universo sabe
Ou seja lá quem for o universo
Para onde eu desejo ir
E para onde vou 

Rescued Skin

Hoje minha nudez se exibe para as paredes da casa
Não como se não o fizesse antes
Não como se o pudor hoje fosse menor
Mas é reconfortante a liberdade
De saber que meu corpo não fere ninguém
Não me recordo ser boa
Em conferir a todo o tempo
Em esconder a minha pele
Desconfio que eu queria mais era ser descoberta
Ser liberta, ser incômoda, ser notada
Hoje, enquanto como minha maçã
Gostando na verdade mais da casca do que da fruta
Eu agito meu braço esquerdo, todo rabiscado
E não me importo
Está tudo curado
E eu me perdoo se não estiver
Sei que não sou anjo
Que ironia
Sei que não sou madura o suficiente
Sei que mal aprendi a ser gente
E quero sair cuidando dos outros
Na verdade, nem quero
Mas é bom
Eu continuo dizendo que preciso
Que é meu dever
Porque nunca me senti tão egoísta
Egoísmo a dois, é possível?
Agora percebo a direção de ascendência
Em breve saberei novamente
O porquê de eu estar aqui
Eu disse ao universo:
Preciso dele para estar aqui,
Para cumprir o meu papel
E era verdade
E eu nunca me senti tão agradecida
Bem, talvez uma vez
O universo me diz:
Vai lá, continua
Você tá indo bem
O universo me traz
Uma espécie de amor ilimitado
Incondicional
E espera que eu o multiplique aos outros
Talvez eu tenha nascido para isso
Para multiplicar
Talvez meu espírito seja sempre infantil
E talvez isso seja realmente bom
Sabe, talvez eu seja Peter
Eu, também, Peter
Além de Alice, Isabel
Além de Liberty
É por isso que ele é perfeito
Apesar de todas as diferenças,
Nós nos somos
Hoje, enquanto eu caminho pela rua
Trilhando o meu percurso de vida
Eu não me odeio
Eu não amaldiçoo nada
Eu não fumo cigarros ou me machuco
Eu sou humana
Não sou sagrada
Mas há uma razão
Para saber que não vou mais me matar
Nunca mais
E alguém lá do outro lado enxerga isso
Eles me salvaram, todos eles