terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Borboleta em Chamas

O meu quarto tem cheiro de morte
E eu odeio minha pele
E minha escamas tentando rasgar espaço entre ela
Para me carregar e arrastar de volta para o mar
Mas o sol me dava bolhas
E o mar ficou a milhares de quilômetros de distância
E tudo me pinica
E eu me sinto um sapo, uma rã, ou uma espécie de réptil
Uma lagarta trocando de pele
Mas eu não sou uma crisálida
Eu me tornei uma vampira, em vez de sereia
E o calor e a falta de vento desse quarto me afogam
Como um peixe fora da água
Então cada vez mais eu me pergunto de que espécie eu poderia ter sido
E sinto minha existência escorrendo por entre meus dedos
Se é que ainda tenho dedos
A criatura que sou teria dedos?
Ironicamente as coisas se somam para me matar
E no fim das contas nenhum dos habitats onde eu poderia ter estado
Me seria habitável, de qualquer forma
Eu não sou adaptável, eu não sou um ser, afinal
Eu não sou alguém, essa é a única conclusão à qual eu posso chegar
Eu estou morrendo
A minha pele cai
Minha cabeça doi
Eu tento me arrancar pra fora de mim
E o universo parece de despedaçar ao meu redor
Mas é como se a realidade não fosse mais real
É como se eu não estivesse mais aqui
Mas também é como se não fizesse mais sentido me chamar de eu 
E não acho que ninguém entenderia
O silêncio desse cofre, dessa cela
É ensurdecedor
É emudecedor
É enlouquecedor
Avassalador
Desesperador
É mortífero
Aterrorizante
Me paraliza
Eu não sei como sair daqui
Pra onde ir
O que fazer
Acho que não tem mais o que possa ser feito
Se não o que eu já mencionei
Mas se já estou morta 
Acho que estou louca
Luto contra o sono
Tenho medo
Medo do sol aparecer
Medo de morrer no escuro
Na sujeira
No desespero
Medo de ter bolhas na pele
Quando a manhã chegar
Quando o sol estiver a pino
Medo de continuar viva
De quando a dor chegar
Eu aguentar
Perder o juízo
Mas continuar lá
Viva
Sentindo tudo