sábado, 31 de janeiro de 2015

Fresca

Hoje choveu, e eu não me molhei nenhuma gota. Fiquei guardada em casa, tentando transmitir a chuva para o emborrachado branco. Me sinto sufocada porque o céu parou, e levou a energia junto. Ficaram os mosquitos, só. E o silêncio. O silêncio é um algo insuportável para aqueles que não querem se molhar. Eu prometi que tomaria um banho de você. Não tomei. Como não tenho chorado, nem vivido todos esses dias. Eu agora sou feita de apatia e acrílica. E você, é feito do quê?

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Calor, pés

Hoje o dia está estranho, quente.
Quente. O meu útero borbulha, e o sangue escorre grosso de mim.
O aborto nosso de cada mês.
Apesar do babaca que tenta reprimir a minha única forma de me expressar,
Comprei tintas. Tintas novas, para pintar um novo dia, chuvoso.
Que faz falta. Está muito quente mesmo.
O suor escorrendo na testa, e a morte iminente no centro ósseo dos pés, inchados.
Ao que parece, eu fui martelada em ordem crescente do umbigo aos dedões dos pés.
E o meu bebê grita. Vomita dentro de mim. Vomita raiva.
Me sinto doente. No inferno.
Há coisas boas e alimento. Preciso de água.
Água, muita água. Pra não desmaiar no concreto em brasas.
A solidão de hoje esfola a sola da vida. Dilacera.
O ir e vir mentiroso doi mais por fora do que por dentro.
Internamente eu deito em azulejos frios, e vou desvivendo aos poucos.
Durmo para sempre. Sem força, sem vontade, sem nada.
Ficam meus quadros para trás. Que sirvam de lenha no inverno.

Alergia

Você tem alergia, ao toque. Tudo que te encosta arde. Queima, coça. Incomoda. Eu tenho problemas de intoxicação alimentar. Porque tudo que eu vejo, eu como. Incluindo você. E você eu devoro de novo, e de novo, e de novo. E do tanto que eu engulo, uma hora alguma coisa tem que pesar. Meu estômago é alérgico a você. Toda vez parece que eu vou morrer. Me dá náuseas, mas eu nunca vomito. Você fica lá dentro corroendo o meu estômago. Como um alienzinho usando suas garras de diamante pra me dilacerar por dentro. Tentando sair, eu acho. Enquanto sua pele queima do contato com a minha. Você descama pra tentar não sentir a dor de me tocar. Troca de pele como uma cobra coral. Venenosa, e com cor de comestível. A gente se destroi se perto. E eu odeio a vida mais que tudo se me obrigam a viver em jejum. Prefiro devorar tudo que vejo, mesmo sem você (você continua tendo um gosto muito bom, tipo coca-cola). Prefiro sair comendo tudo, até morrer de comer veneno sem saber.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Mudança

É uma maneira meio idiota, se você pensar bem. De, você sabe, tentar melhorar e tal, essas coisas. Amadurecer. Nossa, como eu odeio essa palavra. Nojinho. Eu pego tudo que querem que eu faça e penso assim "vou fazer só por fora, por dentro eu vou odiar você". Funciona. Eu li um livro uma vez, quando eu era bem criança, em que dois meninos brigavam. Basicamente o mais velho e mais forte ficava mandando o mirradinho fazer coisas, ou ele apanharia. E o mirradinho fez. Quando o mais forte contou uma piada, o menor riu, mas argumentou "eu posso rir por fora, mas você não pode me obrigar a achar engraçado" , "por dentro eu não estou rindo e você não pode mandar nessa parte". Eu achei genial na época. Ainda acho. É mais ou menos isso que eu faço. E chega uma hora em que não importa mais. Eu vou me acostumando. É uma maneira de contornar a teimosia. Mas eu ainda me incomodo quando sinto a mudança mesmo. Eu sou uma pessoa muito chata. Mas vamos lá, eu vou tentando mudar. Sempre pra coisas com as quais eu não concordo - agora -, mas que se fazem necessárias. Eles chamam isso de evoluir, eu não concordo. Pode ser adaptação, ou simplesmente mudança. Não acredito que eu possa melhorar indo pro lado oposto.

Camile

Camile era um espírito, branco. Queria um fundo preto, mas não tinha tinta preta. O fundo poderia ser azul, e ela queria que fosse escuro, mas tornou-se lilás. Suave. Como a melancolia. Camile teve antes pele. E dois buracos no lugar dos olhos, brancos. Como sua alma. Queria que os olhos fossem negros, mas não tinha tinta preta. "Castanhos?", pensou. Não tinha tinta marrom. "Azuis?" Não. Nem verdes. Não queria olhos claros. Nem mesmo acinzentados. Vinho. Olhos avermelhados. Cor profunda, simples. Racional, até. Os dois olhos de Camile posicionaram-se corretamente, e anômalos ousaram razoável simetria. Camile passou a ter olhos. Mas não olhava. Tinha mãos em forma de garra, quase despropositadamente. Queria a princípio segurar uma flor. Margarida, camomila. Camomile, Camile. Teria um dedo levantado, onde estaria a flor. E todos os dedos se levantaram, como se por instinto de defesa, a mão se preparasse pra atacar. Um muro verde, e um leve caos no fundo. Camile precisava de cabelos. Castanhos? Não havia tinta marrom. Ruivos não. Nem loiros. Camile queria um cabelo colorido. Mas o caos lilás atrapalhava tudo. Tornou-se loira, castanho-esverdeada com uma mexa azul, sutil. Seu cabelo era deliciosamente suave. Como todo o resto. Ganhou um esboço de nariz. Camile em dado momento estava pronta, satisfeita. Levemente apática, todos diriam. Vazia, até. Faltava a sua flor no dedo, mas num instante ela desistiu. A flor tornou-se o pingo do seu "i". Camile. Seu nome em letra cursiva foi desenhado abaixo de sua mão. E foi a primeira a ter nome, de fato. Foi a primeira de quem eu gostei.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Verdade

Voltei. Fingi que não doía, mas doeu.
Mais que doer, morreu.
Morreu e morreu quem eu era quando estava lá.
Porque não era só você.
E não eram os dois.
Era o barulho na casa, a bagunça na cama
E o calor suportabilíssimo.
Porque eram amigos que cantavam,
E lugares inesperados,
E até a melancolia de lá, que era melhor.
Era a noite refletida no rio sujo, que embelezava tudo.
E aquele balançar diário da espera nos bancos de trás.
Era deitar de camisola e conversar sobre a existência humana,
E pela manhã já nem ligar pro próprio nome.
Era sentir que até odiar as coisas era bom.
De uma maneira muito estranha, certamente.
Cheguei aqui e não sabia que lugar era este.
Não sabia quem eu era.
E percebi mais do que nunca, o tamanho da ausência que me cerca.
Falo sobre a minha terra do nunca muitas vezes por dia, ainda.
Estou tentando pertencer aonde eu moro.
Eu não queria senti-lo tanto, desse tamanho, dessa forma.
Talvez até pra não te incomodar.
Então estou mentindo toda hora.
Pra daqui a pouco já não doer mais
A saudade,
Que me aperta agora.

Eu queria voltar mas também há algo que me expulsa daí.
E eu preciso saber quando ficar,
Recolocar meus pés no asfalto quente.

Endereçada

Escrevo este texto para conversar com você.
Porque me sinto sincera hoje, e tenho quase certeza de que os dois estão mentindo.
Não quero mentir agora, não nessa noite.
Você me confunde um pouco, às vezes.
Eu estou até agora achando que eu não devo sentir falta daí.
Não é como da outra vez, em que eu me alimentava de reviver os momentos.
Não.
Dessa vez eu ajo como se todos eles nem tivessem acontecido de fato.
Sinto-me afastada de toda e qualquer realidade.
Eu acho - e gostaria de deixar um espaço para que você desacreditasse essa verdade - que você não me queria aí.
Mesmo. Sem drama, sem reclamação.
Eu voltei pro Rio com o sentimento de que o certo era eu estar aqui e não aí.
Que você estava cansado de me "tolerar".
Você voltou a fumar. Por quê?
Me incomoda a falta de compreensão que eu tenho sobre algumas atitudes suas. Posturas.
Você é incoerente.
Estamos ambos agindo e falando como se não fosse grande coisa o fim dessa viagem.
É.
Lá no fundo, é grande coisa sim. Mas a gente finge que não.
O que você quis dizer quando falou que o "quente" tava guardado em mim e podia te matar?
Eu tô fingindo que não te amo todos os dias pra não ficar triste.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Não há nada que te mate dentro de mim

Se um dia me fizessem cega,
Minhas mãos ainda te buscariam no ar
Eu andaria sempre na tua direção
Se um dia te matassem na minha frente
Eu ainda te amaria, sem corpo, sem voz e sem calor
Eu ainda te amaria todos os dias

Braile

Eu fumo dez cigarros numa noite,
Cinco hoje,
E fico tonta.

Eu bebo até ver tudo mais alegre,
Até deitar numa calçada suja,
E rebolar até o chão.

Eu tiro a roupa na frente de pessoas,
Trepo com meninos e meninas.
E te falo sobre as minhas taras.

Você me cumprimenta,
E me escuta.

Te conto sobre o amor da minha vida,
Sobre outros amigos,
E sobre a felicidade.

Você gosta.

Te peço socorro.
Te peço coisas.
Você me atende, gentil.
Me ajuda.

Você ri comigo, e fala em línguas de outros animais.
Conversamos coisas bobas sem palavras.
Você canta pra mim.

E inventa mundos onde eu posso dormir um pouco.
Onde eu posso sorrir,
Fugir desse batuque chato da solidão.

Em um dia eu surto de amor,
No outro de ódio,
E no outro de medo.
Eu digo que quero me matar,
Que eu estou muito, muito triste,
E que eu preciso que alguém seja mau comigo.

Você é paciente.
Me diz coisas boas de serem ouvidas,
E fica de guarda por mim.
Pra me proteger das coisas ruins.
As coisas que eu mesma trago comigo.

Você me lembra Miguel,
Mas eu nunca soube que ele curtia flores.
Girassois.

Você diz que me ama, apesar de.
E é mais sincero.
Muito mais.
Ou ao menos, muito convincente.

Vem de outro planeta e diz que me ama,
Do jeito que eu digo que amo alguém.
Que amo você.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Seca, escassez

Eu queria tanto vomitar você
Tirar de dentro de mim essa saudade
Que mata.
Eu não sei o que eu vou fazer,
Mas depois de te ver,
Tudo aqui parece perder o sentido,
A cor, o tom.
Os passarinhos daqui são desafinados
O sol daqui é mais quente, e fica no céu até mais tarde
Não te vejo brilhando no céu,
Os prédios não deixam.
Não há amor no Rio de Janeiro.

Aqui todo amor derrete na calçada suja
Aqui toda vez que eu levanto eu acho que vou morrer
Aqui não tem você, nem família, nem felicidade.

Eu não consigo chorar.
Eu não quero.
Estou engolindo tudo e esperando meu coração explodir
De falta.
De falta de tudo,
De água, comida, de abraços, de sair na rua, de risadas, de companhia, de vida.
De falta até do banho gelado que gerava tanto barulho dentro de casa.
Se chover amanhã, eu vou tomar banho de você e pedir ao céu pra me ajudar a sobreviver aqui.

Prontuário

Nome da doença: Despedida
Transmissor: Matthaeus
Origem: Recife - PE
Sintomas: Falta de apetite (22h); Sono prolongado (13h30); Apatia; Idas menos frequentes ao banheiro (17h30); Desânimo generalizado; Dores musculares por todo o corpo; Fadiga; Excesso de sonhos (6); Perda da identidade; Sentimento de não pertencimento ao ambiente; Taquicardia; Hiperventilação; Tremores; outros.

domingo, 25 de janeiro de 2015

208 olhos

Me debrucei sobre a janela.
Haviam outras 208
- eu contei -
Me olhando de volta.
Janelas.
Décimo quinto andar.
É uma boa queda.
Pensei:
Se eu me matar agora,
Você vai me amar pra sempre.
Não vai ter escolha.
Eu queria pular.
Eu quero pular.
Quase todos os dias, eu quero.
Eu quero não amar você.
Você sempre arruma um jeito de me despedaçar.
Sempre.
Sempre.
Sempre.

Amanhecer, claridade

Eu escrevo dois textos
Todos os dias:
Um para te amar
E outro para desamar um tanto.

Devo te odiar agora
Para amar amanhã
Ou devo doer meus olhos
Com o brilho intrometido da lua?

O sol me maltrata, frio.
Eu vou embora, e doi.
Vou sem nome, sem companhia
E sem fígado.

Mas te amo, ainda.
Irremediavelmente.
Apesar de toda terapia,
Que me obriga a aprisionar
Meu Peter Pan.

Eu não sei o que eu faço,
Nem quantas lágrimas sobraram
- dessa vez eu comecei cedo.
Mas sei que vou, e que estive aqui,
Me afogando em ti todos os dias.

(E por vezes tu era oxigênio em vez de água)

Boca

Um sorriso na cara,
Uma dormência nos lábios
E tu
Me apertando por dentro.
Me esmagando, me matando,
Me sufocando.
Me desculpa.

Ele em todo canto,
Em toda parte
E me parte ao meio.
Ele te segura do outro lado.
Eu queria que tu fosse só meu.
Mas ele compete,
E como é injusto.

Eu tô aqui nesse buraco há tanto tempo,
Tentando enfeitar as paredes
E lavar o chão de barro.
Será que eu preciso de um descanso?
Eu queria tanto poder descansar.
E agora, o que eu faço?
O que eu faço enquanto vou perdendo você?

Você diz que é meu
(como nunca antes),
Mas descreio ainda em tudo que sai
Dessa sua boca,
Que não bebe,
Não fuma
E não chupa.

Eu sou uma puta,
Tu sabe.
Eu sou uma puta pra fugir de você.
Tu pode ir pra ele as vezes que for,
Quando voltar eu estarei aqui.
Mas não me peça pra ir junto não, amor.
Por favor, não.
Que eu bebo,
Eu fumo,
Eu trepo,
Só pra esquecer de ti.

sábado, 24 de janeiro de 2015

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Quem és tu?

Sou tua irmã
Tua filha
Tua mãe
Tua amiga
Tua amante
Tua esposa

Sou de onde tu vens
Vou para onde vais
Sou o que tu és
Grávida de ti

Tua voz,
Teu medo,
Tua raiva,
Teu desejo

Sou
Tudo que te diz respeito.
E mais.

Sou a brisa que te escorre pela face
Sou tudo que você engole sem saber por quê
Sou o teu reflexo no espelho, feio
Sou a sombra que tu esconde no quarto escuro
E dentro de ti

Sei que na vida
Devo amar-te
Sem nome, sem compromisso
Sem perdão e sem retorno

Devo amar-te apenas porque é isso que eu sou
E o que tu és
Sem depender do tempo,
Ou da esperança de te possuir
Sem depender da sua fala,
Ou dos teus olhares
Ou da tua presença escassa.

O que eu sou
E o que és tu
Se confundem no ventre da terra
E na luz que nos queima pela manhã
E no brilho seco da noite que vai, gélida

Somos,
Eu e tu

Existo,
E ambos vivemos,
Separados pelo dia de amanhã.

José

Vou me pregar no concreto do teu quintal.
Pedir perdão à minha mãe por ter perdido o avião.

Vou abraçar aquela árvore, em frente à tua casa (que nos assistiu conversar em sussurros),
Até que eu me torne ela.
Só para estar bem ali, próxima a você.
Esperando você ventar.

Vou viver do sol e da chuva.
Sem comer, ou dormir.
Vou viver do que você quiser me dar.
Só para te ter por perto,
Sempre.
Uma vez por dia, ao menos.

Às vezes eu quero só ouvir tua voz.
Só.
Horas a fio te ouvindo falar sobre o tudo e o nada da vida.
Sobre o dia, sobre as tuas ideias,
Sobre todas as bobagens do mundo.
Te ouvir falar.
Quieta, recolhida.
Como o caderno no qual você escreve.

Virei um cachorro, eu acho.
José, apertado naquele canto escuro. Molhado.
Eu tô com medo de ir pra longe de você.

Absolem

Hoje é 23 de janeiro.
Faltam dois dias para o fim do mundo.
Eu fumo um cigarro,
Pinto quadros.
Bebo.
Eu te amo o tempo todo
E te observo dormir.
Às vezes fico triste,
Escrevo um conto,
Vou ao teatro.
A vida se revela encantadora
Também nos dias nublados.
Pego mais um ônibus,
Como,
Durmo tarde.
Se estabelece a rotina quente de amar você.

Não me deixa ir, não
Não dessa vez.
Não se afasta de mim só porque eu deixei de ser eu nesses últimos dias.
Quem eu sou afinal?

Quem és tu, Alice?

Vou tatuar esta dúvida, bem dentro de mim.
Onde tatuei você.
Mas o seu gosto nunca sai da minha língua.
E eu te canto, te canto por aí.
Queria poder te ver todos os dias.

Tenho a sensação de que
Quando eu não te  vejo
Você desaparece.
Não existe mais.

Eu queria te esquecer, Elena.
Mas me despi completamente,
De novo,
E mergulhei no mar.
Te mergulhei.
E pertenco às suas águas,
Às tuas mudanças rápidas de maré.

O mundo vai me perdoar por ser assim,
Tão tua.
Tão cega.
Tão infantil.

Eu amo isso tudo que é estar aqui.
E vou embora.
Ainda tenho dois dias pra te amar como nunca antes.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Tato

Queria que você me tocasse.
Você.
Porque eu sou completamente insana.
Queria sentir seus dedos em qualquer canto,
Nos meus.
Queria que minha mão pudesse tocar a tua,
Por mais de dez segundos.
Queria que, por vontade própria, tu quisesse me encostar.
E gostasse disso.

Queria saber o ponto certo
Do toque.
Onde você gostaria de me encontrar,
No tato.

Te amo.
Queria um minuto da sua pele.
Em mim.

Dálmata

Saí pra fumar um cigarro.
De novo.
Um dálmata maravilhoso veio ao meu encontro.
Cumprimentei-o.
Conversamos.
Ele sentou-se perto e me assistiu fumar.
Senti proteção em seu olhar.
Companhia.
Por um instante, pensei:
Talvez,
Em outra vida,
Tenhamos trepado, os dois.
Olhei no fundo de seus olhos.
E ele parecia me conhecer.
Relaxado em um canto próximo,
Me observava.
Dialoguei com ele.
Sim, trepamos.
Terminei o meu cigarro e entrei em casa.
Em uma outra casa que não a minha
(como se eu de fato tivesse uma).

Troubled Minds - Marina and the Diamonds

[...]
Peter Pan could not admit he had become a man
He smashed the mirror into a million bits
Now all he seems to do is stare and sit
Painting pictures of a life that he'll never find
Inside his troubled mind, troubled minds
[...]

domingo, 18 de janeiro de 2015

Te amo hoje





Âncora

Eu não sei quem eu sou.
Vê esse mar?
Ele leva tudo.
Ele te leva e te traz.
Mas olha, você é meu.
E amar você é a minha âncora.

Ou aqui.
Eu me perco e me encontro no teu caos.
Quando seus olhos encontram os meus,
Tudo permanece.
Aquele tempo que não vai nem vem.
Você me manda um beijo e meu coração sabe como bater.
A depressão morre na ponta da língua.
Meu amor, eu me perco e me acho na deriva.
Traz mais uma pra gente ser feliz.
Eu te amo todos os dias.
E tudo que eu choro já não faz sentido porque você me ama de volta.
Que bom que você está bem hoje.
Que bom que estamos aqui.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Eu não posso morrer enquanto você estiver aqui.

Morrer de amor é melhor do que viver

Te amar é melhor que ser feliz

Carmen

Fumei um cigarro para voltar pra você.
Você se lembra daquele que eu fumei para reaver minha própria existência?
Era dia de chuva, e eu era Lola.
Porque você gostava.

Fumo um cigarro - e não gosto - porque te amo.
Porque resolvi, hoje, ser o que você não pode (mas quem admira).
E sei que você queria.

Fumo outro cigarro.
Porque já faz tempo que eu fujo da morte.
Porque me chamo Carmen, hoje.
E você nem sabe.
Porque não quero voltar pra você, no quarto.
Porque te espero (de novo?).

A tua praça vazia
Continua a mesma.
Você não.
E nem meu paladar.

Ainda mora uma puta dentro de mim.
E essa puta fuma.
E sente tesão neste feito.

Ainda mora uma morte
Camuflada em meu amor
Patético,
Ipermeável.

Eu e tu sabemos
Do todo.
E mentimos,
Em prol de algo maior.

Eu tô contigo outra vez
E sempre.

Fumei um cigarro
Para poder voltar pra você
Ainda
Para poder te amar
Sem te deixar morrer.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Fica bem aí

"Eu preciso disso"

  Havia um único feixe de luz ali no nosso mundo. Ele te iluminava, azulado. Você sorria, como quem confessa algo muito puro e genuíno.
  Eu repetia que te amava de todas as maneiras que eu podia encontrar. Nunca parecia impossível encontrar uma nova forma, um novo desenho do meu amor por você.
  Conversamos calmamente, e não existia mais ninguém no mundo além de nós. Não havia outro lugar no mundo que não fosse ali.
  Te falei sobre como o tempo já não era tempo na sua companhia. Sobre o medo adormecido de te desencontrar de novo. E falei, sobretudo, da serenidade com que eu te amava dali.

"Sem você eu me perco"

"Eu sou quem eu sou porque eu te amo, faz parte de mim"

"Não importa o que você faça. Não importa o que aconteça. Mesmo que isso fique guardado, trancado, com coisa jogada por cima, vai sempre estar dentro de mim."

"Te amar faz parte de quem eu sou"

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Camomilas requentadas

Você está prestes a reacender algumas de suas camomilas
Eu estou aqui de novo
E eu te amo.

Você me conta todos os seus segredos
Os mais simples
E os mais obscuros
E eu finalmente te alcanço.

Você não está mais a deriva
Descansa na beira do mar
E eu também descanso
Te amando no olhar.

Ainda amo a maneira como você pisca pra mim
E o seu sorriso, quando você gosta que eu te ame.
Ainda amo as suas costas expostas, esperando pelo toque,
E agora eu amo as suas costelas
E a minha tatuagem em você.

E você me ama, do lugar ao qual você pertence.
A três planetas de distância, eu nunca me senti tão próxima,
E tão viva.

Meu coração funciona como a respiração daquele pequeno ser
Nosso filho
Nossa morte.

Eu me senti mais perto de você quando só nós dois presenciamos aquilo.
Eu realmente não precisava continuar
Mas eu te sigo, ainda
Porque te amo.

E agora, meu amor?
Quanto eu ainda tenho pra aprender contigo?

Eu te amo, todos os dias
Irremediavelmente
A qualquer distância
De qualquer modo
Em qualquer circunstância.

Eu te amo,
E eu respiro pela manhã.

Eu vivo porque ele morre,
Porque a Terra gira,
Porque na árvore nascem folhas,
E porque eu pude te tocar hoje,
De novo (sou grata por isso)

Se isso não for felicidade, é melhor
Amor, é melhor.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Trilha

Arruinada é a perfeita escuridão da noite
Pelo brilho inconsolável da lua.
E há lábios entrecortados de tanto se entregarem
Em uma moça cuja alma não atura o sol.
Há girassois se empurrando como leões
Ao longo de uma enorme trilha.
E há corações e corações parando durante alguma cirurgia fracassada.
Malfeito é o tempo, que brota, mas não morre.
E tudo que paira no céu e no mar,
O que ainda chamam de vida,
Está aquém e além de nossas compreensões incompreendidas.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

A pedra

- Me conta mais sobre ela.

  Não era a primeira vez que eu fazia esse pedido. Eu evitava, mas já fazia uns dez minutos que estávamos parados em silêncio. Eu sabia que era por causa dela que ele estava tão quieto.

- Não quero falar sobre isso agora.

  Eu quis perguntar por quê, mas não perguntei. Em vez disso eu fiz um convite. Tinha cá pra mim que ele não gostava de compartilhar qualquer coisa que dissesse respeito àquela menina. Não sei se por masoquismo, ou por afeição. Ele parecia gostar de trancar tudo bem trancado em sua caixa de pandora. E mergulhar em seus milhões de pensamentos quando fosse preciso. Era frequente essa necessidade.
  Às vezes ele saía de lá e vinha me fazer uma visita. Não sabia se era essa a ocasião.

- Vamos sair daqui?

  Ele demorou um pouco para responder.

- Oi?

- Vamos para outro lugar. Vamos, se distraia, por favor!

- É que...

  Ele não completou a frase. Acho que ele não sabia se explicar, apesar de notar os meus olhos o pressionando. Não era a minha intenção, mas era mais forte que eu.

- Apenas esqueça. Por favor, por enquanto. É tão triste ficar distante de você... Mas você é dela, eu entendo, apenas...

- Desculpa.

- Não pede desculpas, vem comigo.

  Saí correndo, meio tropeçando em meus próprios pés. Eu sempre fui uma desgraça correndo. Ele veio atrás. Encontramos uma pedra enorme. Não tinha mais ninguém ali, absolutamente ninguém. Eu nem dei atenção para a paisagem ao redor. Alternava entre olhar para as minhas mãos, para o rosto dele, e para os nossos pés. O vento batia gelado na gente. Eu comecei a cantar, e olhei pra ele para que me acompanhasse. E ele o fez.
  Ficamos ali por um tempo. Em algum momento eu comecei a contar alguma história idiota, lembrar de coisas toscas. Fizemos algumas piadas, brincadeiras, e de vez em quando eu encontrava um jeito de e encostar nele, sem que ele prestasse atenção no que eu fazia.
  Quando o sol foi embora, porque já não aguentava mais a gente, nós também fomos. Ele pra lá, eu pra cá. Ele ia ouvir o caos dela, e eu ouviria o caos de um outro moço. Eu entendia. E parecia muito pacífico sofrer depois daquela tarde, daquela folga.
  Tudo parecia bonito depois de o conhecer.
  

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Puto

Você falou dos meus cabelos cheios
Dos meus seios fartos
E da minha rebeldia
Que você admirava
Cego

Você pregou as minhas mãos no asfalto
E disse:
"Voe alto"
Enquanto você descia

Me dizia sobre como queria
Ter o meu bendito útero
"Ah, que lindo"
Idealizava, burro
Convencido

Você não fazia ideia,
E ainda não faz,
Do tamanho da dor do parto
E das minhas noites mal dormidas
E do silêncio do meu quarto
Rodeado de você

E é isso todo dia
Você não entendia antes,
Não entende agora.
Você sempre mentiu sobre quem eu era
Pra você mesmo, pro espelho
Pra deus, e sei lá mais pra quem

Você amou a minha irreverência explícita
E me humilhou, ignorou, abandonou
Como se eu não ligasse
E eu ligava
E isso te deu ódio
Porque você era uma farsa

E eu era uma farsa pra você

E você me adorou,
Me masturbou a alma,
Me iludiu,
Me fez de um trapo colorido
Pra limpar o resto de gelatina da mesa

Você sempre tinha certeza
Do que era o certo a se fazer
E eu estava errada
Quase sempre só porque eu não sabia

Você me recriou e me partiu ao meio
Dois corpos gordos no meio da estrada
Estirados
E era tudo tão feio quando
você gostava quanto quando
você não me dava bola

Você fez o que bem quis
E ainda espera algo de mim
                    que eu não tenho
Eu acabei de te conhecer
Foi ontem, e você era magro,
Impessoal e indomável

E você fez mais uma metamorfose tosca
Eu sempre aprendo contigo, todo dia
Você é sempre tão estranho
Tentando me matar todas as vezes

Eu quero te torturar dessa vez
Te desenhar a pele toda
Calar a tua boca maldita
E revistar o teu avesso, pra ver se sobra algo de bom

Será que você vai mesmo continuar destruindo tudo?
E eu, será que continuo te adorando
a três planetas de distância e de frieza?

Não há desespero que te cure menino
Talvez a morte te devolva a ti mesmo
E talvez a felicidade te roube de mim

E se for, vá.
Não fique, não amole, não esfole.
Seja como for não me obrigue a ser você de novo.
Doi.
Doi que você seja quem é
E que eu seja quem sou.

domingo, 4 de janeiro de 2015

2015

• Fazer uma tatuagem de elefante pequena e simples no centro da bacia
• Ler o livro A menina que não sabia ler - vol. 2
• Ler o livro Dias perfeitos
• Continuar com o Destrua este diário
• Visitar o moço no dia 11 de janeiro, me divertir e fazer com que corra tudo bem.
• Usar drogas.
• Realmente me dedicar à faculdade de psicologia.
• Fazer um curso de pintura.
• Fazer um curso de teatro.
• Voltar a me dedicar à terapia com a psicóloga (fielmente).
• Estabelecer novos círculos sociais.
• Conseguir um novo parceiro sexual (ou mais).
• Amadurecer (um pouco).
• Recuperar o equilíbrio e controle da alternância entre estabilidade e instabilidade.
• Manter o blog.
• Manter um diário (comprar novo, planejar, etc).
• Manter a crença na felicidade e na estabilidade iluminada (mesmo em momentos de crise).
• Não desistir de tudo, ou voltar a cogitar suicídio.

Lista

O twitter é a terra do nunca.
A depressão é a caixa de pandora.
A margarida é a felicidade.
A borboleta é o suicídio (a liberdade).
O mar é você (o caos).
O girassol é um menino estranho.
A dionaea é uma planta carnívora que me representa.
Os urubus são a rebeldia inofensiva.
Escrever é algo que eu não explico mais.
Ser lida pra mim é sempre uma mentira.
A verdade é importante.
Eu quero um amor de verdade.
Não gosto de bebidas alcoólicas.
Quase nunca tenho vontade de fumar.
Não sei direito o que é sexo.
Tenho uma grande vontade de me drogar (porque tenho esperança).
Eu não quero me matar.
Eu não quero ficar sozinha.
Eu sou solitária e me entedio fácil.
Decidi fazer psicologia porque acho interessante.
Tenho medo e não quero trabalhar.
Tenho a intenção de ser psicóloga pediátrica (?).
Gosto de me meter no relacionamento dos outros.
Faço competições internas com todos à minha volta.
Crio realidades paralelas.
Tenho hipocondria psiquiátrica.
Gosto de listar coisas, mas mentalmente.
Tenho uma preguiça muito grande.
Sou conformista.
Mudo minhas vontades para não ter que realizá-las.
Já cansei de fazer essa lista sem propósito.
É só um lembrete, e eu não tenho um título.
Vou chamar de lista.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Ao Diabo

  Mata-me.
 
  Mata-me, para que eu não mais possa apaixonar-me por ti. Por teus cílios e pelo desenho da sustentação de sua coluna, curva.
  Mata-me para que eu não mais tenha a dolorosa liberdade de reescrever-te em mil formas. Minha pele encontra-se gasta, de tão arranhada por teus olhos. E como doi.

  Devora-me de uma vez. Digere-me. Para que eu possa enfim desatar-me desta farsa, onde tu finges que me toca enquanto delicio-me de ar.
  Mata-me, amor. Para que eu não mais pinte quadros, para que eu possa me livrar da arrogância de desejar-te - em parte - só a meu sabor.
  E para não mais beber, ou debulhar-me em sonhos, ou acordar vazia. Faça-o porque disseste que me amas. E também porque mentiste para mim.
  Mata-me, porque é tua a responsabilidade do tanto que eu sofro desde que me impuseste a vida.

  Se me tens respeito, se me consideras digna do teu teatro.
  Pega a tua faca cega, com que me castiga em teus breves intervalos, e mata-me.
  Não me importa se a tua preferência é reclinada à garganta, ou aos pulmões. Se preferires, estaca-me o peito.
  Ou busca a tua corda, amor. Faz como for do teu requintado gosto. Peculiar.
  Mas mata-me.
  E não te demores, se não o faço eu.