terça-feira, 25 de julho de 2017

Cigarros na quitanda

Eu fumo, eu bebo
Eu só não consigo,
Eu não percebo
Que perder você foi o melhor pra mim.
Eu sou exatamente
Quem eu queria ter sido.
Não quem quiseram que eu fosse,
Quem eu queria ter sido.
Mas eu não posso escolher
Quem vai estar comigo,
Não mais,
Você não.
Eu trepo, eu canto,
Eu pinto quadros e vivo,
Ainda em um universo só meu,
Ainda completamente só.
E não doi tanto, não agora,
Mas se me olho no espelho
Eu me pergunto:
Por que não com ele?
Por que com ele?
Com quem mais?
Eu fumo, eu bebo,
De um jeito diferente
Do que costumo encontrar.
Sou outra pessoa,
Estranha e singular.
Pode soar arrogante,
Eu tento fugir disso,
Mas não tem sentido,
Eu sou apenas essa,
Que queria ter sido.
Não mais sua,
Apenas viva, existindo,
Falando alto e seguindo,
Apenas eu.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Sépia

Te dei tudo que eu podia
Tudo que eu tinha
Tudo que cabia em mim.
As coisas ruins
Que eu não queria mais,
Todas as pessoas que eu seria,
Tudo que eu sabia,
Eu dei pra você.

Minhas informações guardadas,
As mais secretas, os medos,
Os apegos desesperados,
Meus desenhos e desejos
Bem guardados,
Eu dei tudo pra você.

Eu te dei o que você
Não queria ter.
O que nunca pediu,
Sequer teve vontade,
O que não agradava a sua vaidade,
O que agradava também,
O que moldava o teu ego.

Eu te dei amor,
E te dei dor,
E guardei rancor
Porque foi o que sobrou
Pra encaixotar.

Eu te dei tudo que eu tinha
A ponto de não conseguir mais
Me encontrar,
Ou te ligar,
Ou sequer te conhecer.
Eu não sei nada sobre você.

Eu te dei quase todos os textos que eu tinha,
As minhas palavras, as sílabas, as letras,
Quase que não me resta nada,
Quase que eu me esqueço que eu escrevo,
Fico sem nome, sem tripas,
Sem ter sobre o quê,
Sem poder.

Eu não sei mais dizer o que aconteceu
Eu não me lembro, eu não existo,
Eu desapareço e viro pó.

Mas você escreve sobre mim,
Pra eu tentar descobrir talvez
O que foi que eu te dei, afinal.
Mas com desleixo tal,
Com tamanho desgosto,
Que já te esqueço o rosto
E o meu
E se não tivesse guardadas nossas fotos
Seria como se nunca tivéssemos
Nos conhecido.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

More than solitude

Gimme some kind of redemption
I miss my bed and my blanket
Lemme breathe
Lemme be

I can't write anymore
I can't draw
And I can't fuck
I have no luck left
All I had I put on this one thing
I hope it works
Please make it work

I am so scared
Trying to relax
But how do I get my calm back
Without letting everything get ruined?

It will be fine
It will be fine
You're not a bad person, kid
Go back to your blanket and bed

domingo, 9 de julho de 2017

Sereia

Não sei se quando o sono goteja
Lasca parte de mim,
Deixa um espaço
Me falta um pedaço,
Alguém pra rir comigo na calçada
Pra ser errada comigo
Pra esperar o dia amanhecer.
Eu ando sozinha na rua
Parece que estou nua
Parece que não tenho mais
Motivo para rir
Nem os cachorros saltitantes,
Nem os cabelos ao vento,
Nenhum intento restante
De buscar alguma alegria além.
Um casaco esquecido num canto,
Um filme em câmera lenta,
A morte de um dia ou talvez
Talvez seja apenas sono.
Você segue o seu caminho,
Ainda moramos perto,
Ainda temos sentido,
Se é que isso é possível,
Eu te amo de um jeito qualquer,
Desleixado,
Com areia no sapato e intimidade,
Como tivesse acabado de te conhecer.

domingo, 2 de julho de 2017

Restos, ossos, pó

Como eu te tiro de mim?
Como eu me tiro de mim?
Me dou um tiro, talvez?
Me atiro do alto outra vez?
Carregada do medo de ser
E embalada por este texto medíocre
Que eu fiz pra você
E como se eu tivesse nascido
E permanecido viva
Até este instante
Só pra te conhecer,
Agora que eu não te amo,
Eu quero morrer.
Eu peço que me deixe ir,
Mas peço pra mim, que você já deixou
E devia ter deixado,
E devia ter me deixado, e desamado,
E me esquecido também.
Você devia ter ido,
Mas ainda tá aqui, dentro de mim
E ainda me tem.
Nunca poderia, pois se não há mais amor
O que seria?
O que pode ser este peso do vazio
Que arrasto,
Joelhos falseando
E voz condenada
Pelas pragas que tenho me jogado
Pela vontade que tive
De te ter.
O que posso ser?
Ainda, se não tua,
Se não tua tinker nua,
Se não tua
E de mais ninguém?
Como te mato,
Psicopata sádica,
Bruxa, qual feitiço rogo
Pra te esquecer pra sempre?
Como sigo em frente?
Não sei o que fazer com o pó que me mora,
Não sei o que fazer contigo,
Morto em mim.
Te dou um tiro?
Te atiro num lago fundo?
Te tiro de mim,
Tirando a minha própria vida?
Ou será que isso nunca vai ter fim?