quinta-feira, 30 de abril de 2015

Meia azul

Hoje o dia está frio,
Pedindo uma cachaça
E uns cigarros.
Eu continuo pensando em você.
Não sei mais fazer outra coisa.
Só consigo pensar em
Entornar aquela garrafa
Que eu escondi em oferenda
Ao tu que existe em mim.
Hoje, eu sinto sua falta,
Como se a despedida fosse
Real dessa vez.
Eu quero me despedir.
Eu tento falar pra todo mundo,
Mas não sei se alguém sabe.
Não sei se alguém entende.
Hoje é a noite perfeita
Para me matar.
E eu
Ainda te amo.
E eu talvez
O ame também.
Mas às vezes eu sei
Que tudo morre.
E saber já é
Um enorme motivo
Pra morrer também.
Hoje,
Os meus pés doem
Dentro das meias tristes
E dos sapatos apertados
Que vão perder o verniz.
Hoje, nessa noite
Que existe,
Como eu gostaria de existir,
Eu queria poder
Acreditar que você me ama.
Mas não é verdade,
Nunca foi.
Eu queria que
Todos os cigarros,
Todos os copos,
Todas as vozes,
Todos os cortes,
Queria que todas
As supostas verdades
Fossem reais.
Queria ter chance de sobreviver.
Mas não.
Eu vou morrer.
Com ou sem você
Eu vou morrer.

Numerologia

Março,
Sessenta e oito.
Tu chegaste
Me arrastando
Para o quarto.
Dois mil
E quinze.
O ano da
Euforia rasa.
Tu vieste
Do passado.
Vinte cigarros.
Quatorze traços
Vermelhos na
Minha tela.
Seiscentas
E setenta
E duas
Expectativas
Frustradas.
Você disse
Que me
Amava.
Cento e
Sessenta
Pessoas
Para quem
Eu disse não
Em tua
Homenagem.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Certezas

Você me traz um presságio de morte.
A nuvem negra no céu anuncia tempestade
Sobre o mar incansável que sou.
Tenho consciência da dor que me cabe
Enquanto gente,
Que existe e insiste em ter personalidade.
Você chega e anuncia que me ama
E toda a euforia, que se põe neblina
Entre a verdade e a essência,
Logo se esvai.
Não demora até que eu me desvende de novo.
Você me agarra com as tuas preces
E o tanto de tempo que leva até que eu me rasgue
É o tanto de tempo que eu preciso
Pra entender por que você doi.
Você me disse algo
A respeito de eu ter companhia
Enquanto tu não a tem.
Hoje eu declarei
Pra curandeira da minha aldeia
Que você é agora algo que ninguém mais é.
E que não sendo você,
Não há ninguém que valha a estadia.
Talvez você não perceba
O tamanho da solidão que me atinge.
Disse a ela que você é a minha certeza de demolição.
Você vai me matar, eu sei.
E vai doer mais do que me aliviar a resistência insossa.
Mas existe lá dentro esse impulso,
Que rege todas as coisas que me dizem respeito.
E apesar de eu precisar correr,
Eu acabo indo em direção a tu, abismo.
Tudo isso vai acabar me destruindo.
Eu digo a ela que te aceito,
Insisto e insisto nisso, como se me convencesse.
Sei que você não vai me salvar de nada,
Mas ainda quero estar aqui,
Como se eu fosse isso.
Como se eu fosse tua.

Recortar

Me corto.
Parece arranhão.
Lâmina desamolada.
Arranhão de gato.
Arde.
Começa o próximo dia 1.
Me pego pensando de novo
Na morte.
Devo me matar no dia 7.
Ou não.
Tenho vontade de dizer que te amo
Nas horas mais absurdas.
Você some,
Eu me preocupo.
Eu quero sumir também.
Não por vingança ou orgulho.
Não pra chamar atenção.
Porque eu me canso
De tanto falar com todo mundo.
Parece que não,
Pela minha compulsividade.
Mas às vezes eu só quero ficar só.
Preciso.
E me cortar com lâminas que realmente cortem.
E não ter medo do que vão pensar ou sentir.
Preciso me conhecer
E ser.
Sozinha.
Me agarro na coberta.
Precisamos de coisas parecidas.
Minha pele está toda colorida.
Não tirei a tinta.
Nem o sangue.
Já não sei o que te dizer a respeito.
Preciso ser áspera
E profunda
E vadia.
Preciso ser uma vadia masoquista.
Pra fazer sentido.
Liberdade,
Eu recitava .
Não era de amor que eu estava sempre falando.
Eu só preciso sentir.
Eu preciso sentir tudo.
Começando por você
Me rasgando os versos
Estúpidos.

terça-feira, 28 de abril de 2015

Reverso

Considero isso um retrocesso.
Considero isso correto.
Eu nunca teria coragem de te machucar por dentro.
Só por fora.
Esse é o certo.
Mas você vai embora.
Eu sei, eu sinto.
Nem eu me suporto,
Você vai sumir daqui.
Seja com ela ou com qualquer outra coisa.
Eu não acredito em nada.
Eu tô perdendo as minhas estruturas.
Odeio o estado de dúvida perene.

Sorveteria, cinema

Fale de sorvete
De morango ou chocolate
Escolha um de baunilha só pra variar
Eu entendo
Fale de cigarros
De álcool e nicotina
Me fale de dois traços vermelhos
Eu entendo
Me fale dos teus medos
Me fale da tua vontade de largar tudo
Me fale da tua corda e dos teus brinquedos
Me fale sobre como se parece com quem eu era
Eu entendo
Não me fale nada
Desapareça
Não atenda às minhas ligações
Não me responda quando eu pedir socorro
Eu vou entender, mesmo

Mas não diga que me ama
Não faz sentido
Eu no fundo não acredito em nada disso
Sei que você mente pra mim
E que esse amor não existe
Eu entendo o porquê de você mentir
E eu não suporto essa tristeza que eu reproduzo
De tempos em tempos
Não suporto que isso tudo seja assim

Você agora me arruma um motivo
Facilita tudo
Eu posso me matar por isso ou aquilo
Eu posso me matar por você
Mas não faz diferença
Todo mundo sabe que eu fico triste porque quero
Porque acredito mais em me matar
Do que em amar alguém

Aparece,
Diz que me ama,
Mente,
A gente troca umas brincadeiras
Que me deixam com medo
E tu vai comer o teu sorvete de baunilha.
Antes assim do que se matando.
Antes assim do que comigo sendo um monstro com você.

Feed

Acidenta-me, rima.
Que já não preciso escrever corretamente.
E o meu sentido repousa na tua ira.
Alimenta-me, louco.
Agora que já nomeei-te uma espécie de deus.
Tu fazes parte da minha fantasia mais antiga,
E como poderia?
Se és tão recente quanto pólvora espalhada depois do gatilho acionado.
E como poderia?
Se nunca cheguei a apertar o gatilho de fato.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Quem dera tivesse eu o dom de ser um desses mares que tu desbrava enquanto desaparece da minha vista.


Cobertor,

Deixa só agora eu abraçar você. Só um pouco. Não pra te salvar, mas pra desfazer um algo que existe no ar. Não sei. Queria te abraçar pra ter certeza. Queria... Poder te acariciar, sei lá. Tem alguma coisa estranha em tudo. Tem alguma coisa estranha no fato de eu não estar dormindo. Eu só penso em dormir. Acho que tudo está prestes a desandar. O tempo todo. Mas não quero, não posso, não vou. A depressão não é mais minha amiga. Eu quero ser feliz. Que droga. Eu não tô gostando de quem eu sou. Queria acordar com vontade de viver. Não sei o que eu faço. E não espero que você me diga. Só queria ter esperança um pouco nas coisas. Eu tenho umas ideias muito erradas. Sobre você, sobre mim, sobre tudo. Vejo tudo torto. Tô assustada. Desculpa pelas coisas que eu pensei. Eu vou ficar quietinha, bem quietinha. E tentar não precisar de ninguém.

Terceira oração

Um dia de cada vez
De verso em verso
Eu vou comendo você

De beijo em beijo (perdido)
Eu aprendo a ser tua
E talvez em breve
Eu não tema todas essas coisas
Que só existem na minha cabeça

De muro em muro derrubado
Eu vou te amando
Cada vez mais
E de pouco em pouco
Eu vou deixando
Tudo se acalmar

Não sei por que
a calma me incomoda

De gota em gota de chuva
O cansaço acaba vencendo
Mas na verdade
Eu pareço estar bem dessa vez

Não busco nada
Além do que está

Um copo d'água

Acho que eu preciso de um cigarro
Acho que eu preciso de você
Acho que eu preciso de um dia frio
E de um agasalho
Acho que eu preciso não saber
Acho que eu preciso de algumas noites vazias
Pra sentir como é que doi em mim
Quando eu existo
E quando eu não existo
Acho que eu preciso ficar só
Acho que eu preciso de um tempo
Pra olhar a natureza
E só pensar que eu gosto de você
Acho que tá na hora de me esvaziar
Mas lá pelas cinco horas eu vou te dar um oi
Como se fosse na casa da vizinha
Pedir uma xícara de açúcar
E aceitar um café

Que confusão

Me dá um beijo
Me dá uma foda
Eu não sei o que eu faço com esta vida
Quero 30 minutos de você
Aqui comigo
Deitado na minha cama
Dizendo que é aqui que você quer estar
E aí, tudo se resolve?
Será que isso?
Eu só queria estar acompanhada
Eu não sei como se faz
O que eu sempre quis fazer
Eu não sei
Como é que eu vou fazer parar
Esse sentimento incoerente
De ter tudo, tudo mesmo
E sentir um estranho vazio
O que falta?
Talvez seja tudo corpo
Corpo, corpo
E menos alma
Qual é o buraco onde a gente enfia
A alma pro corpo funcionar?
Quando você voltar
A gente conversa
E talvez eu passe a entender alguma coisa
Do que tá acontecendo comigo
Do que sempre acontece
Talvez eu precise de perigo
Eu espero que não,
Espero que dê tudo certo
Eu quero saber o que nós somos
Pra criar o caos em cima disso, talvez
Eu sou caótica
Então de onde vem esse marasmo?
Acho que eu não sei o que fazer
Comigo mesma
Talvez eu me enfie numa lata de lixo
Talvez eu durma

domingo, 26 de abril de 2015

Acho que eu preciso de uma pausa.

Pronome

Uso o pronome tu apenas por tua causa. Porque tu é tu, e os outros são "você"s. Há algo aqui que me encanta profundamente. E às vezes me desespera. Eu sou um ser moldado em desespero, amor. É. Em amor também. Acho que o tanto que eu tenho medo é quase metade do tanto que te quero. Mas não sei como faço pra lidar com esse tanto de tanta coisa em mim. Eu fico agitada, viro a noite, começo a tremer o estômago. Ansiedade. Tudo pra mim passa tão depressa e depois tão devagar. Eu me preocupo com tudo, e tu parece sempre ter certeza. Pelo menos sobre mim. Tenho certeza que te amo hoje. Essa certeza tem me bastado pra querer viver. Tu és a minha vontade. Tu és o meu querer desenfreado. Tu és o tu do meu eu te amo.

Amyr Klink

Acho bonita a solidão das pessoas. Acho bonita a tua. Desculpe a minha incoerência. No fundo, entendo que seja isso. Sempre me imagino naquela casa, enquanto tu desaparece no mundo com teu trailer. Eu pintando meus quadros, tratando meus pacientes. Enquanto espero o teu retorno. Eu estarei sempre te esperando, se tu me disser que volta. Eu preciso saber que tu sempre vai voltar. Talvez eu não saiba ainda. Mas eu sei que sou capaz de estar sempre ali pra ti. E sei que quero isso. Eu quero você. Quero ter toda a paciência do mundo contigo, para que tu possa ser tu e apenas tu. Porque assim te amo.
Há certas coisas que eu te digo não te dizendo. Há certas coisas que eu sei que tu não entende. Mas nada disso tem muita importância quando eu estou contigo. E estar contigo é um estar que não existe em mais ninguém. Só em tu. Gosto disso.
Vejo em nós vinte futuros possíveis. Trinta. Trinta e cinco. Tu torna qualquer projeção tão abstrata que tudo às vezes parece o caos. Eu gosto da maneira como você me torna um caos. Amo a tua complexidade. Amo você.
Vá e volte quantas vezes for necessário. Leve meu coração contigo.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Absence, absence, absence

Você é tão ocupado
Com as suas crises e os seus problemas
Decisões importantes, noites de sono,
Estudos, cigarros e copos cheios
Você é tão arisco e tão despreocupado comigo
Você some e precisa fazer isso ou aquilo
E eu fico aqui, sozinha o tempo todo
Não é culpa sua,
Não é responsabilidade sua,
Você não tem que estar aqui
Só porque eu quero
Porque eu preciso
Não importa pra você
Não importa
Vai embora vai embora
Eu quero morrer
Não fala comigo aos poucos
Diz que me odeia e vai embora de uma vez
Eu só queria
Precisava de ajuda
Precisava que alguém me amasse
Pra eu não precisar chorar e cortar os pulsos
A melhor coisa que você sabe fazer é sumir
Então torna isso definitivo
Diz que eu devia me matar se tu se importa o mínimo
Diz que eu devia me matar pra eu não sentir culpa
Quando eu decidir ir embora de mim

Suicídio

Eu costumava fingir que eu me matava
Eu sempre me debruçava em janelas altas,
Corria na frente dos carros em velocidade,
Deitava no meio da rua,
Cortava os meus pulsos,
tentando sempre ir mais fundo
Eu queria ficar perto da morte
Eu tomava comprimidos aos montes
Para ver fantasmas
Eu inventava sempre novas formas de morrer
E sentava perto de precipícios
Tinha muito medo de cair
Gostava disso
Eu sempre queria sentir que estava perto
Brincava de me suicidar
E era isso
Ninguém entendia,
Ninguém ligava,
E eu me acabava de rir naquela bobagem
Eu costumava treinar
Para que um dia eu tivesse coragem
De ir pro outro lado
E eu sinto saudades disso.

Tu não estás

Vontade de chorar
Saudade de você
Preciso estudar
E me virar
Preciso não
Te querer

Tu és a carne quando queima
Tu és o riso quando doi
Tu és o vazio quando falta
Tu és tudo aquilo que eu não sou
E de que eu tenho medo

Tu és o absurdo que eu busco no mundo
Tu és as noites que eu passei em claro
Tu és meu acordar aflito de ausência
Tu és metade de toda a minha incoerência

Tu és o tropegar dos meus cigarros no cimento
Tu és a minha bebida vomitada de lamento
Tu és a minha falta de rima
E o meu rimar acidental

Tu és o tremer do estômago quando te ligo
Tu és o sussurro frio quando não atende
Tu és o ar distante do meu respirar
Quando tu some súbito, sem me explicar
O que aconteceu

Tu és tanto a minha despedida hoje
Quanto meu retorno amanhã
Tu és o meu apaixonar insano
E a minha vontade de esconder
A minha vontade de você

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Desamor

Deixe que morra o braço
E também as letras
Deixe que morra o traço
Das linhas pretas
E que morra o pedaço
Mas também o todo
Deixe que morra o cansaço
Que também é lodo

Deixa que me afete a face
A tua partida
Deixa que me tire a classe
Esta ferida
Deixa que me rasgue a pele
No lugar da seda
Deixa que aqui se revele
A minha essência azeda

Deixa, que desfaz o berro
O dia-a-dia
Deixa, que não mais espero
A tua crença fria

Deixa, que eu não mais peço
A tua permissão
Deixa, que hoje eu me despeço
E vou em vão

Ninguém é obrigado
A aceitar o meu
Amor guela
Abaixo

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Atrofia

Quando você some, tudo se cala
No silêncio, todas as verdades desaparecem
Você não surge pela manhã ou pelo anoitecer
Você não surge durante a madrugada
Acena distante, deixa um único verso no ar
E aí é vento, que mal me toca a pele

A tua ausência me esvazia a vida
Não achei que quisesse muito
Só companhia
Só não estar só

Perdoa a minha fraqueza de margarida
Despetalo, desmancho, me escondo
Me enterro e fico esperando

Não tento
Não anseio
Não mando beijos
Me encolho por não alcançar o sol

sábado, 18 de abril de 2015

Corpo vazio

Aparece, infeliz
Recita o teu musical
Na minha orelha
(Enquanto me fode)

Recita os teus versos
Desesperados
Com a língua quente
Entre as minhas
Coxas gordas

Me estraga, menino
Me ama
Me leva pra tua cama
Me acaba
De tanto me fazer ser
Me arranca o som
Do espírito

Volta, me busca
Que eu ando aflita
Com essa tua ausência

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Chaotic two, collar

Me algemo hoje
Em tua homenagem.
Amanhã me liberto,
Minha liberdade acaba sendo tua.
Chaotic two,
A gente se entende na incoerência.
Nossas insaciedades nos devoram
E há beleza nisso.
Acho que se eu tivesse na boca
O teu gosto de vodca barata,
Eu poderia te mostrar
Através das minhas digitais
O caminho da satisfação.
Queria que tu gozasse o mesmo gozo que eu.
Talvez não seja nas algemas que eu vá conseguir isso.
Mas e se for?
Eu posso tentar?
Me amarro hoje à tua vontade.
Te amo.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Não só hoje,
Eu quero te amar agora.
Eu quero te amar sempre.

Today

Monstro da insaciedade

Fiz um corte bem fundo.
Queria te contar,
Mas não o fiz contigo,
Nem para ti.
E, no fim das contas,
É só isso que importa.
Não é mesmo?
Você não teria gostado,
Foi na coxa.
Mas pensei em ti
Enquanto fazia.
E como poderia
Não pensar
Se penso em ti em quase
Todas as horas do meu dia?
Não conheço a tua saciedadae
Entendo.
Queria conhecê-la
Nem que fosse preciso
Te doar cada pedaço
Do meu corpo
E até da minha alma.
Eu te entregaria tudo
De bom grado
Para te ver
Finalmente
Saciado.
Vejo
Que a insaciedade que me mora
É a mesma que te habita,
Exceto talvez pela
Quase certeza que eu tenho
De que és tu meu alimento.
Há um elfo
Me soprando a orelha.
Sussurra:
É ele
Que tu deves devorar.

Tento controlar meu apetite.
Estou faminta a todo momento.
Quero você, quero você comigo.
Quero-te em mim.
Tomo uns dois comprimidos reguladores.
Diminui ansiedade e causa náuseas.
Devo aguentar todos os dias sem amor.
Talvez a dor ajude.
Dizem que devemos beber bastante água.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Querido?

O que é respeito pra você?
E o que é liberdade?
Como é que você faz para sentir amor?
Onde tu mora, hóspede?
Onde te encontro?
Quando?
Como é que eu faço pra te ter sempre aqui?

Não faz sentido

É provável que ninguém entenda
Quando virem a felicidade estampada no rosto
E os cortes imprudentes no braço esquerdo.
Hoje eu coloquei a meia azul
Porque de alguma forma queria representar tristeza.
Vestir a própria.
Tem dias que eu insisto em morrer.
Ontem foi um deles.
Queria te contar que eu saí de casa,
Que estou com a bunda roxa,
Que gastei quarenta e cinco reais numa garrafa de vodca
E só bebi dois goles.
Mas a sua tristeza sempre faz mais sentido que a minha.
Desculpa se insisto tanto nas coisas
E se peço desculpas demais.

Manhã, café, cigarros

Um cigarro, um café e uma briga.
Do que mais eu preciso para começar o dia bem?
Ainda tento acertar a minha dose certa de você.
É provável que eu precise tirar algumas madrugadas da conta.
Você tem destruído totalmente o meu fusorário.
Mas eu já ganhei uns trinta textos por sua causa.
Obrigada.
Você tem sido prioridade.
E deve ser nos meus pensamentos, mas não nos meus hábitos.
Preciso te encaixar corretamente.
Eu gosto quando as coisas existem.
Pode ser que não faça sentido pra você.
Eu sempre aturo mais coisas do que me considero capaz.
Eu te amo e preciso dizer isso nesse texto também.

Liberty, forehead

Quando tu te tornas livre,
Eu me torno escrava.
Chamei-te liberdade,
E cantarolei a tua canção de guerra.
Mas para haver liberdade,
É preciso antes haver justiça.
E não há democracia quando se trata de eu e tu.

Deveríamos antes,
Ser nós dois.
Uma dupla dinâmica,
Uma dupla capaz de grandes feitos.
Mas somos ainda, dois,
Feitos um a um.
Pessoas separadas,
Cada um com um caminho traçado pelo destino.
Estamos apenas na esquina da vida,
Conversando.

E eu queria que o teu sussurro
Ecoasse pra sempre dentro de mim.
Mas não há memória que resista
À solidão que o tempo traz.

Tu ainda és liberdade,
Mas não minha.
Nem de mais ninguém.
Tua liberdade é tua,
E somente tua.
Respeito isso.
Faz parte do teu pacote que eu tanto amo.

Não me doi menos pensar na tua partida diária.
Uma parte de mim te mata todos os dias
Só pra se apaixonar outra vez.

Aceito a minha tristeza,
Que é quase certo,
Tu não vais entender.
Aceito essa incoerência minha
De acreditar no amor,
Mas não na sua duração.
Aceito que meu amor por ti
Ainda me more,
Mesmo que tu parta.
Tento evitar que tudo desabe,
Mas não posso nem tentar
Diminuir o tanto que tu és
Dentro de mim.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Zorro

Tela em branco,
Preciso ser pintada.
Sou dor, só dor,
Quando me mora a satisfação.

Desenha em mim
O teu desejo mais mórbido.
Rabisca na minha vontade
A tua prece de morte.
E se eu me deito
No meio da rua escura,
É a ela que eu pertenço.
Não a você.

Deixo que seja tua a minha euforia
Por uma ou duas noites,
Por metade das noites do meu ano.
Deixo que seja tua a minha alegria.
Dessa vez verdade, servida no prato.
Torno-me tua margarida.

Alma venenosa essa que eu tenho.
Mas sempre boas intenções,
As de te ter comigo.
Espero que entenda
E espero que me pinte.

Faço-me tua hoje, na tua ausência.
Faço-me alegre sempre,
Em tua companhia.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Pirralha

Minha boca pertence ao teu cigarro
Como a tua noite me pertence
Como teus cabelos pertencem às minhas coxas
Como a minha devoção te pertence
E a tua castidade à minha desgraça

Um cigarro apenas, mas todas as noites
Todos os amores e todas as vontades
A nossa liberdade nos pertence
E a nossa Gaia pertence a esta verdade

E tudo que parte de mim
E de você
Acaba no mesmo lugar
Depósito de caos e amor
Paraíso

Cocaína 2

Tiro o vicio de um
Passo pra outro
Tu me beija com a tua desgraça
Contagiosa
Puta, passo para todo mundo
A vontade de ser feliz
Ou pular de um prédio
Hoje eu amo
E amanhã eu peço socorro
Fumo um cigarro
Incentivo
Colaboro
Quero te sentir, naturalmente
Químico
Tu me toca na manga da minha blusa
Preta
Me sinto selvagem
Faço aquilo tudo porque há
Gosto
Cocaína alternativa
Colorida
Tu brilha na minha carne
Perdura,
Perfura,
Rasga,
Satisfaz

Genuína

Quão doentio é,
Quão doentios somos,
Se aceitarmos a imagem da infância
e do sangue?
Quanto que te amo
Se fores o medo, mas também o gozo
Quanto que te amo
Se tu fores amor, mas também a morte
É o tanto que te amo
Quando repartimos a carne
Tu atiças a minha alma
Espírito negro,
Espírito em brasa
Tu tornas genuína a existência
Pões o dedo em tudo que sinto
Eu sou,
Porque tu estás aqui

domingo, 12 de abril de 2015

Id

Eu vou na tua casa,
Eu trepo contigo meramente porque eu preciso
Eu quero ser amada
Eu quero gozar bem forte
Eu quero não ter medo de sentir a dor de dentro
Enquanto tu me causa os hematomas
E eu me acabo de rir na tua cama
O frio, a vida, é tudo muito bom
Porque é outro mundo
No teu quarto, com os teus cachorros, em dia de chuva
Eu vou te visitar é tudo fica bem
Porque tu me atenta, me machuca e me acaricia
Eu nunca odiaria isso
E o vazio ainda existe
Mas eu volto na tua casa essa semana
Eu preciso de ajuda
Eu preciso de sexo
Eu preciso de dor
Eu preciso relaxar de verdade
Sentir as coisas mais simples

Bois

Gosto do cheiro da minha vagina
Quando não há nenhum outro consolo
Gosto da maneira que ele me bate nos dias gélidos
Gosto da mão que me esfola
A dor vale muito mais que o teu carinho
Por maior que seja o meu agrado
É no sexo que eu me abrigo em dias tristes
O sufocamento da carne compulsiva
Ofuscando a minha tristeza tão genuína
Eu preciso correr das tuas garras
Antes que me doa a falta imensa
Antes que me canse a desesperança
Eu preciso resgatar o meu refúgio da depressão
Não precisar de ti para sentir
Mas os bois são sempre nomeados
Quem não tem nome não existe
E ponho teu nome em tudo que me atinge
Meteoro que me mata a solidão
O que eu chamo de tu nunca é tu
Eu só quero conseguir manter o equilibrio

Esperança e farsa

A vista aqui tá tão bonita, mas tudo que eu queria era estar encostada numa árvore qualquer beijando a tua boca. Com as mãos geladas nas tuas costas,  me esquentando na tua pele. Eu queria a luz da noite na gente. Peço aos duendes que me deixem ser feliz por hoje, que me deixem amar você sem medo. É cada vez mais difícil pra mim sentir amor desse jeito. Eu pagaria por todos os seus cigarros, venderia meu corpo na esquina. Só pra... sentir isso. Só para ter essa esperança. Vontade de viver. Vontade de te ter comigo. Tu me liberta, querido, me liberta de mim.

Liberty

[...]
On all the flesh that says yes
On the forehead of my friends
On every hand held out
I write your name
[...]
Liberty.
                                         Paul Éluard

Caixote

Tomei um coquetel de água salgada
E areia.
Desceu pela garganta
O susto,
O afogamento
Afobado.
E o desespero me embrulhou o estômago
Pra viagem.

Pacote,
Caixote.
Havia tanto caos em dez segundos
Que o tempo não mais contava
As vezes que eu girava
Debaixo d'água.
Iemanjá,
Chamava.
Nada de resposta,
Apenas tentativas.
E era isso,
O girar e girar da vida
Para todos os lados,
No mesmo lugar.

O pavor que o mar trazia
Era emoção.
Era sentido,
Adrenalina,
Gosto.
E a coragem estúpida
De entrar no medo
Sempre havia de superar
A decepção.

sábado, 11 de abril de 2015

Absence

Nossa doçura é ridícula.
Me acabo de rir nos teus braços
Feito criança quando a gente brinca.
Te amo.

Te amar também é ser ridícula.

Seja sempre o nosso momento.
Curto, porém infinito.
A minha injeção de óleo,
Que doi,
Doi muito, mas cura .

Tu cura a minha ausência,
Preenche as minhas veias
E nada nos meus pulmões.
Tu desfaz os nadas na minha nuca,
Mão.

Absence, cheri,
Absence.
Tu es ce que j'aime dans la vie.

Antes que sentencio

Te fumo, fumo, fumo.
Fumo teu pau,
Fumo o teu cabelo.
Consumo a tua alma,
Desespero.
Em tudo que eu amo há tristeza.
Há caos,
Mas aquele que eu reconheço.
Me agarras quando a noite chega.
Sou tua, tua.
E o que me aperta no mundo é bom.
As tuas mentiras se entranham na minha crença,
Esperança.
É tudo que tenho.
Não,
Não importa.
Os dedos que me tapam os olhos,
Me masturbam por dentro.
Tu com estas palavras
Me devastas o pranto.
Tens ideia do poder de guerra que elas carregam?
Tens a liberdade de ser Deus,
Quando te cabem os versos já conhecidos
Mas reclusos.
Deixo que me arrastem todos.
O cristal no sapato da moça,
O casal de irmãos que bebe água,
E mesmo aquele estranho que discorda tanto sem me conhecer.

Tudo que gira agrada
A minha espera por outros dias,
Em que o corpo possa tocar a minha vontade.
Tu torna-te açúcar
Nicotinado,
Que me dopa os dias,
Me tira o sono
E afasta a morte.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Morde e assopra

Não me diga o que comer
Não me diga pra parar com a coca-cola
Não me diga que a minha fome não demora
Ou que leva muito tempo

Não me amarra ou me prende no teu conceito
Que o meu gosto é sempre meu, por direito

Não tenta, não insiste que vai me mudar
Não me pede pra parar de te adorar
Não fala dos meus vícios,
Da minha cerveja e dos cigarros
Nem dos tais jarros de flores
Que eu modelo, que eu decoro
Pra depois ja ir quebrar.

Se preocupa com meu apetite sexual
Com a carência do meu pescoço
Se preocupa com meu dia a dia insosso
Me morde quando eu pedir
Te beijo quando precisar

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Jardim

Tem tantas pessoas cujo destino me importa,
Tantos cabelos que imploram para serem tocados
E tantas declarações compulsórias,
Cansaços profundos,
Amores rasos.
Há tantas ramificações nos caminhos novos
Que eu tento percorrer embriagada.
Há corpos e tempos diferentes, dessincronias, linguagens e dialetos.
Há medos que não sabem de onde partir,
Assim como é a minha identidade,
Ou para onde ir.
Tontos os medos,
Tontos os desesperos de vontades.
Me agarro no cais desmerecido
E é tudo de que eu preciso
Uma verdade branda, um choro,
Uma ajuda vinda do fora que já existe,
Templo.
Sou o caos que eu prego,
Que recito, que pinto,
Que trepo.
E acaricio o feixe brando de luz que me goza.
O socorro mora em mim,
Mas há uma casa.
Uma marquise, qualquer coisa.
Pros dias de chuva, pra quando a gente não conhece.
Pra quando é melhor a cama do que
As aventuras do jardim.

Falta de euforia

Nos corações demasiadamente ocupados não cabe a euforia
De mim depende tudo
Nos versos, nos apelos, nos decretos
Não há sentido senão a ocupação
Ocupo-te
Ocupa-me
Somos sempre tão preenchidos que não resta tempo para buscar o que não é nosso
Escrevo
Toda vez que saio de um novo encontro comigo mesma
Escondo-me
No meu suposto amor pela tua pessoa
Que bloqueia todo o resto
Não cabe ela
Ela bate por fora mas não por dentro
Não entende o desavesso que é encontrar alguém de si na frente
Não entende
Não gosta
Não é

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Happy

Felicidade falsa derramada nos cabelos

Balança no vento
Espalha
Suja tudo

Felicidade falsa
Não apaga o meu desgosto de dentro

Minha esperança não é fé
É duvidar
Da certeza de que eu vou morrer

É remoção

terça-feira, 7 de abril de 2015

Pincelada

Para pintar:
Abro um dicionário,
Escolho com o dedo, olhos fechados,
A palavra.
Tiro uma ou duas letras,
Embaralho.
Por vezes adiciono alguma coisa.
Um acento, um til,
Uma contradição.

Pinto.
O pincel é pra espalhar a minha desgraça.
E esconder o sentimento organizado,
Que paira sob a pele da bagunça.

Quando criança, eu costumava
Perguntar sempre as palavras,
Não os significados.
O sentido eu já tinha,
Faltava o nome.

Eu pedia que me dissessem
A palavra certa
Pra explicar aquilo
Que só eu tinha.
"Não existe",
Me diziam.

Aprendi que nós criamos
O sentido em cima da palavra.
Faço a minha desconstrução produtiva
Crio,
Lambuzo a tela de mim,
Pra ninguém entender mesmo.
Só sentir.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Tinta vermelha

O que vale mais, afinal?
A durabilidade da pintura
Ou a durabilidade do meu estado de espírito?

Vale mais a tinta ou o papelão?
Vale mais o dinheiro gasto ou
O dia a menos de melancolia?

O quê merece mais?
A menina,
O urubu
Ou a flor?

Os três olhos são vermelhos .

Na verdade, cinco.
Eu sempre pinto os olhos de vermelho.
Por quê?

Por que não há quadros sem a cor vermelha?
Por que
O amor
Não existe
Se não
Doer?

Bolo doce

Faço um bolo.

Lista de compras,
Essência de morango,
Chocolate,
Gel Óleo,
Para modelar o verso,
Tinta,
Só que transparente,
Anilina
Pra fazer algum sentido,
Vermelha,
Dizem,
Cores quentes
Aumentam o apetite.

E do apontador
Ninguém sabe
Qual é a finalidade.
Seria pra apontar o lápis?
Mas a receita eu tenho de cabeça.

Sobram estrelas,
Fica o pacote, que importa.
Qual é o segredo que explica
Essa nova doçura pra visita?

Há um quadro que não voa na parede.
E ninguém entende a sua estranha forma.

Faço um bolo e então agarro bem a massa.
Enfio os dedos bem fundo,
Como se doesse a alma.
Como se eu me visse escorrendo pelos cantos.

Me cubro toda de calda,
Para cobrir também o estorvo.
Confeito o resultado
Com esperança,
Picadinha,
Ralada,
Fácil de engolir.

domingo, 5 de abril de 2015

Cores

Vamos falar sobre as três cores primárias.
Vermelho,
Amarelo,
Azul.

Não importa muito o fato de ninguém estar me lendo,
Branco.

Eu sou a junção dessas três cores e suas derivações,
Preto.

Há metáforas que nascem para esconder uma verdade,
Há verdades que precisam ser criadas em cativeiro.

Três é o meu número da sorte.
Hei de pintar um quadro em homenagem
Ao meu número preferido.
Uma metáfora visual e literal.

Metalinguagem.
Um quadro,
Que possui cores,
E as cores são palavras,
Que são pessoas
Com nome de cores.

Vinho.
Sépia.
Azul marinho.

Verde,
Roxo,
Laranja.

Quando eu abro as pernas para as minhas telas
E molho elas de diversas cores
É isso.
Eu me afogo no tecido virgem.
Me afogo na vadiagem de ser arco-íris.

sábado, 4 de abril de 2015

Florifilia

Sois pétala, folha e espinho.
Sou puta.
Pudera eu ser terra
Para prover à flor seus nutrientes.

Cinco minutos aqui

Se eu te dissesse
"Aqui",
Tu acharias longe
E começaria a morte de nossa conversa.

Eu digo aqui,
E enquanto a conversa morre,
Eu resolvo te escrever
Alguma coisa que valha
Os cinco minutos perdidos.
Cinco minutos hoje em dia é uma eternidade.

Sobre a vida,
Não é só o amor e companhia,
Não é só saber o que fazer ou ter motivo,
Não é só ocupar-se através do tempo
(que nunca sabe passar direito, no ritmo do relógio).
A vida é o existir que você consegue se doar.
Seja em melancolia ou gozo,
Vindo de qualquer canto.
A vida, que a gente nunca escolhe aceitar de fato,
É resolver criar coisas
Sem razão alguma.
É aceitar a falta de razão nos fatos
E se permitir viver os imprevistos.

Sobre amor,
Nem sempre é tudo que a gente espera.
Há amor na padaria.
Há amor numa conversa tosca.
Amor não precisa ser aquela bendita falta de futuro.
Solidão não precisa ser o nosso nome.
Também há amor na falta de tato,
E em qualquer gesto que venha de um outro.
Não é preciso fugir de tudo que toca.
Não é preciso doer tudo que dá vontade.

Sobre morrer,
Mesmo que faça sentido sempre,
Não é útil à sobrevivência
Deixar que tal pensamento seja dono de todos os dias.
Há uma lógica por trás dessa aceitação,
Mas ela não te salva do incômodo rotineiro.
Busca guardar num vaso
E jogar terra por cima.
Planta alguma coisa que te distraia desse lado de ti.
Você sempre pode quebrar o vaso.

Não desiste.
Se o pranto não termina,
Ainda dá tempo
De querer a tua paz.
Se a conversa ainda não acaba,
Só mais cinco minutos
- outra eternidade -
Pra eu tentar mais uma vez.
Fica.
Eu te entendo em desgosto e falta.
Eu fico em silêncio se for necessário.

Cama

A minha cama tem o cheiro de todas as coisas.
Da fumaça que eu respiro no travesseiro,
Do orgasmo que eu tenho em tua homenagem.
A minha cama tem o aroma do brigadeiro
Que eu como pra conter a minha tristeza.
A minha cama tem o gosto
De toda lágrima derramada
E de toda risada que eu solto nos sonhos contigo.
A minha cama vê e reflete
Todos os males e liberdades
Do sono desgostoso e aflito.
A coberta dorme,
Me afoga em corpo,
Para que eu não mais sinta doerem os ossos.
Para que não me perturbem mais as enxaquecas.
Na minha cama
Dormem todos os mundos que sou
E que desejo
E os três homens que me fodem
Em noites alternadas.
Uma boa noite depende
De cobertas e de companhia.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

A água e o carvão

Eu tenho uma caixinha de cinzas
Com furo no teto,
Onde eu vejo tua luz.
Eu tenho uma vontade amena
De ajudar a todo mundo.
De passar o teu cabelo
Nas minhas coxas.
De passar meus dedos na tua tristeza,
De leve.
Eu tenho muitos apelos
Para te fazer
E muitos amores
Para te dar.
Eu sou o desespero por ar,
A queda diária das asas,
E as pétalas jogadas no chão.
Espero que não faça diferença
O que restou em mim
Das brasas.
Tomara que apenas esteja.
Que estejamos.
Se estivermos,
Qualquer dia pode valer
O levantar da cama pela manhã.

Porosidade

Enfia os dedos até
onde rasga a existência.
A ponta das unhas
Dilacera a alma
Que nada protege.
A violência que paira
No dentro do próprio
Desespero, mudo.
Se tem garras, há de usá-las
Nas ocasiões erradas.
Animal,
Com gaiola em falta.
Abstinência de alimentação
Regrada.
A liberdade está do lado errado.
Não adianta o frio
E o arrepio dos orgasmos,
Nem o alento
Das risadas infantis.
A virtualidade de tudo
Que não arranca fatias
Do ser
É um espinho
No peito do pé.
Mantém do lado esquerdo
Do espaço
Todo verso e também
Todo cansaço.
Não há jeito de curar
Essa porosidade
Que permite que escapem
As coisas boas do tempo.
Não há mais argumento
Para reclamar de toda a vida,
Buscar a fuga de todo dia.
Toda morte de mentira
Que inventa é pra salvar
Da ausência do amor
Que inventou também.
A essência de morango
E o sangue.
E o potinho barato
Que só vem com coisa dentro.
Tudo isso é parte de um todo
Que se fode,
Que implode
Pra deixar tudo no lugar certo.
E não doer,
E não doer.
Os tiros que não disparam,
Os gemidos que não gritaram,
A pele que se acostuma com
O tédio do machucado.
Essas são as coisas
Que cutucam o espírito
Que insiste em procurar
Mais um fracasso
Pra não desistir,
Mas sempre falhar.

Gira pra cá

Fico rindo quando falo contigo.
Me deito na minha calma
Quando te escuto.
Saltito, passeio, danço,
Quando tu me mostra coisas.
Poemas, medos, canções.
Agradeço quando você está.
Quando você existe.
Fica,
Fica aqui.
Fica pra sempre.
Eu gosto tanto de ti.
Eu fico sempre aqui, prometo.
Mesmo quando quero, não vou.
Não sei ir, como tu não sabe terminar poemas.
Eu tô sempre deitada num degrau de escada.
Esperando você querer florescer
Pra te mostrar o sol.
Não se magoe nunca
Quando eu disser que espero a tua vontade.
Entendo
Que nem sempre é tempo de gostar do vento.
Tento te dizer as coisas
Que às vezes saem erradas
(Nem sempre eu sei escrever).
Se quiser,
Se puder,
Venha me ver.
Me conta sobre as lagartas feias
E sobre os pássaros que só as sabem devorar.
Me conta das outras flores,
Das cores do céu quando o sol se põe ou nasce.
Me conta das estrelas que eu sempre me esqueço de contar.
Fala comigo,
Te ouço,
Sorrio,
Agradeço.

Chocolate de flor

Te entrego um pacotinho de atenção.
O pacote é pequeno, mas nele cabe muito de mim.
Tu és o borbulhar do meu brigadeiro,
E sempre vale a pena queimar a língua para te comer.
Te amo.
Difícil explicar
Sem falar do chocolate que melhora a vida.
Tu és chocolate e flor.
Tu és todas as coisas que me dão vontade de estar aqui.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Provisória

Uma noite vira com o mau
A outra com o bem
Continua sempre virando noites
A outra, a puta
A que só mora nos pensamentos impuros
Poderia oferecer-lhe um café
Ela se presta ao papel
Do que agrada o teu medo
Não há maldade na própria identidade
Apenas no momento que interpreta
Saltita, dilacera, morre e masturba
Seja a vida quem ela for no dia que for
A puta tira mais um pra sua dança
E se propõe a viver uma nova coisa
O acaso guarda as dicas
Para a felicidade provisória
Esta é a melhor maneira
Uma de dia, outra de noite,
E dorme a tarde inteira
Há tudo no mesmo pacote
Feito de carne, desejo e mutação

Tu, doce. Ele, incoerência.

Simbiose doce

Anestesia o meu caos
Gosto muito de ti
Me esqueço às vezes
Mas somos sempre risos
Te amo quando o sol se põe
Te empresto o meu peito
Dorme nele sempre que quiser
Te guardo te espero te cuido
Querido sou tua
Pra quando precisar
Não teme não enraivece
Que pode não parecer
Mas na verdade tudo que é pra ti
Me faz bem
Te faz bem também
Se forma a nossa simbiose da doçura

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Te fumo, tu me bebes, trepamos.

Ser teu cigarro e café

Deixa eu gozar na tua boca,
Só por hoje,
Deixa eu ser o teu café.
Deixa eu cuidar das tuas dores,
Sem te instigar a raiva
Que tu tanto descontas em mim.
Deixa a culpa de lado dessa vez.
Ora, vamos.
Eu sei que o teu tesão me assiste
Em cada palavra que respiras
Pelas mãos.
Essas tuas mãos que poderiam
Me calar os lábios mansos.
Tu poderias domar-me, quem sabe
Num próximo feriado.
Deixa que se esqueça a indiferença
Em tudo aquilo que deixou de ser escrito.
Deixe que eu seja tua. E seja meu.
Podemos dividir cigarros e corpos,
Eu posso sussurrar no teu ouvido
Que morreríamos juntos,
Com a mão bem no centro do teu ego.
Eu te faria juras de amor,
E esperaria que tu tremesse em meus braços.
Ah, querido. Por favor.
Não sejas tão assim.
Há tanto que poderia ser feito.
Se eu pudesse eu consumia a tua alma,
Junto ao teu falo insaciado.
Se eu pudesse, teria-te em meu colo
Toda noite a fingir que mentiras não existem.

Terapia do ódio pouco

Permita-me o benefício da dúvida.
Tu és desprezo e adoração.
E quando esfrias é quando fico quente.
Preciso dizer-te nãos com tal frequência.

Não alcanças a lógica falha dos meus atos.
Se amo-te hoje, mas apedrejo-te à noite,
Não há verso que justifique o meu pranto.
Porque choro, seja de raiva ou de encanto.
É sempre tu me atrapalhando o sono.

Beijo-te os pés malditos,
Enquanto tu me forças pela nuca.
Fico aflita na tua incoerência,
Porque de doce ela nada tem.

A paixão que me recitas nas noites
De lua cheia ou de ego baixo
Queima em fogo tão alto
Que mal dá tempo de aquecer já causou bolhas.

Se percebes a magia deste feito,
Decididamente não sabes aproveitá-la.
Insiste no arde-e-gela,
Queres que eu me descole da minha pele
Só pra tu ganhares uma camada extra.

Não encaixa o meu e o teu,
Independente do tanto que eu faça.
Parece que desejas
Estar sempre um passo à frente
E assim não ser tocado.

Queria beijar-te a alma,
Mas tu foges
De todas as maneiras que te cabem.
Paranoia:
Procuro-te onde não existes.
Procuro-te no meu caos.

Tu nadas lá pelo outro lado da ilha.
Seja lá quem for o santo na outra margem,
Tu não és ninguém daquilo que me contastes.
E mesmo assim espero-te,
Porque prefiro sempre duvidar a odiar a ti.

Isabel

Isabel acorda quase todo dia às sete e meia da manhã. Deveria acordar às sete.
Faz anos que Isabel não tenta se matar. Queria semana passada por causa de um amigo. Desistiu.
Isabel veste seu sutiã torto e pega o trem das oito e quinze, quatro vezes por semana. Quando não mata aula.
Isabel. Entra na sala e deixa de fora as suas verdades mal estruturadas.
Espera do amigo amor verdadeiro, mas não sai de casa nos fins de semana.
Foge da rua pra sentir um pouco de dor.
Se engana que está no lugar certo fazendo a coisa certa. Esconde tudo numa caixa e se enche de tinta acrílica.
Prefere tinta óleo.
Isabel passa muito tempo na cama. Só pensa em comer brigadeiro e querer colo.
Sorri para muitos estranhos. Tenta ser legal. Isabel acha isso certo, ser legal.
Isabel reclama da vida fielmente todos os dias. Especialmente nos feriados.
E só fala sobre como se sente tão sozinha o tempo todo.
Isabel.
Acha que a vida não melhora.
Não tolera a semelhança que seu mar tem com um lago. Sente-se poço.
Isabel sempre perde a própria identidade.
Nem mesmo se chama Isabel.
Isabel só existe dentro de si.

Leitora

Te dou meu intervalo.
Tu não sabe.
Gosto de ti.
Ignora.
Preciso de algo teu pra ler.
Se sabe, sobe à cabeça.

Dá pra deixar o quarto de lado
Só dessa vez?
Gosto das minhas roupas.
Posso distraidamente cravar minhas unhas em você?
É amor, eu juro.

Te derramo nas minhas folhas.
Te dedico minha serenata sem nome.
Não sei cantar ou recitar poemas.
Não há beleza em minha infanto-violência.

Faço tudo da maneira mais estranha.
Fico rindo, no meio da aula, da tua ausência.
Se tu falta, é porque existe em mim.
Não sei o que difere a tua distância da tua proximidade.

Leio teus apelos,
Me escondo no meu cinzeiro improvisado.
Não chove, não molha, não fode.
Não fala comigo.
Só escreve.
Pelo menos isso.