sábado, 26 de janeiro de 2019

Abandono

Me desculpe pelo chumbo que te dei
Eu já não aguentava
Meus pés estavam exaustos
Eu nunca quis te ferir os joelhos

Mas você me cedeu as mãos
Como pedindo por algo
E tudo que eu tinha era este peso
Este chumbo deformado
Para partilhar

Eu estive cansada
Por tantos anos
Bordando e pendurando
E ensacando minhas mentiras nas costas

Minha tentativa desesperada de
Ser amada
Receber afeto
Existir

E falseando gestos gentis
Pelos fios de cabelos
E pelos corporais
De diversos
Variados seres
Borrados, cintilantes

Você me deu um colo para descansar

Mas eu ainda carrego meu peso
Acorrentado no lombo
Passos lentos
E pés mutilados

E peço que me devolva
Meu chumbo entortado
Mas já é tarde
Seus braços nunca serão os mesmos
Depois da dor
Que te presenteei

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Fim

Me diz como fechar aquele texto
Como interromper essa goteira
Como socorrer-me de mim
Me põe nos braços
Não como filha,
E sim vítima
Uma deslumbrante figura
De personalidade intragável
Me diz como voltar para a tua casa
Sem perder-me de mim
Me diz como que eu faço
Para te amar
E continuar amando
Como é sempre esperado
De mim
Me ensina a ser humana
A ser alguém
Digno de berço e cova
Digno de ser lembrado
No fim.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Estatística

De todas as vãs tentativas
Burras, suicidas
De todas as fantasias
De tornar-se número,
Memória,
Resquício de si,
De algo,
Não conseguia deixar
Não consegue
De ser quem é
Uma exceção a toda regra
Uma conjunção de seres
Algo vivo que se surpreende
Surge e destaca-se
Contra a vontade,
Porque implora
E abomina
O palco
Porque sustenta-se
Nessa inconsistente busca
Pela vida
Covarde
Mas os covardes vivem mais
E ela não sabe pelo que viver
Exceto
Pela coisa em si
Por si mesma.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Madeira, Carne, Aço

Não te conheço.
Não sei teu nome, de onde veio
Não sei teu cheiro,
Gosto amargo de vida,
Onde ficam tuas feridas
As que estão abertas, cerzidas
Nunca te vi.
Não ouvi tua voz cortante,
Teus dedos ásperos
Arranhando meus medos
Não te conheço.
Te encontrar não é como
Voltar pra casa.
Me cobrir de poeira
Enquanto o sol nasce,
Não é como nascer
Pela primeira vez.
Não te conheço.
Não sei teu nome
Não sei o que te esmaga por dentro
Os nós que te travam os pulmões
Tuas febres às três da manhã.
Não sei dos pontos de veludo
Camuflados nos espinhos
Não sei do vinho branco
Ou como alcoolizam teus lábios
Não sei sobre como se movem
Suas mãos
Sobre instrumentos vivos.
Não te conheço.
Mas se me der um nome
E uma chance,
Se me der um segundo pra pensar,
Se me puxar pra perto,
Respirar bem fundo,
E fizer bastante silêncio
Por alguns instantes
Vai ouvir meu peito dizendo
Sobre como eu quero te conhecer.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Smoky Shower

How many showers have you skept, huh?
How many hours have you spent,
Wasting money
And life
Who do you think you're fooling?
Who do you think you're hurting?
Stealing daisies from her garden,
Throwing yourself
In the garbage
Is this a scream for help,
A suicide attempt
Or maybe a desperate cry
For feeling alive?
Helpless,
Useless
And self-centered
Who are you, really?
Who do you mean to be?
Do you even wish to be alive,
Still?


Don't leave me alone with your daisies, handsome

I might eat'em.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Fotograma

Me lembro dos nossos cigarros de camomila
Como se fosse ontem aquela tosse
Aquela luz azul alinhada em você
Me lembro dos cabelos dele me afogando
E dos pés de sustentação
Aqueles pés gigantes que me desconectavam
De todas as vezes em que ele me torturou
E eu ainda o amo
E eu ainda tenho vontade
De te queimar a pele com meus abraços
E os cigarros acesos
E o meu pulmão em brasas
Eu sinto falta da fumaça que me adoeceu
E hoje sou alérgica
A homens intensos e a tudo no vento
Eu sou alérgica a mim mesma na frente do espelho
Porque sei o que desejo e necessito
Sou coxa de mim
Mas entre um desatino e outro
Entre os flashes e frames da vida real
Nos quais me percebo de repente
E sumo
Eu me lembro
De quem
Ou do que
Eu costumava ser

sábado, 5 de janeiro de 2019

Obliviate

I never write it down
Because I need to forget
I'm scared to even think about it
I have no strenght to even cry for it
I make a tea at two and thirty
I'm scared to sleep
With all the nightmares
Hunting me
As vivid memories
Of fear and despair
I wanna leave this life
I have no other way out
And it hurts
My throat and face
My lungs and teeth
It hurts my ears
And every little piece
Of my shattered spirit
My red pair of eyes
Seem to be two smashed berries
Two rotten cherries
A bag of sadness and pain
I cry
And cry
And cry
And smell my tea
And try not to fall appart
And cry
And I feel hopeless
Homeless
Lifeless
Try to forget the reason
Again
Again
Again
Another flashback trauma
Another bad dream
Just a bad dream.