domingo, 28 de dezembro de 2014

Hoje, amor

Se eu digo que te amo hoje, perceba, eu não tenho nenhuma pretensão de amar-te amanhã.
Espero, sim, permanecer no teu passado, como estou hoje no teu presente. Se digo que te amo.
Mas se quiseres atear fogo a toda carta escrita e todo amor despejado, esteja livre para tal feito.
Meu amor não tem a arrogância de almejar a eternidade nem de planejar futuros. Não me imagino ao teu lado.
Desejo, hoje, acompanhar-te, se necessário for. Se doerem teus pés, quanto tu dobrares a esquina. Se te faltarem versos que resgatem tua alma do corpo.
Não é preciso aceitar-me, ou idolatrar meus cantos.
Apenas dê-me uma corda que sirva para te puxar do mar.
Apenas me ouça se eu sussurrar que te amo, hoje.

sábado, 27 de dezembro de 2014

24 x 6

Eu e você,
Somos como o Natal e o Ano Novo.
Sempre separados pelo mesmo tempo e pelo mesmo espaço.
Sempre nos mesmos lugares, e sempre associados.
Unidos e afastados pelos infinitos seis dias,
Tão vazios quanto se pode ser em tal localização cronológica.
As duas importâncias do fim do ano.
Eu sou o passado e você o futuro.
E o presente que nos une é o mesmo que nos desentende.
Eu sou a tradição e você a mudança.
Sempre corro pra te alcançar,
E abraço os meus valores adotados,
Que os antepassados sóbrios me deixaram de herança.
Eu sou o conformismo e você a indignação.
Estamos sempre tão perto, porém tão distantes.
Sempre desbotados por essa semana quieta de pura solidão.
Há 144 horas vazias entre eu e você.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Solidão amena

Há certos tipos de casas que dialogam comigo. Como se eu pertencesse mais a elas do que à minha própria casa, que já não é minha devido ao excesso de tempo em que permaneço nela.
A cada ano eu pertenço menos a cada uma delas, e em breve não pertencerei mais a lugar algum, senão a essa solidão interminável.
E isso vale para todos os corpos em que me abriguei, todas as paisagens, todos os bancos, toda as sombras, e todos os sons que já me foram lar.
Passo a passo eu vou me desfazendo em cada canto de pássaro, e de cômodo, até que não pertença aos meus próprios joelhos, aos meus próprios quadris, e aos meus próprios pulmões.
Daqui a pouco eu vou embora de vez. Sem casa, sem companhia, sem identidade.

Ladrão descoordenado

Arrancaram todas
As cordas do meu piano
Branco.

E agora,
Toda vez que alguém me toca
Permanece
Um silêncio incurável.

E se me apertam
A tecla preferida,
Aquela com um arranhão no canto,
Não sai dó
Nem lá
Nem sol.

Agora, todo o som
Escandaloso
E desgraçado
Que eu fazia
Quando alguém descompassado
Me curtia
Soa como um baque surdo.

Uma melodia estapafúrdia,
Sem dança,
Sem gente
E sem batida.

Restou apenas
Um punhado de
Brancas e
Pretas
Que cedem
A qualquer dedo,
Sem nenhuma manifestação.

Toda música que eu tinha
Foi-se com o ladrão,
Que me levou três cordas
E me arrebentou o resto
Só por vandalismo.

Se alguém o vir,
Deixe que vá.
Mas ao menos me arrume
Um barbante,
Pra pôr no lugar.

E arrumar o
Ré, o
Mi, e o
Fá.

Porque o Si do canto,
Ninguém toca mais,
E todos acham que ela
Não vai funcionar.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Reencontro nº4

Me explica
Por que eu sempre choro quando leio aquela carta
E quando vejo aquela sua foto,
E por que eu não aguento mais reler aquele texto.
As camomilas.
Empalideceram todas até ficarem azuis.

Espero que ainda dê tempo de eu ser a sua musa.
Você se lembra?

Quando eu comecei a te amar, ainda era cedo.
Desde então, o tempo deixou de perpetuar-se.
O tempo tornou-se você.

Todo novembro a estação muda.
Todo janeiro somos eu e você, de novo.
E se nos desencontramos ao meio de todo ano,
Somos ainda duas metades da mesma coisa.

Em toda humanidade,
Ou animalidade, que seja.
Em toda incoerência nossa,
Que entra em sintonia sem nos alertar.

Ainda glorifico a sua insubordinação emoldurada.
Ainda compreendo toda inocência que te assombra.
Percebo que, ambos percorremos em mesma escala
A trilha maldita da vida.

Eu ainda te amo
E ainda nos entendemos
Mesmo que a verdade já não seja dita.

Apavoro a ideia da sua partida.
Te busco desesperada,
E você permanece aqui.
Muda o tom de voz,
A cor do cabelo,
E a maneira como se move ao andar.

Se disfarça pra me confundir,
Mas te reconheço no reflexo do espelho.
E se é fundamental me desesperar todas as vezes,
Eu irei.
Porque te amo todos os dias,
Irredutivelmente,
Desde que me apaixonei pela primeira vez.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Migalhas

A minha decência é medíocre,
Assim como toda iniciativa que parte de mim.
Não me peça grandes feitos, conquistas, reconhecimento.
Não aspiro a magnificência.
Se desejo a esquina, vou à esquina e é isso.
Sem guerra, sem festa, sem lenda.
Meu espírito é medíocre.
E se alguma singularidade brota em mim,
Culpo a escrita.
Não mais que uma enorme farsa,
Ela alimenta a minha miserável ânsia de me alimentar.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

como eu me apaixono

Aparece um homem com uma arma. 
E ele me diz "você tem cinco minutos para fugir".
Eu prontamente dou um um passo à frente e digo "atire".
Ele me responde, sério "você ainda tem quatro minutos". 

E eu espero.
E quando o minuto número cinco chega, ele atira. 

Eu agradeço e ainda comento "que bom".

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

É ele, e faz de novo

Você é a lua
Na fase em que a minha maré sobe
E vai me afogando
Mesmo que esse sol de quarenta graus
Insista em secar tudo ao redor
Você ainda me faz afogar
Meus próprios pulmões
De um soro que só me pertence

Talvez se eu fizesse alguma ideia
Do que eu tenho
Do lugar de onde vem
Essa loucura
Talvez eu te culpasse menos

Talvez eu soubesse o que fazer
Ou para onde ir
Mas o tempo fala por si só
E ele me diz
É ele
É ele que faz tudo girar na direção oposta

É ele que polui os versos
E progressos
É ele
É ele
É ele
Que é

Culpado

E não te confio mais
Como se fosse demasiadamente sensível
Fraco
Quebradiço

Como se eu não pudesse mais sentir
Esse imenso vazio de existir
E então compartilhar
E se não for para compartilhar vazios
Por que você?

Você está sempre um patamar acima
E um patamar abaixo
Não pode porque não suporta
Não pode porque não está afim

E esse não poder te mata
Aqui dentro de mim

Odeio não ter você
Odeio esse buraco negro pra onde vai
Tudo que eu quero te dizer

Eu vou tentar de novo
E sou incorrigível

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Water

You are pure water
I'm salt
And we can make
Together
A beautiful sea

But, don't you see?
We can take a million souls
Away

Because you and me,
Together,
We are death, and life

Both sides of the same
Non existance
of god,
of love

We don't actually quite exist
Right in front of our eyes
There's nothing left
But two bodies
That still do clame for
Loneliness

As we are,
As strong as the wind
While infuriates the oceans

You are
Pure
Water

So,
I'm about to be
The wind

And we can make
A marveillous
Catastrophe

But nothing pure will be borned
If we ever decide
To finally
Be together

sábado, 22 de novembro de 2014

Sonhei que você morria essa noite

A lua está chorando no canto
E tinha um caos no meu banho hoje cedo.
Você existe,
E insiste em morrer de novo.

A lua é nova,
Perdida no negro azul do vazio,
Só.

E eu na página virada,
Abarrotada de letras estranhas,
Numa tipografia regular.

Sinto sua falta,
Mas não conta pra ninguém.
É que eu já fui sua refém por muito tempo.
Ninguém mais suporta.

Meu bem,
Eu não consigo,
Você me chamava assim,
E eu nunca consegui.

Me doi essa despedida
Que nunca cessa,
E você que nunca morre.
Mas finge que morre de novo, e de novo.
E doi de novo,
De longe,
Porque eu não quero mais doer.

Quem foi que disse que eu devia fazer certo?
Quem foi que disse que eu devia ficar perto de você?

Elena,
Sonhei contigo essa noite.
Mas num instante,
Você vira água,
Se desfaz em gotas,
Desaparece.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

perder você, vírgula

Você foi embora.
E essa não é nem de longe a morte mais horrível.
Mas doi,
Como doi
Você não me doer.

E o fato de você não machucar, me engole.
Estou num enorme estômago,
Sendo digerida em anestésico.

Como espeta perder você,
Como coça.
Mas doer, não doi.

E eu vou sem dor andando por aí.
Sem dor, sem esperança, sem vontade.
Sem coragem de viver,
Sem coragem de morrer.

E é isso.
De todas as perdas,
Até agora,
Você foi a pior.

E perder a dor,
Não é a pior morte que há.
Mas incomoda,
Ah, se incomoda...

Quarta pré feriado

Cinco Ices, 4 cigarros, e um dedo de Big Apple vomitado depois, eu continuo a me sentir absolutamente sozinha, do mesmo jeito de antes. Sem acréscimo de sentimento. Eu quero morrer, morrer, morrer. A vida é horrível. E eu nem tô tão bêbada assim.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Eu chovo só.
Só chovo.
Sempre,
E todo dia.
E a alegria
Se escorre
No ralo da
Minha melodia
Vazia.
Sem dó,
Sem nó,
Sem pó.
Só só,
E só,
E só.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Batuque de fundo

Pensei em fumar um ou dois cigarros (ou o suficiente para que minha compulsão se interrompesse). Decidi que não. Nada sobre ser saudável ou sobre-viver. Fui atrás de Cícero. Pensei em nós. Num nós que ainda não existe. Ainda. Como se houvesse chance, como se houvesse esperança. Em metade de um mês eu já tinha criado outro mundo. E já estou em outro. E nesse, tudo desaba. Tudo desaba em silêncio. Todas as almas são fios que se arrastam, e a melodia é o que resta. A melodia das almas, como corpos que transam quietos. Calados. Como a morte que ri muda. Como a vida que chora seca. E dentro da invenção com teu nome há inspiração. E ela mente. E gira, e corre, e cai. Se joga do precipício para cair inofensiva no mar, macio. E as manhãs amanhecem, e o mundo muda. E as estrelas se escondem no mapa todo azul do futuro que não nasce. Deitei-me na cama fria, e a solidão batucava de novo, e de novo. E dançava os dedos no ar, acompanhando a medida exata de passos para não sofrer. Para não sufocar, sorria. Sorria como quem sabe das coisas que a vida não diz. E querido, há muito a ser lido entre os versos, entre os tons, entre a noite e a luz. Tudo permanece, mesmo no vazio de acordar e esperar a hora de dormir. A essência de todo o resto é a mesma. A sua essência, eu desconheço, mas as palavras se formam sozinhas. Com ele no fundo. Me dizendo sobre um caminhão de gás que vai e vem. E a morte não vem, não vem. E a dor não vem, não vem. E nada vai, e nada vai.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Não vou beber

Não vou beber
Das tuas lágrimas,
Ou do teu gozo.
Nem engolir teus medos, cega.
Nem temer-te, e à morte.

Não vou beber o meu desejo insano.
Ignorar o desespero
É tudo que eu tenho.
E sempre que eu venho retomar-me,
Já não estou.

Não saio desta vez.
Fico comigo.
Para não beber o que me mata.
Para não beber palavras vis
Daqueles que bebem,
E nos dizem para não beber.

Sóbria, a vida já não sorri
A nenhuma das almas,
A nenhum dos corpos fajutos.
Nenhum dos copos é justo.
Nenhum dos goles é bom.

Beber-te já não me é cabível.
Já não é possível me perder em ti,
E em mais nada.
Já não posso duvidar da mágoa.
Já não posso senti-la, de fato.

E não posso mais dizer que me mato,
Nem por ti,
Nem por ninguém.
Porque a morte é vã.
E nem os baldes analgésicos me salvam
Da falta de fé,
Ou da insípida necessidade de viver.

Não bebo.
Como se houvesse um amanhã.
Como se tu não tivesses existido,
Em parte alguma.
Como se eu pudesse de fato
Ser feliz com uma limonada,
Na calçada de domingo,
De manhãzinha apreciando o sol.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Saco cheio, estufado, rasgando

Aqui no meu quarto mora um silêncio insuportável.
Eu tento ligar o ventilador.
Eu tento cantarolar.
Mas não aguento mais a minha voz.
Vou para a sala,
Ligo a TV.
A TV me irrita.
E a minha família, e todos os barulhos,
E toda a companhia.
Tudo me irrita.
Enxaqueca na certa.
A luz da sala é forte demais.
Telefone,
Eles falam demais.
Aqui no meu quarto, é só silêncio.
E o silêncio é bom quando eu entro.
Depois eu odeio o silêncio,
E tudo mais.
Eu odeio acordar de manhã.
Eu odeio ir dormir de manhã.
Eu odeio ir à escola.
Eu odeio a internet.
Eu odeio as paredes,
E odeio estar fora delas.
Eu odeio o fato de o meu quarto não ter janelas.
E tenho ódio de quando faz sol.
O silêncio é a morte,
O barulho é a morte também.
Eu me alimento mal.
E me irrita o tanto que estou engordando.
Me frustra o fato de eu não gostar de exercícios.
De ter tanta, mas tanta raiva deles.
E saber que eles são uma ótima maneira
De tirar essa raiva de mim.
É isso.
O silêncio do quarto
Grita com meus pensamentos.
Pensamentos que eu não quero ter.
Não quero pensar.
Nem trocar mensagens fajutas.
Quero dormir.
Ou morrer.
Dormir.
Dormir e não precisar comer nunca mais.
Não falar com ninguém.
Definhar.
Eu não aguento mais toda essa agitação dentro de mim.
Não aguento esse estresse.
Não aguento esse tédio.
Não aguento esse desgosto por todas as coisas que existem.
Não aguento o vestibular.
Não aguento o enem.
Não aguento ficar toda hora buscando coisas para aguentar.
Não aguento esse desânimo todo.
E a rotina.
Que nojo dessa rotina.
Que nojo de ter que pesquisar sobre o descarte do lixo.
Eu devia era me descartar.
Num rio.
E deixar os peixes me devorarem.
Eu devia me matar logo,
Antes de precisar viver com isso tudo.
Que saco.
Que merda de vida.
Sem graça,
Chata,
Insuportável.
Estou cansada disso tudo.
O tempo todo.
Estou cansada.
Todos me odeiam porque eu odeio tudo.
E ninguém entende.
Ninguém entende o fato de eu odiar tudo,
E de achar tudo um saco.
Eu tinha que gostar.
Tinha que gostar de tudo, da vida.
Eu tinha que ser otimista,
E fazer o meu dever de casa.
Bom, a vida não é justa.
Nem a morte.

domingo, 19 de outubro de 2014

Balde amarelo também

Ando sempre com um cigarro na bolsa.
E ele não me traz nada.
Eu não trago nada.
Ele apenas está ali,
Na minha bolsa.
E assim estão minhas tristezas,
Meu passado,
Meus amores.
Como cigarros intocados numa caixa.
Como sapatos velhos no guarda-roupa.

Você não.
Você é objeto não tragável.
É como fogo, como luz.
Plasma, ou onda-partícula.
Você inexiste, e reflete.
Reflete o brilho da manhã,
E também a solidão da noite.
Você devolve ao mundo
Tudo o que faz sentido.
E tudo que faz bem ao espírito.

Você é as poesias que eu ainda não escrevi,
E as canções que eu não aprendi,
E as telas que eu ainda não sujei.
Do céu, me derramei de volta num balde florido.
Girassois.
Girassois por todo canto.
E amarelo,
Uma cor
Feliz.

Quem diria,
Que eu ia encontrar um jardim
Bem no meio do caos?
Quem diria,
Que ao morrer,
Eu ia ver as cores de novo?

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Elefante amarelo

Você me faz querer ser feliz pela manhã.
E quando no banho, os meus dedos se afogam nos meus cabelos cheios de xampu, você me faz querer lavar o meu umbigo.
A última coca-cola no deserto.
O último girassol na vida de concreto.
Você me faz pensar que há flores me esperando,
E que a vida é mais que dor.
Como se fosse o certo.
Você me ocupa a tarde de domingo,
E as segundas-feiras chatas.
E minhas mãos parecem pertencer mais à nossa conversa
Que aos instrumentos de laceração.
A morte parece mais sutil enquanto nos falamos.
E os dias, e as noites,
Tudo isso faz sentido.
Viver, levantar da cama.
Colorir uns papeis perdidos no armário.
E mandar cartas,
Criar coisas.
Até a tristeza parece mais bonita ao falar contigo.
Como se nem fosse tanto assim,
E nem doesse.
A tristeza parece até alegre quando eu te ouço.
E quando a gente ri.
Você me faz mais margarida, e menos pó.
Você me faz sentir sadia, e menos só.
Como se eu existisse.
Como se o mundo girasse.
Como se a depressão estivesse de ponta à cabeça.
Como se eu pudesse de fato conversar com alguém.
Alguém que fosse.
Alguém que fosse você.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Awake and warm

Quando acordei, eu percebi que ainda dormia. Que o barco tinha virado. E o disco, e a vida, e o mundo. As noites já tinham amanhecido. Os pássaros gritavam histéricos nos galhos tortos. E o sol brilhava por detrás de um frio irredutível.
Quando eu acordei, percebi que ainda havia vida pela frente. Músicas a serem ouvidas, quadros a serem pintados. Vinte e nove envelopes coloridos guardando um passado. Vi que o tempo ainda existia, apesar dos olhos vermelhos.
E estando de pé, os girassois eram mais bonitos que lâminas. Toda tinta do mundo era pouca para alcançar o amor. Valia a tentativa.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Girassol no parque

Num dia desse estávamos no parque, distraídos. De repente eu resolvi olhar pra ele e foi estranho ele estar ali. Comigo. Entende? Éramos só os dois ali. Sem mundo ao redor. Eu olhei, olhei, e não conseguia parar. Uma espécie de sentimento, uma coisa estranha em mim. Até aquele instante tudo tinha sido bom. Maravilhoso. Era estranho. Tão estranho.
Meio inesperadamente, ele acabou percebendo que eu não tava normal. E me olhou como quem não entende.
- O que houve?
Eu não sabia. Não com certeza. Mas talvez desconfiasse.
- Estou com medo.
Sussurrei. Ele não entendeu por que eu estava sussurrando.
- Do quê?
De não amar mais. Nunca mais. De nunca ser amada.
- De você.
E ele entendeu menos ainda.
- Mas o que foi que eu fiz?
- Você não me ama.
Ele não soube bem o que dizer. Não teria como. Ele não amava mesmo.
Eu simplesmente sorri e declarei:
- Eu vou embora agora, vou acordar. Tudo bem. O meu amor daqui a pouco dorme. E eu não vou precisar ficar triste.
- Mas e o medo?
- Bom. Não posso fazer nada sobre isso. O medo faz parte de mim.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Rotina, medo

Penso demais
Não como
Não durmo
Bebo
Sofro
Peço socorro
Peço socorro de novo
E de novo
E de novo
E de novo
E de novo
Tento existir
Mas, nada
Nem vírgula
Nem ponto
Fuga estática
Paralítica
Só um copo
Por favor?
Um gole só
Um passo
Um verso
Uma nota
Uma tentativa
Um traço
Porém
Por quê
A cama
E a insistência
Desesperada
A vida congelada
No caminho
O ninho de edredom e medo
E mentiras
Mentiras por toda parte

Minto
Durmo
Como
Paro de pensar
Não bebo
Não sofro
E não existo ainda
Mas finjo existir
Nada de pedir socorro
Ou de sequer querer
Nenhuma melodia
Nenhum gole seco
Nem doce
Nem uma lambida
Uma vida que segue, morta
Cega
Torta
Satisfeita

O poste

Mais uma garrafa,
Mais um copo de café.
Uma enxaqueca na alma,
E mais um ciclo
Do meu útero,
Que trabalha impiedosamente
Todo mês.

Uma melodia nova nos pulmões,
E desespero nos lençois incomodados.
Atendendo aos pedidos da solidão:
Dor, anestesia,
E tinta nas palavras mortas.
Como se morrer fosse algo bom.

Talvez se eu soubesse o que os meus fios de cabelo esperam do mundo,
Se eu soubesse a que meus poros aspiram
Na vida, de tudo.
Talvez.

Eu poderia finalmente
Fazer da minha cama
Um descanso.
E não um lar.

Talvez eu não tivesse tanto medo
Se eu soubesse realmente
Que alguma coisa existe.
Que há, que vive.
Talvez eu levasse a sério
O tanto que o sangue corre em mim.

É possível que nem tudo seja assim tão pouco,
Que a alma seja saciada.
E que esse nada
Não seja a vida, e sim falta
Não do amor em si, mas de compreendê-lo.
De enxergá-lo ali na esquina.
É, talvez seja isso.
Talvez seja culpa da esquina,
Ou do poste no meio do caminho.

(talvez seja tudo mentira, mas eu quero a minha esperança)

(mais do que a morte)

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Ficha de Cadastramento

Nome completo:
Também conhecido por:

Idade:
Data de nascimento:
Signo:

Tem alguma tatuagem?    (  )sim    (  )não

Filme preferido:
Gênero de filmes preferido:

Cantor/banda preferido/a:
Música da bad:
Música pra ser feliz:
Já foi em algum show?      (  )sim     (  )não
Se sim, de quem? (descreva a experiência do seu show mais marcante)

Lê?       (  )sim      (  )não
Se lê, que gênero de leitura*?
*HQ, revistas, e blogs também contam como leitura.
Um livro*:

Uma imagem:
Um medo:
O que te move?

Uma história marcante do passado:

Comprometido?      (  )sim       (  )não      (  )só internamente

Hobby(ies):

País:
Estado:
Cidade:

Como lidaria com uma pessoa que se corta?
O que faria se alguém tentasse se matar na sua frente?

Um objeto:
Uma planta:
Um animal:
Uma pessoa:

O pior dia da sua vida:
O melhor dia da sua vida:

Uma palavra:
Uma frase:

Rede social preferida:
Seu lugar secreto no mundo:
Válvula de escape:

Conte sobre algum sonho:
Um sentimento:
O pior sentimento:

Tem religião?       (  )sim        (  )não
Se sim, qual?

Tem alguma obsessão?      (  )sim       (  )não
Se sim, qual?

~ Essa parte da ficha é opcional ~

Já fez sexo?
Se masturba?
Se sim, com que frequência?
Já fez oral?
Já recebeu oral?
Preferência sexual:      (  )homens       (  )mulheres      (  )outros
Fetiche:
Restrições:
Tem algum parceiro sexual atualmente?
O que te atrai sexualmente?

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A mando da lua

A mando da lua,
Eu me mato,
E renasço das cinzas.
A mando da lua,
Eu busco a luz por entre a chuva,
E me sufoco de fumaça.
A mando da lua,
Eu abandono a nicotina,
E abomino o espelho.
A mando da lua,
Eu permito que me escorra
Por entre os dedos
De madrugada.
A mando da lua,
Eu me embriago,
De conformismo
E de medo.
A mando da lua,
Eu estou aqui,
Sentindo a gravidade.
Orbito, porque a lua o faz.
E namoro a maré em letras.

Poesia da morte

Que morra o meu fígado.
Que morram os meus pulmões.
Que morra o meu coração,
E também a minha traqueia.
Que morra o meu estômago
E o meu esôfago.
Que morram os meus dentes,
Os meus olhos,
O meu nariz.
Que morram os meus pés,
E os meus joelhos,
E os meus seios,
E as minhas sombrancelhas.
Que morra o meu cabelo.
Que morra a minha bexiga.
Que morra o meu útero.
Que morra o meu útero de novo.
Que morra o meu intestino.
Que morram os meus neurônios overdosados.
Que morram os meus tímpanos exaustos.
Que morram os meus dedos,
Que te tocaram.
Que morram os meus lábios.
Que morram os meus punhos,
E os meus pulsos.
Que morra a minha coluna,
E as minhas coxas gordas.
Que morram as minhas cordas vocais,
Arranhadas de escândalos.
Que morram as minhas unhas quebradiças.
Que morram os meus dedões do pé,
Que não servem para nada além de doer.
Que morra.
Que eu morra.
Que morra o meu medo.
Que morra o meu cotovelo.
Que morra a pulga,
E a orelha.
Que morram os meus pelos pubianos.
Que morra o meu pâncreas.
(Pra que que ele serve mesmo?)
Que morra o meu apêndice.
Que morram os meu ombros,
E a minha nuca,
E a minha espinha.
Que morram as minhas pontas duplas.
Que morra o meu osso quebrado que calcificou.
Que morram as minhas cicatrizes.
Que morra a minha tatuagem.
Que o sol e a lua morram.
Que morra a minha pele.
E as minhas veias,
E as minhas artérias.
Que morra a minha hemoglobina.
Que morra o meu espírito feito de carne.
Que morra o frango à milanesa.
Que morra o meu umbigo.
E o universo que gira em torno dele.
Que morra o cordão umbilical
Do futuro,
E do passado.
Que morra o tempo,
A vida,
E a hereditariedade.
Que morra o gen.
Que morra a morte.

domingo, 21 de setembro de 2014

Sobriedade gélida

Você me doi nos dias chuvosos.
E me doi nas mentiras que eu me conto.
E me faz ausente,
Em todo o sempre no qual não te encontro.

Há um vazio nas noites,
De todos os dias,
Em que acordo, e aguardo
Alguma coisa melhorar.

Há uma depressão no tédio,
Na falta de amor.
E uma dormência aqui por dentro,
Do frio.

Você diz que logo vem ao Rio,
E eu mal posso esperar,
Para me desesperar.
E me afogar em veneno.

Esse mundo pequeno,
No qual eu não te tenho,
Nem a ninguém.

Acordar
Acordar
Acordar

E esse vai-e-vem da vida,
Esses maus tratos sóbrios,
Essa constante despedida
Do que não tem valor.

Ah, meu amor.
Será que você sabe?
Será que me entende, de verdade?
Será que me perdoa, se eu for mergulhar em álcool?
E se eu morrer, será que você me aceita, mesmo livre?

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Milena

Little piece of rainy cloud,
I like you.
I like your fears,
And your tears.
I like the way you ask me for help.
But I don't actually care about you.
I don't really care about those guys that you talk about.
Except for the fact that I envy you.
I'm not jealous at all.
I don't want you.
Sometimes I just wanna be you.
I'd like to have your wishes.
Oh, dear.
I don't get you.
But it doesn't really matter.
As long as I can see you on my way.
Dude, that's okay,
Even if we are so different.
Because I'm not supposed to love you, or some.
You're just like everyone else.
Human.
And I like that.

domingo, 14 de setembro de 2014

Na beira

Meus segredos,
Nem de longe são
Tão bonitos quanto os seus.
Nem tão especiais.

Se eu soubesse realmente o que é o amor,
Me decidia de uma vez por todas
Se te amava ou não.
Parava enfim de carregar o fardo da dúvida.
De querer ou não lutar por sua alma, ou pela sua vida.
Seria feliz na paz de conseguir ir ou ficar.

Se eu pudesse não acreditar em fadas,
Viveria este mundo como é.
Me libertava.
De te admirar por dentro,
De te desejar em sonho,
De te querer perto.
Sua beleza é algo incalculável.

Amar-te
É como embarcar num trem que nunca parte.
É como me esconder atrás de placas de vidro.
É como entrar num avião, esperando mergulhar no mar.

Fugir,
É como abandonar o paraíso na beira do precipício.
É como aceitar uma morte que não chega.
É como não te amar, e ainda sim ter-te dentro de mim.

Morrer,
É a paz que mente,
É o amor pungente,
E não sofrer assim.

Entre amar, fugir e morrer,
Prefiro ficar na praia.
Esperar,
Esperar,
E esperar.

Quando passar por aqui,
Venha me dar um beijo,
Me confesse algo,
Alimente o meu talvez.

E depois se vá,
Antes que dê tempo da saudade.
Antes que eu não te queira mais,
Por te querer aqui.

Noite é noite.

Não me sinto poetiza,
Ou puta,
Ou amigável,
Ou meia,
Ou sociável,
Ou faminta,
Ou animada,
Ou deprimida,
Ou humana sequer.

É como se eu não existisse.
Porque a lua tá no céu.
Porque anoiteceu.
Porque minha cabeça doi,
E minha paciência adormeceu.

Porque acordei,
Anoitece.
E porque há estrelas,
Entristeço.
Todos os dias morrem, querido.
Toda noite eu entro em luto antecipado.

A saciedade às vezes é overdose de fartura.
A saciedade é um vômito mascarado de felicidade.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Odeio você

Você veio outra vez tentar me salvar,
E foi então que eu percebi
Que eu quero estar aqui.
Que a tristeza é o meu lar.

E de fato,
Apesar de todas aquelas mentiras,
Bonitas,
Eu me sinto confortável
Do lado de cá.

Me sinto eu, nas sombras.
Prestes a cortar os pulsos.
Brincando com isso.
Me sinto eu.

Autêntica e macabra.
É como se eu existisse mesmo.
Por mais que eu esteja cansada,
Por mais que me atrapalhe em tudo.

É decepcionante ver todos os meus mundinhos gritando que eu sou mentirosa.
É doloroso mentir e mentir e mentir.
É doloroso mentir sobre ser feliz ao seu lado.
Ao lado de qualquer um.

Eu prefiro morrer a amar assim de novo.
Eu prefiro.
Prefiro me matar.
Preciso me cortar.
Eu quero me destruir, esse é o certo.
Por que será que ninguém entende?

Falar com você me apavora.
Eu quero sair daqui.
Quero sair sozinha.
Eu tô tão confusa, de novo.
Perdida no meu próprio texto.

E eu devia estar dormindo
Ou indo às aulas
Ou fazendo alguma coisa.

Eu odeio essa vida
Eu odeio esse mundo
Eu odeio a escola
Eu odeio você
Eu me odeio.

sábado, 6 de setembro de 2014

Desabafo de pós-surto matinal

É muito difícil pensar que de certa forma eu sou bonita sim,
Que eu posso ser uma boa pessoa, que eu posso salvar alguém.
É muito exaustivo aceitar que nem todo dia eu posso estar bem,
Mesmo que eu queira, mesmo que eu tente,
Quanto mais eu acho que não vai dar certo, menos dá.
E é bem verdade que eu estou no controle de tudo.
Deixo que a escola me devore, porque preciso disso para progredir.
Preciso aceitar que isso me importe, mas é triste que eu não saiba a medida.
É triste que eu não possa viver como algo bom.
Quando eu decido ser boa, eu me vejo frente a frente com as lacunas.
Os passos que eu pulei, as coisas que eu não fiz, tudo pesa em mim.
Eu penso: é tarde demais? E se for? E isso me destroi.
Como se nenhum esforço no mundo fosse consertar meu medo.
Ou a minha irresponsabilidade, a minha ausência, o meu egoísmo.
Queria poder equilibrar. A covardia e a vontade de viver.
Queria não deixar que tudo fosse me confundindo, e me desesperando.
Queria pensar como as pessoas normais e orientadas.
"Quero. Vou me esforçar e conseguir. Agora."
"Preciso. Então vou fazer. Porque é o lógico."
Mas não.
Eu me maltrato,
Eu me mato.
E só sei pedir socorro.
Sou um bebêzinho dependente. Sempre fui.
Só sou independente pra me destruir.
E todos eles me dizem: você tem potencial, se você se esforçasse...
Me dizem que eu quero viver, e que eu me saboto.
Eu não sei o que fazer. Eu não sei.
Só precisava de um pouco de amor pra ficar calma. Só isso.
Por que é tão difícil encontrar amor no mundo?
Por que eu sinto como se fosse morrer sem isso?
Por que estou aqui numa linda manha fria e ensolarada de sábado lidando com a depressão?

Você precisa ir embora, amiga. Você precisa ir. Que volte daqui a outros três anos. Mas você precisa ir e me deixar viver.
Vá embora, depressão. Eu não quero morrer.
Eu quero ser feliz.
Quero passar no vestibular.
Quero passar de ano.
Quero dar orgulho pra todo mundo.
Quero que os sentimentos fiquem suaves novamente.
Quero ser livre de mim, para viver.
Para gostar da vida.
Para não morrer sofrendo.
Para não sofrer.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Há mais horizontes num pulso do que na beira do concreto.

La lune cig

Tive uma noite de paz. Talvez tenha sido pelo cigarro La Lune que eu fumei ontem. Ou pelo improvável sonho que tive essa noite. Meu coração amanheceu batendo dessa vez.

Maresia

Me observe matando-nos.
Sumindo contigo,
E comigo, como planejado.

Observe meu desespero insano
Ao deixar que o tempo,
Em detalhes sórdidos
Nos vá digerindo,
Por mera vingança.
Por um capricho suicida.

Delicie-se com minha auto-categorização de merecimento.
Consequências.
Hei de agir errado por escolha própria.
E colher frutos.

Ser indigna todos os dias.
Ser esquecida
Por você.

Abandona-me no cais do meu sacrifício estúpido,
E vai.
Mergulha,
Se afoga,
Se salva,
E nada.

Nada tem de novo no seu comportamento.
Nada tem de novo no meu.

Fico sentada na madeira.
As ondas se chocam nos meus pés
Gelados.
Pés de cadáver.
Tão visualmente idosos quanto as minhas teimosias.

Se fico só,
Somos eu e a maresia.
O reflexo do sol na superfície,
Onde por vezes se choca a minha carne em peso,
Impaciente.

Vá.
E sinta a vida como se eu não existisse.
Não me sinta,
Para que eu possa ser sua forma do outro lado,
Do outro lado do espelho.

Que se perca
No rastro incerto do vento,
O seu cheiro de sal,
E a areia que rabisca a minha pele.

Pela manhã,
Você me vê nascer em multicores.
E me ama, como se te bastasse.
E como se estivéssemos juntos
Na mesma dimensão.

Da dor e da melancolia,
Nossas almas entendem,
Por puro afobamento.
Por ansiedade de sentir um amor
Que só o tempo trás.

Somos unidos
Por um mesmo pensamento.
Impossível é a transcrição ao verbo
Da nossa vontade.
Inconformada.

Te fujo, e te pego na esquina
Cego como sempre.
Apaixonado.

E me pergunta:
- Onde é que você tava?

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Manhã chuvosa em setembro

Eu te amo e quero cortar os pulsos.
Tem tanta energia rolando aqui.
Ela não entende, ela não sente as coisas. Os sentimentos dela são superficiais, clichês.
Gosto dela por causa da sua agressividade, e é isso. Se pá porque ela insiste em falar comigo e elogiar meus textos.
Ela me diz que não sabe se expressar como eu, e eu só consigo pensar em como ela não sente as coisas que eu sinto.
Ela me acha patética por trás de tudo. Fraca. E não importa.
Na verdade importa sim porque eu detesto ser patética.
Mas agir como ela acha certo vai me tornar mais patética ainda.
Então não faz muita diferença.
Eu prefiro cortar os pulsos.
E cortar os pulsos.
E cortar os pulsos.
Eu estou apaixonada por essa fixação.
Você não aprovaria. Mas quem é você pra dizer, não é verdade?
Quantas mortes você não me provocou até aqui?
Eu te amo. E às vezes é como se isso me matasse dia sim e dia não.
Você me ama, e isso é ainda pior. O seu amor me desespera.
O seu amor me obriga a andar descalça em brasas com os olhos baixos, com medo de encontrar os seus.
Seu amor me obriga a me matar todos os dias em oferenda.
Seu amor todos os dias me traz de volta.

Poesia bege

Bom dia, vírgula da minha sobriedade.
Não.
Se a depressão é tão linda por que ser feliz?
Me conforto aqui no escuro.
Escondo a minha pele desvirginada em uma fita preta.
Por baixo intocada a minha melancolia.
Meus dias e noites brilhando sem cores acima das linhas de horizonte.
Talvez eu devesse traçar mais horizontes.
Talvez eu devesse deturpá-los, transtornar o futuro.
Talvez eu devesse andar mais vezes com a minha lâmina.

Talvez eu seja feliz cortando os pulsos pela manhã.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Iniciativa vs. Depressão

  Era uma vez uma borboleta. Como seu instinto mandava, ela colocou seus ovinhos numa folha de couve, no quintal de um avô de uma menininha de 18 anos.

  Era uma vez uma menininha. Que tinha síndrome de Peter Pan e umas esperanças estraçalhadas lá no fundo. Ela deciciu levar a folha de couve com os ovinhos para casa.

  Era uma vez lagartinhas, que eclodiram dos ovos alguns dias depois. Elas cresceram, comeram, cresceram, fizeram suas necessidades, comeram... Duas delas fizeram casulos.

   Era uma vez cinquenta e dois cadáveres de futuras borboletas num potinho sufocante e transparente. Como a sala de aula.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Suicídio no colégio

Um "amigo" meu me perguntou:
- Por que um suicídio tão doloroso?

E eu fiquei aqui me perguntando, refletindo. Por quê?
Um outro amigo meu escolheu uma morte doce. Uma morte suave. Ele quis dormir. Então por que eu prefiro a dor?

Talvez a resposta esteja na minha vontade adulterada.
Na verdadeira: eu não quero morrer.

Estava eu e uma poderosa lâmina (um deus em forma de objeto) escondidas entre quatro paredes brancas. Tremia. A morte me beijava as orelhas, respirava em mim. E eu gritava. Gritava em silêncio.

Imaginei a cena: eu ensanguentada, sendo levada para o hospital, e todos me deixando em paz, todos me dando espaço, me dando tempo.
E eu me condenava. Pelos pensamentos egocêntricos, desesperados, dramáticos. Me condenava pelo sangue desperdiçado no chão do meu delírio.
E a lâmina prateada reluzia encostando no meu braço, no meu pulso. Eu tremia e meu peito me dizia não. Você não vai se matar.

O meu capricho é simplesmente driblar tudo que o mundo me pede. Toda essa tortura, toda essa verdade. E viver de dor e amor. Porque é tudo que me faz sentido.

Eu não quero morrer. Nem me matar. Eu só quero ser amada. E parar de me desesperar, de ter medo de tudo, do mundo. De ter medo de ser só, de ser ignorada. Medo do abandono e da solidão. Tenho medo de ser ruim. E sou péssima. Insuportável. Tenho medo que descubram que eu não valho nada. E de certa forma eles sabem, porque eu nasci num mundo em que tudo é assim.

Eu devia me matar. Eu devia cortar os pulsos. E eu não sei onde fica o quê, mas não consigo tirar essa ideia da cabeça. Eu tô ficando louca.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Tatuagem insípida

A tatuagem já faz parte da minha pele,
E assim como você,
Ela não tem mais graça.
Orgasmos programados,
Meu cabelo desbotado,
Minha cara, completamente banal.

As depressões que me atormentaram
Por duas semanas inteiras,
Já não matam mais.
A lua e o sol,
E os dias e as noites
Que passam,
Insípidos.

O amor que eu te tenho
Tem sabor de soja,
É como devorar papel.
Mas eu te amo.
E isso nem de longe me basta.

Acordar todo dia pela manhã,
E me perguntar por que estou tão sozinha.
Me isolar daqueles outros,
Uns corpos vagando no intervalo.

Vir só. De volta para a maldita casa,
E o maldito quarto,
E perder uma tarde toda na maldita cama.
De madrugada pedir socorro.
Desmaiar de solidão.

Pedir que o amanhecer não amanheça.
Pedir que não haja céu, companhia, existência.
Que não hajam malditas provas,
E surtos masoquistas,
E culpa me devorando o estômago.

Pedir que não haja fome para a comida também sem sal.
Um mundo que não gira em cores,
Um canto sem melodia,
Ameaça de enxaqueca na esquina.

Tédio.
Apatia.
Melancolia.
Solidão.
Ar, estagnado.
Poluído.
Triste.
E exaustão.

domingo, 31 de agosto de 2014

Alternativa a nós

Chovias em mim.
Cá chovo só.
Floreço, frutifico, estremeço.
No outono sou chão.
Sorrio.
Mas para mim do que a ti.
À luz da lua e do sol.
Beijo aquele mar que te beijou.
E sou livre, mesmo dentro de mim.
Existo sem teus versos,
Inversos.
Fujo como sabia,
No ponto em que te encontrei.
À deriva num mar de monstros,
Cercado de um aroma doce.
Pólem.
Vivo apesar de tua beleza.
Negra.
Inconsistente.
Encantadora.
Vejo em outros cantos
Paz.

Deixe que o mundo venha
E apesar de ti
E apesar de mim
Posso.

Nesse meu mundo só meu,
Sou Deus.

Mundos de paz

Uma música boa no ar.
Uma felicidade recente.
No fundo uma paisagem delirante.
Companhia.
Esperança.
Há mundos e mundos de paz,
Por detrás do medo.
Há orgasmos no dia-a-dia.
Há raiva.
Há tristeza.
E é tudo tão maravilhosamente
Interessante.
Há perdas e pedras no caminho.
E fora dele há nuvens,
Noites bem dormidas,
Pessoas que não existem.
Escondida da realidade,
Há satisfação.
Como aquela de um Janeiro entorpecido.
Como a de chover num domingo.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Lagartas Melancólicas

Eu só queria ficar quietinha e desaparecer do mundo.
Mas deitar a minha alma só sobre o lençol me devora todo dia. 
É como se eu estivesse entregue às traças.
Como se nem me doesse o processo de decomposição.
Eu estou descosturando a esperança. Mas ela ainda existe.
Existe como a água evaporada que eu não vejo no céu pela manhã.
E o teto insuportavelmente azul.
E eu no centro, ardendo.
Ardendo tudo ao meu redor.
Secando todo o amor que existe em terra, e em casa cansada alimentando minhas lagartas.
Alimentando o que me mantem aqui. E pensando em você enquanto tropeço nos meus sapatos jogados no caminho.

If we didn't live at Earth.

Me desculpe se eu venho sendo muito má contigo, meu amor.
Me desculpe se fiz parecer que eu havia te matado por aqui. Mas de fato, eu andei matando algumas coisas.
Eu sou uma assassina, meu amor. E estou mergulhada em um tédio imperioso, monumental.
É uma espécie de lição que eu me ensinei.
Já que eu não posso ter tal coisa, eu trabalho a minha vontade de tê-la até que ela desapareça.
E então eu viro um imenso oco. Um pedaço de madeira podre. Mas de fato eu não entro em depressão.
Não sofro, não sinto, e não cogito me matar. Porque eu prometi.
Eu olhei nos olhos das pessoas que eu amava e disse com os meus que eu não ia me matar.
É uma promessa que existe sobretudo dentro de mim.
Eu falo com você e sei que sou uma má pessoa.
Esse é um dos piores sentimentos que existem.
E eu não queria que você soubesse que é assim.
Eu também te prometi em off que cuidaria de você.
E seria boazinha, e seria otimista.
Mas eu não consigo, eu não quero, eu não consigo.
I don't belong here, my darling.
I won't be fine here, my man.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Eu e tu, e a vida.

Amar-te não doi.
Doi é perder-te.
Ver-te morrer todo dia.
E todo dia acordar,
E amar-te de novo.
Sabendo que todo nascer
É um novo morrer.

Morremo-nos
Os dois.
Apaixonados,
Sóbrios,
E perdidos.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Pergunto ao futuro: O que é um namorado?

O primeiro enfeitiçado tem fobia social. Me acalma, me socorre, mas não quer nada normal.

O segundo que me ama tem suicídio na história. Se joga do precipício e me canta a sua glória.

O terceiro se afoga nas esquinas povoadas. Necessita o meu amor, mas me diz não querer nada.

Todos três com suas dores, e suas flores manchadas.
E uma moça imatura que me deixa apavorada.

E um travesseiro verde embebido em solidão.
Que eu amo, que eu amo, como se fosse meu chão.
Deito-me toda noite, e um copo me devora.
Sempre peço por socorro, peço que não vão embora.
Por dentro eu choro as danças com a morte, que por pura falta de sorte eu ganho.
E toda manhã sonho
Que um próximo amor vai me completar.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Depressão pós-parto.

Desculpe ser um fardo,
mas é que minha alma
quando suja
não é como um copo de vidro,
que pode ser lavado facilmente
em qualquer poça de lágrimas.

A morte em mim,
é como o cheiro impregnado no carpete.
E às vezes desconfio que só sai pegando fogo.
Que eu só me curo morrendo.
Que não sirvo mais pra mim.

Ainda me mora aquele tal dilema
sobre viver sem ti,
ou não sobreviver.
E é fatal que essa desaproximação
não mais me doa.

Mas morro. 
A carcaça de mim é o que não te ama.
E se antes eu era fã dos urubus,
hoje me escondo.
Porque apesar do amor,
não posso me deixar ser devorada.

Esse não existir,
que é também não me matar
me assombra.
E amar-te me apavora.
E a marte vou,
Porque talvez por lá eu não te aviste,
Nem te queira.

É muito vazio decidir ficar aqui.
O paradoxo é que nunca me socorre.
Queria que o sol pela manhã não me doesse a face.
Queria que as gotas pudessem sair de mim e não do céu.
Queria poder me sentir em casa quando eu pensasse em você.

Mas não posso.
Você me doi sempre que eu te lembro.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Maré baixa

Amar-te não significa
Querer-te por perto.
Equivale a precisar-te.
E para que minha alma seja livre,
Deixo-te.

Quero que o teu amor vá escoando aos poucos,
Enquanto eu tenho tempo de escrever-te poesias.
Despedir-me.

Algo no frio ensolarado desta manhã me faz não te querer aqui.

Quero que escorra de de mim
Como a luz do sol se escorrega
Dentro da melancolia da água.

Um desapontamento
De lápis
De criança na pré-escola
De pais descuidadosos.

Perdoei-te.
Mas minha mágoa não passou.

Te morro aos poucos,
Como se não me doesse.
Como se toda morte
Não fosse mesmo vã.

E se nossa morte é mesmo vã,
Eu viro água.
E escorro pelo nosso vão,
Cheia de mágoa.
E se não fôssemos nós,
Atados.
Atearia-nos fogo.
Ia.
Ia só.
E ia pó.

O fogo e o mar

Deu-me vontade num momento,
De pôr fogo naquele teu texto.
E no meu vestido,
E na minha cama.
Tive o impulso de atear fogo
Ao meu cabelo,
E à tua pele,
E à nossa casa.
Tive o desejo mórbido
De também pôr em chamas
O teu filho.
Que grita aqui em meu ventre,
E desespera-se
Por não existir.
E ele não vai.

Tornaria cinzas igualmente
O livro que escrevi,
Só aqui dentro.
Que não pude vomitar em letras,
E em que falava sobre ti.
No meu texto,
Matava-te.
Como o fez,
Mal faz um mês.
Tornou tudo real.

E se este fogo que me deixa esta vontade,
Superasse o sol que me batia,
Enquanto eu te amava
Naquelas ruas estranhas.
E não importava
Quem passasse perto.
Porque eu te amava,
Em cada esquina em que meus pés doíam,
De tanto te acompanhar.
E mesmo o mar,
Que ameaçava tudo,
E que te trazia peixes pra matar.
Até o mar ardia em brasas ao te ver.

E se eu pudesse nos queimava juntos.
Consumia o nosso amor,
E a nossa existência.
Se eu pudesse,
Devorava essa saudade,
E engolia-te em chamas,
Antes que fosse tarde.
Antes que desse tempo
De nos salvarmos de nós mesmos.

Antes que desse tempo,
De eu não mais me afogar em ti.
E respirar a brisa
Da felicidade
Sem amor.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Você me abandonou, mas eu vou te amar pra sempre.

Segunda-feira quente.

Lembro-me da sensação aterrorizante do calor de segunda-feira. Da tarde, da solidão, e do cansaço de domingo.

Lembro-me de me deitar a tarde inteira, aconchegando meus cabelos no teu coração pulsante. E arrepios quentes percorrerem toda a superfície do meu medo.

Lembro-me de estar apaixonada, e procurar socorro em tuas mãos. E encontrá-lo, sempre. Mergulhando em erros, negando tudo a todos, e dançando na avenida. Correndo entre os carros, gritando, e sorrindo-te.

Lembro-me de separar os lábios, e prestar bastante atenção neste gesto. E de certa forma a sugar-te a alma.

Lembro-me de me lembrar de tudo que era negro. De tudo que era triste sem ti, e afirmar que a vida era mesmo insuportável longe dos teus braços. Mesmo que os deixasse na esquina.

Lembro-me de duvidar da felicidade, e vê-la esvair-se pelos cantos do meu delineador.  Só. E desabar o mundo ao meu redor. Por escolha própria.

E de perceber enfim, que o passado é passado e que resides nele hoje, e que não moras mais em mim. Mesmo que eu te visite de vez em noite.

Daisy Delivery

Não tão fácil quanto ontem, mas quase com a mesma certeza, e o mesmo afobamento apaixonado, eu te diria sim como quem aceita um doce. Como se a vida não fosse mesmo complicada, e a perspectiva de obedecer-te superasse todas as felicidades. Aceitaria cada condição tua. Cada pedido, cada segredo, e cada individualismo decorado. Diria a ti um sim por inteiro. E se a vida por acaso se mostrasse de algum valor, minha decisão estaria tomada. Porque contigo eu sou flor, que vai na mão de quem a leva, e não fala e não reage. Apenas definha em efeito de maus tratos. E sorri se provida de água e sol. Eu sorrio se provida de você. Mesmo que em doses poucas. Pode me arrancar do galho, se quiser.

The next day

O estômago se engole. O cheiro do universo parece tão absurdo. Tão insuportável. Uma cascata surge inesperada. E só de pensar em sentir o líquido queimando tudo por dentro o labirinto se perde de novo. Por que destruir tudo? De novo. E de novo. E de novo. O desespero da vida que se alastra e se propaga. Um sufocamento natural. Um passado e um chão pra limpar. Uma memória repulsiva. Decisões de proteção temporárias e incoerentes. Na semana seguinte outra viagem ao fundo do poço.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Moon Bye

Hoje eu quero que a lua se vá, diluída nessas gotas que me chovem. Quero que a noite amanheça, e que o laranja refletido desapareça em meio à luz original. Mas não sei brilhar.

Há uma mágoa suja em tudo isso. E não entendo. Não entendo ser nada do que sou. Porque os externos não parecem agir assim.

Há uma companhia azul em meu caminho. E isso é bom. Como ignorasse o céu e sua teimosia em ser dias e noites, vejo um azul em terra. E toda a calma, e todo o socorro da vida se estabelecem em um corpo feito de carne.

Que o dia chegue e eu possa te esquecer rapidamente. E que eu não me sinta triste. Porque também não posso sentir amor.

Talvez haja alguns doces depois do fim do túnel. E o algodão em baixo de mim há de me ajudar a chegar lá.

Tudo bem se a lua se camuflar por um tempo.

domingo, 27 de julho de 2014

Lapso

É bom sentir que é o momento certo.
Você é minha alma, e ele a minha carne.
E o outro, bem,
Este é a minha alça.

Há uns seis ou sete cortes na minha coxa.
Mas estes novos foram bem gozados.
Bisturi,
Amor,
Orgasmo.

Risadas bobas.
Uma malícia idiota.

Eu vou montando as peças do quebra cabeça.
A pessoa que eu idealizei,
É na verdade três.

E está tudo bem.
Está tudo maravilhoso.
Meu corpo sorri para o universo com alguns novos machucados.

Eu me sinto uma puta, meu amor.
E sei que você me ama assim.
Como eu dizia,
A compreensão do nosso amor não diz respeito a ninguém.

Eu existo.
Eu me sinto bem.
Eu vivo, amor.

E ai de você se tiver uma recaída.
Eu vou te pressionar.

Eu leio, eu fodo.
Eu acordo cedo de manhã e aguento o colégio.
Tudo de repente ficou simples dentro de mim.

A aversão foi dormir.
Com todos eles.

Estou livre para ser.

Dormir cedo sem álcool e sem cigarros.
Talvez um.

Nem os loucos me tiram do lugar.
Eu vou ser feliz, e você também vai.

A vida é linda quando se está em paz.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Não.

"Mero suspiro,
Pouco movimento,
Um não."

Negar-se toda a humanidade que cabe em um.
Negar-se a companhia, e a alma.
Negar-se tudo que desfaz a calma
De não existir.

Negar-se o gesto,
A vontade,
O medo
(e sê-lo).

Negar-se o colo,
Para não cair.
Negar-se a vida,
Para não sentir.

Negar-se o bem,
Para não sorrir
(e não chorar).

Negar-se a ida,
Para não partir,
E não morrer.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Bem-estar

Está tudo bem, eu acho.
Exceto meus textos.
Exceto eu. Talvez.
Desabafo tanto que as palavras já não saem bonitas.
Nem eu tenho saído bonita.
Mas tá tudo bem.
E eu te amo.
E eu não vou me matar.
Será?
Anda tudo tão correto
(nem tanto).
Escola.
Faculdade.
Adultecer.
Não confio em gente grande, e em 21 dias,
Eu serei uma.
Como você,
Que não sabe o que faz.

Você está todo bem.
Está tudo bem entre nós.
Está tudo bem com você.
Está tudo bem comigo também.

Eu só não quero ir a escola.

Uma moça me disse hoje que você vai tentar se matar.
De novo.
E eu acredito.
E não me vejo fazendo nada pra mudar este fato.
O conformismo é uma droga.
E eu sou uma tremenda viciada.

Não quero que você se mate.
Não quero me importar.
Não quero sequer existir.

E por isso estou entrando de volta nessa vida insuportável
De acordar cedo todo dia
De estudar
De trabalhar
De me esforçar
(não que eu me esforce de verdade, isso seria viver).

Não há amor no mundo além do nosso.
Eu tenho muito aqui,
Muito a ser desprezado.

Mas estou cansada de ter que lutar para escolher um lado.
É preciso sobreviver. Apenas.
Não viver. Não existir.
Sobreviver.
Sub-viver.

Eu posso me cortar nas terças,
Me embebedar às quintas,
E ir passear no sábado.

No domingo eu posso odiar a vida,
Te amar na segunda,
E pedir uma ajudinha na sexta.
Só para estar em dia com a minha necessidade.

Na quarta eu posso matar aula,
E quem sabe fugir pra algum lugar interessante.
Quem sabe eu me drogue numa quarta.
Ou pule de um abismo
Ou só fume um cigarro.

Um cigarro que me lembre você.

Você finge que está tudo bem.
Mas não deve estar,
Não pode.

E eu minto.
Minto contigo.
Porque eu te amo.

E vou te seguir aonde você for.
Ou vou existir.

Eu vou adormecer todas as minhas atitudes.
E voltar aos meus afazeres insuportáveis.
Me disseram que isso é crescer.

E minha terapeuta me ensinou o caminho,
Eu só preciso ir,
Pra morrer.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Suicida.

Eu queria me matar por você. Queria estar lá contigo, na beira do abismo. Como estivemos na primeira vez em que você veio me visitar. Queria estar lá pra você. Por tudo. Para que a morte nos arrancasse essa solidão imensa. Para que ali estivéssemos um olhando para o outro. Com a convicção de um amor tão grande que chegaria ao túmulo. E talvez isso nos salvasse. Eu sempre achei que a vida ficava mais fácil quando a gente se dispunha a enfrentar o pior dela. Abraçar a morte, amor. Achei que fosse fazer isso comigo. Achei que fôssemos ficar juntos. Para morrer, ou para viver. E se você apontasse uma arma na minha cabeça,  eu te olharia nos olhos, e faria tudo para te convencer de que seria a coisa certa a ser feita. Eu sempre quis ser forte por você. Porque você é a poesia da minha vida. Você é a única pessoa que entenderia se eu me matasse. Entenderia de verdade.

Mas não. Você estragou tudo com aquelas malditas pílulas. Por que você tinha que fazer isso? Talvez você quisesse sabotar os próprios planos. Ou desafiar Deus.

Ou talvez. Apenas talvez você tenha decidido me salvar. Mas você não percebe que salvando o meu corpo você condena o meu espírito? Eu preciso de você. Eu preciso poder estar ao seu lado e topar fazer absolutamente tudo. Como se fôssemos dominar o mundo.

A minha coragem é maior ao seu lado. Eu sou invencível com você.
É uma merda que você tenha desistido dos nossos planos.
Você estragou toda a minha base estrutural. Jogou nossa poesia no lixo. Os ratos estão devorando tudo.

E agora eu só quero me matar. Eu. Me matar. Sozinha. De qualquer maneira. Todas elas são válidas. Eu quero me matar de vingança. Como se fosse minha última cartada. Minha última chance de fazer algo de que eu poderia me orgulhar. Provar que eu sou corajosa sem você.

Mas ainda estou trabalhando nisso. Eu preciso ter certeza do que eu vou fazer antes de ir. Essa solidão só piora tudo.

Por que você desistiu de mim?

Te sofro.

  Sabe, amor? Eu estava lendo. Depois eu estava tomando banho, e depois estava apenas respirando. E não importa o que eu faça, tudo me remete você.

  Na verdade eu sou doente. E sou assim desde sempre. Dependente, carente, desesperada. Eu era assim os 7 anos de idade. Eu era assim aos catorze, quando eu te conheci. E eu sou assim hoje, prestes a completar 18.

  E essa é a verdadeira razão disso tudo. Não tem conserto, não tem salvação. Eu sou assim, eu nasci errada.
  E você me deu aquele deslumbre de felicidade.

  Eu sou uma pessoa que nasceu para ser infeliz. Você escolheu a pior pessoa, no pior momento para ser sua amiga. Será que eu já te fiz algum bem?

  A verdade é que toda a minha obsessão surge de um sentimento construído em anos. O tempo me fez alimentar isso tudo por puro desespero. E eu explodi de satisfação ao te encontrar. E desde então eu venho me afogando nesse sentimento que acabou no momento em que eu saí daquele avião. 

  Depois de pisar no chão, tudo voltou a ser tristeza. E a tristeza é mais triste depois que a gente foi feliz.
  Esse meu desespero com a sua morte é uma enorme farsa. Porque o amor de fato, não existe. Existe apenas uma expectativa culturalmente construída.

  E eu não sei lidar bem com todas essas mentiras do mundo real.
  Porque eu sou doente. E se eu disser que te amo, é possível que nem mesmo eu acredite nisso. Como não acredito que você me ama. E a vida simplesmente não faz sentido.
  Mas se eu disser que te sofro, é verdade. Porque eu realmente entendo de sofrer. Nasci pra isso.

Obsessão Tolerável

Você está em todos os meus sonhos.
Você está nos meus olhos.
E pesa nos meus cílios.
Você está nas minhas bochechas gordas.
Nas minhas vontades, e nos meus temores.
Você está no meu céu, seja ele cinza ou azul.
E está no despenteado de meus fios verdes de cabelo.
Você está nos meus tombos,  quando tropeço no ser.
Você está no cheiro da chuva.
E eu pareço gozar com a nicotina que encontro por aqui.
Porque minha nicotina é você.
E toda nicotina é você.
Como ela me consome.

Meus cigarros parecem se deliciar com meus pulmões.
E te expiro.
Te sopro.
Te cheiro.
Te engulo em forma de gás.

Você é tóxico.
E eu não vou dizer que te amo.
Não hoje.

Apesar de você ainda existir em tudo que eu toco.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Janeiro pode ser aqui e agora.

E se, ao final disso tudo, o nosso destino for o mesmo.
Que seja.
Que eu te ame até a última gota.
Eu não preciso estar exatamente viva pra te amar, não é?
Te vejo do outro lado, amor.
Não se preocupe.
Vai ficar tudo bem.
Je t'aime.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Infindo

Ah, que mar infindo!
Que mar infindamente lindo!
Afogar-me-hei neste,
Como se ele te fosse.

Em toda a tua profundeza de existência.
Em toda a tua coerência desconexa.
Que apaixona-me.

Hei de mergulhar nesta paisagem,
Como se em ti morasse.
E como se nenhum mundo,
Em face da Terra,
Ousasse desabar em lágrimas.

E que de todos os meus amores visuais,
E dentre todos os meus prazeres e deslumbres,
Tu sejas ainda
O meu maior feito.

Que sejas sempre meu,
E eu sempre tua.
E que sejamos nós,
Mas desatados.

E que todo encanto,
Em vida
Ainda me lembre os teus.

Nós somos o infinito implodindo num corpo perecível.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Consigo

Não é nada com vocês. É comigo mesmo.

Foi o que me disseram. O único fragmento da carta.

Você aparentemente ainda não sabe que eu sou você.
Ou não se lembra.
Não se atentou a isso.

Tudo que diz respeito a você, diz respeito a mim.

Estou querendo viver sua morte de novo.

Mas você já chegou na superfície.

Eu só quero mergulhar.
E mergulhar.
E mergulhar.

Quero sufocar.

Por que será que eu sou assim tão errada?
Talvez eu não te faça bem.

Será que eu sou uma boa amiga?
Eu te amo.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Redamoinho, Yayo.

Eu gostaria de escrever a sua morte. Mas não teria coragem. Só tenho coragem de senti-la. E doi. Eu não tenho conseguido terminar meus poemas, meus textos. Não tenho terminado muita coisa. Percebi que nem mesmo lavava nos meus cabelos desde quinta-feira. Hoje é segunda. Sabe aquele clipe? Aquele de onde você tirou a maldita frase pra me dizer. Tô ouvindo a música. Porque é como morrer contigo. Eu só consigo pensar no quanto eu sou quebrada por querer aproveitar a tragédia toda vez que ela passa perto de mim. Como eu gosto de aproveitar a sua companhia. Até que me rasgue os poros. Eu não vivo num mundo muito real, percebe? Acho que eu sou doente. E eu te amo muito. E isso me faz sentir uma alma boa, apesar de tudo. E agora você me lembra aquele feto desenhado na sua parede. Pequeno, frágil e lilás. Eu interferi nele demais, lembra? E você lá cabisbaixo fazendo sua pintura, brigando com todo mundo. Que saudades de ver você brigando comigo. Que saudades de tudo. Que saudades de você. Queria poder te tocar. Te tocava como se fosse mesmo um bebê. Ou uma bomba, prestes a explodir. Como se teu corpo fosse um campo minado. E se eu pudesse, me deitaria nele e explodiria em mil pedacinhos. Eu morreria. Eu morreria feliz contigo. Vê? Estou falando sem rumo de novo. Você me tirou o rumo. Às vezes eu penso se talvez se eu tivesse sido mais forte com você, mais agressiva, isso talvez tivesse adiantado alguma coisa. Eu gosto da agressividade, entende? Às vezes sinto falta dela. Naquele seu texto você me disse que queria que eu o enforcasse. Como teria sido isso? E os cortes? Teria gosto de amor? Porque eu te amo. E eu repito isso como se fosse o mantra da minha sobrevivência. Da minha sanidade. Queria que não fosse tão complicado entre a gente. Nem sempre é. Agora é. Queria não ter medo de te ultrapassar os limites. Queria não viver essa incoerência todo santo dia. Queria que você não tivesse feito o que fez. Queria saber por que o fez. Um dia eu vou te perguntar. Não suporto sentir que você me deixou de fora. Porque não me disse nada além de um maldito trecho de um clipe. E foi lindo, eu tenho que admitir. Teria sido lindo se tudo acontecesse como você planejou. Eu tenho tantas perguntas para te fazer e não posso fazer nenhuma. Não posso conversar contigo. Não posso porque minha cabeça está cheia de você. Eu durmo e acordo e você tá ali. Foi quem me tirou da cama hoje. Tá tudo girando em torno de você. Eu tô me afogando em palavras aqui. Queria que isso passasse. Queria que essa distância terminasse. Estou com medo de ter abstinência de você, Yayo.

domingo, 13 de julho de 2014

Um espírito cheio de lama

Eu disse a um estranho que tenho um impulso suicida correndo nas veias.
Será que estou tentando te alcançar?
Ou será que eu sempre o tive dentro de mim?
Isso talvez explique o fato de eu querer os meus cigarros,
De eu querer os meus cortes,
De eu querer me matar.
Mas só de vez em quando.
Isto talvez explique a minha insistência em enfiar guela abaixo uma bebida que me dá ânsia de vômito.
Qualquer bebida alcoólica me dá vontade de morrer.
Não de me matar, de morrer.
Tenho vontade de me matar por volta das três da madrugada.
E é geralmente quando eu tomo um banho por me sentir muito suja.
Toda suja.
Eu sinto a minha existência suja.
É como se eu quisesse tirar meu espírito lamacento pelos poros.

No fundo eu sou um ser muito ruim.

sábado, 12 de julho de 2014

Eu te perdi?

Te amo
Te amo
Te amo
Te amo
Te amo
Te amo
Te amo. 
Te amo. 
Te amo.
Te amo. 
Te amo. 
Te amo.

Te amo. 

Te amo. 

Te amo.

Te
Amo.

Daqui.
Aí.

Em algum planeta que não existe.

Te amo.

Só.

Muito só.

Porque você entrou numa viagem, e não me convidou.

Porque detesto não ser convidada.

Porque me sinto só.

Você, Deus.

Você, o único sentido que eu encontrei.

Nessa vida podre.

Você que não sabe o que faz, tanto quanto eu.

Eu estou seguindo um louco.
Estou te seguindo cega e de mãos atadas.

E me perdi.

Você vai pra direita e me manda para a esquerda.

Desnorteei.

Você está confuso, meu amor.

E o que eu faço?
Como você quer que eu viva a minha vida longe de você?

Por que você sempre desfaz os planos?

Por que eu tô chorando o tempo todo se você ainda existe?

Por que você não quer existir?

Estou tão triste.
Tão triste.
Quem diria que eu ia reagir assim?

Estou triste.
Como se tivesse te perdido.
Eu te perdi?

Não se vá.
Por favor.
Eu te amo.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Venta-me

Você é vento.
Que me assopra forte
Eu, árvore.
Em todo meu tamanho vou quebrando em galhos.
Perco minhas folhas.
Sementes.
Tudo.

E você, vento.
Não posso tocá-lo.
Mas você me toca quando quer.
E me atravessa sempre.
Sempre forte.

Impetuoso, irredutível.
E pertencente, como se me mergulhasse.
Em ar, em terra.
Como se entrasse em minha alma.
E por lá deixasse os restos.

Os seus pedaços invisíveis prenderam em mim.
E você nem percebeu.
Foi vento, voou.
E eu continuei aqui.
Presa.
Dura.
Árvore.

Viva.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Amaldiçoei o diabo

Eu prestava-te contas, e me embriagava com tua imagem distorcida. Fazia-te promessas, e ignorava a realidade como quer que fosse. Um sentimento quente me tomava o corpo, e não havia ser no mundo capaz de me tirar do estado de transe. E eu precisava transar. Enquanto isso, me surge Yuu no horizonte. Muito provavelmente possuída por Nina, e amaldiçoou o demônio. Eu estava dopada, e ela brava. Inocente e brava. Uma combinação que não faz muito sentido.
Então você se virou pra mim em desapontamento com a escolha que não tinha exatamente sido minha. Haveria consequência para aquele ato.

Havia estado em uma sala, ou várias, de madeira. Não sentia nada que não me fizesse bem de uma maneira sombria. Não entraria no profundo de meu prazer, infelizmente.

sábado, 5 de julho de 2014

(Se eu digo que te amo, é fase)

Quando o peito se racha de tão inutilizado,
Qualquer óleo lubrifica o sentimento-quase-pó.
A cada esquina, mais flores são percebidas.
E dentro das memórias nascem futuros mortos,
Cheios de esperança pra engolir.

Quando eu me perco sozinha,
E me encontro em tudo.
Quando eu sinto sua falta,
Como se fosse morrer amanhã.
É só um vazio feito de céu que mora em mim.

Em cada um de meus vãos deita-se um homem,
Ou uma mulher.
Uma história, uma mentira, um violão.
E uma noite bem dormida.
E um choro no fim de tarde.

Essa minha solidão,
Que arde na sanidade gasta.
Me perco nas minhas perseveranças,
E na minha ânsia de felicidade.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Às vezes eu penso em você, de dentro do meu cobertor. E só assim meu peito se acalma pra dormir.

Confissão de cama

  Quero dizer, toda noite eu tenho me sentido só. E toda noite eu penso em você. E talvez se eu congelar minha alma debaixo de cobertores com mangas, isso se torne mais simples. Provavelmente não. Mas eu tenho ido bem, vê? Porque apesar de não estar feliz eu estou novamente controlada. E é como se eu estivesse satisfeita desta maneira.
  Amando você.
  Porque, você sabe, eu preciso de um romance que não estou encontrando. Eu preciso de um carinho que não estou recebendo. Mas está tudo bem. Porque eu estou aprendendo novamente a me alimentar de palavras. E meu espírito se reconforta assim.
  Amanhã eu fujo para o inverno. E talvez eu me divirta por lá. Mas certamente sentirei a mesma falta ao deitar sobre minha cama gelada.
  E talvez eu fuja pra janeiro. E me parece a solução mais forte pra essa minha solidão estupidamente conformada. Talvez eu vá contigo pra qualquer lugar. Você sempre foi a pessoa em quem eu mais confiei. Mesmo quando eu não queria confiar.
  Eu te confiaria a minha vida, e a minha morte. Eu deixaria que você me destruísse. Eu te amo. Eu te quero aqui. Eu estou muito só. Todas as noites.

domingo, 29 de junho de 2014

Respirar-te.

   Eu poderia ser sua borboleta monarca, e voaríamos juntos para o asfalto. E quantos entre nós não ficariam atordoados com nosso bater de asas inconsequente? Seríamos livres. Como ninguém vê quando digere uma tragédia. Eu te seguiria por mais três mundos. Eu seguiria aquele ponto laranja no céu, até que ele se desfizesse. Eu te amo.
   Não há poesia mais concreta, e mais infinda que existir em você. E minha nicotina chora quando eu não te beijo. E eu me desespero toda noite porque sua presença escorre entre meus dedos enrrugados.
   Você é a ausência de sanidade que me transborda. É o meu vício em ser o que eu não sou. Você é o que acorrenta a minha alma em vida, e o que a intoxica. Você é minha inspiração. E o que me satisfaz. E o que me incompleta.
   Há um espaço-tempo distorcido entre te conhecer e pertencer-te. E é como se eu mergulhasse numa alucinação, e sufocasse à beira da superfície da realidade. É mais feliz celebrar a morte do nosso amor, que apenas respirar. Eu prefiro respirar-te.

Você é o meu tesão na nicotina.

Esquinas mentirosas

Eu ando pelas esquinas,
Te procuro.
Encontro essas almas tortas,
E as aturo.
Sigo-as, decadente,
Pelo escuro.

Te acho nos meus cigarros,
Mentolados.
E fujo com um estranho,
Atordoado.
Com todos os condenados,
Faço festa.
E em pouco tempo consumo,
O que me resta.

De você, eu tenho pouco,
E peço mais.
Mas dizem que você é louco,
Meu rapaz.

Me acabo com eles,
Mas no fim da noite,
Eles choram.

E te chamo de longe,
E amanhece.
Me devoram.

Esperava de uma alma torta,
Uma morte breve.
Uma dor mais leve.
De quem não se importa.

Mas eles são tão humanos quanto nós,
E menos deliciosos que você.
Quero te engolir a sós.
E nos assistir morrer.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Escrevo e não há texto

Escrevo. Não com reverência ou responsabilidade. Não por reconhecimento, e não por admiração. Escrevo às vezes, por puro narcisismo. Escrevo para me surpreender com quem eu sou, e também para me expor a todo o resto. Escrevo sem nenhuma aspiração. Escrevo sem nenhum momento para tal atividade. Escrevo parar tentar me lembrar de quem eu era em momentos em que não me aceito hoje. Escrevo ao tentar organizar meus modos em palavras, e me redimir dos erros que não vão ser perdoados.

Escrevia no início, por pura solidão. E dizem, que é assim que a maioria faz. Escrevo hoje mais predominantemente por puro hábito. Por não saber lidar com o conceito de morte, e não ter o desapego de meus momentos tolos, nem de meus pensamentos cheios. Escrevo porque preciso existir além de mim. E escrevo para o espelho, mais que tudo.

Escrevo. Preciso escrever. E não há relevância real para este fato.

domingo, 22 de junho de 2014

Intenção

Vi uma borboleta branca
No caminho
E ela se alegrou
Na minha frente
Ignorou que eu era gente
E me disse:
Cocaína.

Eu esperei encabulada
Disse que ela estava errada
E que me atrapalhava de passar.

Muito tarde,
Ela não tinha tradutor
Pra língua de destruidor
Dos seus jardins.

A frase dela se plantou no meu
Apego.
E não tenho mais sossego
Enquanto a ouvir sussurrar.

Todos sabem
O que é que eu tô fazendo
O que é que eu tô querendo
E que eu não vou me matar.

Eu sou ela
Eu vivo como ela
Eu sinto como ela
E estou me fazendo perder.

sábado, 21 de junho de 2014

Aviso prévio

- Talita, pare.
- Você não entende. Eu não sou eu se eu não fizer essas coisas.
- Deixa de ser idiota. Nada disso vai te fazer mais feliz.
- E quem disse que eu quero ser feliz? Escuta, eu te amo. Mas eu não consigo viver essa vida, está bem? Essa não sou eu. Esses sorrisos, esse amor, essas margaridas e músicas alegres. Nada disso me pertence. EU NÃO AGUENTO VIVER ASSIM.
- E como você quer viver? Drogada na rua sendo fodida por qualquer um que passar? Sendo espancada, cuspida... ARG. Como você consegue aceitar isso para si, Talita?
- Porque eu sou essa pessoa. Eu já fui antes, e eu posso ser de novo.
- Mas você entende que eu não posso deixar você fazer isso?
- Você não vai ter que deixar. Não tem muito a ser feito. Eu vou acabar fugindo daqui. Admite, você sabia disso desde o início. Sabia que eu ia acabar fugindo.
- Detesto isso.
- O quê?
- Esse sentimento de incapacidade. Eu odeio. Odeio mais que tudo.
- Droga, Miguel. Eu não quero fazer isso pra te machucar. Ah, querido...
- Eu tenho o direito de ficar triste, não tenho?
- Tem, mas... Vem aqui. Fica aqui comigo. Eu não tenho escolha...
- Claro que tem, Ta!
- Não. Eu queria... Arg. Eu vou sentir sua falta. Não agora, mas vou.
- Se você fugir eu vou atrás de você.
- Eu não posso te impedir. Mas seria bom se não perdesse o seu tempo.
- Não vou saber viver sem você.
- O ser humano é capaz de coisas inacreditáveis.
- Eu consegui te encontrar.
- Você é um iludido. Mas eu gosto disso. Ai, meu deus, eu sou uma vadia sádica.
- Você pode ser o que quiser, eu ainda vou te amar. Ainda vou...
- Acho que eu também. Acho que eu vou te amar pra sempre, Miguel... Mesmo que eu nunca mais te veja.
- Como assim?
- Eu tô me despedindo. Mas não vou agora. De qualquer forma, adeus.
- Talita? O que é que você tá dizendo?
- Vai ficar tudo bem, eu prometo.
- Não vá.
- Boa noite, meu amor. Vamos dormir.

Você está aqui.

Você está em tudo.
Você está nas minhas esquinas,
E na memória das minhas retinas.

Você está em mim.
Está nos meus fios de cabelo,
E está nas minhas noites de sono.

Você está aqui.
Do lado de fora, no mundo.
No vento que me afoga de ar.

Você está no cinza do céu urbano,
E no sol que me desarma,
E na chuva que me bebe.

Você está na minha licença pra existir.
Está na minha voz pra reclamar,
E nos meus lábios pra sorrir.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Alice no seu mundo

Te amo agora exatamente como te amava há 4 anos atrás.
Talvez um pouco mais madura, talvez ainda completamente perdida.
Mas te amo tanto quanto.
Sem todos os fru-frus.
Sem todos os enfeites.
Sem todo o melodrama.

Te amo porque você me traz de volta à vida.
Porque você me enche de uma lucidez barata.
Isso não deveria ser uma metáfora, mas você é a minha cocaína.

Não é à toa que Yayo me lembra muito você.
Te olho debaixo, como se você fosse um deus.
Não dá pra evitar.

Depois te tudo que você fez e faz eu ainda sigo os teus passos.
E só me encontro em você.
Talvez você tenha mesmo um pedaço da minha alma,
Para que eu me sinta assim tão em casa quando estou contigo.

Me deu vontade de chorar agora.
Como se estivéssemos em 2011.
Eu ando me sentindo muito perdida.

Mas eu ouço sua voz e... é como se eu estivesse dopada.
Pessoas podem fazer isso? Ou eu estou mesmo louca?

Talvez eu tenha alguma doença, sabe. Porque eu não me sinto eu ultimamente. Como Alice.
Ficar acordada nessas noites longas me faz descer demais dentro de mim.

Eu poderia te ouvir pra sempre...
Amarrada, sacrificada, destroçada.
E tudo estaria maravilhosamente bem.
Doentio, não?

Eu te amo.
Te amo como um evangélico fanático ama a jesus.
Te amo como nazistas surreais amavam hitler.
Te amo como os judeus o odiavam.

Te amo numa sexta-feira suja, me entupindo de filosofias duras e me ensinando novas formas de me devorar por dentro.

Te amo rindo pra mim como se fosse o diabo.
Te amo quando você parece doente.
E adoeço contigo.
Eu me jogaria de um abismo com você.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Sonhei contigo

Você se transformou tantas vezes dentro de mim, que hoje fui capaz de sonhar algo bom sobre ti.
Sobre todo o ódio,
Além de toda mágoa.
Como se estivesse presa lá naquele tempo em que eu te amava.
Com aquele meu lado idiota, cheio de borboletas no cabelo.
Cheia de esperanças no sangue.
Cheia de melodia na voz.

Você se supera, dentro de mim.
É uma bomba-relógio.
Uma substância química.
E acho que acordei feliz porque sonhei contigo.

E lá você era minha.
Eu devia queimar na fogueira, querida.
Eu devia virar pó.

Mas a noite hoje está tão bonita...

Enciclopédia

Sobre o meu amor:
Parece mais sujo do que realmente é.

Sobre mim:
Pareço mais forte do que realmente sou.

Sobre você:
É mais o meu amor do que parece ser.

E sobre nós:
Sobre nós, tudo que as palavras não puderem dizer.

terça-feira, 17 de junho de 2014

O céu e o inferno.

Se eu pudesse me partir em duas,
Te entregaria uma parte,
E a outra deixaria na esquina.

E se pudesse sobreviver de um lado,
O outro morreria aos poucos.
E ambos estariam em casa.

Se eu pudesse, teria duas vidas.
E as viveria calmamente,
Como quem rema em meio à neblina.

Seria uma por vez,
Mas insisto em ser duas ao mesmo tempo.
E morro em dobro.

Passarinho.

Eu sou aquele pássaro de canto feio.
Aquele que ninguém gosta de ouvir.

"Os gritos da ave espalhafatosa
Acabaram por levá-la à gaiola.
E ela se enfurnou por lá."

Você é o ser estranho
Que me encontra todo dia,
E abre a portinha de metal.

Você sorri para o meu canto feio,
E de alguma forma ao te ver,
Eu começo a assobiar.

Como se fosse canário,
Como se soubesse cantar.

E se eu sair dali, só pouso no seu ombro.
Você me liberta todo santo dia,
E em todos eles, eu me decido por ficar.

domingo, 15 de junho de 2014

Ele quis algo meu. Respondi que pegasse à força. Que o sangue era lucro, e a dor era privilégio.

Eu vou morrer.
E ainda vou dizer.
Que foi de amores por você.

Tremedeira.

Eu tremo.
Eu tremo.
Eu tremo.

Meu coração se desespera.
Como se eu fosse morrer.
Como se eu não fosse te ver nunca mais.

Você não vai me salvar.
Você não vai.

Eu vou desmoronar.
De pedacinho
Em pedacinho.

Eu vou te sufocar e você vai pisar em mim.
E eu vou ficar triste.
E vou cortar meus pulsos.

Mas eu te amo.

Eu vou explodir.

Eu digo isso em todo texto que eu escrevo.

Aquele álcool está me matando.
Eu estou me matando.
Devagar.

Back to you. Back to Juno.

You could close your eyes once more.
And I'd fuck you in my mind.
And I'd touch you from my core,
As I fucked a butterfly.

I would sweet kiss all your body,
And follow ya to every party.
Wouldn't scream not even once.
Wouldn't care for anyone.

I'd be quiet as a shadow.
I'd be happy like a dog.
And finally act like
I was never really unhappy.

Let the silence talk for me.
Let my hands speak.
Let my eyes smile.
Let myself cry for a while.

I love you,.
You hear.
You answer,
I fear.
I see you,
A tear.
I touch you,
My dear.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Hidrocinesioterapia

Na minha janela, a menininha:
- Hidro...ci-ne...siote-rapi-a.
A mãe:
- Caraca, você conseguiu ler isso!
A menina:
- Hidrocinesioterapia...

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Am_r

Eu penso em você e meu peito acelera.
Já faz quatro anos.
Não posso ser tão patética,
Ou você me devora.
Mas eu te amo.

"Nossa, que ultraviolento."

Eu trocaria toda uma vida por mais um dia inteiro em que eu pudesse te admirar. Olhar, apenas. Não tocar. Sim, admito que pra mim é bem difícil resistir à sua pele. Você sabe, eu te amo demais. Mas eu trocaria tudo só pra estar do seu lado mais uma vez.

I really don't know how you did it, but I'm still able to miss you. Somehow.

Arritmia

E nesse desespero todo.
Esse cheiro insuportável de amor no ar.
Esse meu medo de não amar nunca mais.

Me esforcei tanto pra sentir isso de novo,
E já durou tão pouco.
Eu já estou correndo.
Quase em maratona.

Vou pra longe de tudo.
Porque já não tenho esperanças.

Já não acredito em mim.
Já não acredito no amor.

Só há você no mundo.
E você há de nunca ser meu,
Mesmo o sendo.

Estou em plena arritmia,
Daquelas de feriado,
Daquelas que eu só sinto depois de querer me matar.
Depois de não o querer mais.

Queria amar,
Mas só sei fugir de mim.

Um fósforo

Não sei se o cigarro de hoje me acendeu por dentro.
Ou se foi esse doze de junho.
Ou se algo aqui deu errado.

Hoje senti sua falta.
Senti sua falta de manhã.
Senti sua falta ontem, antes de dormir.
Senti sua falta ao sair de casa e me deparar com o cinza do céu.
Senti sua falta quando vi a chuva desabar da minha cama.
Senti sua falta quando vi a lua cheia.
Senti sua falta enquanto falava comigo.

E quando disse que era meu.
E quando me lembrei de tocar o seu corpo...
Ah, meu amor.
Eu nunca me senti tão libidinosa.

Eu quis estar aí.
Eu quis fumar os teus cigarros.
Eu quis me engolir de novo em todo o meu caos desesperado.

Contigo eu sou alguém.
E é exatamente esse alguém que eu gostaria de ser todos os dias da minha vida.
Ao seu lado eu existo, amor.

Eu te amo.

Queria te tocar de novo.
Queria te olhar de novo.

Eu te amo.

Queria fugir do mundo.
Queria te abraçar mais uma vez.

Eu te amo.

Eu te amo.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Um reflexo da maldição

Me lembro bem daquela tarde em que você me ligou.
E eu desabei tão forte que você pareceu pasma.
Chorava em teus ouvidos, soluçava.
E parecia tão intenso, tão real, que estávamos as duas atordoadas com aquela situação.
Era impossível forjar um sentimento àquele ponto.
Você notou.
Notou que aquilo tudo vinha de um canto tão profundo de mim.
Ah, menina. Se você tivesse metade da sinceridade que eu tive contigo, já seria muito.
Vê?
Somos como a bela e a fera.
O monstro queria a beleza para si, e de toda forma se despedaçava em pétalas para entregar a ela.
Mas a bela moça no caso, teve tamanha repulsa pela voz alterada da besta, que sumiu do mapa.
De fato, histórias assim não existem.
Queria que você não tivesse tido medo de mim.
Queria não ser hoje ainda mais destruída que já era quando a conheci.
Sabe aquela flor?
Aquela rosa vermelha guardada num pote de vidro.
O encanto em forma de objeto.
Ele não existe mais.
Por mais que não se importe, saiba que se perdi meu dom de amar foi por sua causa.
E eu o perdi. Estou certa.
Fui condenada a ser monstro, e de fato tive minha chance despetalada até a semente.
Eu gostaria de pedir desculpas a mim mesma por ter te deixado entrar aqui dentro de mim.
Me desculpe, querida.
A esse reflexo gordo no espelho.
Esse pedaço de carne com fios arrepiados no topo.
A essa personalidade desbotada.
Me desculpe por deixá-la entrar assim.
E sugar tudo que havia de potente em minha existência.
Você foi a minha morte no quesito amor.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

2,38

Há coisas sobre mim que não sou capaz de explicar.
Um momento do dia em que a minha única e absoluta preocupação do dia é me mover corretamente,
Bom, é muito incomum.
Duas doses semanais de paz de espírito
E uma maravilhosa dor nas coxas
Me parece razoável.

Independer fisicamente de alguém é apaziguante, eu diria.

Há sentimentos muito bons em pelo menos 2,38% da semana.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Cores

Vagando.
Devorando uma alma congelada entre minhas mãos.
Branca.
Algumas algas plantadas sobre a minha cabeça.
Turquesa.
O sol me irritando a existência mensal.
Amarelo.
E uma música. Algo sobre corações partidos e amores passageiros.
Um rosa embaçado.
A transparência da brisa, certamente mais discreta que eu.
O sentimento todo é estranho.
Uma calma entorpecida.
Leve, porém cheia.
Uma vida que não é tão importante quanto os passos no concreto cinza.
É como se eu não existisse.
E estivesse em paz.

Meu amor, eu tenho medo

Amor, tem uns ratos passeando por aqui. Não se preocupe, eles vão virar pó quando encontrarem o muro. E esse pó servirá de purpurina para as minhas palavras enfeitadas.
Amor, você não pode nunca me deixar. Não consigo imaginar uma vida sem você. E não é pelos ratos.
Querido, você está em tudo que eu tenho feito há quatro anos, desde que eu te conheci. Você está nas músicas que eu escuto, e nas que eu escrevo. Você está nas palavras que eu escolho usar quando não consigo ver o sol.
Ah, minha estrela, você está nos cigarros que eu fumei, e também na minha decisão de largá-los. Imagine por um instante o tanto que em mim é apenas você. E perceba o que sobraria de mim sem você.
Meu amado, nunca, nunca, nunca me deixe. Por favor. Eu te amo com minhas intenções mais puras. Eu te amo mais que qualquer outra coisa, e qualquer outro alguém no mundo.
Não deixe que isso morra. Tudo que eu sou morreria também.

sábado, 31 de maio de 2014

Crush

Manda e desmanda em alguém que tu não conhece.
Salienta a minha alma e inquieta a minha mente.
Dá a ela uma esperança que ela não merece.
Me desfaço pelo vento como se não fosse gente.

Chibata, acorrenta, e deixa ao acaso.
Tudo que vejo é um enorme descaso.
A faz de idiota, e encanta com medos
Não é verdadeiro nenhum dos segredos.

Te minto
Me finges
Dançamos
Caímos

Caio eu,
Aos pés
De um estranho
Nem mesmo me acanho
Nem mesmo me apanho de volta

Não vou cair morta
Só caio dopada
Só deito feliz

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Perdas

Mais um cigarro perdido.
Onde se encontra amor?
Mais uma dose de veneno.
Sem açúcar, por favor.

Nem meus fios de cabelo
Estão podendo me aguentar
Te recuso esta dança
Já não quero me matar.

Anda logo, novidade
Vem me tirar desse breu
Estou fugindo de todos
Me mande algo só meu

Já não sei o que mais eu posso perder

- Você se preocupa demais com as coisas. Puta que pariu, menina, como você vive?
- Eu não vivo. Nem tenho essas pretensões.

Pedi ajuda a uma magia de papel e até o tarô chinês me disse que eu sou um fracasso quando se trata de você.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Poeira

  Hoje seus olhos já não me foram convidativos, nem mesmo perturbadores. 
  Senti um suave desgosto pela sua existência, mas nada desabou em lugar algum. Meu ponto final pendulou no céu, e estava entregue. Como um coração que saísse pulsando pela guela acima, por cerca de um minuto e meio.
  Não me atrevi a tocar-te, ou mesmo deixar escorrer de mim qualquer resquício de afeto. Restou apenas uma simpatia elegante de letra maiúscula iniciadora de capítulos. E é assim que deve ser.
  Você deve estar na página seguinte como mero enfeite ilustrativo, como a sombra da árvore número três na floresta incrivelmente interessante em que alguém fez o favor de se perder - para que assim houvesse algo a ser escrito. Não tronco, nem flor. Nem vento, nem borboleta. Apenas uma folha de inverno, caída entre outras mil. Vírgulas do meu passado, e no seu caso apenas um ponto necessário no lugar das reticências.
  Um contexto a ser modificado. Um instante ultrapassado no ritmo disforme em que eu sinto a vida.
Hoje você durou apenas alguns segundos. E não tardando muito para esta memória se derreta incolor nas minhas veias, escrevo mais um adeus às tuas coisas.

  Expiro-te do meu pulmão, e segue uma tosse. Só há fumaça onde você está. Minha mente há de superar essa poluição.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Duas trocas de olhares

    Os dois trocamos olhares. Nós poderíamos naquele instante explodir o mundo através de nossas mentes inquietas. E tomando conhecimento disso, eu desabei. Desabei como os casarões cariocas da época colonial, cujas belas fachadas imponentes escondem a desestrutura de seus alicerces comprometidos. A cumplicidade instalada na posição daquela perna magra, que permitia uma conversa silenciosa, era capaz de morte. Uns poucos segundos de uma irreal existência mútua, e estaríamos os dois em retorno absortos na burocracia da vida. Ele estaria, ao menos. Seria mais honesto de minha parte descrever apenas a ele como um ser capaz de tal concentração. Era como se o apocalipse não o alcançasse e nem mesmo abalasse a sua sombra. O sorriso repleto de uma ironia irreverente, e porém disfarçada, era só mais um sinal de que não estávamos nem de longe em sintonia. Perdêramos-na havia tempo. E como se fosse o único bem que tivéssemos perdido, naquele momento este parecia de uma importância insuperável. A autencidade daquele gesto se ausentava de tal maneira que me doía. Me doía no pouco que restava de concreto em minha definição. Rachava-me as bordas e corroía-me os meios. Ter seus olhos em encontro aos meus era um suplício inimaginável às testemunhas daquele diálogo invisível.
    Fui-me cambalhoteando meus próprios passos, como se buscasse o ar que ele me arrancara sem a menor misericórdia. Implorei por demônios que me atordoariam os pulmões e busquei alguma redenção no colo de outra alma perturbada. Afinal, naquela tarde tudo me parecia feito de açúcar. E mesmo que a chuva se negasse a desabar impiedosa em meu caminho, podia-se ver o tudo que estava prestes a diluir e me abandonar. No fundo era apenas triste ter que aceitar o que já não existia no mundo que eu havia modelado.