segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Como entender que quem me despertou esse meu lado já não o tem?

E? Nada.

    Só. Sentada num muro qualquer, num beco, num canto. Sentada na beira da calçada ou da estrada, sentada num banco. Recostada num lado quieto da vida, vendo passar a vida que não parece concreta, tentando lidar com as emoções que surgem sem explicação para lhe atazanar o canto quieto. Sem roupas, perdida entre o se querer, o querer se dar e o não se querer pra nada. Deitada, cansada, muito cansada de se sentir tão só. Foge e corre entre as palavras como num labirinto, construindo um caminho sem chegada. Enfeita, brinca e tenta saborear os sentimentos que encontra sem querer no caminho dentro de si. Às vezes grita, chora e goza. Às vezes ri sem razão. Às vezes canta. Mas escreve como respira. E foge, e dança entre as famosas ilusões, aguardando o personagem da vez para lhe apaziguar a alma. Descansa. Sem vontade de dormir, sem vontade de acordar, sem vontade de viver. A vontade não passa de uma mera de observar o nada cheio de tudos que ela desconhece. Observar e esperar que algum tudo apareça, por estar tão exausta que já não suporta procurar. Sem medo, só pára. Sonha. Talvez esperar demais não seja certo. Talvez não faça bem esperar. Planejar acalma, mas não resolve. O que fazer? Ela observa a vida passar. Observa o tempo, observa o dia, observa as pessoas. Observa bicho, planta, chão. Observa tudo, e não grava nada. Nada lhe prende a teimosa atenção. Aguarda. Ao menos consegue estar calma se observar. Talvez pense menos sobre o que aguarda, talvez se distraia, se perca. Talvez nem pense... Talvez só só. Talvez sinta sem perceber. Talvez chore sem notar. Talvez calma dessa vez, só dessa vez, a esperar...

sábado, 29 de dezembro de 2012

Noite.

    Por conta da ausência de quem preencha esse papel desocupado, eu poderia, eu gostaria de hoje ser amante de minha querida nicotina. Porque minhas ilusões me dopam e me alimentam, quando a minha amiga depressão ameaça chegar num momento inoportuno. Eu aprecio a melancolia, e por vezes a solidão, mas eu só queria uma companhia que mexesse comigo tanto quanto certas aparições na minha vida inconstante. Talvez um tanto improvável... Minha querida esperança me consola... Essa noite podia ser bela, mas não... Essa noite será triste.

Tão perdida entre as sensações que meu cérebro não é capaz de compor sentidos finalizados.

Um talvez não sei o quê

   Quem sabe algemas? Quem sabe um pouco mais de dor, um pouco mais vigor, um pouco mais maldade? Talvez um pouco mais sentir, um pouco mais calar, um pouco mais tocar. Talvez um pouco menos quê, um perdido porquê, um pouco mais intensidade. Porque meu corpo pede um pouco mais. Um pouco mais de vida, um pouco mais vontade. Com toques, talvez a magia, talvez não verdade. A ilusão é um pouco mais forte, um pouco mais densa, um pouco mais revigorante. Um tanto menos decepção, e menos solidão, e mais apaziguante. É um pouco mais de vida, sem fato. Um pouco mais de morte, de mentira. Talvez seja só uma brincadeira, um prazer de instantes, mas necessitado. Talvez, só menos sozinha, só mais movimento e quem sabe inspiração? Talvez seja o não planejado, mesmo que esperado, mesmo que não paixão. Talvez seja o tal desespero, talvez serenidade, talvez eu só queira mais. Pode ser pedir o futuro, mesmo que provisório, pra "esquecer" o que ficou pra trás. Só quero estar na sua cama, mesmo que em silêncio, sentir meu corpo vibrar. Porque essa é a mais linda poesia, iluminar meus devaneios, ao observar. Talvez só não faça o menor sentido, talvez eu me decepcione, talvez eu nem queira mais. Mas nesse instante eu só peço um orgasmo, porque o meu recheio, pede a ajuda do carnal. Quem sabe a euforia novamente? Só queria estar no não pensar... Mesmo que a escrever.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Ela, a lua e o natal.

      Ouvir a voz dela... Ah, Deus. Adeus?  Ah, não... Não pode. Eu não resisto. A moça boba recosta na parede, namora o céu. Uma garrafa do lado, corpo solto. Pensamento discreto. O olhar dela conversa com a lua bonita, e novamente eu não tenho nada para lhes dizer. Eu absorvo no meu peito a sensação e o momento que não estou vivendo com ela. Ora essa, é Natal. O que estamos as três fazendo tão sozinhas? Talvez a lua seja só incompreendida pelas estrelas, mas e nós? Afinal, o que aconteceu com a gente? Eu posso senti-la. Posso ouvir sua respiração. Posso sentir seu coração bater vagaroso. Posso ver seu olhar úmido, mas não sou capaz de decifrá-lo. São tão poucas as palavras... Querida, será que você se lembra de quando eu podia fazê-lo? Aposto que sim... Eu queria estar inserida nesse círculo que você fez com a lua. Queria novamente ler os seus segredos e sentir esse amor que eu fui incapaz de definir. Talvez você entenda melhor que eu. Talvez você nesse seu mistério, perdida nesses segredos tolos, seja mais sábia que minha impulsividade desorientada. Não vou desistir ainda. Ainda não. Porque nesse instante de ontem eu senti você, e quis mais. Meu coração acelerou. Estar ao seu lado seria... Maravilhoso. Místico. Eu desejo esse momento. Adeus não.

Ser felino.

    Para onde será que este Leão está indo? Ele se afasta do grupo, se encolhe. Talvez coisa de gato, mas não coisa de Leão. O Leão chora, mas espera... Esse Leão não é um Leão... É uma Leoa! E como não perceber que era uma Leoa? O andar sedutor, o olhar.. O jeito como ela acaricia com a língua. Suas garras e presas camuflam sua doçura, mas não sua postura. E seus desejos... São desejos de Leoa. Mas ela ruge como um Leão! A Leoa é forte, mas ela se recolhe. E por alguns instantes ela parece desvestir a própria pele dourada. Se esconde onde ninguém pode encontrá-la e sai desvestida. Irreconhecível. Sua pele tem cor diferente agora. É uma cor que a maioria desconhece. Então, ela corre. E sente o vento bater gelado contra sua sub-pele sensível. A sensação é Maravilhosa, mesmo sem sua clássica juba para esvoaçar. E quando ela se vê absolutamente distante de tudo, ela ruge. E finalmente ruge como uma Leoa. E volta ao seu canto de origem caminhando suavemente pelo percurso memorizado. Ela quase pode sorrir. Mas um felino pode sorrir? Sabe-se que antes de tudo, uma Leoa sorri de dentro. E novamente ela exibe seu corpo e o brilho curvilíneo de sua capa dourada, que ela recoloca facilmente. Quando chega, ela se deita ao lado de seu amante e recosta sua pata pesada e macia sobre ele. Adormece. Seu ninho está quente novamente.

Como paz se só?

    E quando eu mais espero que a paz venha, ela não vem. Aliás, vem. Mas não dura mais que alguns minutos. Claro que uma preocupação a menos ajuda, e das grandes, mas insuficiente. E uma sensação enorme de vazio torna a desesperar meu mundo. A solidão. Quem entenderia o quanto eu me sinto sozinha agora? Eu preciso de um amor dito. Provado e declarado. Um amor que mova meu sistema nervoso e abasteça o mecanismo enferrujado de movimentação do que ele chamaria de "planeta". Porém não, não é dele que eu falo. Acontece que estou tão cansada e entediada que já não sei ao certo quem ou o quê pode me ajudar. Socorro. É minha palavra mais usada ultimamente. Entre muitas exageradas risadas, geralmente surge como s.o.s. Ninguém percebe. Nem deveriam. Eles não podem fazer nada mesmo. Me sinto incorrigível. Menos humana e mais patética a cada dia. Queria ser amada como amo. Observada como observo. Mas por alguém de quem eu goste. Ora, não é tão difícil! Existe uma receita secreta, sabe? Eu exijo muito às vezes, mas tem um certo pouco que me encanta o suficiente. Me sinto tão só.



19 / 12 / 12

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Chuva e sol.

    Dia indeciso. Tanto fora quanto dentro. O meu sorriso depois do choro é equivalente à cidade molhada e iluminada pelo sol recente. Devia haver em mim um arco-íris. Ouvir Tchubaruba ajuda. Dançar na rua também. Mas ainda não acabou. Ainda há tempo, busco a esperança. Não quero que tudo fique pior novamente. Onde está a poesia? Procurarei em cada canto. A necessito.



14-12-12

Se um dia eu parar de escrever, é porque morri. Ou amei tanto que esqueci de mim. E só não digo que fiquei louca, porque louca eu sempre fui.


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Oscilação.

   Era  como passar um dia inteiro sentindo o mesmo orgasmo. Não acontece, sabe? Esse tipo de sentimento, ou sensação acaba. E acaba logo. E assim foi com a paz. A paz dentro dela derreteu. A realidade consumiu e destruiu toda a fantasia. Ela estava novamente sozinha, e desejava ter dado uma última olhada... Ela não teve tempo de se despedir da ilusão. Foi arrancada e lançada contra a frieza densa do concreto. Sentia uma dor interna que conseguia ser algumas muitas vezes maior que qualquer dor que ela se provocasse. Se sentia inferior, humilhada como naqueles vídeos de fetiches bizarros que ela costumava assistir. Sentiu asco da situação. Desejou sufocantemente uma corda para laçar seu pescoço... Levou a mão aos próprios cabelos e puxou vagarosamente, mas usou toda sua força. Gritou. Gritou o mais alto que era capaz, porém não pôde ouvir nenhum som. Estava tão perdida entre os pensamentos barulhentos e confusos, que não soube dizer se sua voz ainda existia. Tentou chorar, mas seu organismo não permitiu. Malditas lágrimas. Malditas teimosas e intransigentes. Deitou-se no chão gélido e áspero e adormeceu emocionalmente exausta. Dormiu por um bom tempo.
    Quando acordou, estava sozinha consigo mesma. Não sentia frio. Tampouco calor. Não sentia nada. Observou o nada e pensou.
     "Lobotomia."

A incoerência sempre será doce.

A doçura sempre será incoerente.
O medo que me toma, maior que tudo.
De atingir, de ser descoberta, de ser conhecida.
Não almejo a fama, holofotes, reconhecimento em grande escala.
Quero apenas tocar e ser tocada.
É tudo que me importa.
Nesse trajeto falho e secreto, houve um deslize.
E como tantos outros, agora este exige reparos.
Precauções.
A url e o nome do blog mudarão.
Não sei ao certo por quanto tempo,
Ou qual será a nova identidade da única permanência que me restava.
Sempre serei doce incoerência, por dentro de todo o resto.
Com novos nomes, faces, e textos que não devem ser lidos,
E que porém, permanecem expostos ao acaso.
Sempre serei doce incoerência, e aqui reside a minha sanidade.

28/08/2015 - 01:15

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Doce neve.

   Pequeninos flocos de alegria esverdeados flutuavam vagarosamente até o solo descuidado. Sentada debaixo de uma árvore solitária, ela os observou. Era realmente irônico o modo como ela se sentia aquecida naquele momento. E não era a roupa que ela vestia, ou nada que ela estivesse bebendo. Também não era por causa da árvore que lhe protegia. O calor vinha de dentro. E o mundo parecia girar devagar. Ela constatou sem muito entusiasmo a anomalia daquele clima. Ali não devia nevar. Ela só usava um vestido de comprimento médio, e sapatilhas azuis. Se descalçou e foi para debaixo da neve. A velocidade dos flocos aumentou. Ela correu entre eles e rodopiou. Dançou e girou até se desequilibrar e tombar no chão. Olhando para o céu, adormeceu.
   Quando acordou, estava debaixo da árvore novamente. Coberta por um tecido macio, e cercada de um tapete branco reluzente até onde sua vista podia alcançar. Sentiu que sua nuca estava apoiada na perna de alguém, e uma mão tocou sua cabeça carinhosamente. Ela não se levantou, não se virou, e nem mesmo disse alguma coisa. Não se perguntou quem era. Levou a própria mão à mão desconhecida e sorriu para a neve que refletia lindamente o brilho do sol. Perguntar para que? Ela estava bem. Estava em paz.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Fim não é triste

Triste é quando ela vai embora... Ela, aquela pessoa com quem você costumava se importar cerca de um ano atrás. E aí você começa a questionar se ainda se importa... É fácil lembrar das sensações, fácil lembrar dos sentimentos ruins, e até dos bons. Mas lembrar dos detalhes... Isso se torna difícil. E então eu começo a me perguntar por que ela importava tanto pra mim, sabe? Como a coloquei em posto de tão grande importância, e como ela caiu de lá assim tão fácil. É confuso quando termina. Quando termina o que você mal chegou a definir, e lutou tanto para manter. Mas não foi forte. Não o suficiente. Triste é ver mudar uma realidade tão cômoda de um passado tão recente. É não poder fazer nada a respeito. Triste é se sentir mal por desistir, e mesmo assim não conseguir mais tentar. Triste é ter saudade de um sentimento que não existe mais. E ter que dizer adeus pra si mesmo. Triste não é o fim, mas o recomeço incerto, e a nova busca complicada da compreensão.

Que tal um chá?

   Renasce, ou permanece essa ânsia de ser escritora no sentido clássico da coisa. Escrever à mão, ou numa anciã máquina de escrever, com café do lado. Quem sabe um cigarro? Sentir a poesia fluir sem rumo e transpirar sem esperar. Porque vivo, escrever. Porque talvez seja isso que eu sou. Talvez eu seja fruto dessas palavras tortas que não me servem para explicar a ninguém a instabilidade de minha essência. Aqui estou criando mais uma vez um refúgio, na esperança de que alguém se encante como eu me encanto fácil nesses cantos recheados de poesia. Tentando mais uma vez buscar meu lado bom, meu lado lírico. Tentando novamente me aceitar, para aceitar a vida. Pondo mais uma vez a água para ferver. Isso é anômalo à minha rotina. Gosto de bebidas geladas. Gosto do frio. Calor só de gente, e só às vezes. Beberei um chá, para que minha inspiração se organize. Para que eu possa lidar com meus pensamentos desorientados, sem a necessidade de uma tal amiga nicotina. Para que eu possa mais uma vez, reinventar o amor. Busco meu chá. Bem vinda, nova tentativa.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Livros que são Meus

  • Peça-me o que quiser - Megan Maxwell (?/10/2013)
  • A Culpa é das Estrelas - John Green (16/09/2013)
  • O Lado Bom da Vida - Matthew Quick
  • O Teorema Katherine - John Green
  • Millenium III. A Rainha do Castelo de Ar - Stieg Larsson
  • Millenium II. A Menina que Brincava com Fogo - Stieg Larsson
  • Millenium I. Os Homens que não Amavam as Mulheres - Stieg Larsson
  • A Menina que não Sabia Ler - John Harding
  • Coração Maligno - Chelsea Cain
  • Coração Apaixonado - Chelsea Cain
  • Coração Ferido - Chelsea Cain
  • A Menina que Roubava Livros - Markuz Zusak
  • Harry Potter e as Reliquias da Morte - J. K. Rowling
  • Harry Potter e o Enigma do Príncipe - J. K. Rowling
  • Harry Potter e a Ordem da Fênix - J. K. Rowling
  • Harry Potter e o Cálice de Fogo - J. K. Rowling
  • Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban - J. K. Rowling
  • Harry Potter e a Câmara Secreta - J.K. Rowling
  • Harry Potter e a Pedra Filosofal - J. K. Rowling
Observação: Lista feita no dia  06/08/2013 , em ordem de leitura de baixo para cima.

Marcas Eternas

  • Mea vulva, mea maxima vulva.
     Em homenagem a Ninfomaníaca.
  • Camomila
     Em homenagem ao texto das camomilas do K.
  • Um coração no pulso
     Fruto do incidente de julho de 2014. Feito com lâminas, a princípio. Uma espécie de declaração.
  • Borboleta Amarela εïз
     Mais uma vez em nome da liberdade. Para representar a felicidade sutil e a esperança. A infância. 
  • O símbolo do signo de Leão  
     Para me lembrar da minha força. Da minha juba, e da minha personalidade que exige autoestima.
  • Teorema de Fermat      x³ + y³ = z³ 
     Fermat dizia que essa equação era impossível. Ela representa as dúvidas permanentes da vida.
  • A. M. E. (Aimer; Manger; Écrire)
     Sobre as três coisas que realmente importam na vida. Especialmente amor, que também é as outras duas.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Les Beaux

Rooney Mara as Lisbeth Salander
Rodrigo Pandolfo as Alex
Jude Law as a Gigolo Joe
Marina Ann Hantzis  as Sasha Grey
Bianca Comparato as Ana
Jennifer Love Hewitt as Melinda Gordon, or Samantha Horton
Rihanna as Rihanna
Mila Kanis as Lily
Jennifer Lawrence as Tiffany 
Emma Watson as Hermione Granger, or Sam
Ezra Miller as Patrick

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Talita

    Era um dia de decadência, como qualquer outro daquele ano insuportável. Ela acordou às 5 da manhã. Tinha dormido apenas uma hora. Em algumas noites não chegava nem a dormir. Sua mente ultrapassava o que podia ser dito como turbulento. Lembrou-se da época do colégio. Costumava acordar nesse mesmo horário, por vezes tendo dormido durante o mesmo tempo. Sentiu-se estrangulada por lembranças internas que só ele conhecia. A essa hora ele ainda estaria acordado? Talvez adormecido em sua poltrona com um caderno no colo. 

     Seria estranho pensar nele assim quando o conheceu, mas a imagem que tinha agora era marcada pelo forte aroma de cigarros. Era irônico pensar quantas vezes ele tinha insistido para que ela abandonasse aquele vício, enquanto que o efeito foi exatamente oposto. Era como se fosse o cheiro dela, impregnado nele. Seus pulmões eram semelhantes, assim como a melancolia, que nele, ela modelara caprichosamente. Ela refletiu um pouco, e não podia negar que tamanha ironia era divertida, uma espécie de degustação prazerosa da tragédia.

     Após algumas sessões de respiração lenta e profunda, ela reuniu forças, se alimentando apenas da necessidade doentia de observá-lo. Levantou-se da cama desconfortavelmente fria, e foi vê-lo. Ele estava a um cômodo de distância, mas ela sentia como se estivesse a uma distância muitas vezes maior. Como tinha imaginado, ele repousava, de corpo e mente exaustos, na poltrona também desconfortável. Ela se deu ao trabalho de escrever um bilhete. Um bilhete bem curto para uma despedida. Ali, disse que o amava, pediu perdão pelo egoísmo, e desejou-lhe sorte ao tentar destruir nele mesmo, o que nela nunca tivera conserto. Então, disse que a vida dele, a partir dali, recomeçaria, e que ele reencontraria o caminho para a felicidade. Finalizou dizendo onde ela estaria, e pedindo-lhe que não fosse procurá-la. Dobrou o papel de modo que ele pudesse ser preso na caneta dele, e lhe deu um beijo longo, porém sutil, antes de partir.

     Saiu. Foi levada instintivamente à rua onde tinha passado tanto tempo desejando o inalcansável e admirando o vazio. Um rio não muito profundo, e não muito limpo também, podia ser visto a uma altura considerável da ponte onde ela se debruçou, a ouvir seu coração acelerado, como se estivesse empolgado com a ideia de parar. Coragem. Ela subiu na grade de proteção. Abriu os braços, com todo o tom de drama cinematográfico. Não fechou os olhos. Caiu. Então respirou pela última vez. Adeus, Talita.


Escrito originalmente no blog MentesSingulares por mim.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Loucos














- E pra que serve essa faca na sua mão?
- Prazer...
- Não seria dor?
- Dá no mesmo. Eu gosto dela. Essa é minha de estimação.
- E tem outras?
- Bastante.
- Onde?
- Vários esconderijos.
- Como as usa?
- Depende do meu humor. Pode ser nos outros, pode ser em mim... Às vezes alguém as usa  por mim.
- Como assim alguém as usa por você?
- Quer experimentar?
   Ela entrega a faca na mão dele. Seus olhos sorriem, mas seus lábios permanecem sérios. Ele a observa chocado e confuso.
- O que eu faço?
   Não era bem isso que ele queria dizer. Sabia que devia ter negado. Mas parecia encantado com o mistério daquela faca, e de sua dona.
- Corte.
   Ela expôs seu braço esquerdo, desenhado sutilmente com cicatrizes.
- Como?
- Você precisa sentir o fio... A faca precisa fazer parte de você.
   Ela pegou a mão dele e o fez segurar a faca com mais firmeza.
- É boa, a sensação...
   Instintivamente, ele passou o dedo da mão direita pela parte cortante da faca.
- Consegue sentir? A conexão?
- Aham...
   Ela o olhou nos olhos.
- Ei, você não precisa fazer isso se não quiser.
- Não?
   O olhar dele pareceu ingênuo. Ela o beijou. Subitamente, ele segurou o braço dela com firmeza e fez um único corte. Não muito fundo, mas preciso. Ela gemeu.
- Achei que não o quisesse.
   A voz dela era fraca. Ele lambeu o sangue do aço.
- E perder essa sensação? É maravilhosa!
- Que bom que entende meu ponto.
   Pela primeira vez, ela sorriu. Ele sorriu de volta.
- Somos loucos.
- Claro que somos.



Escrito originalmente no blog MentesSingulares por mim.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Um guarda-chuva pra dois.

   4 e meia da tarde, All star no pé, olhos de ressaca, roupas largas e fones no ouvido. Esse era eu andando por andar sobre o meio-fio de uma rua pacata, triste, um tanto quanto solitária. Assim como eu naquele momento. A sensação de semelhança entre a rua e meu ser me fazia bem. Era bom ver que não estava totalmente sozinho. Pelo menos ali. Era Outono, a coloração das folhas das árvores soava perfeita quando estas, tocadas pelo sol, davam um tom amarelado à rua, a mim. Talvez fosse coisa da minha cabeça. O meio-fio era meu suporte, percorrê-lo era meu único intento. E quanto aos desequilíbrios pelo meio do caminho? E quanto as imperfeições do meu trilho? E quanto a minha disposição para me reequilibrar e seguir em frente? Torções de tornozelos são sempre dolorosas. O medo de uma imperfeição anômala pelo caminho existia.  Não podia desistir de chegar ao fim da rua, ela era imensa e eu já estava exausto. Iniciava-se uma garoa. Via uma silhueta se aproximar em minha direção. Era uma jovem, suponho que da minha idade. Cada vez mais próximos e nada acontecia. Permanecíamos caminhando, cada vez maior era a semelhança entre nossas situações, nossos olhares revelavam isso um ao outro. Nos encontramos, paramos a olharmos por algum tempo. De quem seria a primeira atitude para cessar aquele impasse? A chuva aumentou. Muito. Ela tirou um guarda-chuva amarelo de sua bolsa, me segurou pelo braço e me pôs em baixo dele, juntamente a ela. Me acalentara. Assim mesmo, como se já fôssemos amigos íntimos. Continuamos a andar, mas fomos ousados e seguimos pelo meio da rua.  Unidos pelo Guarda-chuva(ou seria esse apenas um pretexto?). Bem pelo centro. Sem medo. Com os braços dados.

 Escrito originalmente no blog MentesSingulares por Igor Cinatro.

A tempestade parou. Vamos?














        Me sinto como num barco depois de uma tempestade em alto mar... O sol vem e ilumina os destroços e meu corpo exausto sobre eles. Brilhamos. A água tão frágil e serena reflete o magnífico sol. Uma enorme sensação de calmaria toma minha vida, pela qual, o barco é testemunha, eu venho lutando arduamente durante um bom tempo. Mas ambos sabemos, eu e o barco, que ainda há muito a se resolver. E talvez, (e disso só a nossa amiga bipolar, água, pode saber), a tempestade volte. Mais forte, diferente, mais ou menos destrutiva. E não importa o que eu faça, não estaremos prontos. Meu pobre barco danificado e eu podemos afundar na próxima, e eu morreria afogada nos meus próprios medos e decepções. Mas nada disso importa no momento, pois sobrevivemos à última batalha e isso nos traz uma força facilmente abalável para lidar com a próxima luta pela vida. Esperanças de que dessa vez o descanso dure um pouco mais. Meu barco e eu concordamos, uma companhia não faria mal. A água não é confiável, nem mesmo o barco, ou eu mesma, nem o sol. Mas talvez você possa ser, pelo menos por enquanto. E por favor, não chore. Talvez a esperança seja o caminho mais curto para a desgraça, mas talvez não. E eu vou ficar bem. Vamos ficar. Não importa nada, e agora eu só preciso de você. Como amigo, como sobrevivente, como semelhante. Estamos tão perto... Acreditamos nisso juntos. Acreditamos que podemos mudar o rumo de tudo. Que podemos ser felizes! Agora é hora! É hora de viver, viver para a arte, viver para a felicidade...


Escrito originalmente no blog MentesSingulares por mim.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Antítese


















     Querida amiga, meu desejo é vê-la dilacerando sua alma. Desintegrando cada pedaço putrefeito e acinzentado que seu ser carrega. Tentando mesmo que cultivando o ódio, se desfazer desse mal que a acompanha. Querida amiga, quero que se jogue no beco mais necessitado de iluminação, quero que apague num lugar abandonado, e deixe serem exalados todos os seus pesares. Quero que beba, beba muito. Que preencha cada espaço vazio do seu estômago com álcool, até que o mundo comece a girar. Quero que encha suas veias com heroína pela última vez e que consiga dizer não a essa coisa que se arrasta acorrentada a seus pés. Quero que fume duas dezenas de cigarros, até que a fumaça te acalente como se fora sua melhor amiga, ou sua mãe. Quero que viva e morra nesse processo, e quero que deixe o mal tomar conta do seu ser. Mas me promete, me promete que seu corpo ainda vai viver. Te proíbo terminantemente de tocar em lâminas, ou em qualquer instrumento que possa servir para tirar sua vida fúnebre e infeliz. Te proíbo de pensar sequer em algo assim. Quero que sofra. Que sofra até que o sofrimento rasgue seus poros, e se livre desse corpo tão impotente que você usa como se não fosse seu. Quero que então, possa se levantar, sem saber ao certo onde esteve, ou quem fora, ou quem é essa pessoa que adormeceu ao teu lado, tão desnorteada quanto você. Quero que se desprenda de toda essa escuridão que te cercou, e que levante sabendo, sentindo, que agora tudo vai ficar bem. Quero que se obrigue a manter essa euforia, e que se agarre a ela como se fosse ela um orgasmo dos melhores. Quero que abandone esse canto desconhecido onde acordou. Quero que não volte a ele nunca mais. Quero que procure pela primeira vez na vida, algo de produtivo para te ocupar. Algo que te permita esgotar todo esse ódio e todo esse tédio que você mantém dentro do peito. Desejo que sua alma brilhe. Que ela ilumine cada parte desse corpo tão usado que então terá uma nova vida, novos princípios, um novo propósito. Então, compartilharemos o amor que será nosso novo objetivo em comum. E da próxima vez que resolver se afundar nessa tortura e seguir sua amiga morte, eu estarei do teu lado e “viverei” contigo.

 Escrito originalmente no blog MentesSingulares por mim.