segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Sopa

Eu como no escuro
Rezando pra comida errar o orifício
E eu morrer sufocada
Eu olho para o teto
Fecho meus pulmões
Seguro a tosse
Minha garganta tenta
Tirar algo de mim
Mas não consegue
Me vem o ímpeto
De enfiar
Do punho ao antebraço
Dentro de minha traqueia
Tirar aquilo de lá
Ou acalmar a coisa
Me sinto no mesmo esgoto
De novo
Como me torturasse
Masoquismo borderline
Achasse divertido
Toda essa destruição
O peso me esmaga por dentro
Viro uma sopa insossa
Tóxica
Você deveria ter ligado as luzes
Antes de me comer

domingo, 22 de dezembro de 2019

Dezessete

Eram dezoito e dezoito
O cheiro do natal chegando
A melancolia já me acenava
Pensei em você.
Nas nossas SMS em Volta Redonda
Na mesa da cozinha da minha tia
Você queria ser vlogger
Criar um canal no youtube
Eu achei tudo um lixo
Mas tentei não dizer:
Não queria arruinar seus sonhos.
Acho que você percebeu
Brigou comigo
Frustrado
Pensei
Enquanto te lembrava
Em flashes rápidos tudo
Você em festa, em texto, em call, em trauma, em relacionamento, bio no twitter, telefonema psicótico,
O meu cabelo rosa, Sasusaku, o infarto, os fundos do teatro,
O avião, e o ano inteiro decidindo se me jogava ou não nos trilhos do trem.
Pensei
Agora estou apaixonada
Por outro
Estou apaixonada
É a primeira vez em cinco anos
É a primeira vez desde março de 2015
Quando te amei
Que eu não acho que estou condenada a ti
Quis te contar
Repensei
Era como gravidez
Muito cedo dá azar
Melhor não, não
E se eu abortar?
Eu não quero ficar sozinha no mundo
Quem é que eu vou ser?
Você era o único que costumava me entender.
Acho que estou morta
Que tudo isso é uma grande peça que me estão pregando
Eu faço muita graça a algum público
Acho que já comecei a me arrepender.
Está tudo errado, tudo errado.
Eu nunca estive tão só.
E quantos mais encontro,
E quão mais perto chego,
Mais me sinto só.

Gold

Eu tropeço em água
E num sobressalto
Pedro voa para o alto
Sobe na cama
Num susto
Ofegante eu tenho
Minha primeira briga contigo
Me vejo no espelho
Acostumei aos cabelos
De carboidrato
Hidrato meu rosto
Meia noite e cinquenta e quatro
Está quase no ponto
Foram seis horas e meia
Gestando essa obra de arte
Meus dedos se abrem
Como acordados de súbito
De um silêncio profundo
De um sono de décadas
Um sonífero que passasse o efeito
Depois de descansar-me
Programada
E põe-me a escrever
Eu não tenho nome
Tudo que pra mim era um dia certo
Como as rimas
E tempo médio do poema
Se desvanece e morre
Eu não tenho futuro
E não posso fazer promessas
Tudo que tenho é essa imagem no espelho
Que no susto de Pedro
Me soou perfeitamente familiar

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Boomer

Diz pra ela que Hiroshima reergueu-se
Mesmo que o 11 de setembro
Tenha tido danos
Irrecuperáveis
Não quero que seja ela
A contabilizar os meus fracassos
Ninguém vai celebrar os meus sucessos
E a cruz que carrego
É pesada demais
Pra ser arrastada sobre mim
Como quem fosse dividir o peso
Tombando-o
Nas mais doridas de minhas vértebras
A solidão que pratico
E o ato de calar-me,
Perante todos que me novamente
Oferecem a chance
De retirar a espada de Arthur,
É também um ato de fé
O protesto célebre da morte
É o silêncio
E a severidade com que se procriam as células
É onde arde a arte
De permanecer.

Diz que venci a guerra
Que matei meus inimigos
Mas não que ganhei a mão do Príncipe
Pois disto ainda não sou digna
É preciso um reino
E terra fértil
Para prosperar

Abacaxi

Teus lábios moram nos meus
E me cobrem
Pesando o amor sobre meus olhos
Me sinto dormente, ausente
Em outra dimensão
Medindo o comprimento dos teus dedos
Na palma de minhas mãos
No silêncio da minha face
E no desmontar de minha total entrega
Aos teus olhos profundos
Que nem sempre surgem
Escorrendo entre o rio negro
Dos teus cabelos que me afogam
E à maneira como escapam teus sorrisos
Tenho vontade de ser sua
Só sua
Cada centímetro de meu corpo
Que arde sob o teu comando
Sob a tua presença
Eu sou um fio condutor
E te conduziria para o mundo inteiro
Mas antes
Quero te convidar para entrar em mim

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Bordel

Não quero discutir contigo
Filhos e netos
Planos de futuro incertos
Nas pautas frias dos teus cadernos
Quero te recitar entre meus lábios
Feito poesia
Mas que antes você me cale
Porque se alguém nos ouve
Entre sussurros
Pode ser que eu nunca mais te encontre
E eu preferia nunca me encontrar
Não quero dizer que te amo,
Pois não tenho tempo de te fazer feliz
Enquanto procuro uma saída
No meio desse furacão
Sei que meu caminho é desvioso
E não há nada de certo em minha vida
Mas as vozes me disseram pra te procurar
E quando meus olhos te encontraram
Como meus olhos moram em você
Eu fui a mais feliz do mundo
Por alguns segundos

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Sober Tiger

It's not about hiding my feelings,
I try to tell her,
Au contraire
I have no intention of relief
But to seek for a burning destruction;
What's there to be more alive
And consuming
Than fire itself?

Tiger, tiger
One might say
As my triangle finds it's peace
I try to keep up with the people
And realize
I'm not a person
Not a human being

I sew my throat
With nursed misfortune
Carrying myself
Through the drowning of my everydays
The moth cycle rewinds
I'm about to dry as a dying plant

I'm no plant either
Whatever happens it's about.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Resilience

She's insecure.
She crawls and yells
In the back of my mind
Shutting me down
Then teasing me up
She's scared.
These are extreme measures,
I know
What if it kills me?!?
She didn't seem as frightened while making plans to our suicide.
It's not entirely on hers.
It's been on and on for a long time.
I'm tired.
She does'nt want to go.
I don't want her to go.
I'm scared too.
Protestant.
If they are telling the truth,
Why can't I move on with my life?
Why do I rather stay stuck?
Life sucks.
I'm on my own.
She's all that I got.

sábado, 5 de outubro de 2019

Secret Masterpiece

Eu pinto as sombras
Nas folhas da noite
Difrato as realidades
E repolarizo um dia em recorte
Para provar que estou viva
Que estou certa
Que afogada nas minhas metáforas
Caóticas
E comentários sarcásticos
E despedidas constantes
E acima de todos eles
A minha vida
Está acima de todos eles
A minha vida
Vale mais que todos eles
A minha felicidade
Vale a minha vida

Eu fertilizo feijões e lentilhas
Com minhas lágrimas de morte e velório
Eu piso em caixas de ovos
E paro o trânsito de pessoas
E desrespeito tradições, e mães
E, em meio a uma obra prima fantástica,
Envolvo meus fertilizantes
Com dedos aflitos de um menor de idade
Misturo pimenta e leite condensado
Na minha língua em êxtase
E corro descalça até cheirar
Um pouco de pirulito e alho torrado

No escuro
Ninguém descobre minha obra prima
Eu ainda sou psicóloga nas horas vagas
Sigo antiética
Quase abro um filete, com o estilete
Na sala de artes
Ela grita comigo

Eu seguro a cabeça de um autista que preferia esquecer pela décima vez seguida enquanto espero um uber, então estamos no hospital, e eu sei que estou novamente pronta pra morrer. Pronta pra morrer.

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Sing songs

I stuff food in my mouth
Like I'm a cotton candy bear
And I am stuck here
In the middle of nowhere
Trying to get some help
But I'm silent
Like if I had my mouth sewed
Like no one speaks my mind
As if I am from another species

I die here
On another word
Through another day, another loss

Lose the battle

domingo, 22 de setembro de 2019

Mold

I am alergic
  to my own depression

sometimes
     it doesn't let
                  me




                   breathe

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

101 quilos e 74 gramas

Teu peso pena
Sobre minha omoplata
Dormindo juntos em paz
Sem saber da comédia satírica de Glob
Te fazer meu tapete
Para que soltasse três penas
E te ver mancar desolado em minhas mãos
Rir de mim
De meus olhos piscantes
De meus delírios
E sonhos de previsão de pronto-socorro
Eu preciso de você
Eu sinto muito.
Eu preferia ter o teu peso
E você o meu
E estar debaixo de você.

domingo, 28 de julho de 2019

Aborto

Você tem tentado me matar
Eu não sei qual foi o meu crime
Mas dia após dia
Sentença atrás de sentença
Você chega um pouco mais perto de conseguir.

Por você eu destruí minha pele
Marquei meu código de barras
1,99
Mercadoria de plástico
Eu aumentei meu peso
Larguei meus dentes de lado
Estou envenenando meus órgãos
Para nunca ser bonita ou viva
Como você gostaria de ser

Eu tranquei os meus fios de cabelo
Para que minha personalidade
Não os alcançasse
Para que não fosse confiante
Por mais nem um segundo
Porque te machucava
Eu ter a coragem
Que você nunca teve

Você, que desistiu de todos os teus sonhos
Ao longo de toda uma vida
Que me escolheu ter
Num plano perecível de casamento
Numa vida que eu, como você
Não escolhi perder

Um dia você me disse
Que eu te culparia pelo que fizesse
Eu prometi que não
E hoje sei que nem é preciso
Você se culpa desde antes de eu nascer
Mas quebro minha promessa
Porque tenho mágoa
Rancor e raiva
De como é tudo sempre sobre o teu ponto de vista
Sempre fingindo que é tudo sobre mim
Quando no fundo é sempre sobre você.

Faz tempo que não tenho que me calar
Ter tantas feridas abertas ao mesmo tempo
E ter que suportar, como gente grande
Com silêncio de vítima, maturidade
Faz tempo que não sinto tanta falta de ar
Quase morrem meus textos
Porque quase não tenho mais cabeça pra pensar

Mas contra tudo que me previram
Meus vinte e dois anos, meus vinte,
Meus dezoito e quinze,
Contra a condenação e maldição
A que você me lançou no meio de agosto,
E contra o desgosto que sinto
Por ter uma mãe e estar viva,
Eu ainda escrevo
Eu ainda penso
Eu ainda estou aqui

Não por você.

quinta-feira, 20 de junho de 2019

A beterraba estava morta

Minha temperatura estabiliza
Minhas vias respiratórias melhoram
Tem sido intenso e incrível
Não estar mais morta
E mesmo com minhas dores de garganta
Rouquidão e calafrios
Mesmo com meu suor e noite em claro
Minhas náuseas súbitas,
Cansaço e nojo
De estar na mesma pele
Por três dias seguidos
Com cheiro de ovo podre
E Pedro sujo
Tem sido fantástico
Estar viva
Sem pânico
Apenas sobrevivendo aos meus dias
Um de cada vez
No momento
Assistindo aos meus desenhos
E fazendo outras coisas
E o Pedro aqui, Pri

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Delusion

Little diamonds on the street
Seem like shining stars to me
"It's because you're medicated"
One of them says
Always the noisy voices
In my head
Endlessly
Doing their speech

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Mom, Kid and Lucy at the border.

Lucy says I should be
In a violent relationship
Hit hit hit me harder
Let me let me be
Mommy grabs a firegun
To send her back in the dungeon
No no not again
I hate to live chained and gagged
Left in the sewer gutter
Kid mourns in the basement
Alone and silent
Tied in a cage of fear
Sick of the fights and cries
And endless crisis
I, a nameless one
A loud but tiny construction
Beg for some help
Love or quick death
Desperate
For I no longer have
Any strength left
To sustain this kind of existance

domingo, 9 de junho de 2019

Gray

Tudo que eu faço
Tudo que eu penso
Cada molécula de oxigênio
Que entra no meu corpo
Traz consigo uma tristeza
De não sentir coisa alguma
De não de fato existir

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Naufrágio

Abri a barragem
Para que você passasse
Com seus longos fios de cabelo
E lágrimas ácidas
Com suas grandes expectativas
Revoltante otimismo,
Esperança no nosso chão.
Me afoguei
Em minhas próprias dores
Tão minhas,
Tão tudo que sei e sou,
Tão bonitas demais
Pra me deixar viver.
Me abri das piores formas
Para te dar a chance,
Para que você me encontrasse,
Mas neste mar caótico
Você se perdeu.
E eu continuei morando no fundo do rio.

sábado, 25 de maio de 2019

25 de maio

Abro as minhas pernas
Para quem quiser primeiro
Os goles gelados descem
Tornando meus órgãos
Um lindo casaco aveludado
Coberta de infância
Onde se goza rindo a violência
Os gritos e os pneus derrapados
As unhas fincadas nos fios
As entranhas de cimento
Carimbadas rosa na testa
Bebo de seus lábios
Meu pseudo cônjuge
Meu hóspede distante
A voz de alguém que conheço
Escorrendo de minha menina
Um clone delicioso
Uma cama dizendo meu nome
E me acolhendo nos braços
Tomando-me os joelhos quentes
E os olhos pesados
Me desmancho no enrolar da sua língua
Quero estar contigo
Uma única companhia
À deriva comigo
No olho do furacão

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Tu, depois você

Eu procuro nossos dois livros
E seu blog, para ler novos poemas
Procuro versos teus, reclamações
Soltas pelo meu caminho
Procuro a tua voz
No meio da tarde
Você sabe que meus dias viram noites
E estou em plena madrugada
Acordo insone às três da tarde
E quando estou prestes a chorar
Penso em você
E quando estou prestes a morrer
Busco você
Pelos meus textos, pelo meu corpo
Do que ele ainda lembra,
Os cabelos negros molhados,
Pesando nos meus olhos
Aquele abraço infinitamente quente,
Gigantesco,
Como abraçar um ser sobrenatural,
Os pés qual grossas pilastras,
Me fazendo sentir pequena,
Ausente,
Teu peso exausto sobre mim.
Eu te disse que ainda te amava,
Que tu era uma outra metade, gêmeo
Uma reprodução deturpada
De tudo que conheço sobre mim
Eu te disse que preferia morrer
A ouvir teus lábios
Mas mentia, pois preferia morrer
A qualquer coisa,
Exceto a ouvir teus lábios
Dizendo que me ama também.
E tu me disse, como sempre espero
E tu riu de meus comentários bobos,
Falhos, coxos, vis,
Você riu de minha insanidade
Como eu tivesse carisma
Como realmente enxergasse algo
Por detrás de meus ossos esfarelados;
Mais uma vez eu te disse coisas
De que me arrependi.

E foi sublime ouvir os teus sorrisos
Teu suor no rosto, a tinta respingada,
E te busco cega, pra tentar resgatar
Aqueles enormes 5 minutos.
Eu não escrevo mais textos,
Sigo calada,
Tento buscar nos teus
Algo que me comunique
Que me manifeste
Que prove a minha existência fúnebre
Se te amo e te sou, em certa parte,
Não há matrimônio ou prole,
Não há futuro,
Eu só preciso sobreviver.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Tutano

Eu sou
Sempre serei
Este vazio violentado
Esta falta de amor
Congênita
E a insaciável
Ânsia
De existir
Ou deixar de.

O que me foi tirado,
Qual lacre rompido
De ingenuidade, infância;
O que me foi negado,
E pago
Com suor e notas
Contaminadas,
Jamais pode ser
Preenchido.

Minha fome,
Minha miséria intrínseca
São algo mais que um fardo:
Degeneração pungente.
O retrato de minha morte,
Meu epílogo.

No oco espaço
Que preenche meus ossos,
Ecoa um lamento agudo,
Vitimado.

O primeiro fôlego
De quando me pari.

domingo, 14 de abril de 2019

Rachel

Fecho meus olhos e lábios
Para escrever este texto
Escondo meus muito poucos
Fios brancos
Roubo um vestido solto
Mastigado
Calço meu chinelo e alça
E choro
Minhas lágrimas de silêncio
Uma frequência fina
Que reluz
Dentro de meu crânio denso
Perfurado
Um ser recém-chegado no mundo
Redescobrindo-se
Completamente só
Afásico

sexta-feira, 22 de março de 2019

Gato Preto

Ela cruza o meu caminho
Eu me arrepio num salto
Ela não percebe
Meus pensamentos depravados
Estão em todas as paredes
Escorrem verdes e lúcidos
Gritam, qual chamadas de prostíbulos
Em tom neon psicotóxico
E se não tenho as mãos ocupadas
Afogando-me na mediocridade humana
Quase que me deixo escorregar
Topar a quina do dedo
No quebra-molas
Deixar passar
Que sigo sempre alcoolizada
Enquanto manejo o volante
Que está muito mais cravada em mim
Essa ideia introjetada
Essa essência crua e vil
A identidade que todos me negaram
E da qual se mantiveram escondidos
Que sou eu
O exato extrato
Da substância que me querem que ceda
E que se faça o soro
Para me curar.

Enigma

The beast inside of me
Must be fed
But it feeds with poison
And I wish to live
There's a whole bible
Of nude, crude truths
I must not tell you
I scout you from above
I scan you, and confirm
You're not tough enough
And I'm too sick to teach

I'm a very difficult dillema
An unsovable one.

Neither of them can live
For my appetite is wide and lasting
And each one carries a piece
Of the same wish
To finally finish the others
Then, conqueer my soul.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Noite

Meus lábios meio dormentes, meio mortos
intoxicados e transtornados,
invadidos por algum monstro bêbado que puxei pra perto;
As mãos me violando as roupas íntimas,
o hematoma nascendo nos seios
e as unhas sujas, mal cortadas
tentando me partir em duas por dentro da calcinha
amarelada de urina
do banheiro sem papel ou sabonete
com cheiro de vodca vomitada;
Meus cabelos lacerados,
ímpeto destrutivo:
nunca vou me torná-la;
Maquiagem borrada, suada, falha,
batom desbotado dos copos, marcados, latas,
bordas vermelhas, pisoteadas no chão, lameado;
Ponto circular corroído na saia emprestada,
do décimo cigarro da noite,
isqueiro dentro do maço, maço na mão,
pulmões comprometidos;
Pés estraçalhados,
dedos moídos,
garganta seca, voz danificada,
sentada na escada,
num canto qualquer, sentindo uma brecha,
uma brisa, um pedaço de lua,
uma tristeza profunda,
um desespero surreal.

Peter

Tudo nessa vida se faz correndo
Abandonar os sonhos
Derrubar os prédios
Abonar as (dí)vidas
Esfriar o sangue do preto sem nome
Rasgar o portão da moleira
Chutar a última cadeira
Costurar a gêmea perdida
Arrebentá-la novamente
Fugir do lar
Do leite do peito materno
Raspar o útero
Foder mais uma em coma
Imitá-la
Procurar uma artéria
Descascar a ferrugem
Do brinquedo em defeito
Vestir-se, despir-se
Matar o propósito
Engolir o suor
Dos acorrentados
Demolir os pés
Arrastar-se nos cacos
Pedir socorro e ser ignorado
Pulsar o sangue no órgão
Interromper-se
Natimorto
Na mesa de cirurgia

quinta-feira, 14 de março de 2019

Pavio

Sei que estou morrendo.
Sinto se esvaírem minhas forças
e a realidade fugindo de mim.
Me esqueço de quem sou,
Penso que talvez nunca tenha sido.

Decido pedir ajuda,
Prometendo a mim mesma
que essa vai ser a última vez.

Espero que não seja.
Assim, eu sei
que ainda estarei aqui.

Não sei o que me mantém,
Se é o medo da morte
ou a culpa
dos que deixarei.
Se são os assuntos pendentes
ou o amor que sinto
e ainda não terminou de queimar.

Sei que estou queimando,
Sei que estou morrendo.
Decidi acender a vela de meu velório,
já faz nove anos.

Ainda estou aqui.

domingo, 10 de março de 2019

Furacão

Eu sou um furacão de bolso.
Versão pocket.
Grande, gorda, mas pocket.
Eu sou um pedacinho de revolução.

Desde meu corpo
Que cresce ocupando espaço
E pisa e grita e roda
[Mulher rodada]
Onde não pode pisar
Aos meus discursos desconexos
Frágeis
Cheios de espinhos e minas no campo
Uma bomba-relógio
Ativada com sangue
Que eu mesma tiro de mim.

Eu me movo como quero
Ando torto nas regras
Fujo do que me é certo
E entro no descabido
Para vestir minhas roupas ao contrário
E pintar meu rosto com minhas tintas velhas
E dobrar as mangas na minha barriga
E declarar que tudo que se vê ao redor
De meu profundo umbigo
É o universo.

E na permanência
De minha vida
Quem manda sou eu.

Eu abro as minhas pernas
No fuso horário errado
Para alimentar meus tornozelos
Com a comida mais barata do posto
E se não provo de todas as drogas
Para saber de tudo que me falam
É porque sou eu
E existo
Em meu apocalipse
Não quero me perder nos escombros
Dos limbos de outros
Já tenho meu próprio oceano
No qual me afogar.

Eu sou os transtornos mentais
Dos artistas natos
O abuso e a violência
E também a insistência dos servos divinos
Em manter uma falsa ordem
Neste caos

Eu vou e volto
Em meus caminhos
Meus passos
Mesmo despedaçados
Mesmo deitada fúnebre
Sobre meu empoeirado caixão

Com minhas músicas
E poemas tristes
E lamentos hipocráticos
E feitiços satânicos
De cura e proteção

Eu sou meu próprio abismo
E do amor de outros
A minha falta de sentido
E perpétuo conflito
Foram o parto do mundo
Entre a harmonia e o pandemônio.

Vai, Carnaval, pode ir. Eu te absolvo. Fecha fevereiro e afoga março.

sexta-feira, 8 de março de 2019

Braços

Cada abraço tem vida própria
Única
Como um ser
Que fosse nascido
Pra morrer em alguns instantes

Às vezes não te toco.
Os dias nascem e morrem
No horizonte cego
E estou longe.
Não sinto seu coração,
Não sei das coisas que faz,
Do mundo que sente,
E nem se te arrancasse os olhos,
Me fizesse lente,
Eu conseguiria enxergar tal qual.

Às vezes não nos conhecemos.

Tem dias
Em que escuto pelas frestas
Um eco distante de teus murmúrios,
O arranhar macio de tua digitais
Marcando toda a parede do corredor.

Tem dias, sei,
Em que me ouves chorar
Baixinho, baixinho
Sob as cobertas
Dizendo que perdoo o carnaval
Por despedir-se assim
Sem me encontrar.

E se me encontra tu
Ou ele,
A festa da morte ou
Um sonho breve de depravação,
Eu conheço meus dois braços gordos
De sempre
Que não os reconheço no espelho
Mas que sei usá-los
Prontos para atar em ti
A minha solidão.

sexta-feira, 1 de março de 2019

Vertigem

Me doi o tornozelo
E toda a parte direita
Da estrutura de minha coluna
Desde as omoplatas à bacia
Destruída
Moída feito acidente de trânsito
Um caminhão
Que passou por cima de mim
Doi
Meu pulso direito
O dedo mínimo exausto
E sinto uma pressão
Em meus ouvidos
Nada faz sentido
E se é o sentido
Que me dá forças para suportar a vida
Não sei mais o que faço
Para continuar a viver
Você se despede, doente
Depois de uma porção minha de risadas
Minha noite se descolore
E eu odeio meu reflexo no espelho
Tudo que existe é passado
Nada que tenho vivido é real
Procuro Isabel
Que um ano atrás
Estaria me salvando dessa loucura
Me jogando no mundo,
Tentando coisas,
Pulando glitter,
Do lado de fora da casa
Com alguma vontade de ser alguém
Mas agora
Como todas as vezes
Que existem depois do bem
Me sinto morta
Perfurada pelos estilhaços
De meus próprios ossos
Destroçados
Torrada
Pelo calor
De minha própria proteção
Me sinto morta
E nem mesmo com todas as minhas dores
No meu tornozelo arrebentado
Ou vértebras quebradas
Na minha infinita dor muscular
E náuseas
Nada disso
Me prova que estou viva, aqui
Nada me faz querer
Continuar aqui.

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Bcs of my guilty thoughts

Me desculpe
Pelo peso que te dei
Pelas noites acordado
Pelas camisetas usadas
Pela comida da tua casa
Pelas lágrimas de sexta
Pelo ar condicionado
Sempre frio demais
Pelos roxos na tua pele
Pelo teu braço e teu pulso
Por não parar de me contorcer na cama
Por te prender de barriga pra cima
E pela tua coluna ferrada
De montar em mim
Me desculpe
Por ter te machucado aquela hora
Unha e menta
E por quase te derrubar da cama
E pelos sustos no meio da noite
Pelos meus pesadelos
Pelo poder que te dou
Com responsabilidades
Por todos os erros que cometo
Pela minha negligência
Por ter te deixado pensar
Que preferia outra boca
Por não gozar o suficiente
Por te amar o suficiente
Pra não querer te deixar ir
Por ser isto
Que sou
Uma bagunça de dores
E de amor
Incompreensível
Interminável
Indeterminado.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Comida Enlatada

O mundo desmorona lá fora,
Você,
Mora dentro de mim.
Me povoa,
Gente falando alto e cores,
E cheiros e música agitada,
Pimenta nos petiscos,
Calor espetando a pele
Você me faz um pedaço da Índia
Pareço viva
Como não fosse um pedaço
De depressão
Carne de soja,
Molho de tomate
Durmo enrolada
Em sua camiseta preta
Temperada
Com cheiro de moradia
De você habitando meu estômago
De todo o mundo
Que você acorda
Dentro de mim.

Shared Trauma

Respiro a dor dele
Veneno vaporizado
Queria que me partisse
Em duas,
Com seu pedaço de carne
Fizesse em mim
O que tem feito nas outras
Não há nada mais sagrado
E mais conectivo
Do que a dor

Mesmo sangue ácido
Nas veias
Mesmo passado instável
Inconsolável
Mesma vontade pulsante
De violência
Herdeiros
Da mesma maldição.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

The otter and the other

Get me out of my home
But let me keep my babies
Cut my money in half
But let me keep my babies
Take over my time
But let me keep my babies
Keep my sanity low
But let me keep my babies
Please,
Let me keep my babies

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

sábado, 2 de fevereiro de 2019

sábado, 26 de janeiro de 2019

Abandono

Me desculpe pelo chumbo que te dei
Eu já não aguentava
Meus pés estavam exaustos
Eu nunca quis te ferir os joelhos

Mas você me cedeu as mãos
Como pedindo por algo
E tudo que eu tinha era este peso
Este chumbo deformado
Para partilhar

Eu estive cansada
Por tantos anos
Bordando e pendurando
E ensacando minhas mentiras nas costas

Minha tentativa desesperada de
Ser amada
Receber afeto
Existir

E falseando gestos gentis
Pelos fios de cabelos
E pelos corporais
De diversos
Variados seres
Borrados, cintilantes

Você me deu um colo para descansar

Mas eu ainda carrego meu peso
Acorrentado no lombo
Passos lentos
E pés mutilados

E peço que me devolva
Meu chumbo entortado
Mas já é tarde
Seus braços nunca serão os mesmos
Depois da dor
Que te presenteei

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Fim

Me diz como fechar aquele texto
Como interromper essa goteira
Como socorrer-me de mim
Me põe nos braços
Não como filha,
E sim vítima
Uma deslumbrante figura
De personalidade intragável
Me diz como voltar para a tua casa
Sem perder-me de mim
Me diz como que eu faço
Para te amar
E continuar amando
Como é sempre esperado
De mim
Me ensina a ser humana
A ser alguém
Digno de berço e cova
Digno de ser lembrado
No fim.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Estatística

De todas as vãs tentativas
Burras, suicidas
De todas as fantasias
De tornar-se número,
Memória,
Resquício de si,
De algo,
Não conseguia deixar
Não consegue
De ser quem é
Uma exceção a toda regra
Uma conjunção de seres
Algo vivo que se surpreende
Surge e destaca-se
Contra a vontade,
Porque implora
E abomina
O palco
Porque sustenta-se
Nessa inconsistente busca
Pela vida
Covarde
Mas os covardes vivem mais
E ela não sabe pelo que viver
Exceto
Pela coisa em si
Por si mesma.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Madeira, Carne, Aço

Não te conheço.
Não sei teu nome, de onde veio
Não sei teu cheiro,
Gosto amargo de vida,
Onde ficam tuas feridas
As que estão abertas, cerzidas
Nunca te vi.
Não ouvi tua voz cortante,
Teus dedos ásperos
Arranhando meus medos
Não te conheço.
Te encontrar não é como
Voltar pra casa.
Me cobrir de poeira
Enquanto o sol nasce,
Não é como nascer
Pela primeira vez.
Não te conheço.
Não sei teu nome
Não sei o que te esmaga por dentro
Os nós que te travam os pulmões
Tuas febres às três da manhã.
Não sei dos pontos de veludo
Camuflados nos espinhos
Não sei do vinho branco
Ou como alcoolizam teus lábios
Não sei sobre como se movem
Suas mãos
Sobre instrumentos vivos.
Não te conheço.
Mas se me der um nome
E uma chance,
Se me der um segundo pra pensar,
Se me puxar pra perto,
Respirar bem fundo,
E fizer bastante silêncio
Por alguns instantes
Vai ouvir meu peito dizendo
Sobre como eu quero te conhecer.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Smoky Shower

How many showers have you skept, huh?
How many hours have you spent,
Wasting money
And life
Who do you think you're fooling?
Who do you think you're hurting?
Stealing daisies from her garden,
Throwing yourself
In the garbage
Is this a scream for help,
A suicide attempt
Or maybe a desperate cry
For feeling alive?
Helpless,
Useless
And self-centered
Who are you, really?
Who do you mean to be?
Do you even wish to be alive,
Still?


Don't leave me alone with your daisies, handsome

I might eat'em.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Fotograma

Me lembro dos nossos cigarros de camomila
Como se fosse ontem aquela tosse
Aquela luz azul alinhada em você
Me lembro dos cabelos dele me afogando
E dos pés de sustentação
Aqueles pés gigantes que me desconectavam
De todas as vezes em que ele me torturou
E eu ainda o amo
E eu ainda tenho vontade
De te queimar a pele com meus abraços
E os cigarros acesos
E o meu pulmão em brasas
Eu sinto falta da fumaça que me adoeceu
E hoje sou alérgica
A homens intensos e a tudo no vento
Eu sou alérgica a mim mesma na frente do espelho
Porque sei o que desejo e necessito
Sou coxa de mim
Mas entre um desatino e outro
Entre os flashes e frames da vida real
Nos quais me percebo de repente
E sumo
Eu me lembro
De quem
Ou do que
Eu costumava ser

sábado, 5 de janeiro de 2019

Obliviate

I never write it down
Because I need to forget
I'm scared to even think about it
I have no strenght to even cry for it
I make a tea at two and thirty
I'm scared to sleep
With all the nightmares
Hunting me
As vivid memories
Of fear and despair
I wanna leave this life
I have no other way out
And it hurts
My throat and face
My lungs and teeth
It hurts my ears
And every little piece
Of my shattered spirit
My red pair of eyes
Seem to be two smashed berries
Two rotten cherries
A bag of sadness and pain
I cry
And cry
And cry
And smell my tea
And try not to fall appart
And cry
And I feel hopeless
Homeless
Lifeless
Try to forget the reason
Again
Again
Again
Another flashback trauma
Another bad dream
Just a bad dream.