Sentou-se na janela como de costume. Para ela
nunca bastou olhar o mundo de dentro. Aliás, o que ela mais apreciava na
janela era uma sensação que se perdia entre o poder e o perigo. Quanto
mais alto melhor. Em certo momento, se sentiu acompanhada, como se
alguém estivesse a envolvendo. Não era um espírito ou coisa parecida.
Era uma espécie de sentimento, do qual ela sentira falta por um bom
tempo. Era mais um daqueles que ela era
incapaz de nomear. Ela podia fazer uma lista de nomes de pessoas que
podiam representar aquele sentimento, mas parecia impossível definir. Um
nome especial a marcava mais, mas ela permanecia em dúvida. O nome
soava em sua cabeça sistematicamente. Ele a fazia tão bem... Tanta gente
a fazia bem.
A poesia pairou no céu. Ela quis pular da janela para
talvez alcançá-la, e talvez morrer. Mas e se sua queda fosse amortecida
por algum colchão intruso? Isso costumava acontecer com ela. Todos
interferiam em seus planos. Sussurrou aquele nome persistente. Várias
vezes o repetiu quase hipnoticamente. Como podia ser tão difícil para
ela escolher pessoas? Ela simplesmente queria todas elas. Todas as
pessoas, todas as histórias e todos os sentimentos.
O clima era bonito. A
temperatura noturna era perfeita. Combinava com seu estado de espírito.
Ela sentiu falta da companhia física do dono daquele nome. De alguma
forma ele ainda não parecia se encaixar na sua vida. Era uma presença um
tanto anômala em seu faz-de-conta. Ainda sim, ela podia sentir nos
dedos a beleza das memórias que ele construia com ela. A saudade pesou
de maneira inacreditavelmente confortável. Como poderia admitir perder
aquilo? Se perguntou o porquê de a poesia ser coisa tão fugaz. Ao passo
em que era difícil se manter calma, uma monotonia colorida pairava sobre
ela, de maneira que ela parecia estar em algum sonho bonito. Impossível
deixar a vida mais bonita. Ela o queria para ela. Com nome, certificado
e algum feitiço de livro que tornasse perpétua aquela felicidade cega.
Era pedir demais, não era? Ela não o pediria. Só queria um pouco de
felicidade... Acreditou nisso, e decidiu não pular dessa vez. Sentou-se
no chão frio e adormeceu. Descoberta.
sábado, 30 de março de 2013
domingo, 24 de março de 2013
Pensar talvez não seja uma dádiva
Talvez estejamos todos tão desesperados e tão aterrorizados ao passo que nos é dado esse excesso de informações, e nele incluídos diversos, e infinitos paradoxos sobre quem devemos ser, que acabamos por querer e necessitar essa alienação forçada e produzida por nós mesmos, onde nos permitimos absorver superficialmente qualquer tipo de informações e escoá-las pela válvula de escape por onde saem também lascas de nossa essência sorrateiramente. Estamos todos tão vazios que somos obrigados a tratar nossas diversões obsessivamente para que elas sejam maiores do que a tal válvula e não nos escapem desapercebidamente.
Todos esperamos inquietos o encontro com a felicidade e com o amor, sem saber ao certo onde aprendemos a buscar tais importâncias. Nos dizem que tudo que sabemos nos foi ensinado, e que devemos nos libertar dessas ideias fixas que nos "enfiam guela abaixo". Mas ao nos dizerem, tentam também nos ensinar alguma coisa, e isso gera uma desconfiança total no mundo, e uma desesperança insuportável de que exista mesmo a possibilidade de que fiquemos todos bem. As definições não são confiáveis, e nos isolamos em busca de uma verdade que não acreditamos tão fielmente que exista. E quando gritamos porque tamanha confusão já não nos cabe, nos dizem que devemos fugir de tudo. E se fugimos, a confusão nos persegue e nos afoga. Talvez seja mais simples lidar com sentimentos mais primários. Com instintos animais, selvagens, que lidar com tamanho avanço de intelecto. Talvez por isso sejamos tão obcecados com comida e sexo. E talvez por isso, precisamos de imagens belas e de música. Lidar com os sentidos sem ter a necessidade obrigatória de descrevê-los, de defini-los ou de explicá-los, pode trazer uma calma inigualável, especialmente se esses sentidos são tocados tão sutilmente e sem interferência da confusão externa.
É praticamente impossível tomar decisões, ao receber tal avalanche de conselhos, logo após condicionados a não pensar, e sim obedecer, por tudo ao nosso redor, começando com nossos pais. O excesso é nossa realidade, por mais que essa palavra seja insuportavelmente ambígua, ou vaga. A falta de conclusão que somos nós e que é o mundo é sufocante. Somos cíclicos, e aí encontro um conflito doloroso com minha permanente necessidade e aversão a mudanças. Pontos de interrogação e pontos em trio nos envolvem em meio ao que nos é dito além do que desejamos saber. Como contornar essa insatisfação que sentimos, essa insuficiência imutável que vemos em tudo que chega? Ah, queridos. Somos todos apenas humanos. O que nos falta é o esquecimento.
Todos esperamos inquietos o encontro com a felicidade e com o amor, sem saber ao certo onde aprendemos a buscar tais importâncias. Nos dizem que tudo que sabemos nos foi ensinado, e que devemos nos libertar dessas ideias fixas que nos "enfiam guela abaixo". Mas ao nos dizerem, tentam também nos ensinar alguma coisa, e isso gera uma desconfiança total no mundo, e uma desesperança insuportável de que exista mesmo a possibilidade de que fiquemos todos bem. As definições não são confiáveis, e nos isolamos em busca de uma verdade que não acreditamos tão fielmente que exista. E quando gritamos porque tamanha confusão já não nos cabe, nos dizem que devemos fugir de tudo. E se fugimos, a confusão nos persegue e nos afoga. Talvez seja mais simples lidar com sentimentos mais primários. Com instintos animais, selvagens, que lidar com tamanho avanço de intelecto. Talvez por isso sejamos tão obcecados com comida e sexo. E talvez por isso, precisamos de imagens belas e de música. Lidar com os sentidos sem ter a necessidade obrigatória de descrevê-los, de defini-los ou de explicá-los, pode trazer uma calma inigualável, especialmente se esses sentidos são tocados tão sutilmente e sem interferência da confusão externa.
É praticamente impossível tomar decisões, ao receber tal avalanche de conselhos, logo após condicionados a não pensar, e sim obedecer, por tudo ao nosso redor, começando com nossos pais. O excesso é nossa realidade, por mais que essa palavra seja insuportavelmente ambígua, ou vaga. A falta de conclusão que somos nós e que é o mundo é sufocante. Somos cíclicos, e aí encontro um conflito doloroso com minha permanente necessidade e aversão a mudanças. Pontos de interrogação e pontos em trio nos envolvem em meio ao que nos é dito além do que desejamos saber. Como contornar essa insatisfação que sentimos, essa insuficiência imutável que vemos em tudo que chega? Ah, queridos. Somos todos apenas humanos. O que nos falta é o esquecimento.
quarta-feira, 20 de março de 2013
Diálogo
Ela o olhou bem nos olhos. Já perdera a conta de quantas vezes o tinha feito. Lembrou-se de suas mãos, controlou a ânsia. Respirou fundo, piscando os olhos intensamente.
Quando ela abriu os olhos, ele a observava. Mais especificamente seus lábios. Tentado.
Ela dobrou os próprios lábios para dentro. Negava o que queria aos dois.
Ele respirou uma vez e desviou o olhar.
Quando ela abriu os olhos, ele a observava. Mais especificamente seus lábios. Tentado.
Ela dobrou os próprios lábios para dentro. Negava o que queria aos dois.
Ele respirou uma vez e desviou o olhar.
domingo, 17 de março de 2013
Espera
Corda de piano ou violino. Todas desafinadas, todas loucas, e o
assassino. Correr em direção ao nada até chegar na mesma antiga esquina. Sentar e observar meus devaneios como se fossem eles capazes de me salvar de mim mesma. Não são. Perseguida pela solidão desacompanhada ou não. Na margem de um rio tão turbulento quanto a mente suja. A paz não me é merecida. E quem julga? Amor... Amor vai além do pedir
demais. É inviável. É impossível. Eu sou só um defeito do mundo. Sem propósito, sem vontade de viver. Sem honestidade na alma. Sem verdade. Sou um vazio decorado, e os órgãos embalados a vácuo doem e não deterioram na velocidade em que eu desejo. Espero minha querida encapuzada. Já cansei de viver.