terça-feira, 30 de julho de 2013

Namore uma garota que lê
















Namore uma garota que gasta seu dinheiro em livros, em vez de roupas. Ela também tem problemas com o espaço do armário, mas é só porque tem livros demais. Namore uma garota que tem uma lista de livros que quer ler e que possui seu cartão de biblioteca desde os doze anos.
Encontre uma garota que lê. Você sabe que ela lê porque ela sempre vai ter um livro não lido na bolsa. Ela é aquela que olha amorosamente para as prateleiras da livraria, a única que surta (ainda que em silêncio) quando encontra o livro que quer. Você está vendo uma garota estranha cheirar as páginas de um livro antigo em um sebo? Essa é a leitora. Nunca resiste a cheirar as páginas, especialmente quando ficaram amarelas.
Ela é a garota que lê enquanto espera em um Café na rua. Se você espiar sua xícara, verá que a espuma do leite ainda flutua por sobre a bebida, porque ela está absorta. Perdida em um mundo criador pelo autor. Sente-se. Se quiser ela pode vê-lo de relance, porque a maior parte das garotas que leem não gostam de ser interrompidas. Pergunte se ela está gostando do livro.
Compre para ela outra xícara de café.
Diga o que realmente pensa sobre o Murakami. Descubra se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Entenda que, se ela diz que compreendeu o Ulisses de James Joyce, é só para parecer inteligente. Pergunte se ela gosta ou gostaria de ser a Alice.
É fácil namorar uma garota que lê. Ofereça livros no aniversário dela, no Natal e em comemorações de namoro. Ofereça o dom das palavras na poesia, na música. Ofereça Neruda, Sexton Pound, cummings. Deixe que ela saiba que você entende que as palavras são amor. Entenda que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade mas, juro por Deus, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco como seu livro favorito. E se ela conseguir não será por sua causa.
É que ela tem que arriscar, de alguma forma.
Minta. Se ela compreender sintaxe, vai perceber a sua necessidade de mentir. Por trás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, nuance, diálogo. E isto nunca será o fim do mundo.
Trate de desiludi-la. Porque uma garota que lê sabe que o fracasso leva sempre ao clímax. Essas garotas sabem que todas as coisas chegam ao fim. E que sempre se pode escrever uma continuação. E que você pode começar outra vez e de novo, e continuar a ser o herói. E que na vida é preciso haver um vilão ou dois.
Por que ter medo de tudo o que você não é? As garotas que leem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem. Exceto as da série Crepúsculo.
Se você encontrar uma garota que leia, é melhor mantê-la por perto. Quando encontrá-la acordada às duas da manhã, chorando e apertando um livro contra o peito, prepare uma xícara de chá e abrace-a. Você pode perdê-la por um par de horas, mas ela sempre vai voltar para você. E falará como se as personagens do livro fossem reais – até porque, durante algum tempo, são mesmo.
Você tem de se declarar a ela em um balão de ar quente. Ou durante um show de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Ou pelo Skype.
Você vai sorrir tanto que acabará por se perguntar por que é que o seu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Vocês escreverão a história das suas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos mais estranhos ainda. Ela vai apresentar os seus filhos ao Gato do Chapéu [Cat in the Hat] e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos de suas velhices, e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto você sacode a neve das botas.
Namore uma garota que lê porque você merece. Merece uma garota que pode te dar a vida mais colorida que você puder imaginar. Se você só puder oferecer-lhe monotonia, horas requentadas e propostas meia-boca, então estará melhor sozinho. Mas se quiser o mundo, e outros mundos além, namore uma garota que lê.
Ou, melhor ainda, namore uma garota que escreve.
Texto original: Date a girl who reads – Rosemary Urquico
Tradução e adaptação – Gabriela Ventura

Texto encontrado no site  www.livrosepessoas.com
 original do site quinasecantos.com         

   "Saudade é amar um passado que ainda não passou, É recusar um presente que nos machuca, É não ver o futuro que nos convida".

- Pablo Neruda                           

"O que você me falaria se eu dissesse que acabei de ser estuprada?"

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A Miguel (3- só uma nota)

   Ainda te amo, e ainda te tenho dentro de mim. Acho que você é imortal, e mais que ela. Porque você é a felicidade. Acredito em você um pouco mais que em mim mesma, mas acho que ainda há talento aqui dentro de mim. Eu te amo tanto...   Gratidão. Gratidão à vida, e gratidão a ti. Um brinde seco a nós. E é só água.

De sua amada, 
sempre dona, sempre sua.

Être Nymphomane


Ne Me Quitte Pas - Maria Gadú




Linda, linda...

Papillon Noir

   Acho que as pessoas tristes são também as mais felizes. Talvez seja uma espécie de lição que a gente aprende na vida. Tentar não reclamar das coisas feias da vida, para que a morte não nos venha consumir. Pensar assim às vezes só me faz sentir bonita. Tanto triste quanto alegre, nua ou largada no chão. Às vezes eu me esqueço do outro lado do espelho. Insatisfeita com o dentro e paciente para admirar. Tudo que é incomum é belo, e desconheço o sentido de "vulgar". Por que seria um problema apenas ser? Me perco dentro de mim, como em um caldeirão sem fundo, cheio de um líquido encorpado e fervente. Como se algo vivo estivesse lá, mas sou só eu me afogando. Nada humano, nada são. E ainda sim, às vezes evaporo, solta de qualquer mentira e de qualquer verdade. Às vezes estou tão feliz que esqueço de pensar. E por isso às vezes me dizem que eu dramatizo demais. Eu sou uma criança, e um demônio (como ela). Sou a mais triste e a mais ingênua, e no final também sou a puta que alguns querem comer. Minha maldade faz parte do feitiço que vai te ensinar a me destruir. Acho que não sei quem sou. Talvez arte para alguém que não me viu. Ou é somente o que eu preciso ser (e em meus sonhos, sou). Em algum mundo eu sou feliz. Talvez do lado claro do espelho. E o sorriso desse olhar tão carregado de um brilho tão meu, que me encanta. Porque aprendi a chorar quando sangrei. E de vez em quando eu volto ao lago negro, e me lembro de como é respirar debaixo d'água. Mas sei ser feliz como ninguém. Leve como uma borboleta negra. Porque só os maus sabem voar.

Eu - Florbela Espanca

Eu 


Eu sou a  que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Eu sou a irmã do sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida... 

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino, amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou! 

                                                                               -  Florbela Espanca                                                 
"Eu sempre me fascinei com o matemático indiano Srinivasa Ramanujan. Ele dizia que para resolver seus intricados teoremas era movido apenas pela beleza das equações.
Na poesia também é assim. É uma espécie de exercício do não-dizer, mas que nos dilata de beleza quando acabamos de ler um poema."
-        Hilda Hilst                                    

sexta-feira, 26 de julho de 2013

O texto 3

   E agora, o que eu faço? Ela me perguntou. Eu não sabia o que dizer. Quem sabe o óbvio? Perguntei o que tinha acontecido.    Acho que não sei mais escrever. O que eu vou ser agora? Eu não sou nada sem os textos, e também eu não sou nada sem você. Você tá assim tão longe... Eu tô aqui. E talvez eu não estivesse mesmo. Mas o que é que eu ia dizer?
   Apesar disso, era difícil acreditar que ela pudesse simplesmente desaprender a escrever. As palavras continuam ali, sabe? Só precisam ser reorganizadas diferente. E ela ainda sabia fazer isso. Pelo menos era nisso que eu acreditava.
   Então disse que ela ainda sabia escrever. Era só continuar tentando.
   Não vai dar certo, eu sei. E você sabe. Não vai. Eu não sei mais. Eu nunca servi pra nada.
   Ela realmente não acreditou, mas voltou a escrever. E continuou me amando como sempre amou. Me disse que eu seria a sua inspiração e escreveu um texto que não a satisfez. Escreveu três. Infeliz consigo, e feliz com minha companhia. Ela suspirou e foi dormir.

  Escrito originalmente no blog MentesSingulares por mim.

ser escrever como quiser

   Escrever. É o tipo de verbo que rende uma página como assunto, duas, três. Especialmente porque textos são sempre sobre mim, e de mim eu gosto de falar além da conta. Mas hoje é bom falar sobre escrever. Especialmente porque inspiração não me falta (mesmo eu já não sabendo muito como passar isso ao papel). Escrever tem laços com meu passado, e muito com o futuro falso que eu tenho em mente. Fala muito sobre a minha vontade de viver. De viver acompanhada. E sempre que eu falo sobre morrer e sobre como eu sou tão errada, e sobre morte, é a minha maneira de dizer que quero mesmo é ser feliz e não cortar os pulsos. Não quero ser sozinha. E tenho esse mundo só meu. No papel, na internet, nesse blog todo verde-esperança. Verde-tímido. Verde-quero-ser-feliz-e-não-sei-como.
    Começou quando uma amiga me ensinou que eu podia criar a vida como eu quisesse. Que eu tinha essa liberdade de controlar as coisas dentro da minha mente, ou em um papel. E que eu não seria deplorável por escrever assim à minha maneira. E colocar tudo tão sem graça, tão infantil, tão desesperado. E que afinal não era tão mau assim. De alguma forma ela me ensinou que eu podia buscar minha felicidade em mim mesma, e na busca de outras pessoas, tão cheias de problemas como eu. E aí eu descobri que era bem fácil. E que era relaxante poder fazer alguma coisa da forma que eu quisesse. Sem interferência, sem limitações. Viver uma vida um pouco melhor que a minha. Alimentar a esperança no amor.
     Enfim, escrever se tornou minha maneira de sobreviver aos chamados "surtos", e de me obrigar a acreditar que coisas boas ainda podiam acontecer. Hoje escrevo no banho, na rua, na sms-rascunho do celular, na mão, na folha e em qualquer lugar. Às vezes escrevo dentro de mim, e tenho medo que alguém me leia pelo olhar, mas está tudo bem. Se alguém me ler ao menos me sinto importante o suficiente para ser lida. E estou novamente só falando sobre mim. Mas aqui eu posso, não é? Aqui o mundo é meu. Escrever me faz sentir assim. Dona do mundo. Uma rainha do otimismo.

Escrita vital.

   Escrever é se permitir ser quem deseja. É também ser quem não quer ser, e acha que é. Redecorar-se por dentro, se redescobrir, e perceber que o mundo é um pouco mais do que parece. Seja ele bom, ou ruim. Escrever é sobre se livrar de tudo que desagrada, revivendo tudo de maneira suportável no papel. Distante. Se afastar de todo mal e todo bem, até que seja seguro voltar para a realidade enfeitiçada. Escolher palavras é mais simples que escolher amigos, e solucionar complexos conflitos falsos ainda é mais fácil que encontrar o amor das nossas vidas. Escrever é amar-se e amar também a quem o lê. Mesmo que às vezes esse amor tenha um pouco de sadismo implícito. É eternizar-se para sentir um pouco menos a solidão permanente, que todos sentimos. Alguém também o sente. E dessa vez não choramos na cama, ou fumamos um cigarro. Escrever às vezes é homenagem, é tentativa de um futuro breve, ou um adeus necessário. Mas a mim, escrever é me salvar do precipício. É me relembrar de outras perspectivas de realidade. É talvez tentar manter um pouco mais do controle que eu perco de vez em quando, e também me fazer sentir mais real, na fantasia. Escrever se tornou a única coisa que eu realmente sei sobre mim desde muito tempo. Desde que tomei a verdadeira consciência de que eu existia, e precisava ser eu. Escrever é apenas tão fundamental quanto respirar.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Suicidal Dream - Silverchair




   A noite é maravilhosamente fria, mas a ausência às vezes me sufoca... Tenho medo do meu futuro não chegar. Nada como uma música depressiva para acalmar os ânimos e transformar a morte em arte.

domingo, 21 de julho de 2013

Lies, lies, lies.

   Vivo em mundos que não são meus. E frequentemente o alerta de perigo reaparece. Mas é reconfortante imaginar assim, fatal. A sensação de que algo ruim pode acontecer me acalma de uma maneira que só o amor fazia. Mas não sei mais sentir amor. Vivo em mentiras aleatórias, mentiras compostas. Ilusões bonitas por serem feias.

sábado, 20 de julho de 2013

Tudo sempre pode piorar, e tudo sempre pode melhorar.

Filosofia de um sábado à noite...

A Miguel (2)

     Ah, oi. Oi, Miguel. Precisava conversar um pouco com você, é. Acho que ninguém poderia conversar comigo sobre isso no nível que eu gostaria, sim eu sou muito exigente. E, é, talvez eu acabe sozinha. Sabe, Miguel, eu estou meio triste... Acho que ser ninfomaníaca não é uma coisa legal. Mas você sabe, meu humor sempre melhora quando rola sexo. Tá, você sabe do que eu tô falando. Não é sexo literal. Esse negócio de converter tudo em sexo meio que deu certo pra mim. É a minha maneira de me sentir segura, de relaxar, e de descontar a minha energia. Sexo parece fazer tudo ficar melhor, sabe, amor?
     Amor, eu estou meio sozinha. Queria poder dizer que estou sozinha de verdade, mas não é justo. Apesar de sentir que todos estão sendo egoístas comigo. Ninguém me suporta. Ninguém aguenta minhas oscilações intermináveis de humor. Até meu slaaf  teve o momento dele de não poder falar comigo. E eu tenho sido bem insuportável com ele. Até hoje. Hoje eu fui uma linda. E tenho quase certeza que ele me adorou em todos os momentos em que eu estive com ele. Mas... Você sabe. Ele não é você.
     Me doi muito pensar que o único capaz de me "acalmar" não vai mais fazer isso. Eu gostava do cheiro dele. Gostava da temperatura da mão dele encostando em mim. E acho que gostava um pouco da proibição dele de fazer coisas comigo. Isso tornava o jogo interessante. Mas eu realmente vou sentir falta de certos momentos. Vou sentir muita falta. E todas as vezes que eu penso nisso me sinto desprezível por querer as mãos quentes dele em mim. Me sinto uma prostituta, uma ninfomaníaca, uma desalmada. Era tudo tão simples... Tem certas coisas que eu sei tornar simples como ninguém...
     Querido, meus olhos estão cheios d'água. Eu queria que ele fosse como você. Acho que eu nunca vou te encontrar por aí. Mesmo sendo uma escritora tão boa. Mesmo sendo tão cheia de mim. Estou um pouco desesperançosa com o amor. Não posso viver de desesperança... Não... Posso. Estou chorando, meu amor.
     Queria algo novo. Queria que os surtos parassem, mas não posso controla-los e não tenho no que pôr fé. Me sinto meio vazia, mas ainda espero que haja alguma coisa dentro de mim. Não sou boa o suficiente para ele, sabe. Para o endless screw. Talvez eu não seja boa pra ninguém. Ou talvez ninguém seja bom pra mim.
      Estou feliz de ter você aqui dentro de mim. Estou feliz de ler esses livros com tanta dedicação, com tanto "amor".  Mas não consigo deixar de ficar triste. O que eu faço agora? Se eu não posso fugir, aonde vou? Aonde posso ir se meus futuros são todos suicidas? Ah, querido... Eu te amo tanto. Pena que sua carne não está aqui pra acalmar a minha raiva. Pena que suas lágrimas não estão aqui pra me reconfortarem. Pena que você não está aqui comigo. Só dentro de mim. Estou só.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Romance...


Encontro

   Assim que ela entra no cômodo, se dirige à janela.
   - Vem, querida.
   - Estou indo.
   - Se importa se eu acender um cigarro?
   - Não. Claro que não.
   - Quer um?
   - Aceito.
   Ela tira um maço e um isqueiro do bolso de trás da calça jeans. 
   - Aqui.
   Ela acende o cigarro da outra.
   - Obrigada.
   - De nada, querida.
   Ela acende o próprio cigarro também. Por um tempo, só se escuta as duas dando suas tragadas.
   - Eu já te falei que gosto de janelas?
   - Não, pequena. Não me disse.
   Ela se debruça na janela. A outra a observa.
   - Elas me dão tanta esperança quanto você.
   - Jura?
   A outra se senta no parapeito da janela, ao lado dela.
   - Ei! Você pode cair daí! Cuidado!
   - Não se preocupe. A vista aqui é bonita.
   Ela deixa o próprio cigarro no cinzeiro ali do lado e se encaixa entre as pernas da outra. Envolve sua cintura.
   - Gosto de você. Gosto do seu jeito.
   Seus lábios se aproximam. Elas compartilham a fumaça em suas respirações. Ela puxa o corpo da outra contra o próprio.
   - Eu também. - a outra sussurra.
   Elas se beijam e esperam o nada acontecer.
   Bom, esse é o gosto.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Tic-

   Tic-toc. Só queria usar uma onomatopeia. Essa é clássica. Adequada.Ou quase isso. O meu relógio não anda. Como naquela história da família que tem novidades extremamente sutis. Não dá pra viver aqui, viver dentro de mim e ser assim tão parada. Gosto da quietude mas tudo tem um limite.
   Engraçado. Instintivamente, olhei pro meu punho. Vi as cicatrizes e as minhas veias verdes. Eu gosto de verde. Mais que de vermelho-sangue. Quem sabe mais tarde eu não ceda a essa cor sutil e realize meu ritual satânico próprio em homenagem a uma causa perdida. Todas as causas comigo são perdidas.
   Oficialmente, sou obrigada a dividir todos com alguém. E isso faz de mim irrelevante. Ao menos eu tenho Marie e Miguel, os meus apaixonados. Nunca os coloquei juntos assim. Curioso o fato de a letra M estar nos dois. Não compreendo essa série interminável de coincidências inúteis.
   Não gosto de parágrafos corretos. Eles impedem a minha liberdade. Gosto mesmo é de atenção, e novidade. Mas o mundo não está disposto a satisfazer as necessidades da princesinha. Aliás, princesa não, Rainha.
   Não que eu seja isso tudo. Mas princesa não manda em nada.
   Quero um pouco demais. Uma pessoa, homem ou mulher. Que me queira, se importe e sinta minha falta. É tudo. Mas não terei tão cedo. O relógio continua parado no vazio.
   Tic-

domingo, 14 de julho de 2013

Marie, minha maravilhosa demônia.

    Querida Marie. Esse é um momento especial. Ele, meu querido demônio em carne, está mal. Irritado, naturalmente. Você sabe, é a maneira dele de sentir as coisas. Talvez esteja intimamente ligada a raiva com a presença de um você-sabe-o-quê. Mas a questão é. Esse é um bom momento para que você vá olhar ele por mim. Você sabe que eu não posso agora. Sou limitada. Você, por outro lado, é um espírito amaldiçoado. Você pode transitar por onde quiser. Não se preocupe. Eu a quero de volta ao meu lado. Sim, eu ainda te amo. Mas não gosto de quando você resolve brincar de me afastar dos outros. Não é legal. Mas vá lá cuidar dele. E se ele der algum sinal de que você foi boazinha com ele, e o ajudou, eu farei uma oferenda a você. Sim, você sabe do que se trata. Pra provar o meu amor por você. Tudo bem? Obrigada, querida.

sábado, 13 de julho de 2013

Coisas de perpetuar a espécie...

Nós,

   A perfeição de viver uma vida que não é sua, e porém é exatamente igual à sua maneira.
   Se ver de longe, e tomar como suas as dores de outro, como se não fossem também as suas.
   E no final, por que é tão doloroso voltar à própria e tão bem conhecida realidade?
   (como eles chamam)
   Esse nada de que tanto falam. É insuportável. E é por isso que fugimos à tragédia.
   É por isso que todos brincamos de suicidar.
   Em nossos sonhos.

   O vazio deveria ser preenchido com branco.
   Mas nós perdemos essa cor da tinta, como uma criança perde a cor da massinha ao misturá-la às novas. Como todos perdemos a ingenuidade, e o hímen. A busca pelo conhecimento, mata o espaço limpo dentro de nós.
   Somos agora sujos, e desprovidos de felicidade. Até a morte. 

Amor Fati


sexta-feira, 12 de julho de 2013

Nadie

  Ficaria tudo perfeito se eu tivesse um cigarro.
  É uma pena que meu organismo tenha me proibido.
  Já sei onde está. Objetivo inalcançável.
  O perigo fugiu de mim. Assim, o jogo perde o sentido. Perde o gosto.
  O gosto de erro, o gosto de morte. Não posso mais sentir nada disso.
  E assim, minha vida se torna novamente vazia.
  Quando foi que eu me perdi do meu objetivo? Me perdi para o bem.
  Injustamente manipulada.
  Ainda é bom ter as veias assim tão abertas para a entrada de toda e qualquer toxina fatal.
  Percebo agora o que me faz tanta falta. E só assim sou capaz de percebê-lo.
  Deixada só comigo mesma. Abandonada. Negligência Salutar.
  Escolha própria.
  Percebo agora que o que me falta não é amor, e sim o perigo.
  As pupilas dilatadas e o desespero entalado na garganta.
  A mente suja e insuportavelmente ocupada.
  Me falta beijar dona morte novamente. Me entregar ao perigo de assassinato iminente.
  Sentir o sexo como sentia a fumaça na rua negra.
  Oscilar entre o suicídio e o orgasmo.
  Me faltam essas pausas preenchidas, disfarçadas com pontos finais e parágrafos.
  Como se fossem versos do meu masoquismo.
  E então o momento do qual não sinto falta. E chega.
  O fim.

Comer o ar

Gosto de tristeza, sexo e intelecto. Gosto de fumaça gélida.

Ânsia insuportável de ir viver essa obsessão. Essa coisa macabra e doentia que cheira a suicídio.
 
Vontade de fugir e passar uma noite em claro perdida nas ruas.

É a única maneira de sentir que a vida vale a pena.
 
Cigarros até sufocar. Libido insaciável. Frio de doer os ossos e tremer o estômago.

Solidão que esfaqueia os pulmões. Cérebro ininterrupto.

Olhar a rua negra e aguardar a mão quente vinda de trás para apertar o meu pescoço.
 
E saber que ela não virá. E não me mexer mais que o suficiente pra continuar fumando.
 
Sentir qualquer calor humano se esvair de mim, até que eu vire um objeto. Uma coisa tão seca que prestes a virar pó.
 
Ao mais suave toque. Mas eu não serei tocada. E essa dor, essa tristeza desprovida de qualquer líquido, me alimenta. 
 
Comer o ar.

Fingir de morta.

Amar a morte. 

Somewhere

     Aí a garota triste sai de casa sem rumo. Bebe até ficar tonta, e desesperada por afeto, ou como alguma espécie de válvula de escape emergencial, transa com o primeiro que aparece. Com esse e mais dois, ou três. Se sente estuprada no final e saboreia a sensação de ser um nada, um lixo.
     Então, ela se vai. Chega em casa e apaga no chão do quarto. Na manhã seguinte ela se lava e volta a ser quem era pouco antes de entristecer.
     Pouco tempo depois, ela descobre que está grávida. Pouco mais de um mês. Ainda dá tempo de um aborto. Não é permitido.
     Ela consegue drogas que prometem matar o bebê. Ele morre. Aliás, dois. Gêmeos.
     Ainda não podem fazer a tal curetagem. É provável que a denunciem por assassinato.
     Aborto não é permitido.
     O momento da tristeza retorna e ela avalia as possibilidades de suicídio e quais são as mais atraentes.



    E é esse o tipo de coisa que eu penso no banho. Ou olhando a janela do carro. Ou em qualquer lugar. Histórias felizes das quais eu sou dona. E mais ninguém.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Statera

    Não é mais sobre verdades ou mentiras. Sobre o lado falso, ou o lado da realidade. Se tornou mais importante manter o equilíbrio entre o lado bom, e o lado ruim. E não é difícil definir o que é o quê. De um lado está a tristeza, o suicídio e o sangue. Do outro está a paz, a arte e o amor. E o sexo transita entre os dois. E às vezes some de vista. Gosto de me manter nessa linha tênue entre a verdade e a mentira. E dizem os sábios, que assim não nos tornamos tolos. Porque se estamos tão certos de qualquer verdade, somos limitados, somos burros. O conhecimento pode vir, porém meu filtro ainda estará lá. Eu aprendi.
    Quero dançar ou rastejar pela minha massa encefálica, como se não houvesse amanhã. Ou como se o amanhã fosse só meu. Quero me permitir na minha mente, tudo. Para que eu seja um pouco mais ciente do que eu quero mesmo viver. Quero a liberdade de uma Papillon, nem que seja só na metáfora.
    Ativar palavras-chave como desvencilhar, para que eu possa novamente buscar minha deliciosa autossuficiência. E lamber o papel limpo, em busca de alguma reação química que me traga a adrenalina da qual preciso para manter o equilíbrio. O equilibrista não para na corda bamba.
    Um pouco de esperança no futuro descrente. E um pouco lamber o fundo da bacia com massa de bolo da mamãe. Tem um gosto quase enjoado de passado. E especialmente, esquecer o cérebro num canto da praia de vez em quando. Ou quem sabe fugir do plano. A fé na lógica é excepcional.
     Algo como matematizar um sentimento. O paradoxo é exatamente o equilíbrio.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Désespoir

Dia ruim.

- O que é amor?
- É o que eu tenho por você.
- Não! O que é amor?!
- Eu não...
- Caralho, responde! O QUE É AMOR???
- Eu não sei!
- Como assim não sabe? Não foi você que disse que me amava? 
- Eu não... Não sei explicar.  
Ele abaixa a cabeça junto com o tom de voz. É um daqueles dias. 
- É mentira, não é? Todas as vezes que disse que me amava. Você mentiu esse tempo todo.
- Não...
- Mas quer saber de uma coisa? Eu não te amo também não. É, eu também sei mentir. Eu só queria transar com você. Nunca me importei.
- Para...
- Estou cansada dessas mentiras todas! Tá na hora de falar a verdade, não acha? Cansei!
- Você sabe qual é a verdade, Ta.
- Claro que sei! E você também. Mas a gente insiste em jogar esse joguinho sujo e fingir que realmente gosta um do outro.
Ela abre a gaveta do móvel ao lado da cama.
- Sabe o que eu acho? Acho que o amor não existe! Todos mentiram pra mim. É só isso que todo mundo sabe fazer.
- O que você vai fazer...?
Ele olha pra faca na mão dela, preocupado.
Ela sobe em cima dele na cama e encosta a faca no pescoço dele.
- Vai ser amor se eu te matar agora? Vai ser amor se eu disser que foi pra te livrar de mim? Isso é amor?
- Ta, por favor...
Ele sussurra.
- E se eu resolver cortar outra coisa? Aqui? Seria amor?
Ela leva a faca até a altura da cintura dele.
Ele fecha os olhos.
- Está com medo de mim agora? Vai fugir? Vai fugir pra dentro da sua cabecinha fértil? É isso?
Ela passa a faca pelo rosto dele. Ele começa a chorar.
- Você é louca...
Ele soluça.
- Sou, e você já sabia disso. Por que não foge?
- Porque eu te amo...
- MENTIRA!
Ela levanta num salto da cama e começa a jogar a cabeça contra a parede violentamente.
- Ei!
Por acidente, ela faz um corte na mão e deixa a faca cair no chão.
- Ta... Ei, TA!
Ele levanta e vai correndo em direção a ela e à parede. A essa altura ela já está tonta de tanto bater a cabeça. Desnorteada.
- Para!
- Não!
Ela continua a bater a cabeça com mais força até ser puxada pra longe da parede.
- Me deixa!
- Não. Vem cá.
Ele a abraça com força e a aperta contra o próprio corpo.
- Por quê?
A voz dela agora é fraca, quase chorosa.
- Porque eu não gosto de te ver sofrer. Eu me preocupo. Isso é amor. E eu sei que você me ama também.
Ela crava as unhas nas costas dele.
- E amor é suportar a qualquer dor pra te salvar, Ta. Eu te amo. Eu te amo...

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Por que você não veio me amar e venerar?

A Miguel.

      Querido Miguel, às vezes eu desconfio que nunca serei capaz de amar ninguém. E não entendo de onde nasci esse paradoxo. Talvez não haja pessoa que no mundo dependa mais do amor do que eu. Se hoje eu sou assim tão necessitada, e tão cheia desses amores considerados escassos, imagina se um dia me deixam só? Realmente só. Tenho a impressão de que já fui assim um dia, meu amor. E eu sinto falta de sentir aquele vazio molhado e escuro. Já é nítido pra quem quiser enxergar que eu não sou mais a minha arte sem a verdadeira dor. A solidão. A desesperança. Só dela que nasce a felicidade extrema. Não posso viver de nada. 
       Querido, queria você aqui. Te quero comigo. Na minha cama, no meu peito, na minha vida. Mas desconfio que meu lado mau não existe mais. E você, portanto, não deveria existir. Se soubesse como me faz falta... Talvez viesse correndo me ver. Cheirando a cigarro, me olhando triste. Eu te beijaria os lábios e a testa, e passaria a mão na sua nuca. Coisas que eu gosto de fazer, você sabe. E diria que eu te amo. Que eu vou amar pra sempre. Pra logo depois pensar que não sei bem se acredito mesmo nas minhas declarações. E por alguns segundos imaginar quanto tempo deve levar até que eu te esqueça, como eu fiz com todos eles. Como eu fiz com tudo. Acho que terei alzheimer um dia. Alzheimer do coração. 
         Querido, tenho medo da desesperança. Tenho medo de deixar de vez de acreditar no amor, pois é a única coisa na qual acredito. Tenho medo de desistir por medo de ser deixada como deixo. Por medo de deixar.
          Acho que você existe pra me amar...
          Miguel, o amor da minha vida. Eu deixei que ele escolhesse seu nome porque acho que foi ele que me fez viver de novo. E ele não é você, e ninguém mais é. Você é talvez o pedaço que me falta. Como diz o protagonista romântico do livro que eu tô lendo agora. Vi seu nome no livro, sabia? Até me distraí. Tive que recomeçar a leitura do parágrafo. Tem alguma coisa errada na minha vida. Tem que ter. Sempre tem. Mas ela parece tão perfeita quanto a de qualquer um pode ser. Acontece que eu não sou qualquer uma. E não quero uma vida perfeita. Ou quero?
        Miguel querido, estou me perdendo de novo. Me salve no meu sonho onde eu fotografo os céus enquanto espero ser abraçada por trás. Me ajude a achar a minha adrenalina e recuperar a arte que me dá um talento suficiente para ser apreciado por mim mesma. Quero meus poros inquietos novamente como sob efeito daquela droga redonda e  branca como porcelana. Quero o desespero de mergulhar no meu próprio lago coberto de musgo. Quero sentir que sou alguém. Como Talita
         Acho que a matei de verdade... Acho que a matei. Sinto saudade. Não sou mais ninguém sem você, querida. Não sou mais ninguém sem você, Miguel. 
         Me salve.


Com amor, 
sua não-amada inexistente.

domingo, 7 de julho de 2013

.Amor.

   Ali estava ela. Novamente nua em sua cama. Aparência deplorável. Seu cabelo estava absurdamente desgrenhado. Ele a observava.

  - Não chegue perto - ela disse.

   A voz dela era firme e levemente agressiva. Não o atingia. Ele mais que ninguém já estava habituado. 

  - Por quê? - ele permaneceu calmo.

    Ela mostrou sutilmente a lâmina. Tinha algo escrito em seu braço esquerdo. Ele tentou ver, ela o escondeu.

  - Não quero que veja. Saia!
  - O que você vai fazer, Talita? - a voz dele engrossou um pouco, ainda baixa.

   Ele se aproximou até que pudesse ler. "Miguel".

  - Você não vai me impedir!
  - Ah, mas vou sim!

   Ele tomou a lâmina da mão dela, não sem antes cortar os próprios dedos tentando pegá-la.

  - Por que você sempre interfere em tudo que eu faço?

   Ela começou a chorar. Ele pôs os dois dedos que sangravam nos lábios molhados dela. Ela os lambeu.

  - Eu te amo - ele explicou.

   Os olhos dela se fecharam com força. Ela mordeu os dedos machucados. Beijou-os em seguida.
   Ele gemeu. 

  - Eu queria provar pra você. Pra não duvidar mais de mim. - a voz dela agora era agressiva e macabra.

   Ela olhou no fundo de seus olhos. 

  - Ah, para com isso.

   Ele pôs as duas mãos em seu pescoço. 

  - Hm... Ahr... Cof-cof. 

   Ele apertou com mais força.
   Ela perdeu a voz.
   O olhar dela se tornou amável. 
   Ele soltou as mãos

  - Eu te amo, Miguel. 

   Ela tentou o beijar. As mãos dele voltaram ao seu pescoço.
   Ele sussurrou em seu ouvido.

  - Não seja estúpida. Eu amo você.