sexta-feira, 2 de junho de 2023

Grimm

A água não me aquece mais o suficiente
Queria que você me queimasse, cavaleiro
Com a ponta da sua espada
 a ferro quente
 ardendo em brasa
Mas você não passa de um gentil infanto
E eu preciso de um pai
Preciso de um amante
 de um Devoto

Estou cansada de lutar por migalhas

Queria ser a princesa dos jogos
Sou a da torre
A das tranças
E de tanto tempo a cultivar meus cachos
 eles caem aos tufos
Sou forçada a decepá-los
 como membros torpes que me sobrassem
A dor perdura
 como arrancasse uma de minhas línguas.

O silêncio me corrompe.
Me converto a esta forma de ser,
 de animal, 
 de abismo

Me sujeito à mais medíocre das fábulas
 me sujeito ao homem
Ao camponês pagão que em nada crê
 a quem nada rege
 se não a força braçal de plantar o trigo
 e assar o pão

Me curvo, sob o peso do cair da noite
 e do adormecer de minha pele
 da morte de minh'alma
E me sirvo em sacrifício ao único Deus
 que me resta
A sobrevivência.