segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Dedais

Eu ponho meu dedo em um anel,
Depois, dentro de mim.
Escapo de toda rota,
E entre todas as derrotas,
Você é a única que doi assim.

De todos os nomes que praguejei,
De todas as miragens que reproduzi,
De todas imagens que imaginei,
Você foi a verdade mais hipnótica que já menti.

Em meus pés descalços
E enxaquecas nauseantes,
Em meus olhos escuros
E em pensamentos distantes,
Você arrasta tudo que tenho
E pesa tudo que sou.

Você me acaba,
Perigoso como a maior fé
De todos os tempos.

Eu ainda te escrevo na testa alheia,
Se não liberdade, prisão.
E se dádiva punitiva, amor,
Se amor que nunca cura, paixão.

Se já não te posso dirigir a palavra,
Se já não te posso desejar sem certa culpa,
Me sinto perdida no mar de cá.
Me sinto navegar para lugar algum.

Mais desnorteada do que de costume,
Tonta, solitária, cansada, vazia.
Se busco diariamente a alegria,
É uma enorme frustração a tua não-presença cá comigo.

O perigo está
Na minha esperança e fé,
E até que encontre uma solução
Para este dilema-tu,
Eu fico aqui,

A afundar e navegar no chão,
A secar-me nos amores breves,
A te acenar com os dedos infiéis.

Dedos em que ponho aneis,
Dedos que me ponho,
Dedos que se exaurem,

Dedos meus,
Dedos de Deus,
Dedos de dizer adeus
Aos teus.

domingo, 27 de dezembro de 2015

Quase lá

Não sou uma garota  triste.
Ah, não. Eu apenas gosto.
Gosto da tristeza,
Gosto de expressá-la,
Gosto da liberdade de transmitir
E receber a tristeza alheia.

Sou uma garota que odeia domingos.
Não por serem tristes e desanimados.
Domingos são vazios e ocupados.
Em um domingo não cabe a tristeza como ela é.

Sinto falta daqueles 5 segundos de intensidade
E de toda uma vida que eu teria com Peter.
Sinto falta da minha imensa vontade
De alguma coisa.
Eu sou uma garota estranha.

Eu crio lagartas para abandoná-las
Na hora de partir.
Eu crio amigos para esquecê-los
Nos momentos cruciais.
Eu me apaixono para alimentar o ódio
Da decepção.

Eu sou uma menina absurda.
Eu uso meu corpo para certo arrependimento,
Eu uso minha voz para banalizar as coisas.
Eu uso meu sentimento para esgotar-me.
É isso que sou, uma sede de esgotamento.

Quando eu bebo minha tequila,
Quando eu como compulsivamente,
Quando eu danço e gargalho,
A vida é quase suficiente.

Mas quando eu te beijo,
Quando você me sufoca entre seus braços,
Quando me olha nos olhos
E eu sinto o maior pavor de todos os tempos,
É aí que existo.

Existo quando sinto algo
Que não posso suportar.

sábado, 26 de dezembro de 2015

Safe and Warm

Às vezes, tenho a impressão
De que todas as conexões que faço
Com pessoas diversas
São mais momentos que de fato encontros.
Não posso repeti-los,
Tocá-los, ou sequer lembrar-me bem
Dos sentimentos que vivo.
Uma eterna espera por alimento,
Morta-viva, sub-humana.

Eu estou exausta e me arrasto pela casa.
Nauseada com meus feitos, me estiro na cama.
E entre todas as pessoas, mesmo Peter,
Eu não deveria sentir falta dele. Nunca.

Coleciono razões,
Como se me fossem necessárias.
Sinto uma saudade imensa
De um abraço molhado de 90 segundos.

Se o meu natal valeu a pena só por isso,
Quem será que eu sou?
O que faço aqui, afinal?

Notifiquei, confessei
Que é por isso que vivo.
Sou boa em dizer coisas,
Mas não em me por na vitrine.
Doi ficar exposta
Aos que não me sabem cuidar.

Um pano quente
Pra cobrir o inverno da alma
E fazer derreter um pouco
Essa nevasca.
Um breve tempo
Pra esquecer de todo o resto
E lembrar que ainda dá tempo
De ser amada.

Deve ser por aí, não sei.
Esperança, esperança e lágrimas.

Uma noite mal dormida, ansiedade,
Um pouco de remorso e leve aflição.

Não importa, vou continuar tentando,
Chorando todos os dias, fiel a mim,
Me arrastando o asfalto do olhar alheio.
Tentando um pouco mais disso,
Um pouco mais daquelas cobertas
Forradas no chão descuidadamente.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Epílogo

Eu não vou te dar:
As minhas noites de sono,
As minhas tintas lacradas,
Os meus terríveis enganos
E as minhas portas fechadas.

Eu não vou te dar:
Os meus suspiros baldios,
A minha fé derradeira,
Minha eira e minha beira
E os meus tormentos vadios.

Eu não vou te dar:
As minhas folhas em branco,
A virgindade da minha pele,
As minhas unhas que ferem
E o meu coração franco.

Pego de volta:
O meu tempo perdido,
As minhas canções de ninar,
O meu amor aturdido
E o infinito pesar.

Eu não vou te dar:
Absolutamente nada,
Nem paciência,
Nem empatia,
Nem um resquício de compreensão.

Pensei
Em te dar
Um verso
De poesia
Adestrada,
Mas não resta simpatia,
Mas não te resta mais nada.
Eu, agora,
Saturada,
Só lembro de dizer não.

Pra você,
Toda a minha negação.

Ausência de conflitos,
De beijos aflitos,
De ânimo, de castidade, de luto.
E no meu ressentimento absoluto,
Eu te entrego tudo que me resta,
Sem festa, sem vaidade, sem jeito,
Te entrego tudo que é teu por direito,
Do velório à cova,
Da morte à prostituição.
Depois que todos os outros
Me puderem gastar até os ossos,
Te entrego os meus restos
Para te degustar a decomposição.

O amor não deve respeitar hierarquias.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Antes que eu não tenha mais nada para te dizer

[te amo]
Vou te falar baixinho
Aqui, bem rápido, escondido
Sobre os sonhos que tenho sonhado
Sobre como penso em você antes de dormir
Sobre a minha tristeza que volta

Eu vou confessar, aos poucos
Que ainda guardo algo de bom em mim
Que penso que vamos ficar juntos
Mesmo depois de tudo que você fez

E aí, vou desandar a falar de tudo
Vou falar dos meus ciúmes,
Do medo de você não me amar
Porque a ama demais,
Vou falar do meu nervosismo,
Da minha vontade de ser alguém,
Do meu medo de ficar sozinha
(e de certos insetos ou incertos)
E vou falar também
De todas as coisas que já digo sempre
Que sinto saudades, que sinto raiva,
Que tenho essa ânsia de passar fome,
Que como tudo na casa,
Que queria te dar um beijo,
E depois que me masturbo
Não quero ninguém nunca mais
Vou falar até de como eu fiquei religiosa
Depois de tantas conversas que tivemos
Vou falar dos sinais e dos feitiços, de astrologia
E de como eu me lembro de você e do teu signo
Toda vez que aparece um personagem meio assim
Eu vou perguntar se você gosta de mim
Mesmo que já tenha gastado todas as minhas chances
Eu vou te contar sobre meus amores de infância
Vou te mostrar os meus diários,
Meus envelopes coloridos,
Vou te listar todos os meus amigos
E prometer te apresentar a todos eles
Vou pedir socorro mais uma vez,
Só mais uma,
Pedir que pense com carinho na minha proposta
Eu vou fazer uma aposta
Contigo, pra saber quem vai morrer primeiro
E quem vai ser infeliz até o fim

Eu vou perguntar seu nome
Como você quer ser chamado?
E a idade que você acha que tem
Eu vou concordar quando achar que você está errado
E vou me fazer de sonsa pro teu bem

Eu vou te contar os meus segredos mais secretos
Os lugares que eu ia sozinha,
As comidas que eu roubava de alguém que amava,
E os objetos bizarros cheios de valor sentimental
Eu vou te contar as estranhezas todas que tenho
Ou das coisas que fiz no meu passado
Eu vou tentar curar-me do seu lado
E fingir como ninguém estar feliz

Eu vou perguntar como está a sua família
Vou te falar da minha, mais que o necessário
Vou reclamar do nosso fusorário
E de como estou cansada o tempo inteiro
Eu vou te falar sobre todos os meus choros
Eu vou te contar todas as cicatrizes e tropeços
Eu vou te escrever poemas do lado avesso
E te ensinar a traduzir meus códigos secretos
Eu vou te dar todas as minhas senhas
Te dizer todos os meus nomes, endereços e medos
Eu vou te dizer tudo que eu conseguir me lembrar
E um pouco mais, até você me odiar

Eu vou implorar que você me perdoe
Que fique, que aguente, que permaneça aqui
Que me faça companhia
Para que eu nunca precise ir
Para aquele lugar que combinamos aos 20 anos

E em um último sussurro,
Antes que eu tenha tempo de estragar tudo
Antes que eu tenha culhões pra ir de vez
Antes que eu não tenha mais nada para te dizer
Eu te digo esse silêncio de três sílabas
Esse silêncio que só pertence a você
[/te amo]

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Maresia

Meu mar balança e balança
Eu estou a deriva, mas até que gosto
Estar sempre nesse movimento que não cansa
Há algo de bom em nunca secar,
Em nunca estar parada no meu mar

Eu me desligo, olho pras estrelas
Às vezes me desmancho quente,
Às vezes tremo de frio, tanto faz
É quando eu vejo o céu se pincelando
Que eu quero tudo isso e um pouco mais

É quase natal e eu quase sinto
As brigas de família nas esquinas
Todo mundo se abraçando
E as cozinhas sujas de açúcar da rabanada

É quase natal e eu queria estar errada
Quanto à minha desesperança no futuro

Falta quase uma semana
Pra chegar o dia mais quente do ano
Em que as pessoas se abraçam, bebem e comem
Em que tudo isso faz sentido

E eu afundo sem querer,
Tenho um desgosto de tudo
Nem sei o que me puxa para baixo
Maremoto, talvez

Eu sou esse mar, não sou?
E essa época do ano
E os infinitos pacotes
De simbolismos cronológicos

Eu sou as náuseas do ir e vir
E a limpeza eterna que o sal promove
Não posso ser nada além de mar
Sou mar, apenas mar

Na miséria invernal
Ou nos escapismos do verão
Eu preciso continuar aqui
Até que alguém queira
Me mergulhar
E ficar um pouco mais
Nadando em mim

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Condolências

O céu está vermelho.
É tão tarde que é quase cedo.
Cedo demais para ir embora,
Tarde demais para voltar para ti.

Hoje me culpei
Pelo vazio que carrego.
Pus teu nome 
Na escassez do meu ar
E chamei-nos de fracasso.
É isso que sei:
Fracassar.

Quando pesavas sobre mim
Era certo, mais que todas as coisas.
Mas, quando te esvais,
Quando escorres pelo ralo
Nos meus banhos raros,
És sujo como tudo mais.

O sol do meio-dia me desfaz.
Me estiro na cama, não peço
Por nenhuma força ou salvação.

Não é o calor ou a dor
Que me provoca isso.
Eu sei
Que é resultado
Da minha falta enorme
De coisa alguma.

Eu te chamo, te chamo,
E sei que contigo aqui
Não faria nada.
Tu não tens valor algum.

Se não me amas,
Se mentes,
Se não podes me preencher
De euforia ou desespero,
Se não podes explodir minha libido,
É como se estivesses morto.

Tu morres, morres, 
Pra mim.
Eu nem choro no teu funeral,
Apenas me sinto vazia.
Um pouco morta também,
Entediada.

Se tu amas outro alguém.
Não vales nada.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Parede, Fogo

Você se senta.
A garrafa cheia,
Tampa sobre a mesa.
Você repousa o copo,
Pega a garrafa.
E começa a entornar o líquido
Dentro do copo.

Você se cala.
Chega a ser ridículo pensar
Que eu nunca te esperei esse silêncio.
Talvez eu seja
Demasiadamente estúpida.
Mas há algumas coisas que sei.

Você toma a primeira dose
E a segunda,
E a terceira,
E a quarta.
Você bebe uma atrás da outra,
Já está na metade da garrafa
E nem se importa.
Essa vodca barata
Não faz passar o que você sente.

Eu escuto o seu olhar
Não dirigido a mim
Em nenhum momento.
Eu posso senti-lo
Pousar inerte sobre a parede verde.

Você ouve músicas
Das quais não gosto
No último volume,
Mas não é suficiente
Pra fazer parar.
Não é.

Você mente.
Você não diz que está melhor,
Apenas espera que o seu silêncio
Seja interpretado dessa forma.

Você tenta não pensar sobre isso,
Sobre coisa alguma,
Mas acha que se não disser,
Talvez você tenha alguma chance.
Não tem.
E você sabe disso.
Você tenta esquecer.

De súbito, acende mais um cigarro,
Porque está lembrando, está lembrando,
Precisa consumir alguma coisa,
Precisa queimar, sugar, apagar a própria alma,
Matar os próprios pensamentos de câncer,
Você sente o desespero e precisa contê-lo.

Você precisa de silêncio.

E assim, deixa de ser quem é.
Torna-se mesa, cadeira, chão.
Torna-se parede. Verde.
Cinza, preta, branca,
A cor que for.

Torna-se a inércia do objeto, garrafa.
Você já está quase no final,
Já nem se lembra do copo.
Cinzeiro cheio, está prestes a desabar,
Não tem mais nome, endereço.
Não tem mais dor ou culpa,
Pois não tem identidade.
Não ouve, não vê, não sente,
Não existe.

Você bebe e fuma até morrer.
E repete o processo. E repete.
Você não pode acabar com tudo.
Então apenas esquece.
Insiste em esquecer e esquecer.

Você me esquece.

E enquando eu escuto, escuto, escuto
O eco das coisas que você tentou extrair,
Enquanto você nem sabe que possui voz,
Nós morremos.
Não só você, nós.

Se você é o fracasso que se cala,
Eu sou o que se manifesta.
Maior tua dormência,
Incrível meu excesso.
Transbordo, copo, cinzeiro.
Acesa, queimando, ardendo, sendo.
Vivendo todos os dias.

Sóbria, só,
Em autocombustão.

Afasia

As palavras dizem mais o que desdizem
Que o que de fato tentam dizer.
Não me convencem ou guiam,
As palavras não conseguem me entender.

Já fazem quase oitocentos textos
Que tudo está prestes a terminar
E um anjo guardião me disse
Que o que importa é continuar aqui.

Há coragem nas coisas que escolhemos ouvir
E há doçura no que às vezes decidimos não falar.
Não no medo ou malícia,
No silêncio compulsivo da passividade,
Há por vezes uma espécie de amor.

A paixão afásica me leva talvez
Ao mais desdito dos impulsos.
E ali, residente da fronte de desconhecidos,
Eu me enxergo satisfeita
No pranto reprimido de outros.

Isso me salva.
A palavra que não verbaliza-se
Ou o sentido que veste um belo disfarce.
Não o que possuem,
Mas o que são.

Sempre o que são os homens,
Mulheres, crianças, velhos,
Às vezes os cachorros, borboletas,
O que são os seres me intriga.

Sinto que para existir,
Preciso ser e compreender
Todos os outros.

Só sou se eu existir em você,
Se ouvir teu silêncio,
Se sentir teu medo,
Teu sorriso, tua dor,
Só sou eu mesma
Se eu antes te for.

domingo, 13 de dezembro de 2015

Peace Spell

Red skies, red skies
Soon you'll see
The brightest light

New skin, new thighs
Soon I'll have
A quietest mind

No screams, no cries
Sadness won't be passing by
This body of mine

None of this I will remind

sábado, 12 de dezembro de 2015

Como borboletas viram lagartas

Lá vem ela
Você não a conhece
Não sabe seu nome ou o que ela pretende
Ninguém sabe, nem mesmo ela
Alguma novidade, talvez
Ou uma boa história pra contar
Lá vem ela
Sacudindo os braços e cabelos desgraçadamente
Praguejando vida como se fosse uma assombração

E lá vai ela
Num instante ela já te disse seu nome
E seus três enormes traumas mais recentes
Lá vai ela
Rebolando inerte pelos cantos
Provocando caos e rindo feito um demônio

Mas ela vai voltar
Ela vai voltar e te pegar
Como se não houvesse nada melhor
Pra fazer na vida
Como se fosse uma espécie de despedida
Do mundo dos mortais

Ela vai te rondar
E depois de uns poucos gritos
Você vai pertencê-la
Mesmo sem compreender sua semântica
Ou sequer se interessar

Palavra por palavra
Você não vai entender
Nada do que ela diz
E quando ela começar a falar
Sobre como lagartas viram borboletas
Você vai descobrir
Que está na hora
E então vai partir
Para todo o sempre

Ela vai tentar mais uma vez
E como é de se esperar
Não vai dar certo
Porque pessoas como ela
Só se conhece uma vez

Até que ela mude de nome
Ou morra de uma vez por todas

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Wake me up when tomorrow comes

Me recuso a ler
Os textos que você escreve pra ela
Me recuso a falar contigo
Me recuso a lavar a louça
E a sair da cama
Me recuso a pronunciar teu nome
Mas de vez em quando me escapa
Antes que isso me consuma
Eu me recuso a parar de ler teus textos
E me recuso a parar de te escrever
Embora eu saiba
Que é só questão de tempo
Até isso tudo morrer
E eu ser obrigada
A deletar todos os futuramente trezentos
É, eu sei que não vou parar
É verdade que doi em todos os cantos
O foco parece estar em dois lugares
Nas minhas têmporas
E em outro lugar não nomeável
Eu aparentemente estou em negação
E não acho que haja salvação pra mim
Eu disse a ela, eu disse
Que o meu futuro sem você era só lixo
Mas também lhe disse que
O meu passado contigo era deplorável
Aonde eu vou agora?
Qual é a minha escolha, afinal?
Eu não tenho uma, eu não tenho
Algo em mim está morrendo,
Eu posso sentir
Em meus sonhos
Quando eu penso em você
Você não mais está
Você está morrendo também
É só questão de tempo, não é?
Até que sejamos esquecidos
Pelo próprio tempo
É só uma espera pequena que nos aguarda
Um silêncio no rugir da noite
Uma dor aguda pela manhã
Quando percebermos,
Não haverá mais nada
E a que custo?
Você já parou pra pensar
No que isso significa?
Acho que você sempre esteve disposto
A sacrificar o que eu nunca sacrificaria
Você sempre teve assuntos mais importantes

E eu sempre culpei todo mundo
Por me fazerem sentir culpada
Ou por me coagirem a qualquer coisa
Isso é tão confuso
Às vezes eu tento ser boa
E às vezes eu tento ser má
Eu nunca sou propriamente coisa alguma

Então é apenas isso
Vamos seguir em frente
Como se esse ano não tivesse acontecido nada
Como se não tivéssemos esbarrado nessa faísca,
Nessa estática carregada do ar
Como se não fossem relâmpagos brilhando pra nós
Nós vamos seguir em frente,
Apesar de eu achar que nada pode destruir
Isso que eu tenho permanentemente
Nada me choca mais,
Você é como uma lavagem cerebral
Mas eu nunca te atribuí essa capacidade
Eu era a lunática, eu sempre fui

E tudo isso está para acabar
O fim está próximo!
O fim está próximo!
Protejam-se todos!
O mundo como conhecemos está para acabar!

E se o amor não der conta de me sustentar aqui
Se não houver bondade para me manter sã
Se eu não puder ajudar ou proteger ninguém
Por não ter a quem recorrer quando tiver dúvidas
É provável que a falta de amor me mate
E pode acreditar, não há morte pior que essa

Então, agora é sua última chance
Mas ela provavelmente vai durar pra sempre

Wake me up when tomorrow comes
Not before, not after
Wake me up when love gets free
If it's not you, it doesn't matter
Wake me up when tomorrow comes
I hope the future will save us all
Wake me up when you love me back
Or just let me sleep for eternity

I don't wanna live here alone
I rather die
Without your company

Mas eu não realmente tenho escolha, tenho?
Eu não tenho opções
Isso é tudo que eu posso fazer.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

The dream

"The first time I saw you 
I took a picture of us together 
Now you're disappearing 
You're alone, sinking 
You're downing"  


(Escrevi isso no meu sonho, 
E recitava para ele, mas me via recitando, 
Como se eu estivesse no lugar dele 
A praia era colorida como uma edição de foto 
Eu estava afundando no mar, 
Eu sabia que ia me afogar)

I keep going

Shhh.

Eu continuo lutando contra mim mesma
E essa dor de cabeça?
Tudo que eu queria era falar com alguém
Eu sei que não adianta
Qualquer um com quem eu for falar agora
Só vai piorar tudo
Porque eu não quero admitir nada disso
Eu não quero espalhar a lama no tapete
Eu não suporto o som dessa tv
Acho que preciso de um pouco de água
Eu queria poder chorar
Eu queria ter quem me consolasse
Mas eu sou uma mentirosa qualquer
Como ele, eu o entendo
Tudo isso é absurdo, sempre é
Eu preciso descansar e não saber
Eu preciso me distrair com listas, mandalas,
Minhas séries e quaisquer outras coisas
Eu não posso ficar aqui 
Sozinha
E afundar pra sempre
Também não posso pedir ajuda para quem não vai me ajudar
Todos eles
Todos vocês
Meu estômago queima de nervoso
E meu pulmão não funciona corretamente
Minha cabeça só piora
Eu não sei o que fazer
Eu preciso conversar
Eu estou sempre tão perdida, tão sozinha
Eu odeio isso, eu odeio esse sentimento que volta
Eu odeio me sentir traída, rejeitada ou abandonada
Eu odeio pensar que mereço ou me sentir culpada
Eu só queria ficar bem
Eu estava bem
Não estou
Não estava
É tudo mentira, não é?
Eu não posso fazer isso
Eu não posso ter uma vida normal
Não sendo louca, não
Não sendo assim tão dispensável ou desprezível
Não tendo amor como uma praga
Isso está errado, muito errado
Tão errado.

A corda de que eu falava

Eu sufoco de tristeza
E começo a escrever poemas
Eu recito mentalmente
Palavras estranhas pra calar minhas ações
Eu sinto, eu sinto tanto
Eu preciso fazer isso ou aquilo
Pra fazer parar
Eu quero que acabe, que acabe logo
Eu quero que saia de mim
Quero esquecer, quero não ser quem sou
Eu fecho bem os olhos
Antes que comece a fazer algum barulho
Antes que comece a chorar
Eu estou com dor de cabeça
E preciso sair daqui
Eu preciso ir, eu preciso ir
Mas eu sempre me sinto tão sozinha
Ninguém, ninguém pode me entender
Eu sou tão má que os bons nunca
E tão pura que os maus me enojam
Eu não posso viver nesse mundo
E eu anseio pela mesma morte que temo
Eu sou um lá e cá que machuca
E também sou a insistência
Em não sentir coisa alguma
Eu preciso respirar, mas não quero
Não quero respirar
Quero chorar e fazer barulho enquanto sufoco
Porque doi
Porque é triste
É triste, é triste
Tem as mentiras e a solidão
E a certeza de que ninguém vai me entender
Pior
Ninguém jamais vai chegar a me conhecer
Então sou eu e esse silêncio
Esse silêncio que fica
E que grita
E me arranha por dentro
E não importa que eu o quebre
É uma maldição
Não tem pra onde ir ou o que fazer
Todos os lados são errados
Eu preciso sofrer
Eu preciso eu preciso
Isso não está certo
Eu queria alguma chance
De não ser isso aqui
De não ser eu

Maldição

Eu tive um sonho com um cara
Não era você
Eu te encontrei,
Aposto que você não sabe
Sempre foi tão desleixado,
Tão desleal
Eu teria culpado até o meu pai
De sempre me exigir apoio
E nunca me apoiar
Mas é por você que eu vejo
A bondade de todos os outros
Você é exatamente o lado mau
Eu não suporto ficar calada
Isso me consome
Mas eu nunca tive escolha
Eu poderia falar e não ser ouvida
Ou poderia fazer isso que faço
Eu não conheço o silêncio
Nem sei o que significa
Mas sinto você me partindo o peito
Repetidas vezes
Isso é proposital?

Pelo que parece
A dor de um peito sendo partido
É tão sonora, mas tão sonora
Que não pode ser ouvido um pio
Eu me calo aqui
Preciso doer

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Tic Tac Tchau

Eu vou embora porque não importa o que eu faça, eu não posso te salvar. E você não pode estar comigo. Nunca vai estar. E a cada dia eu tenho menos certeza do quanto eu realmente gosto de você. Eu vou embora porque não suporto muros, meios-fios, pontos intermediários. Eu não suporto passagens e dúvidas, e suas certezas são sempre vagas demais. Você me disse que não podia mudar sua natureza, e isso dizia respeito tanto aos seus surtos destrutivos, sádicos e arrogantes quanto a sua insistência em não comparecer. Eu não posso suportar isso. Nem como amiga, nem como coisa alguma. Não estou disposta a estar sempre à espera de um contato. Não suporto ser passiva, submissa e não suporto usar mordaças. Eu nunca vou suportar a tua ausência. Nunca.

Eu preciso de alguém que aceite as minhas bobagens e me respeite. Eu preciso de alguém que me escute, que fale comigo, que apareça e me conte coisas. Eu preciso de alguém para falar sobre o meu problema com os meus pais, sobre a minha dor de cabeça e sobre as mandalas e telas que pintei. Eu preciso de alguém pra quem contar o que aprendi na aula, o que aprendi no caminho de casa e os sinais que acho que vi no universo. Eu preciso de alguém pra quem reproduzir as vozes que aparecem na minha cabeça e pra dizer o quanto eu estou eufórica ou deprimida hoje. De todas as coisas que eu podia querer em alguém, a mais importante de todas é companhia. Eu preciso de alguém que queira a minha companhia. E você não quer. Não importa o que eu diga ou faça, você não quer. Não precisa, não deseja, não se lembra, não se importa. Eu preciso de alguém e esse alguém não pode ser você.

Eu achei que entre todas as pessoas, você era aquela única pessoa no mundo capaz de me entender. Me entender de verdade, desde os meus temores da infância, às minhas crises depressivas, com as oscilações de humor e a necessidade de cultivar esperança. Achei que mais que todos os outros, você seria capaz de entender a minha solidão e a minha vontade de realmente estar com alguém. Mas você me deixa só.

E se você for essa única pessoa no mundo que também me é, eu estou destinada a estar sempre sozinha, porque você não sabe o que fazer, ou ao menos tem o livre arbítrio voltado pro lado oposto ao do meu. O que significa que eu preciso ir embora.
Se eu soubesse como fazer isso por dentro sem precisar te bloquear em todos os lugares ou jogar todas as coisas fora, eu o faria. Se eu soubesse que ir embora não vai te machucar de nenhuma forma, eu já teria ido. Mas eu não sei, eu não sei. E enquanto estou aqui, tudo que posso fazer é fingir que nada disso está acontecendo.

It came back

Eu estrangulo a minha tristeza diariamente.
De vez em quando ela solta um ganido ou qualquer coisa.
Às vezes ela escorrega, mas eu pego ela e prendo de novo.
Aperto o pescoço até ela se calar outra vez.

Eu sei que não há futuro para nós,
Não é novidade.
É só o que eu leio nas tuas poucas palavras,
É só o que eu escuto na tua voz falsa.
Quase não faz diferença
Quando você vai e quando você fica,
Mas, se ninguém sabe o quanto eu estou mentindo
A respeito de tudo que conheço,
São todos estúpidos.

Eu minto quando começo a sentir tua falta:
Digo que é fraco, que está tudo bem.
Eu minto quando digo que te amo:
Eu me encho de raiva e desgosto quando falo contigo.
Não há resultado possível,
Não há opção agradável.
Eu sei
Que não vamos dar certo.
Eu minto sobre isso também.
Eu não tenho fé,
Mas eu apenas gostaria que isso existisse.
Eu não acredito que você existe.

Mas em certo ponto,
Eu não sei mais o que é real
E o que não é.

"I don't know what is real and what's not."
"Then ask."

"You love me. Real or not real?"

A estação e os trilhos eletrificados

Eu uso guias anônimas para fazer apenas duas coisas:
Uma delas é me masturbar
A outra é ler você

Como você pode ver,
O pudor comum não aprova
Que eu te acompanhe ou deseje
Você em mim é erro social
E todos eles concordam a respeito
Talvez por isso, sejam quase trezentas
As vezes em que te escrevi
Não sei onde foi que me perdi
Nem por que continuo a te esperar
Você desaparece num instante
Eu não sei o que acontece
Não importa
Se eu estou obcecada ou não
Você sempre me dá temas para escrever
Apesar de o tema sempre ser você
E por mais que eu esconda os textos
E os rabiscos, e os quadros debaixo da cama
Quando você vem e me chama
Eu me esqueço até do meu próprio nome
Eu não quero existir sem você
Mas sou tomada de uma raiva insana
Incompensável, insaciável
Uma raiva de quem não ama
De quem necessita
Uma raiva de todos os famintos e exaustos
Mas tudo que eu quero
É você

Então, não volta
Não volta nunca
Que eventualmente eu vou esquecer
Ou me acostumar a tudo que não é
Não retorna
Não alimenta a minha estadia decrépita
Não me prende nesse não ir e não vir
Nessa eterna estação de trem
Não me fala coisas que não diz
Não some outra vez
Não me deixa aqui

Eu vou rezar para você voltar
E aí terei ódio por tudo
E dia sim ou dia não
Eu vou me esfregar nos lençois aflita
Ou sufocar de choro apavorada
Eu vou temer a infelicidade
E despejar em você todo o meu desespero
Enquanto você não voltar
E quando voltar
Se voltar
Eu vou dizer que não vivo sem você
Pronunciar a minha ordinária desesperança
No nosso futuro, juntos
 Isso chega a me doer sem que eu nem fale
 Só em pensamento
Eu vou falar tudo que você já sabe
E você não vai dar a mínima pra nada disso
Nada vai ser novo ou interessante
Até que

Eu não faço ideia
Aqui tudo falha
Eu falo demais e não concluo as coisas
E o futuro
E o amor
E o medo
E o dinheiro de que todos precisamos
E você
E você, cadê?

Eu odeio conversar com as paredes
Eu odeio querer que você volte
E eu odeio me sentir frustrada quando você volta

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Intocável

O texto que você mandou
Me dá vontade de sair correndo
e ir falar com o Peter
Também me dá vontade de abraçar ele
e não soltar nunca mais
Mas não dá pra abraçar o vento
Mesmo que ele seja um furacão

Mimo

Preciso escrever alguma coisa
Me sinto nauseada,
Acho que é fome
A chuva encheu de glitter
Minha janela
Eu mudo de humor
O tempo inteiro
E quebro frases,
Escrevo lixos,
Entro em pânico
Quando elogiada
Quando me dizem
Que eu estou errada
Eu penso logo logo
Em me matar
Como se a chantagem emocional
Fosse funcionar comigo
Também

Eu quero sair daqui
Não tem pra onde
Eu chamo isso tudo de tédio
E depois digo que estou doente
Eu incorporo essa ideia
Eu sou triste, eu falo
Mas não quero ser,
E continuo insistindo
Nos mesmos temas
O que duzentos e oitenta textos
Significam?

E eu choro,
Eu leio as desgraças dos outros
Eu tento fazer amigos
Eu odeio estar de férias
Eu odeio viver sem um sentido
Eu me distraio com o natal,
Está chegando,
Eu tenho gente que me chama pra sair

Por que
Eu fico
Dizendo
E pensando
Que vai tudo
Dar errado
Sempre?

Eu não consigo
Ou talvez eu só não queira
Deixar de ser tão obsessiva
Tão convencida, tão egoísta
Mas eu sei que isso está me consumindo
Porque a cada dia eu me odeio mais um pouco
Eu perdi minha vontade de fazer sexo
Ou sequer de estar com alguém
Eu quero estar só,
Completamente só,
Mas por favor
Me dê um sentido,
Para que eu não fique louca
Não me deixe sozinha
Porque eu surto de solidão

Eu preciso
De vocês

Eu preciso dele

Esquece
O texto nem era sobre isso
Eu estou condenada pra sempre
A continuar me condenando
Dizem que o controle é todo meu
Eu só quero ser feliz
A qualquer custo
Eu só quero me sentir amada,
Importante, imprescindível,
Eu quero viver num mundo que não existe

Vamos embora
Eu não vou acabar com isso
Eu não vou mudar nada
Às vezes eu tenho medo
De ser infeliz pra sempre
Às vezes eu me dou conta
Da minha infinita arrogância
E de como eu me torno
Todos os dias
Todas as pessoas que desprezo

Vamos embora
Eu precisava escrever algo
Mas isso não presta
Nem a minha imagem no espelho
Nem os orgasmos que tenho
Nem as comidas que como
Compulsivamente
Como se tivesse voltado do deserto

Eu devia morrer
Não é chantagem
Ou autopiedade
Autocrítica, talvez seja
Eu me sinto cansada
E tenho repulsa
Por tudo isso
Todos os erros lá de fora
E os defeitos meus
Para ignorá-los
Era isso que eu queria
Ignorar tudo que não me agrada


Ou

Talvez

Estar em algum lugar

Com você


Eu estou perdida
Agora apenas me assista
Andar em círculos
Mas você não está aqui
É tudo que me importa
Porque eu sou louca
Louca louca louca
Eu sou a frustração em pessoa

A ânsia,
O não ter,
O possuir,
O querer
E o não ter.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Estocolmo: toler ou tolher

Hoje em dia eu vou dormir
Por volta das duas da madrugada
Estava lendo um texto teu
Você dizia que depois das três,
Tudo piorava
Mas você me pedia
Que sempre voltasse
E eu sempre volto pela manhã

Eu não sei por que penso em você
Quando sinto cheiro de doce barato
Eu não sei por que penso em você
Incontáveis vezes por dia

Eu não sei por que eu te escuto
Em quase todas as músicas que descubro
Ou por que encontro teu nome
Em todos os lugares
Ou por que eu te enxergo em personagens
E quero desenhar teus olhos na minha vista

Eu não sei do teu silêncio
Ou da tua fala
Eu não conheço o cheiro
Das tuas falhas
Eu não sei de onde vens
Ou para onde vais
Eu não sei o que procuras
Ou o que te satisfaz

Não te conheço,
Não importa mesmo
Eu te obceco,
Seja quem for
Vamos dividir a culpa,
Vamos fugir juntos
E nos matar

Eu me sinto
Cada vez
Mais louca

Eu conheço todos os teus passos
Mas nada que tu já tenha visto
Eu sei como tua mente funciona
A não ser que você seja um sociopata
Talvez eu que seja doente, na verdade

Eu às vezes procuro meus remédios
Mas eu sempre procuro você
Algumas vezes para te matar,
Outras pra te proteger

Eu sei que agora
Já passa das três
Você me dizia
Para não procurá-lo nesse horário

Porque é agora que eu descubro
Que eu sou completamente insana
E perigosa

A solidão faz isso com as pessoas
O escuro, o silêncio e o medo
Nos fazem virar animais

E se eu disser que te amo?
Que precisamos necessariamente ficar juntos?
Realmente juntos, por bem ou por mal?

E se eu te disser que se pudesse
Eu o forçaria a estar comigo
Para sempre?

Você se mataria?
Ou me amaria ainda mais?

Talvez,
Seja você,
Por causa dela,
Voldemort

Talvez,
Seja eu
Por causa dele,
O condenado

Quem é Marie
ou Emily a essa altura?
Quem é Lara?

Eu sei de toda a verdade
Que sobra
Eu sou uma bomba-relógio
Não sabe?

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Dezembro

Já é dezembro
E eu ainda não te tenho.
Eu nunca te tive,
Na verdade.

Já é uma da manhã
E as luzes estão ainda acesas.
Meu cérebro, vazio
E eu só sei escutar a tua voz.

Você diz que me ama
E de primeira isso me basta.
Mas meus olhos não aguentam
E tu escorrega de mim, molhando o rosto.

Essa ausência de sempre doi.

Me sinto triste.
Triste, triste.
Como se nem teus braços nos meus
Pudessem fazer alguma diferença.

Eu sou assim, só.
E assim serei.

Eu quero morrer
Um pouco.
Me sinto louca
Quatro vezes por semana.

Não adianta.
Nós não vamos salvar nada.
Nós não existimos, afinal.

Já é dezembro.
Esse ano deveria ter sido feliz.
Eu te conheci, te amei.
Já é dezembro e você me ama,
Eu sei.

E se tivesse sido tudo de outra forma,
Talvez eu guardasse alguma esperança.
Talvez, se eu não te amasse,
Eu ainda pudesse pensar
Que um dia seria feliz, acompanhada.

Mas não.
Eu te amo,
Como é dezembro.

Ainda é dezembro,
E esse ano não acaba
(nem nós).

Sei que te amar
É ser pra sempre triste
E enquanto for eterno meu amor,
Também será a minha solidão.

Que venha o próximo mês,
O próximo ano.
Não me atormenta nada,
É apenas isso.

Choro, notifico
O fim de novembro, do ano,
E antes que tenha tempo de mais nada,
Antes que tenha tempo de me calar,
Eu digo mais uma vez que te amo.
Como se isso pudesse mudar alguma coisa.

domingo, 29 de novembro de 2015

Por todos os textos que você não teve a oportunidade de ler

Pelos textos que te escrevi,
Faço este resumo.
Desde os brados narcisistas de morte
Ao erotismo lírico fracassado.

Entre os textos que te escrevi,
Deixei tanto as falhas da minha pele
Quanto as minhas esperanças ridículas.
Você nunca realmente esteve no meu passado.

Então, em ordem cronológica,
Eu relembro o sexo baldio,
O coro de marchas a favor da guerra
E a espera pelo apocalipse.

Por conseguinte, eu recordo
Os diálogos breves em tom natalino,
A displicência lúdica da juventude
E o silêncio sobre o período anárquico da alegoria.

Eu continuo, repasso
Os retornos indecentes
E a ausência perene,
O fascínio lascivo
E a psicopatia lancinante.

E é preciso recitar
Dois sórdidos segundos,
Nossa miséria exibida em toda a extensão.
Ambos desumanamente atados,
Como pudéssemos desvanescer a solidão.

Nunca poderíamos,
Não nós.
Quaisquer outros dois,
Não nós.

Entre duzentos
E cinquenta e quatro,
Ainda contando,
Eu esfolo tudo que já me excedeu
Em forma de identidade.

E onde tu te arrastas,
Raramente sóbrio,
Estou.

E onde tu me arrastas,
Eu certamente caio,
Estou.

E em tudo que faço,
Vejo, amo, temo,
Ou sequer condeno,
Estás.

Se fossem eles
Duzentos e cinquenta
E cinco,

Fossem mil não lidos,
A tua ausência
Não diferiria em nada,

Ainda serias
Infinitamente eu
E eu, tu,
E seríamos
Agonizantemente infindos.

Amar:
Incomensurável,
Ininterrupto,
Infinitivo,

Tal qual a morte
E a literatura.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Tangente de y

Porque quando me chamam,
Meus ouvidos ainda são teus
Tentando calar os gritos que você não deu

Quando me pedem conselhos
Minha boca está tão cheia de discórdia
E não te posso descontar,
Então desabo neles

E meus braços tão machucados
Que deveriam estar acostumados
Com um carinho barato
Não anseiam por nada
Que não seja as tuas unhas imundas

O meu amor
Definha na tua ausência
Eu tento me matar aos poucos
Mas só mato a minha paciência

E quase nada me resta
De morte em morte,
Tudo fica vago
Eu queria que alguém me ocupasse
Mas toda vez que penso
Sei que sou um desastre
E tu é de onde tudo isso se origina

Eu sou uma pecadora
E tu, a minha sina
Eu vou te carregar
No peito, nos ombros,
Nos calcanhares feito um calo que não sara
E caminhar sobre uma trilha rara
De cacos de vidro sem fim
Eu vou te carregar em mim
Talvez até a morte
Se eu tiver sorte,
Eu chego lá em tempo
De dizer mais uma vez que te amo
Até não estar mais ao alcance
De ninguém

E aí,
Ser
Finalmente

Condenada

Tangente de x

Não tenho ouvidos
Para quando falam comigo
Não tenho voz
Pra quem precisa de meu alento
Não tenho coxas
Para servir de colo necessário
Não tenho braços
Pra proteger aos tolos indefesos

Não tenho amor
Para distribuir a estranhos
Nem paciência
Para semear entre os familiares
Não tenho energia
Para desperdiçar
Com estes miseráveis
Nem autoestima
Para suportar minha imagem no espelho

Não tenho vontade de acordar
Se não me lembrar do teu rosto
Não tenho paz para dormir
Se não imaginar teu corpo

Nada me satisfaz
E tudo que eu sinto é muito pouco
Eu só quero gritar e sair daqui
Estou apavorada
E exausta
E desesperada
(Isso não é novo)

Mas a tua penumbra
Me carrega
Pro lado eterno da passagem
Entre o mundo dos mortos e dos vivos
Eu nunca estou lá
E nunca estou aqui
E este é o nosso fim aflito

Pacificação

Se outra pessoa diz que te ama,
Eu dou um passo atrás, desvio a rota,
Sigo em frente e finjo que não ligo.

Se outra pessoa diz que te ama,
Eu abro espaço, cedo a vez,
Deixo o lugar vago
Para quem quiser ficar contigo.

Se outra pessoa diz que te ama,
Eu dou prioridade
A quem quer que for a dama
Ou cavalheiro.

É mais que óbvio
Que o amor alheio,
Qualquer que for,
Vai ser melhor que o meu.

Se outra pessoa diz que te ama,
Eu esqueço tudo aquilo
Que você me prometeu.

E eu sobrevivo, esqueço,
Tento outros corpos,
Tento outras mentiras, sorrisos,
Tento outros passos
De trilhas ou de dança.

Se outra pessoa diz que te ama,
Eu me aperto, esfolo,
Quase sufoco
Para não ser mais tão criança
E precisar da tua atenção.

Mas se você me diz:
"Não,"
"Eu não a amo",

Se você me diz:
"Prefiro estar contigo",

É um perigo
Tudo que diz em seguida.
É uma corrida
E eu detesto competições.

Se outra pessoa diz que te ama,
E eu digo que vou embora,
E você me diz que me ama,
E eu digo "então, não demora"

E você chora, me devora,
E desabamos juntos,
E vamos seguindo juntos, avalanche,
Vamos seguindo sempre, assim espero,

E se você desacelera, para,
Some, foge, grita, some,
Eu não esqueço teu nome,
Mas me proíbo de pronunciá-lo.

Eu sinto fome,
Como se você fosse tudo
Que eu preciso ingerir,
Eu sinto sede,
Como desidratasse,
Em meio ao deserto dela
Em todo o seu pavor.

Se você me promete
Que a resposta dela
Vai ser sempre a mesma,
Por que eu sei que a minha
Vai ser exatamente igual?

E se eu dissesse
Que te amo
Ainda,
O que você diria?

Mentiria mais uma vez
Ou colocaria um ponto final?

terça-feira, 24 de novembro de 2015

As drogas

Dei dois míseros tragos
Mal tive tempo de curtir minha alegria
O sono veio
Logo eu já era eu novamente
E aquilo de certa forma
Me deprimia
Então eu dormi por 12 horas
Com muitas pausas, bexiga cheia
Resolvi não ir à aula
Tudo que eu queria era um acostamento
Por que é que eu estava pensando em suicídio todo dia?
Por que é que eu estava me sentindo cada vez mais doente?
Por que é que eu queria me machucar assistindo tv?
Eu às vezes não fazia sentido nem pra mim mesma

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Eletricidade

Os flashes invadem a minha janela
Pelas minhas cortinas entreabertas
A noite fotografa a minha agonia
E deve haver algo de realmente belo
Antes que as nuves rosnem agressivas
Para a minha pequena porção de satisfação

Não posso sentir o frio do outro lado
Do lado de cá eu sinto, e absorvo
Meus dedos gelados contrastam
Com o calor fervente de meu ódio

Tento acalmar-me, sabes como
Mas nada do que faço adianta
Há um ciclo etéreo do demônio
Entre meus pavores e meus regozijos

Estendida em meu solo verde
Mais uma vez
Escuto a exclusão da natureza
Dentro do concreto
Condeno a raça humana
E desrespeito as regras

Ajo indevidamente
E há um respingo de alegria sobre o feito
Sinto-me justa e incoerente
Sinto-me existente
Mesmo que me cale sobre teu leito

Suicide friendly

Eu visto uma calcinha velha
Ponho o meu colchão no chão
E continuo narrando meus movimentos
Como se isso valesse uma poesia
Todos os meus amigos estão em crise
A maioria deles não tem o que fazer da vida
Todos nós nos sentimos completamente inúteis
Pois ainda não somos adultos o suificiente
Não temos liberdade ou sabemos o que fazer
Eu tomo um copo bem grande de água
Eu me masturbo mais frequentemente do que deveria
Eu me preocupo com as coisas mais supérfluas
E não demora quase nada
Para que eu passe a idolatrar a melancolia
Eu me vicio nesse sentimento
Volto a ele três vezes por dia
Eu busco o que me maltrata e me destroi
Porque não quero conhecer outra saída
Eu acho que vou sempre estar aqui
Todos eles estão
Por que comigo seria diferente?
Eu sinto o meu corpo cansando aos poucos
De tudo que eu faço
Eu sinto saudades da única pessoa
Que já conseguiu me fazer tamanho mal
Eu penso quase todos os dias em suicídio
Mas aí eu me lembro do dia em que eu sonhei
Que tinha me matado
E meu pavor foi tão imenso
Eu tenho um medo tão grande da morte
Que às vezes chega a me desesperar
Às vezes meu coração acelera e não para por nada
Às vezes eu só quero que isso tudo acabe logo
Eu acho que sou doente
Eu queria ser feliz, queria que alguém me amasse
Mas eu mal quero aguentar as minhas amizades
Não quero nenhum dos meus amigos,
Estão todos sofrendo demais
Ou de menos
E nenhum deles realmente me entende
Ou se importa
Ninguém tem que se importar
Eu devia estar morta
Eu escolho o fim disso tudo
Porque não quero mais sofrer
Eu entendo por que as pessoas se matam
Eu entendo, eu juro que sim
Eu só tenho um pouco de medo
Eu acho que estou ficando louca
Não tem ninguém aqui pra me escutar
Eu estou presa debaixo da terra
Falando comigo mesma
Comigo mesma
E quando eu me respondo
Tudo só piora
Eu tento rir um pouco
Eu tento pedir ajuda
Mas quando eu vejo
Estou pedindo pra acabar
Eu quero dormir, fugir, comer
Isso não é vida
E essa solidão me doi
A minha coberta não vai me salvar
É o meu esquecimento que vai

Esqueça

Esqueça

Esqueça

domingo, 22 de novembro de 2015

Light Lag

De volta ao cheiro de tinta do meu quarto,
De volta ao meu pézinho de maracujá,
De volta à minha cama quebrada,
De volta às minhas cortinas longas demais,
De volta à bagunça, aos mosquitos,
à temperatura desequilibrada,
aos bichos de pelúcia empoeirados,
De volta aos travesseiros velhos,
De volta aos livros esquecidos na estante,
De volta ao meu cansaço e pesadelos,
Estou de volta ao meu conforto estúpido de sempre.
Lar, doce lar.

Amor zumbi

Ele veio e me disse
Que eu não sabia fazer
Uma das poucas coisas
Que eu de fato sabia

Ele chegou e me olhava
Como se eu fosse a dona
Da tristeza profunda dele
E eu não era

A solidão
Que havíamos combinado
Por manter distante
Nos alcançou
Demasiadamente rápido

Quando ele veio
Nosso tempo
Já tinha se esgotado
Ninguém me avisou

Ele nunca esteve aqui
A verdade que nos dobrava
Era que ele já estava em casa
Antes de vir

E então quando nos olhamos,
Quando nos beijamos,
Quando deixamos que tudo
Desse tão errado,

Quando enfeitamos o espaço,
Quando rimos juntos,
Quando dormimos abraçados,
Aquilo era só mais um fim

Tudo que conhecemos
Está sempre prestes a acabar
Todos perecemos sempre
Nada pode nos salvar

Atraso

Quando me olho no espelho
Boca aberta, olhos transbordando
A melhor das agonias,
É você que eu vejo
Me agourando
Me caçando
Me observando, rasgando e arrastando
Como se eu fosse teu hobby
Como se eu fosse o brinquedo
Mais estúpido da tua infância
O mais inútil de todos

Alguém me disse que o amor existia
Eu preciso de um sentido pra minha vida
Eu vou comer até vomitar
Porque todo mundo sabe
Que eu não sou boa o suficiente
Eu sou uma desgraça
A infelicidade reina aqui
Eu volto logo
Mas na verdade nunca voltarei
Sempre te pertenci,
Mas estou morta

Estrada

Volto para a tristeza dentro de mim
Eu queria que alguém arrancasse os meus pulmões
Os dois logo de uma vez
Eu tenho pavor da morte todos os dias
Se não fosse isso, eu provavelmente estaria morta
Eu tenho medo da minha própria mente
Eu quero esquecer
Esquecer, esquecer
Quem ou o quê
O passado e as mentiras
Rosa, por favor, eu preciso de ajuda
Essas minhas certezas me esgotam
Por favor, Rosa,
Os meus amigos disseram que eu preciso de medicação
Eu não confio em mais nada
Onde eu encontro alguma paz?

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Quase lá

Eu bebo coca-cola como se fosse álcool
Eu derramei mais da metade do meu vinho no ralo
Nada disso faz sentido, sendo sexta ou quinta-feira
Eu só quero sair daqui, e morrer talvez de repente
Eu só quero que alguém me ame e me ache digna
De alguma atenção que valha a minha alegria
Eu só quero fugir como sempre fugi
Eu só quero dormir e esquecer disso tudo
Eu preciso comer um pouco
Eu nunca tinha realmente pensado
Ele bebe todos os dias
Será por isso?
Será que ele entende tudo isso que eu sinto?
Ou será só a adulteza dele se manifestando?
Eu queria morrer, ficar bêbada
Fumar até ter uma crise asmática
Eu queria saber o que fazer
Eu queria não precisar me esconder por tanto tempo
Mas já era
Eu já fiz besteira
Eu já fui embora
E não demora eu vou acabar desabando
De verdade
Por conta das consequências
Eu não ligo
Eu vou sofrer de qualquer jeito
Eu sofro o tempo todo
Eu não tenho salvação
Eu estou deprimida, deprimida, deprimida
Não tenho a quem recorrer
Não tem ninguém que se importe
Eu já nem sei mais o que dizer
Estou num lugar ruim
E acho que nem vou sair daqui

"Essa música é como se alguém pegasse toda a minha felicidade e toda a minha alma e colocasse dentro de uma garrafa com sabão de bolha, sacudisse bastante e daí eu ficasse olhando o brilho das bolhas presas dentro da garrafa."


Chandelier

Um vinho branco barato
Às vezes sinto falta
Não dá pra beber tequila toda hora
Não dá pra viver de festa todo dia

Um cigarro
Um cigarro, por favor
Daquele convencional
Veneno de rato e nicotina
Que os cigarrinhos de rua
Chamam muita atenção
Eu quero um descanso lento
Uma risada de deboche
A vida não é alegria o tempo inteiro
A vida não é companhia nos domingos
Está tudo sempre acabado aqui e agora
Está tudo acabado hoje e sempre

Eu quero largar minhas costas pelo chão
Minhas roupas sobre a cama
E o meu passado em uma vala qualquer

Eu quero esquecer dos meus desejos
Nesse vinho amargo, suave
Já faz mais de um ano
Que a garrafa está aberta
Não me importa
Nada disso

Eu só quero sentir minhas saudades
Tranquila
Vazia
Desbotada

Eu só quero ir embora
Mas em vez disso
Eu ando para trás
E me perco
Em fins que
Já acabaram

It's over.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Sacristia

Poemas são poemas.
Poemas filhos da puta,
Poemas tolos,
Poemas vazios
Ainda são poemas e, portanto,
Intocáveis, sacros,
Quase satânicos de tão sublimes.

Poemas atrasam pessoas
do mundo real.
Poemas ferem o peito
dos inocentes.
Poemas nutrem o brilho
dos imprestáveis.

Poemas são poemas.
Ninguém pode concluí-los,
Ninguém pode matá-los,
Mas poemas podem ser
contaminados.

Poemas são poemas.
Esvaziam os pobres coitados,
Enfeitam as coisas feias,
Alteram o passado
E fingem um belo futuro.

Poemas são obras de arte
Que justificam
Que os apaixonados sejam
Os seres mais perigosos do mundo.

Nós, artistas,
Somos capazes dos piores feitos
E da salvação da humanidade.

Eu,
Eu vivo no meio termo.
Escrevo meus poemas tóxicos,
Extremamente sóbrios,
Ironicamente puritanos.

Eu,
Eu sou a destreza incoerente
De minhas palavras.
Eu sou a santificação da morte.
Escrevo a onipotência dos sentidos.

Eu não sou absolutamente nada
E os meus poemas também não são.

Papai Cruel

Eu, na rua,
Sozinha
Debaixo da chuva.
Teimosia:
A chuva hoje decidiu me esquentar.
Eu, no calor da água
Dos céus,
Sozinha.
O mundo virou de pernas pro ar.

Café, pra mim não importa.
Palavras, por outro lado, são valiosíssimas.
Palavras, na minha terra, são moeda.
Só não valem mais do que o silêncio.

Minha tristeza nunca passa.
É a mesma tristeza de sempre.
Já faz tempo que diziam:
Tenho olhos tristes.
Eu tenho olhos de fim,
Desde os meus onze anos.

Todos os meus amigos
estão mortos.

Todos os meus amigos
Bebem veneno de rato,
Como se ratos fossem.
Todos os meus amigos
Gostam de brincar
de pique-esconde.
Todos os meus amigos
Vivenciam momentos sublimes
De agonia.

Todos os meus amigos
Querem morrer.

Então, eu fico só.
Por raiva, por medo, por sensatez.
Por não querer suicídios coletivos,
Por não querer saber
Da bondade alheia.

Eu fico só
E fujo todos os dias do fracasso.
Injeção letal no amor alheio.
Eu sumo, não quero,
Não ouço, não posso,
Não me importo com ninguém.
Não quero saber.

Eu saio debaixo da chuva,
Sinto calor e frio,
E esqueço de todos eles.

New York row

I have a New York heart
I can never sleep inside
I can hear the chaos all night long
I smell pee on streets
Every country speaks of me
There are always couples
Fast-fuck celebrating, running
Asking for some food
Death-delivery
Candy, Poison, Flowers
I barely see sun
So many hours lost
Inside those buildings
I'm a rush, a fail, 
A full-time competition
The deepest sadness belongs 
To my two lungs
But I pretend it doesn't hurt
I'm all pure anger, sex, desire
I sometimes just think
Of putting fire
To everything I have
I like to get drunk a little
I like to tell some lies
To freeze myself before I start
The next round of serial killing
I am some sort of a terrorist
Lost in a big city
I'm trying to suicide
And my agent never rests 
I'm often tired
But I can't do anyhing about it
I have a huge, polluter heart
That is constantly trying to explode
This is the nature that
Eats me from inside
With no salvation
No clue of where to go
I have no place to go
I'm on my death row

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Radiação

Deixa a raiva passar
Deixa a raiva sair
One, two, three
And these will set you free

Meus dedos tremem
Quando eu tenho pensamentos maus
Se você puser seus óculos
No lugar certo,
Também não vai enxergar o que acontece
Eu não quero que ninguém saiba
Dos meus planos
Eu sou uma mentirosa profissional

Eu já perdi o ritmo,
A métrica, a rima,
O amor e a esperança,
Agora eu perco a bondade,
Você e a lembrança
Eu perco tudo, tudo
Pouco a pouco,
Você verá, seja quem for
Quem eu realmente sou
Desapareço

Grennouille

Ninguém sabe quem eu sou.
Nem da minha bondade,
Nem da minha crueza.
Ninguém me conhece
Ou é capaz de reconhecer.
Ninguém me enxerga,
Ninguém me nota.
Eu praticamente não existo.
Eles não sabem do que eu sou capaz.
Eu sou uma criatura acuada,
Eu sou uma manipuladora perversa,
Eu tenho as piores intenções do mundo,
Eu sou uma louca.
Talvez todos sejamos.
Ninguém sabe que eu estou aqui.
Ninguém escuta meus pensamentos,
Ninguém me protege deles.
Ninguém me impede de realizar meus planos.
Eu planejo minha morte todos os dias,
E às vezes é apenas vingança.
Eu sou insana.
Insuportável.
Eu deveria ser banida da terra.
Eu deveria morrer.
Porque se eu for minimamente boa
Nada disso se justifica. Nada.
Se eu for realmente boa,
Eu prefiro morrer a viver aqui.
Onde não importa,
No fim das contas,
Ninguém vai me encontrar,
Me ouvir, cheirar, me ver.
Ninguém vai saber quem eu sou.
Eu continuarei sendo ninguém.

sábado, 14 de novembro de 2015

Vulto

Meus dedos ainda tremem
Quando tu escreve textos
Me pergunto se são meus
Busco deslizes, atos falhos
Busco pra matar meu narcisismo
Outras pistas
Que indiquem o seu destinatário
Meu coração ainda acelera
E meus olhos ainda se perdem
Mesmo que eu nunca te reencontre
Mesmo que eu nunca acabe contigo
Mesmo que eu não te reconheça
Em lugar nenhum
Eu perco meus movimentos
Minha fala
Minha força de fazer qualquer coisa
Minha fome
Meu sono
Tudo
Eu ainda me perco
Quando você fala
Eu ainda quero me matar
Quando você cala
Eu sou tão absurda e patética
Eu sou tão desprezível dialética
Eu deveria ir embora, mas não vou
Não abro mão dos teus discursos estúpidos
Abro mão do teu carinho
Já que tuas mãos enfermas
Não o permitem
Abro mão de teus beijos
De teus contratos
De tuas verdades secas
Ou mentiras peçonhentas
Abro mão de todo o resto
Mas não das palavras que me dobram as pernas
Que me falham a voz
Que me deixam lenta
Não supero teus textos
Quem é você?
Eu sou louca
Quem é você?
Estou fraca
Nem consigo ler
Quem é ela?
Quem é você?

Roleplay, o show

Vamos fazer um teatro
(vamos brincar de casinha).
Vamos ser um casal
E aí você me chama de "minha".
Eu vou ser minha mãe, você meu pai
E então vamos morar juntos.
Você vai ter que cuidar de mim
Como ele não cuidou,
Como eu que tive que cuidar dela.
E quando formos felizes
E estáveis, além de apaixonados,
Eu vou engravidar de você (de mim)
E vamos me ter.
Eu vou me parir.
Aí, vou poder me amar
E você vai me amar (nos amar).
Seremos felizes os três, os seis,
Seremos felizes no meu teatro.
A plateia vai sorrir, chorar, cantar.
Vai ser maravilhoso, eu e você.
Tudo se trata disso.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Erro perceptivo

Escuto poesias
recitadas sobre o ar
tais quais canções
que cantei outrora
e que semeei dentro de mim.
Memória:
a audição não bem distingue
o dito do desdito,
o agradável do desprezível,
o melódico do meramente prático.
A mente em comando de voz:
reproduzir,
não sabe o poder que carrega,
não sabe de si
ou o que a leva
a banalizar o som da agonia.
A verdade às vezes espia
as brincadeiras,
figurino da tristeza.
Nós taxamos de riqueza
o que devia ser ruim.
Quem foi que disse
que devia ser assim?
Quem foi que fez de nós
quem somos?
Temos cura?
Temos solução?
Eu sou o defeito da espécie.
Sinestesia, falha, ponta à cabeça.
Acho que nem Deus sabe
o que fazer aqui.

Tudo isso pra nada

Eu ando devagar
Estou atrasada
Continuo andando devagar
Eu me sinto gorda
Queria parar de comer por três dias
Passo o dia inteiro comendo
Você me deixa triste
Eu abro teus textos
Escuto uma música que me faz pensar em você
Eu queria pôr um cigarro na boca
Mas eu parei de fumar
Eu queria me embebedar hoje
É sexta-feira 13
Dia de beber e ter azar
Que azar, não tenho dinheiro pra beber
Talvez eu tenha, vai saber
Não vou contar e descobrir
Não vou beber e fumar
Embora seja tudo que eu quero
Eu também quero você
Mas nunca o terei
Então qual é o propósito disso tudo?
Para que beber quando eu tenho vontade?
Para que fumar quando eu entro em abstinência?
Por que não morrer de fome?
Eu não tenho você
Nada disso faz sentido
Nada disso importa mais
Ninguém vai me amar
Como você disse que amaria
Eu queria morrer
Mesmo quando estou feliz
Eu queria morrer
Nenhum futuro vai me fazer feliz
Eu estou calma agora
Tudo bem sentir essa tristeza sem fim
Eu não te odeio agora
Mas eu nunca vou ter você
E mesmo que você me ame
Você vai embora
E se não for, quem vai embora sou eu
Eu vou te deixar, Peter
Você não vê?
Nós estamos no fim
Mas não da vida
Estamos no fim de nós
Se você soubesse
Como eu odeio finais
Nunca teria começado nada
Eu não vou me matar
Não hoje, agora
Eu não vou me matar ano que vem
Acho que você também não vai
Não importa
Eu sempre fui assim
Você não sabe
Eu sempre fui assim
Eu fico te dizendo que eu sei como é
Você nunca levou a sério
Eu falo como se já tivesse passado por isso
Mas ele disse que eu ainda sou assim
E é verdade
Eu   ainda   sou    como    você.
E se eu pudesse
Ah, se eu pudesse...
Eu vou embora, Peter
Porque eu nunca vou ser feliz contigo
Porque não é isso que você quer
Ou talvez porque eu mereça ser infeliz e sozinha
Não importa
Eu vou embora
Eu vou embora
Eu só queria chorar feito eles
Feito vocês

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Desaviso, teimosia, compasso

Me dizem para dançar
Eu paro
Me dizem pra falar
Eu calo
Me dizem pra cantar
Silêncio
Não batuco, não sussurro ou assobio
Me dizem pra cegar, espio
Me dizem pra existir,
Desapareço

Me dizem para amar, odeio
Se me pedem confiança,
Eu já receio
Se me gostam já de cara,
Eu apavoro
Se me dizem pra sorrir,
Eu quase choro
Seco os lábios até ver
as rachaduras
Recomendam que não risque,
É só rasuras
Fecho os olhos
Quando falam pra enxergar
Quase sufoco:
Me dizem para respirar
um pouco mais fundo, devagar
Eu perco as forças
Se me dizem para andar
Eu atormento
Se me dizem pra parar

Eu fecho as portas
Quando chega uma visita
Exigem calma
Mas eu só me vejo aflita
Se me pedem atenção
Eu fujo logo
Se me chamam pra jogar,
Eu nunca jogo
Ignoro:
Me recordam, não demora
Mas se me superam,
Nunca vou embora
Se me gritam, não escuto,
Eu ensurdeço
Me perdoo,
Se me dizem que mereço

E assim, segue
Me pedem,
Não faço
Me querem,
Não posso
Me agradam,
Não quero
Com tempo,
Não espero

Me odeiam,
Permaneço
Me apaixonam,
Eu pereço
Eu não peço,
Me socorrem
Quero perto,
Quase morrem

E se cansam
Me condenam a teimosia
Eu insisto a negação
E já dizia
Não espere de mim
Muita obediência
Não carrego o dom
Da subserviência

Psicologia inversa
Sempre falha
Quando eu noto
Tudo cai sobre a navalha

Não faço, faço,
Desfaço quando quero
A rima é minha
A bipolaridade é minha
E o livre arbítrio
Da nossa nova era
A métrica, a vontade
E tudo que me cabe
Não respeito o que dizem
Mas existo por mim
Assim existo
Porque eu agora escolho
Este é meu fim

Súplica

Volte, volte
Volte a ser quem você devia
Volte a ser quem eu queria que fosse
Volte, volte
Volte pra casa
Volte pra minha mentira
Mente, mente comigo
Volte pro nosso faz de conta
Pra nossa terra do nunca
Pro nosso país das maravilhas
Volte pra minha cama
Volte pra nossa casa
Volte pra minha vida
Volte, volte
Volte no tempo
Volte para quando você dizia que me amava
Volte pra quando você não achava
Que eu ia me matar aos 20 anos
Volte, volte
Volte pra quando você não
Falava sobre morrer o tempo todo
Volte pra quando a gente brincava
De caça e presa
Volte pra quando a gente trepava de mentirinha
Volte praquele momento
Eu não queria que tivesse terminado
Em que nós dois éramos fofos um com o outro
Volte pra quando éramos duas crianças
Organizando as tarefas da casinha
Volte, volte, volte
Por favor, volte pra cá
Saia daí
Eu sinto tanta raiva, tanta mágoa
Eu quero te matar, eu fico torcendo
Pra você morrer e acabar logo com isso
Eu me olho no espelho e eu me odeio
Eu me sinto um monstro
Você me deixou assim, eu não sei por quê
Você fala sobre guerras e mortes
Você fala sobre hipocrisia e egoísmo
Você diz que nada disso faz sentido
E destroi cada resquício de esperança no futuro
Que eu guardava com tanto cuidado
Volte, volte pra cá
Volte pros meus travesseiros
Volte pros meus sonhos
Vamos dizer que daria tudo certo
Vamos nos falar mais um pouco
Deixa eu te contar a parte boa do meu dia
Vamos falar de alegria
Vamos falar sobre como tudo faz sentido
Eu tô desabando
Eu tô desesperada
Eu tô deprimida, tão deprimida e sozinha
E irritada
Volte, volte de novo
Conserta tudo, se faz de bonzinho
Diz que se preocupa, que se importa
Diz que me ama
Eu te amo também
Mas não quando você odeia tudo
Porque aí você me odeia também
E a vida se desconstroi rapidamente
Volte, volta
Me beija, me chama, me escreve
Me liga, sente minha falta
Para de fugir de mim
Para de fugir de tudo
Para de dizer que vai dar tudo errado,
Eu acredito
Para de dizer que me odeia
Eu sei que é verdade
Você nunca deveria ter me amado
E eu nunca deveria ter te amado de volta
Nós somos tão ingênuos, tão sujos
Nós não sabemos, não podemos amar
Mas eu te amo
Então volta
Volte, volte pra mim
Pra dentro de mim
Pro meu peito, pro meu coração, pro meu amor
Porque é exaustivo te odiar todos os dias
Porque é insuportável me deixar te esquecer sempre
Eu tenho vontade de morrer o tempo todo
Mas eu sei que é só por sua causa
Porque se você voltasse,
Se você voltasse,
Tudo ficaria bem
Eu seria feliz de novo
Uma puta iludida, uma mentirosa
Alcoolizada, drogada, ingênua, carente
Eu seria feliz,
Ou pelo menos teria uma paz forjada
Mas não seria isso que é agora
Isso agora é horrível, terrível
Eu odeio a minha vida agora
Eu queria ser formatada
Você tá acabando comigo
E eu já era ruim antes

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Miserability

Acordei e toda a minha miséria secreta estava exposta
Perdi tanto tempo encarando-a que me atrasei pra aula
Eu não queria ir
Meu estômago estava vazio, mas eu não tinha fome
Eu queria comer porque não suportava minha vida
Eu me sentia um monstro por querer morrer
E era apenas tédio
Eu não tinha minhas meias coloridas ou qualquer companhia
Eu não queria companhia
Eu queria morrer
Mas não assim suavemente
Eu queria sentir pavor, ódio, dor alucinante
Eu merecia ser castigada e não suportava tamanho vazio
Eu odiava estar acordada
E minha cama não me aguentava ali
Era um dia ruim

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Everydayland

Vem aqui.
Volta pra cá.
Mora em mim.
Monta em mim.
Vamos foder a noite toda
E dormir o dia inteiro.
Vamos gritar pra eles
Que nada disso importa.
Vamos ficar pra sempre
Entre a cozinha e a cama.
Vamos fugir disso tudo.
Vem, volta.
Fica comigo.
Fica pra sempre.
Fica o tempo inteiro
Aqui comigo.
Não sai de mim
Nunca mais.
Eu sou um monstro
Devorador de almas.
Eu nem mesmo finjo
Ser tão boa quanto você diz.
Eu nem sei se me importo
Mais esse tanto.
Mas eu sou apaixonada por você
E pela sua loucura,
Pela sua sujeira,
Pela sua bagunça.
Eu sou apaixonada por você
E pela sua fraqueza,
E pelo seu desespero,
E pela sua arrogância.
Eu te quero por perto.
Eu não me importo
Se você vai falar que eles não servem pra nada.
Eu não me importo
Se você vai dizer que eles deviam morrer,
Que devíamos todos.
Eu não me importo
De te ouvir dizer que me odeia,
Não só porque sei que você me ama,
Mas porque sei que as tuas verdades
Não são conclusivas.
Por favor, vem.
Diz que me odeia, me fode.
Me machuca das formas que sabe,
Eu sou mais forte do que todo mundo pensa.
Eu sou mais psicopata do que todo mundo espera.
Vem.
Eu finjo que sou boazinha.
Te dou atenção, sou submissa, cuido de você,
Se você vier e souber o que fazer comigo.
Eu digo tudo o que quiser ouvir.
Vem, me anima, me tira daqui,
Antes que eu faça alguma besteira,
Antes que eu machuque alguém.
Não, isso não é uma ameaça.
Eu só tô sentindo sua falta.
E o pior de tudo é que eu estou falando com você.
Mas você não está aqui.
Não está comigo.
Não estamos fazendo planos,
Não estamos brincando de casinha.
Eu às vezes me sinto tão sozinha.
Eu queria você.
Eu só quero você.
Você sabe que nos parecemos muito.
Desde os surtos a convencer todo mundo
De que somos bonzinhos.
Nós sabemos que somos capazes
De coisas grandes e terríveis.
E às vezes tentamos fazer a coisa certa.
Você sabe, somos tão parecidos.
Deveríamos ficar juntos.
Mas nós dois sabemos que não daríamos certo.
Mas vem mesmo assim.
Vamos dar errado juntos.
Daríamos errado sozinhos também,
Por que não juntos?
Porque você me abandonaria a qualquer momento?
Porque eu sei que eu faria a mesma coisa?
Porque nós dois sabemos que nosso remorso
É meramente racional?
De que importa isso tudo?
Vem. Vamos nos machucar.
Dois suicidas, dois psicopatas.
Dois esquizofrênicos problemáticos.
Volta pra mim. Mente comigo.
Eu gostava daquilo, eu gostava tanto.
Eu odeio esse vazio que toma conta de tudo.
Eu vou tentar destrui-lo a qualquer momento.
Eu queria que você estivesse aqui.
Aí este mundo não precisaria existir.
Com você, eu não existo. O mundo não existe.
Só nós. Eu e você. E nada mais precisa fazer sentido algum.

Lost - Katy Perry

"I'm out on my own again
Face down in the porcelain
Feeling so high but looking so low
Party favors on the floor
Group of girls banging on the door
So many new fair-weather friends

Have you ever been so lost?
Known the way and still so lost?

Caught in the eye of a hurricane
Slowly waving goodbye like a pageant parade
So sick of this town pulling me down
My mother says I should come back home
But can't find the way 'cause the way is gone
So if I pray am I just sending words into outer space

Have you ever been so lost?
Known the way and still so lost?
Another night waiting for someone
To take me home
Have you ever been so lost?
Is there a light, is there a light?
At the end of the road
I'm pushing everyone away
'Cause I can't feel this anymore

Can't feel this anymore
Have you ever been so lost?
Known the way and still so lost?
Another night waiting for someone
To take me homeHave you ever been so lost?
Have you ever been so lost?"

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Interlocutor

Não posso falar de baratas,
De prelúdios, democratas,
De prepúcios, cortes, vícios.
Não quero falar de precipícios.
Porque quando falo,
Quero me atirar.

Não posso repassar os teus segredos.
Não posso revelar as tuas farsas.
Não posso impedir as tuas traças,
Que agora devoram os textos
Que tu me escreveu.

Traço firme, corda bamba.
A linhas tortas na calça
Confessam tudo.
Quando você acha que sabe,
É absurdo.
Nada disso faz sentido
Pra você.

Emudece, querido.
Vira uma serpente.
Quando não mente,
Morde as minhas canelas.
Morde a minha nuca,
A boca, a língua.
Como se não doesse ainda,
Como se fosse isso tudo
Um grande teatro.

Mas não posso falar de flores, de cenário,
De diálogo ou itinerário,
De atos, maus tratos, maldições.
Não posso semear-nos condições.
É fato já não nos pertencemos,
Nunca foi verdade.
Nunca existiu livre arbítrio.
O que sequer é liberdade?

Não posso recitar poemas,
Tirar fotografias,
Me esconder num canto,
Ler tuas poesias,
Enviar cartas,
Mencionar baratas,
Sujar minhas telas,
Abrir minha janela,
Inventar futuro,
Ter fé nas pessoas,
Ver as coisas boas,
Me encontrar com ela,
Me negar a fazer,
Deixar que os afogandos se afoguem,
E que os incinerantes se queimem,
Ou que os cigarros fiquem acesos,
E que os pulmões permaneçam
Em sua eterna luta solitária,
Deixar que me vejam sendo tão otária,
Escorregar ou ter alguma falha.

Se estou tão perto do abismo,
Se a rocha insiste em estar cheia de musgo,
E o mar impiedoso  racha as pontas,
Eu preciso ter cuidado.
Não posso escolher o assunto errado.
Não se acende um fósforo
Num quarto escuro:
Ele pode estar cheio de dinamites.

Então não falo disso ou daquilo,
Me esqueço dos nomes, dos signos.
Deleto as evidências da minha trilha
E sigo forjando, falsificando
Todas as vitórias.
Eu digo que você está na escória
Ou que vem me salvar, não importa.
Eu só preciso mentir pra ganhar tempo
De me esconder da lógica,
Da nudez reversa,
Da crueza de espírito
E da miséria alheia.

Safe place

Eu preciso
De planos estúpidos para o futuro
Que nunca vai chegar a acontecer.
Eu preciso
De uma cumplicidade ingênua:
Partilhar hipóteses,
Criar refúgios,
Semear matos, flores, árvores
Na minha espécie de lugar seguro.

É ele que agride
A minha flora e fauna fantásticas.
São eles que não entendem
Quem eu sou.

Ou pelo menos não se importam.
Por que alguém se importaria
Com a minha verdade,
Com a minha fantasia?
Por que alguém compraria
As minhas mentiras coloridas?
Todas em vão minhas tentativas.

Eu vou e venho de buracos de coelho,
Tocas de Alice, Terras do Nunca,
Mundos maravilhosos.
Eu preciso disso.
Sem esse brilho encantado,
Vida nenhuma vale a pena.

Eu quero brincadeiras,
Quero falar da minha infância,
Quero chorar com bobagens,
Quero pensar na minha casa
E nos meus futuros filhos,
E no aborto a caminho,
E no dia que vamos dominar o mundo
Ou até dormirmos juntos.
Eu quero pensar na culinária conjunta,
Nas histórias contadas,
Na convivência sublime.
Eu quero um mundo
Onde eu possa consertar os erros deste
E fingir que eu sou feliz com maestria.
Eu só quero fingir que sou feliz
E tenho companhia.
Não tem ninguém pra brincar disso comigo.
Ser filha única é uma bosta.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Não existe lar para os pecadores ou para os trouxas. Não existe lar para ninguém.

Escape

Eu aperto meus dedos contra a palma da mão.
Eu quase não percebo.
Quando eu vejo estão doendo,
Tamanha a força que faço.
É involuntário.
Você.
O menino que só aparece de madrugada.
Alguém tá me mandando dormir mais cedo.
Sempre reclamam
'Não vai não'.
A madrugada é dos carentes,
Mas eu só quero dormir.
Eu preciso.
E você quase já não cabe
No meu querer ou precisar.
Eu tenho saudade às vezes,
Mas não é forte.
É verdade que algo em mim
Não quis finalizar a tua ida.
Estou sujeita a coisas
Que não gostaria de admitir.
Mas meus dedos,
Apertando a bolsa, confessam
O que eu me esforço tanto
Pra esconder.
E não é como se minhas palavras
Fizessem um trabalho melhor.
Nem meu coração parece aceitar
Que precisa bater mais lento, descansar.
Nada me obedece.
Tudo me entristece e cansa
Toda hora.
Não demora eu encontro outro motivo.
Hoje tem textos seus pra ler.
Eu sempre olho,
Eu sempre me entrego.
Eu esqueci de ler a tua história.
Isso está dando meio certo
Mas talvez não dê.
Eu nunca sei o que eu estou fazendo.
Você só aparece quando eu tô tentando dormir.
E eu escolho dormir.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Depression task

I'm really tired of your "it's a secret" game
I'm tired of "you're he only one who knows"
You once told me a secret
The worst secret anyone could tell
You gave me this sick gift
I thought it would make me special
But it never did
It's not like you intentionally wanted
To make me feel so bad
I told you I loved you so
But I could never predict
That it would end up like this
You get my hands dirty
I don't wanna know your secrets anymore
I don't wanna touch you
I don't wanna se you
I have to vanish my soul
Everytime I say hello
And that kills me
Because I know I will
Eventually
Really hurt you
And I don't mean to be mean
I'm just too tired
Too sad, too sick, too nauseated
I'm overwhelmed
And you never knew the consequences
On your acts
Or you never actually cared
While I forget who you are
And I often do
I keep loosing myself
On my way to home
I don't who I am
Or where am I
You make me lost and sad
I can't handle this
In fact, I can, but I don't want to
I wanna go home, be safe
I wanna be away
From you

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Indiferença, alvejante

Escrevo tudo que vejo
Tudo que sinto
O chão que desprezo
O ar que revisto
O meu reflexo deturpado no espelho
A feiúra desgostosa da gente
A euforia, a funebridade,
A celebração da castidade
Ou da vulgaridade inconformada
Escrevo quando estou chapada
Escrevo quando sou amada
Se isso sequer existe
Escrevo a desvantagem de ser triste
O desespero, a falha, a navalha
A fornalha onde não jogo teus textos
Pretextos inventados por mim
Para me permitir a tua falta
E quando morre, me mata
Mas não posso mais sentir
Teu gosto de sangue jorrado
Imaculado fruto da derrota
Quando não pudeste mais
Cumprir as promessas que me fazia
Logo não podias mais fazer promessas
E aí tudo se esfria, gela, racha
A superfíce do lago, polar ártico
Assim que lhe arranha a agonia,
Cede, afoga, afaga, líquido
Os alvéolos exaustos
Mas não há dor pra ser sentida
Dormente o gosto,
Dormente a partida
A vida que não tenho já se acaba
Para nascer de novo, chocada
Debaixo do calor de um preto e branco
Um garçom, um manto,
E na sobriedade a abertura
Antes que eu de novo seja
Antes que eu tenha tempo de me machucar
Me cura de nosso fim, me cura
Me perdoa os erros já previstos
Perdoa os meus desejos mal vistos
Te apaga em mim
Para que eu não perceba simplesmente
Que existe esta realidade
Onde não sou o deserto da antártida
Aqui, onde os amores
Nunca foram registrados no cartório
Nesse eterno velório
Sem velas, sem choro, sem compaixão
Sem medo, sem riso
E definitivamente
Sem perdão

To cry, to dry

Tired so tired
Seasick of you, boat
Jetlag of him, heavy cloud
I don't wanna do this anymore
I don't wanna fly
I don't wanna drown
I don't wanna swim
I don't wanna fall
This is what I get
For breathing so hard
This is all I have
Please, don't go so far
I have to go alone
This is just my life
I am not supposed
To be someone's wife
And this little poem
Does not even make sense
Makes me look so dumb
I should just give up
I should just go on
I shall not be me
I only wanted to be free
And I deserve it
But as I can see
There's no company
On my pretty path
There's no company
On my future beds
I must go alone
I must be on my own
I'm sick of you two
Of you three
Of everyone
I should say I'm gone
But I'll never be
I'll never be
I belong to dirt
I belong to me

A insuportabilidade do traidor por perto

Não faz isso.
Não fuma, não bebe, não foge.
Para de fugir. Para.
Nem o corpo dele importa mais.
Não deixa o menino te pegar, Emily.
Não deixa o bicho papão chegar aqui.
Vai dormir.
Descansa, pinta sua mandala, vai pra aula.
Prepara a fantasia e o quadro,
Sai dessa internet.
Você tá tão desesperada pra falar com os teus amigos.
Você abandonou todos eles, não foi?
Mas eu os amo.
Eu quero falar com eles.
Mas por outro lado, quero ficar em paz.

Vamos lá, um pouco mais,
Verdades frias na tábua.
Falar com esse garoto me irrita.
Me desespera, incomoda.
Ele só faz ir embora, todas as vezes.
Tudo que ele me fala é sobre ir embora.
Como se ele estivesse num interminável
Processo de morte.
Ele morre, morre, morre todos os dias.
Me incomoda. Atormenta.
Eu não quero assistir.
Ele me convida, eu vou.
Ele sugere, eu topo.
Ele pergunta, eu concordo.
Mas eu não suporto, eu não suporto.
É como se esticássemos um fim
Que já acabou há anos.
Por que eu estou fazendo essa caridade falsa e suja?
Por que eu não falo logo a verdade e acabo com isso?
Eu não quero matá-lo,
Eu não quero provocar-lhe dor.
Eu só quero ficar longe todas as vezes possíveis.
Dele e seus cigarros, dele e seus tormentos,
Dele e seus desesperos, corpos, imagens.
Eu não sei o que fazer.
Ele é um mau presságio.

Ele não sabe, mas agora sinto
Que todas as vezes que eu precisar tocá-lo
Eu terei que estar minimamente alta,
Para não querer me matar
É como se fosse tóxico
Se eu o encosto, morro
Definho, apodreço, pereço
Isso já nem faz mais sentido
Traição, será?
Quando tempo leva até você perceber
Que eventualmente você vai embora
Que isso já começou faz tempo, tua partida
Talvez já tenha notado, talvez apenas ignore
Isso me machuca
Você logo vai embora de vez
E vai doer mas eu quase não vou sentir
Porque quando você me matou
Eu virei um monstro
O bicho-papão em mim agora existe
Agora pode
E eu não posso com ele
Eu preciso que ele durma
Então vamos dormir

Crueza, crueldade

Debaixo de todas as verdades
Que nos cobrem nas noites frias
E não nos aquecem
Está essa:
eu não posso te salvar da partida dela
O perigo do amor
Foi desde o início escolha tua
E eu tendo ou não concordado
Incentivado a tua ida ou vinda
O coração condenado era o teu
O risco estava exposto,
Estendido sobre a mesa
Você sabia que podia cair
A qualquer momento
E eu não posso dizer que te avisei
Porque de fato nunca fui tua mãe
Ou tua consciência
Eu apenas sei
Que todos os amores
Carregam este perigo do fim
E eu te digo desde sempre
Que não confio na eternidade das coisas
Se você insiste em me contar
Da duração de teu sentimento
Que resiste, rocha, às porradas da água
Eu apenas aceito e digo "vá"
Se quando te machuca, você gosta,
Se quando acaricia, vale a pena, vá
Mas no teu retorno, não tenho culpa
Não posso te curar,
Não posso ser tua foda do perdão
Não posso ser o alívio que o Universo empresta
Aos apaixonados suicidas
Não posso te salvar da ida dela
Nem do teu coração partido
Não posso cicatrizar tua solidão
E se o desamor te carrega toda a alegria que sobra
Ele tem o mesmo efeito sobre mim
Quando a escolha é minha
E não é como se eu estivesse imune à tua falta
Todos sofremos
E a tua dor não é responsabilidade minha
Nem por isso vou-me embora
Nem por isso cubro minhas orelhas
Nem por isso recuso um agrado,
Um cafuné, um café, um abraço
Mas não posso te curar e é necessário
Repetir isto em voz alta
Para que todos saibam
Que além de não ser psicóloga,
Não sou curandeira ou santa,
Não sou doutora de maneira alguma,
Não sou abençoada,
E tampouco sou o amor de alguém,
Qualquer salvação ou ícone,
Tampouco sou a dor de alguém,
Não que nunca tenha antes sido,
Não tenho o dom de mergulhar
Os moribundos em esperança
Eu tenho duas coxas, colos,
Tenho dois braços, pesos confortáveis
Para os teus ombros magros,
Tenho meus lábios dispostos
A te dispersar a mente,
E uns olhos confusos
A tentar te confundir também.
É tudo que tenho,
E um copo meio cheio de água gelada,
Se quiser minha companhia, venha
Mas além dela, não tenho nada
Nada te especial a te oferecer.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Conte de fées

O mundo parece irreal.
O cheiro da chuva desnorteia os meus sentidos.
Há um lago se formando na minha  rua.
As saudades que eu sinto agora
Não inofensivas como as saudades
Que eu senti pela manhã.
Tudo se inverte.
De uma hora pra outra,
Eu já não estou pedindo que minha vida atarefada retorne.
Eu quero que esta paz nunca acabe.
Se eu trabalhar vez ou outra, essa não deve ser minha vida.
Eu não quero ser melhor que ninguém.
Eu não quero ser "bem sucedida".
Uma profissional admirável, invejada.
Eu não quero estudar na melhor faculdade,
Tirar as melhores notas, ganhar o melhor salário.
Eu não quero ser reconhecida pelo meu trabalho.
Eu quero ser conhecida, de verdade.
Eu quero ter amigos, ser amada, ser divertida.
Eu quero que as pessoas possam contar comigo.
Quero uma vida íntima, quero poder sair e falar sobre tudo.
Eu não quero a vida que os adultos esperam de mim.
Quero ter uma grana, pintar minhas telas,
Conseguir ser minimamente dona da minha vontade.
Quero poder ser espontânea, viver aventuras estúpidas,
Ficar em casa durante todo o fim de semana.
Eu quero ser digna de mim mesma.
Preciso de uma identidade.
Eu não vou fazer o que me pedem.
Eu não vou cobrar de mim algo que não sou.
Eu vou ser peculiarmente mediana.
Ordinária, comum, medíocre.
Eu vou tirar as notas que preciso, arrumar um emprego,
Sem compromissos eternos com carreira.
Eu vou viver os relacionamentos que forem necessários,
Sem precisar ser a pessoa perfeita todas as vezes.
Sem precisar ser maravilhosamente bonita
Para desconhecidos me admirarem na rua.
Isso não faz sentido.
Eu não quero ganhar um troféu.
Eu não quero representar uma marca.
Eu não gosto de competições.
Eu prefiro quando alguém sorri e diz que pode contar comigo.
Esse é o meu presente, a minha dádiva de Deus.
Estar ao lado de alguém, é tudo que eu quero.
Eu não devo nada a ninguém.
Eu não preciso ser a mais ética, a mais correta,
A mais doente, a mais escrota, a mais sofrida,
A mais esperta, a mais gostosa, a mais bonita,
A mais divertida, insubstituível ou incomum.
Eu só quero ter o direito de existir.
Eu não devo nada a ninguém.
Eu só preciso sobreviver, e buscar um pouco de felicidade.
É isso, tudo ou nada, me esforçar todos os dias, ser grata,
Me buscar em todos os cantos e em todas as pessoas,
Contatos, passeios, céus, é isso.
Eu preciso me construir como uma nova cidade,
Prestes a ser habitada por pessoas inacreditáveis.
O mundo parece irreal, como se fosse todo meu.

Fast As You Can - Fiona Apple

I let the beast in too soon
I don't know how to live without my hand on his throat
I fight him always and still
O' darling, it's so sweet
You think you know how crazy, how crazy I am
You say you don't spook easy
You won't go, but I know
And I pray that you will

Fast as you can, baby
Run, free yourself of me
Fast as you can

I may be soft in your palm
But I'll soon grow hungry for a fight
And I will not let you win
My pretty mouth will frame the phrases
That will disprove your faith in man
So if you catch me trying to find my way into your heart
From under your skin

Fast as you can, baby
Scratch me out, free yourself
Fast as you can
Fast as you can, baby
Scratch me out, free yourself
Fast as you can

Sometimes my mind don't shake and shift
But most of the time, it does
And I get to the place where I'm begging for a lift
Or I'll drown in the wonders and the was
And I'll be your girl, if you say it's a gift
And you give me some more of your drugs
Yeah, I'll be your pet, if you just tell me it's a gift
'Cause I'm tired of whys, choking on whys
Just need a little because, because

I let the beast in and then
I even tried forgiving him, but it's too soon
So I'll fight again, again, again, again, again
And for a little while more
I'll soar the uneven wind
Complain and blame the sterile land
But if you're getting any bright ideas
Quiet, dear - I'm blooming within

Fast as you can, baby
Wait, watch me, I'll be out
Fast as I can
Maybe late, but at least about
Fast as you can
Leave me, let this thing run its route
Fast as you can

Fast as you can
Fast as you can
Fast as you can
Fast as you can