domingo, 6 de agosto de 2023

Epitáfio, Amor de Irmã

Meu querido Peter,
Que bom que você não nasceu.
Que não abriu os olhos.
Que não engatinhou.
Não pôs os pés no chão.
Não lambeu o chão.
Que bom que seu coração não bateu.
Você teria tido uma vida horrível.
Seus gens seriam péssimos.
E já eram péssimos.
Sua família não teria amor 
de verdade pra te dar.
Que bom que você morreu, Peter.
Se eu te matei, se foi verdade,
Como ela disse,
Então eu te salvei
de ter uma vida horrível
como a minha.
Eu te salvei de nascer, 
Porque a mim não deram escolha.
Mas, a você: eu te liberto.
Eu te liberto desse sofrimento sem fim
Que é existir.
Eu te absolvo de ter que nascer.
Essa
É a minha carta de amor
Para você.

Você se foi no verão de 2007.
Acho que era março.
Acho que era 2007.
Acho que era verão.
Eu nunca me despedi.
Você nem tocou o chão.
Mas tocou em mim, eu senti.
Fingi que não, como fingia tudo.
Eu não tinha tempo de sentir
Qualquer coisa que fosse real.
Você era uma promessa de algo,
Um sonho entre muitos,
Que eu fui perdendo aos poucos
Com a habilidade
De manter em mim acesa
A luz que me mantinha viva.
Eu espero que você esteja num lugar
Maravilhoso.
Ou em lugar algum.
Pois isso já seria de grande alívio.
Saber que existe um fim.
Se você estiver apenas no ar,
Então por mim, tudo bem.
Eu queria estar com você.