sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Dislexia

Não leio poemas.
Vejo poesia onde não há.
Nunca me ensinaram direito a ler o que está escrito.
Talvez tenha sido o olhar de minha mãe enquanto recitava para mim aquela mesma história pela décima oitava vez.
Para mim era certo que a poesia era ela e não o texto.
Pedia que lesse de novo.
Hoje eu só entendo os versos que você respira
E os fios acobreados no cabelo dela.
Sou daltônica de sentimento,
Disléxica de metáforas intencionadas.
Eu só entendo o que eu sinto bem escondido,
Que ninguém quis me dizer.
Eu só consigo ler aquilo que não escreveram pra mim.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Flash

- Você está bem?
O "não" estava estampado na parte transparente do meu vômito.
- Estou melhor.
Só tive certeza que o som tinha saído mesmo quando ela desapareceu pelo mesmo buraco de onde tinha surgido. Levei o que pareceu meia hora para perceber que ela estava a não mais que sete passos de distância de mim, cantando com um pessoal da praça.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

sem remédios

Me abro e me leio.
Me entorpecem minhas próprias palavras.
Saio do mundo, me dopo.
Escapo de mim, para dentro.
Meus textos não me encantam,
não me surpreendem,
não me recuperam.
Eles me acolhem pra dentro do peito.
Do meu peito
vazio de ar.
Sem que eu perceba, pesam meus olhos.
Seja de choro ou de sono.
E até o medo vai me consolando
no meu reconhecimento.

Me enxergo,
Me escrevo.
Na ordem errada
das palavras tortas.
Mato-as todas.
E elas se regeneram,
insossas.
Insaciáveis.

Me rasgo pra me consumir
e para dormir à noite.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Espelho, raio x

És moça, mas como moça mesmo não chegas a ser muita coisa.

Mente que é uma desgraça,
Muda de realidade como quem muda de roupa,
Muda o jeito, muda a voz e só não muda a cara porque não tem essa liberdade.
É ordinária, previsível, porém insuportável,
E quando cisma, cisma de um jeito que ninguém aguenta.
Faz o que quer e desiste do que dá muito trabalho ou leva tempo.
Paga de auto conhecedora e fala de si pelos cantos, mas tá sempre perdida e sem ter certeza de quem é.

Não chora. Tem vontade mas sempre dá defeito. Joga a raiva nos outros.
Pinta até morrer de alergia pelo cheiro forte da tinta com a qual fez o favor de sujar tudo.
Dorme tarde, teima. Falta aula.
Insiste em escrever textos e mais textos sobre um romance que não existe na vida real. E que te inclui.
Você é egoísta e desleixada. Irresponsável. Já tá na sua hora de crescer.
Esquece a bebida. Esquece os cigarros. E esquece o sexo.
O importante é que você estude no lugar de escrever poemas que ninguém vai ver.
Quer desistir do curso que mal começou porque não quer ter que sofrer no aprendizado.
Cresce. Cresce, criança.

E diz que vai se matar, mais pra si mesma do que pra qualquer um.
Guarda isso como um trunfo pra acalmar a alma.
Propõe sempre mais perguntas no lugar das decisões.
Prefere questionar. É mais seguro.

Não gosta de exercício, nem de salão e nem de se cuidar.
Se deixar come tudo que tiver na geladeira, exceto os vegetais.
Toma banho quando tá afim.
É isso que tu chama de liberdade?
A concha não vai existir pra sempre.

Esse autismo que tu guarda não vai te ajudar em nada. Se toca.
Não dessa forma que você faz por tédio ou por remédio. Se liga, faz as coisas, corre atrás.

Vai dormir que tu tem aula amanhã. Vê se fala com as pessoas.
Vê se finge direito, já que você insiste em fingir.
Vai procurar tua terapeuta.

Ainda acreditas nas minhas verdades tortas?

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Abstinência e overdose de oxigênio

Me parece certo não respirar.
Morrer por falta de ar.
Me parece certo ser internada num hospital,
E amada antes de morrer.
Queria sair agora e fumar um cigarro. 20 deles.
Queria alguma expectativa sobre qualquer coisa.
Meus joguinhos perdem a graça com frequência.
Queria que você tivesse medo de me perder pra morte.

Amo-te no agora
efêmero,
um amor gratuito
que sabe a importância
do findo.

Amo-te no finito
de mim.

@pffilipini

Sem nome, sem fome, sem ar

Até o galho mais forte
da árvore mais resistente
não aguenta
o abandono do pássaro;
mas o pássaro sabe
que sempre haverá
outras árvores.

- @pffilipini

Você é o meu pássaro.
Aquela tempestade da qual você fugia
Quebrou seu galho preferido.
Não tenho mais espaço pra você pousar.
Te amo.

Completamente maluca

Às vezes me apavora que eu seja incapaz de desamar você.
E me incomoda esse espírito soprando nos meus sonhos essa vontade incontrolável de beber.
Alguém disse lá na última fileira que eu vou usar cocaína e é o arquivo secreto do momento.
Tão secreto quanto eu permitiria.
Sinto-me puramente a tatuagem no meu pulso.
O dia e a noite.
A lua e o sol.
As fases, o sentimento, a instabilidade e mutabilidade.
O amor, o ódio, a dúvida.
A incoerência em seu estágio avançado.
É o que eu sou. A incoerência.
Me perdôo. Perdôo você.
Te amo hoje.
Dizia isso cegamente por aí e cada vez o entendo melhor.
Amar-te hoje significa ser livre para não permanecer. E permaneço.
Porque sou incoerente.
Há muitas coisas que não entendo agora.
Como por que da noite pro dia eu resolvi te perdoar. Te abraçar de volta dentro de mim.
Quem sou eu?
Quem és tu, Alice?
A pergunta permanece.
O tudo e o nada acontecem em mim, mas eu ri contigo hoje. Eu ri.
Estava sóbria, não tive raiva. E você não faz ideia de como isso é um bom sinal.

Acho que eu tenho alguma doença,
Algum transtorno.
Acho que eu pirei de vez.

Coca-cola

Há uma lama no meu quarto,
Há um quarto na minha lama.

Me pego tropeçando sóbria pelos corredores.
Acordo com a cabeça embaixo d'água,
De pé no centro da sala,
Na cama vazia que nunca esquenta demais.

Embriago-me no escuro,
Busco uma coberta velha,
Emudeço-me aos berros
Para não pedir ajuda a mais ninguém.

Viro as costas para o espelho.
Não pertenço a estas paredes,
Não me aguento de joelhos,
Não me lembro do que eu fiz.

Quem eu era?
Quem eu era?
Quantos copos eu bebi?

Procuro paciente por meus dedos,
Me esqueço,
Respiro sem perceber
Até não respirar
E quando eu não respiro é bom.
O ar é meu inimigo,
Não você.

Tateio a ausência pelos azulejos.
Te encontro e me perco no meio
Da minha própria bagunça.
O mundo gira impiedoso:
Não posso parar, não posso parar.

Sucateio alguma coisa pra chamar de nossa.
Um verso, um teto, um beijo.
Me recolho e me maltrato,
Não há nada que me reste além do seu retrato velho.

Na minha lama há um corpo,
Há porcos na minha cama.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Drink after mama sleeps

Hoje de manhã acordei e o mundo estava estranho.
A cama, as paredes e até a pele que me cobria as entranhas.
Decidi pular esta etapa do dia. Funcionou.
Hoje à tarde eu descobri que a verdadeira estranha sou eu.
Bebo coca-cola como se fosse álcool.
O líquido borbulha por dentro de mim. Gozo.
Evito embebedar-me sozinha porque sei que o álcool vai me mordiscando a identidade.
A cada copo eu perco um pouco de mim.

Há um menino rezando na beira do cais.
Ele se ajoelha e pede a Deus para mantê-lo assim, intacto. Sóbrio.
Um maremoto desaba todos os dias sobre sua cidade.
Ele sobrevive. E nada sequer o toca.
Pela manhã a cidade se reconstroi para no fim do dia desabar.
E o menino reza todos os dias. Toda noite. Persistentemente.
Dizem que ele antes pedia a Deus para matá-lo.
Não se sabe o que aconteceu depois.

Eu me sento no sofá de pernas abertas.
No meu corpo um vestido velho,
A calcinha pendurada no varal.
Alguém deixou um cigarro apagado em cima da mesa.
Podia acendê-lo, mas vejo pendurado na parede
Um quadro. Pintaram o mar.
O mar que o menino vê todas as noites enquanto reza:
Infindo, sereno e voraz.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Breu

Uma música, por favor.
Para não mais ouvir seu coração parando todas as vezes.
Para não me sufocar com a ideia do seu fôlego falho.
Você estraga toda a brincadeira quando sucumbe.
Não posso fazer isso com você.

Uma música bem alta no fundo.
Pra calar minha existência suja.
Pra tirar meus pensamentos de você.
Pra me tirar daqui.

Meus ouvidos desligaram tudo.
Agora eu só escuto o medo.
E aquela luz que no meu sonho significava o mal.
Eu apagava tudo pra me proteger.

O breu
E eu.
Pra me sentir segura.
Pra não te machucar.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Celulose

Você é a carta coringa do jogo,
É a chave mestra,
A sapatilha preta.
Combina com todas as coisas,
Todas as cores,
Só não combina comigo.
Você cabe em todas as metáforas que existem,
Você preenche o buraco no meu nada
Até que ele fique bonito.

No fundo, eu sou um bicho sanguessuga,
Uma enguia elétrica,
Um zumbi prestes a devorar seu cérebro.
Eu sou qualquer coisa capaz ou intencionada
A destruir você de alguma forma.

Dedos gelados no calor

Precisava assim de um canto.
Meio quente, meio frio. Macio.
Um abraço vagaroso, um tempo.
Precisava de uma ajuda rasa
Ou de um mergulho fundo.
Há quem chame de redenção o que eu desejo.
Queria uma brecha.
Alguns minutos que durassem dias.
E resgatar-me do mundo.
Precisava não mais ter nas mãos tudo.
Não precisar lutar o tempo inteiro.
Precisava de um leito fresco no qual dormir.
E fugir, e crer, e amar.

Je ne sais pas

Eu não sei fazer isso.
Eu não sei pular carnaval.
Eu não sei ficar só num quarto.
Eu não sei passar todos os dias sem você.
Eu não sei passar todos os dias com você.
Eu não sei como entender o que acontece aí dentro.
Eu não sei pra onde eu vou completamente sozinha.

Eu não sei como
não ser obcecada
por você.
Não sei viver.
Não sei morrer.

Eu nem sei por que você precisa ir embora.
Eu só sei que lá no fundo você precisa.
Do mesmo jeito que eu preciso de você.

- Volta

Tudo que foi

O vazio fica,
Tu vais.
Tento preencher-me.
Escrevo a tua partida
Permanente.

E perduras todos os dias
Distante.
Doi-me irremediavelmente
Sempre.
Como eu sempre soube que viria a doer,
Afinal.

A simples ida insiste
Em me arranhar as coxas
A todo momento lento.
Deus, que para o universo e me deixa só
Caçoa por teus lábios,
Chamando-me pra ficar.
E só por um dia atendo.

Tendo sido o vinho a transbordar-me,
Quando cálice,
És hoje o meu vazio mais imenso.
Porque de todos os poemas que escrevi,
Tu foste metade.
E dentre todas as pessoas que ousei ser,
Eu só existia de fato enquanto te amava.

E, vendo por este lado,
É certo dizer que
Neste ponto eu morri.
Amei,
Amei.
E morri de amor.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Boa noite, diabo branco. Dedico minha cocaína a você.

Jesus Cristo

Tu surges das cinzas.
O que esperas de mim?
Duvido.
As minhas certezas abalam-se.
Penso em me aproximar.
Não há perto que exista entre mim e ti.
É mentira, de novo.
Sou eu, tentando instaurar o caos
Porque tenho medo.
Doi em mim que tu possas sofrer.
E que o possa eu.

Ele aproxima-se de ti.
Estás a salvo, acompanhado.
Posso ir.
Ir-me embora.
Talvez fosse este o plano:
Resolver estes assuntos comigo
Enquanto tens companhia para te amparar.

Me incomoda, mas vou de novo.
Ama, trepa, sê.
Certinho ou transtornado,
Que sejas tu mesmo até estar saciado.
Eu sou um monstro que devora almas,
Indiferente à existência tua.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Se eu tivesse coragem, deletava esse blog. Deletava tudo. Você, ele e todas as outras pessoas. Se eu tivesse coragem, eu deletava a minha vida. Porque nunca me sinto livre. Nunca. As pessoas estão me sufocando.

Todos os meus segredos me mordem

Sense

My heart beats. Just like that beer we used to drink. I drink it again. For the first time, I allow myself to miss it. To miss you. But I keep telling myself that I must leave you behind. You were everything. I feel sick. The sadness that swallows me up is guilty's best friend. I feel no love, I'm about to vomit. This ain't right, honey.

Picotes

Você parte o meu coração.
E eu vou pra longe,
Pegando o avião para o Rio de Janeiro
Todas as vezes.
Eu te abandono aí.
Sempre.
Duvidando do que se refere a mim
E do que realmente doi em você.
Não tem mais nada aqui.
Pra você não me morrer eu vou embora.
Eu fujo, fujo de você.
Fujo irredutivelmente todos os dias,
Mas procuro caquinhos pra guardar em mim.
Pedacinhos de vidro grudados na minha pele.
Eu cicatrizando em volta.
Eu sou uma parede de fuzilamento.
Querido, eu não gosto mais dessa vida que eu tenho.
Não quero mais.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Perecível

Às vezes eu penso que você está me matando também... Dentro de você.
Acabo de fazer contato com a espécie humana novamente. Contato real. Você se tornou humano, sabia? Eu gostava de quando você era alienígena.
Ao que parece você reconhece a nossa morte. Mas não admite. Um casal com o relacionamento desgastado... E o divórcio?
Não aguento mais você. E o resto dos homens nem importa, mas eu finjo que sim.
Fugia de todas as pessoas. Estou parando de fugir.
Tentei acreditar de novo. Tentei, mesmo. As camomilas, aquela coisa toda. "Eu preciso disso."
Você mentiu. E aí deixou bem claro o quanto te incomodava a minha presença ali. Eu só queria te amar. Todas as vezes eu só queria te amar. Todas elas.
Não quero mais. Não amo mais. Não me importa, não quero mais você por perto.
Você se tornou um monstro responsável, careta, racional.
Eu não dou a mínima agora.
Não tem mais por que eu te amar. Eu sempre amei o lado errado de você. E era isso. Eu precisava te amar daquele jeito, como acho que você precisava ser amado naquela época. Não precisa mais. Hoje não faz diferença.
Você é um qualquer que eu conheci. Um vazio perecível no meu peito.
Eu me despeço sempre que me lembro.
Desculpa,
Desculpa,
Desculpa.
A gente não existe mais.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O céu e o chão

Houve o caso de um menino que se dispôs a me doar uma fatia do céu.
Desabava sobre a cabeça dele, me disse. E fiz o pedido.
Hoje à noite um pedaço do chão me machucou.
Percebi que o mundo é feito de céus e chãos e que sinto falta de um menino com quem conversar.
Vou pedir uma pizza mais tarde, talvez.
Meu quadro de hoje cansou de mim.
Sozinha, em plena quinta-feira. E o carnaval nem começou ainda.
Erro em todos os momentos. Fujo de tudo. Fujo para o que me assusta. Fujo do que conheço porque o odeio.
Faz tempo que eu perdi a minha identidade.
Faz 15 dias que eu perdi minha companhia.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

174, o começo da perda

Acredito que quanto mais nos aproximamos da consciência, menor se torna a probabilidade de sermos felizes. Mas não estou aqui para encontrar felicidade. Não desta vez. Vim para encontrar sentido, para justificar a minha permanência em um mundo que eu sei que não vale a estadia. Talvez admitir que o mundo não merece a minha presença seja um egoísmo dos mais elaborados. O mundo precisa de mim. Como pessoa, sem pretensões de reconhecimento ou companhia. Me foram dadas ferramentas para ajudar a ajustar o convívio social. Desisto de estar aqui por mim. Desisto de acreditar que algo maior existe. Desisto de acreditar na salvação. Desisto da felicidade. Venho procurar uma utilidade na existência pré-determinada. Justifico aqui toda dor envolvida em ressuscitar a humanidade que existe em mim.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Não é saudade

Hoje achei por acaso a blusa que eu usava pra fumar contigo. Da outra vez. Quando a minha doença me fazia genuinamente feliz. Quanto mais sã, mais triste. A lucidez é o pior castigo que o ser humano recebe por pecar. E agora eu acordo devagar pela manhã, e me fascino com tudo aquilo que me apavora. Um universo imenso de coisas que eu vou desaprender. Nada de certo me aguarda. As tardes vão se desmanchando e todos os dias eu durmo infeliz. E quando não basta a dor pura do ar invadindo os meus pulmões, a solidão vem pra me embalar de frio. Não durmo. O nada do mundo me incomoda muito. Eu perdi o amor nos trilhos do avião e agora não sou ninguém. Espero um trem que nunca chega, uma felicidade que não me pertence.

Saudades, girassol

Vai fazer seis meses que a gente se "conhece".
Te enviei oito cartas (acho).
Pintei um quadro.
Disse que te amava.

Faz 15 dias que eu não consigo falar contigo.
Sinto sua falta.
Tô ouvindo cícero.
Aquela música que doi.

Desviei o meu caminho de ti.
Minha gaveta tá vazia.
O pouco que sobrou tá jogado no chão.
Quem vai me ajudar a arrumar?

Ninguém.

Não estou.
Não estou.
Não vou estar.
Você nunca vai querer me amar.
Você vai embora todos os dias.

Ele também.

Todo mundo vai.
Até eu.

Tô indo.

Raiva, ilha

Não é justo que eu esteja condenada a isso.
A palavras que não me fodem, não me espancam
E não me acariciam.
Não é certo que eu esteja presa aos cigarros
Que me desidratam
E ao álcool que me desintegra.
Maldito seja quem inventou o conceito
De mundo virtual.
Se as palavras podem por vezes me masturbar,
Não posso dizer o mesmo sobre a dor.
Palavras nunca me causam dor suficiente.
E isso às vezes permite que uma solidão irritante se instale.
Nas paredes, na pele, no útero.
Em todos os lugares.
Se o único macho que por pouco me interessa
Deseja me foder,
É o inferno que isso não seja possível.
Odeio tudo aqui.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Ironia

   É preciso, às vezes, camuflar o sentimento de superioridade. Forjar uma humildade e recitar a incompatibilidade como justificativa, sobrepondo a diversidade à escala.
   Mesmo nos dias em que me sinto Deus, é preciso mostrar a minha face pura, e deixar que o silêncio torne turva toda a verdade que existe em mim como ser humano único.
  E em dias em que eu tolere a carapuça da alma condenada, é preciso reforçar a farsa do distanciamento e equilíbrio interno. Maturidade, alguns chamam. Para proteger-me da miséria alheia e da voracidade com que nós, coabitantes, somos capazes de devorar uns aos outros.
   A certeza que paira é de que o fingimento tece todas as cadeias do ser humano. Como espécie, como contexto, como sobrevivente e também como altruísta. Talvez a verdade não passe de uma supervalorização estúpida. Ou a descrença em todos os assuntos seja marca de uma geração.
   De fato, eu preferia muito me sentir acompanhada a simplesmente compreender os absurdo do homem. Ou da mulher. Mas não é esse o caso.
   Sou farsante, incoerente, hipócrita, contraditória e imatura. Mas, por vezes me elogiam por estas qualidades. Predominantemente, sou sozinha. Especialmente agora. Porque não há nada que alcance a desconexão entre os meus caprichos. 

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Para ser preenchida

Fujo,
Fumo um cigarro escasso.
Não fumo para dormir,
Para acordar
Ou para digerir melhor o meu almoço.

Não.
Meus cigarros são feitos para grandes ocasiões.
Grandes,
Apenas dentro de mim.

Fumo para abandonar meu grande amor.
Fumo para enterrar a mim mesma,
Trancafiada em um octógono de madeira.
Fumo,
Para não mais temer o que eu não sou.

E pinto seis lápides,
Esperando brotar da terra algo que valha o sacrifício.
Fumo ao me preparar para deixar de lado
Tudo o que já me pertence.
O passado e o futuro insaciado.

Fumo enquanto o meu mundo desmorona,
Não vejo razão plausível para resgatá-lo.
Permaneço amassada
Em meio a oitenta quilos de cinzas.

Não é o cigarro,
Não é o maço,
Não são os acompanhantes, fugazes.
São escolhas,
É o ser todos os dias,
É pisar novamente no concreto e definir:
Existo.
E escrever sobre o assunto.

Um cigarro para acordar na manhã seguinte,
Pronta para ser humana,
Serena,
Vazia.
Imensuravelmente vazia.

Sobretudo, como

Minhas metáforas servem, em sua maior parte, para desobrigar o leitor ao sentimento. Para proteger-me também da necessidade alheia. E sobretudo, serve a incoerência para despistar o meu destinatário de si mesmo, bem como do eu eleito em dado instante para me representar. Desvio, pego retornos, ando em círculos e me esquivo da lógica. Para parecer que não sou e no fim não resguardar a responsabilidade por minhas palavras tolas e desnorteadas.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Não reciclável número 8

Falo, falo demais.
Sobre o monte de bobagens que permanece entre a verdade e o ar.
Encho nossas conversas com nadas, com tudos.
Com uma quantidade considerável de lixo.
Reclamo. Como se a vida não prestasse.
Como se eu não servisse de nada aqui, viva.
E insisto que sou uma maravilhosa puta,
Por debaixo dos panos cinzentos da insatisfação.
Minto. Minto pra você e pra todo mundo.
Até esquecer quem eu sou.
Odeio ele com todas as minhas forças, e finjo que não existe.
Escrevo.
Nada de valor. Nada que justifique uma leitura.
Mas escrevo.
E pinto. Pinto quadros que agora já não funcionam.
Deliro com minhas delícias do passado.
Estou perdida aqui.
Gosto de você por apenas uma noite.
O resto é inútil, é farsa.
Ninguém tem a me oferecer o que eu procuro.
A contração do estômago vazio se repete, e repete
Até que eu coma.
E odeio tudo que entra dentro de mim.
Até meus dedos.
Queria fazer algo muito errado, de verdade.
Não aguento mais crer nessa ilusão fajuta.
Não há ninguém para me socorrer,
Me cuidar,
Me acariciar.
Não há ninguém para me foder
Até eu gostar da vida através de um orgasmo.
Eu odeio a maneira como a lua determina em que parte do mês estamos.
E odeio o fato de os meus dedos estarem gelados sempre que eu preciso me abraçar.
Invejo aqueles que não pensam na solidão.
Invejo os que acreditam na cura.
Quero morrer.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Truth coming out


"I'd hate to love you again. You ruined it, and everything around me. I wished I could be cold, and so am I. I hate it. I wish I could be drunk, but I'm alone. My daddy said it isn't healthy to drink sadness. But I'm not sad, you know. I'm just angry, and I think my heart might be dead at this point. And that's it. That is life, proving that nothing can beat our expectations. I wish I could change who I am. So I wouldn't feel so empty. So I wouldn't miss so hard my faith in love. In any kind of it. I wish I could find something where I could put any hope."

Dry

Cigarros,
Bebidas,
Cocaína.
É disso que eu preciso,
Hoje,
Agora.
Trepar contigo na parede,
No chão,
Na mesa.
Chapados,
Sadomasoquistas,
Rindo feito dois lunáticos.

Eu preciso da noite
E da mentira escura.
Olha só como você me faz tão bem.
Você aparece quando eu quero matar eles todos
E eu quero te matar também.
E aí, de repente, nada.
Ou tudo.
Você me apoia na minha autodestruição,
Aceita a obsessão como algo bom
E de quebra ainda lembra que eu sou a sua puta
(da sua maneira).
É a melhor coisa que eu poderia ser.

Não quero ser sua namorada,
Nem me comprometer.
Não fico magoada,
Só odeio quando todos namoram e eu não.
Porque eu queria ser amada obsessivamente.
Eu queria muito.
E isso é patético,
Doentio.
Mas não se preocupe.
Você pode amar quem quiser,
Se aparecer chapado pra brincar que me foderia com força
(eu amo isso).

Eu não queria o amor, de fato.
Não hoje,
Não amanhã.
Eu só queria sexo, dor,
E substâncias químicas
Na minha veia.
Heroína.
Parece bom pra mim.

Eu pareço louca,
Mais que sempre.
E amanhã eu farei algo a respeito.
Para aproveitar.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Peito partido em dois

É assim que as coisas funcionam. Eu sou uma aí, e outra aqui. Aí eu sou uma criança tentando não ser muito caprichosa. Apesar de fingir ser uma adolescente. Aqui, eu simplesmente te odeio. Eu sou indiferente, fria. Me afasto de você, e de quase todo mundo. Aqui eu vivo de apatia e raiva. Oscilo entre essas duas coisas. Aí eu sou feliz. Aqui eu vivo um purgatório, e faço com que todos me odeiem. Porque me sinto quebrada. Aí eu esqueço tudo e finjo que é possível ficar bem. Eu sou aqui, uma pessoa insuportável. E não me sinto na obrigação de ser melhor. Aqui eu tô tentando querer morrer de novo. Tentei me prender nas telas, mas desde ontem tem algo errado comigo. Talvez tenha sido aquela discussão idiota. Eu sou rude e já já estarei me cortando de volta. Eu perdi meu equilíbrio divino e estou destruindo tudo de novo. Eu odeio tudo, tudo por aqui. E não quero voltar praí. Eu quero tentar viver acorrentada dentro de mim, e beber muito. Pra ver se eu consigo. Você sabe, lidar com o mundo.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Fevereiro

Da sua boca saem palavras estranhas.
Não conheço nada disso.
Não mais.
Do meu peito saem vozes em diferentes cores.
Não as conheço.
Nada mais.
Há uma canção francesa no fundo.
Uma noite amarela. E um calor já nem tão enorme.
Essa é a minha vida.
Vivo dentro de mim. Só.
Há quadros e canetas.
Há o espelho todos os dias para conversar comigo.
Tem que ser suficiente.
Há nicotina na bolsa, e álcool no armário.
Sou uma espécie de adulta que não deu certo.
Não como você.
Fala sério, você nem existe mais.
Ninguém existe além dos personagem que eu deformo.
Janeiro acabou.
Agora é a morte que eu preciso viver todos os dias.
Sem esperar nada do amanhã.
Nada mesmo. Ninguém.
A solidão perdeu o contorno e se tornou o ar.