terça-feira, 29 de abril de 2014

Sobre amantes e uma maturidade chata

O amante dois me aguarda no bar da sexta-feira, pronto pra me rir como puder. O amante um me tara em seu cigarro, todo dia, encostado na parede como se ele fosse mau. O amante três me nega todo dia o pão que o diabo curte, e me incentiva a comer como se fosse mesmo bom, e acho que é. O amante quatro me viu só numa noite, me deixou maluca e foi amar a uma outra muito estranha para mim. O amante cinco, assim de supetão se resolveu por me entregar o mundo e eu fiquei naquela de me aproveitar, e acho que o amo mesmo longe da sua cama. A número seis é uma musa recortada, que a mim parece surgir das cinzas pra tomar o lugar de uma outra que se foi sem dizer tchau. Gosto da número seis. Como dos outros. O amante sete andou um pouco pra lá, e a gente não tem se visto nem se amado como antes. Às vezes o esqueço.

Amantes que vão, amantes que ficam, amantes que não trepam. Me deito na cama nua e tudo ao meu redor se afoga em violeta. As masturbações açucaradas de toda a noite parecem demasiado doces, muito delicadas. Nada que me purifique, ou me condene logo de vez.

Nem que eu saia com meu short curto e os peitos saltando, santificados numa roupa preta. Nem os lápis de olho, nem a gargantilha.
Nem o frio congelante, nem a chuva ou os cigarros mentolados. Na verdade eu não gosto de cigarros mentolados. Eu gosto é do pó.

Nem que eu pinte as minhas paredes de branco, e os móveis de branco, e jogue metade de mim fora pra doar mais um terço do resto. A cama não se aquieta, eu não me acomodo. E fico sozinha cantando no beco. Olhando o céu que insiste em ficar mudando, como se fosse as minhas decisões. Procurando no ar alguma resposta sobre o que deveria ser a vida.

Nenhum dos meus amantes então me salva de ser tão sozinha e de ter que acordar todo dia, sem entender nada. Sem saber a razão de eu ainda estar aqui perdida, viva, me arrastando, mudando de lugar o que nunca sai do mesmo quarto.

sábado, 19 de abril de 2014

Relembrando a morte da Monarca.

A borboleta foi me levando pra um caminho contrário. Pro caminho certo. Pra onde eu devia ir.
Depois ela voltou como se fosse eu, como se fosse louca. Como se quisesse ser egoísta e fugir do mundo.
E ela voou bem alto, tão alto que eu achei que ela fosse me deixar.
E a essa altura eu já tava quase chorando, tamanha era a minha solidão de não poder mais vê-la, e amá-la com o olhar.
Ela quase sumiu, mas então voltou.
E viu os carros que passavam correndo, bestas atrozes, velozes.
Seres monstruosos tossindo uma fumaça negra e cortando o ar.
Ela se jogou entre eles como se não fizesse diferença. Como se ela fosse histérica. Como se quisesse se matar.
Ou como se brigasse com tudo aquilo.
Ela me dizia "eu sou inocente, mas quero poder voar".
E eu calava.
"Voar por onde eu tiver vontade, e eu me vou, e eu me voo".
E eu gelada.
E ela dançava entre as grandes feras de metal.
E ela ficou tonta e rodopiou no vento.
Até exaurir-se e repousar-se no chão.
Chão preto cheio de asfalto.
Mar empoeirado.
Os monstros vieram por cima.
A dilaceraram.
O que eu faria?
Fiquei olhando, como se meu coração rachasse, se desfizesse em mil pedaços mortos. Apodreci por dentro. Minha alma foi morrendo, morrendo, e morrendo. Era como se ela fosse minha mãe. Ou minha filha. Era como se ela fosse eu.
Eu me vi morrer ali naquela rua, com tudo correndo tanto e todos tão enormes.
Eu quis ir atrás. Quis salvá-la. Quis morrer de verdade.
Me deitar naquele chão e ver os carros me desintegrando como a ela. Me ultrapassando, me esmagando, me tirando a existência terrível que é a de quem ama as borboletas num mundo tão acinzentado.
Me senti tão sozinha. Mas tão sozinha... Eu queria morrer.
Eu queria morrer todo dia.
Eu teria trocado de alma com aquela borboleta.
Eu teria morrido, por que era melhor do que viver tão só.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Ei, Estranho

Ei, você. É, você mesmo, estranho. Vem aqui, vem. Vem me amar. Eu tô carente. Te levo pra cama. Não me importo com quem você é, só vem.
Não me importo com a sua cara, com o seu corpo, com os seus gostos. Eu só quero viver qualquer coisa que sirva de amor.
Qualquer coisa que não me enoje, e não me deixe definhar no concreto sujo.
Ei, você, estranho. Me deixa contar das minhas coisas. Eu escuto sobre as suas. Eu finjo que te amo mais que tudo.
Eu minto, eu rio. Eu sou o que eu tiver que ser na hora. Eu sou atriz naturalmente. Só não vou durar pra sempre. Vem, só agora. Por favor.

Sexta-feira.

Quero sexo, álcool e cigarros.
Quero cantar na noite fria, cheia de adolescentes loucos.
Gente chapada, quero drogas.
Quero ser Carmem. Quero ser Talita. Quero existir.
Quero morrer.
Quero correr.
Quero gargalhar como se eu fosse Deus,
Ou se eu fosse Satã.
Quero gozar como se o mundo fosse meu,
E eu não temesse tudo.
Quero fugir dessa realidade patética.

S.o.s.

Queria você aqui

Aqui
Queria
Você
Queria
Aqui

Socorro
Me tira
Daqui

Ao pó

Meus textos morreram
Meu desespero morreu
Minha vontade morreu
Meus cigarros morreram
Meu amor morreu
Minha casa morreu

E você que era meu,
Morreu dentro de mim.

Lixo lixo

A cada dia que passa eu fico pior em tudo que faço

Menos humana
Mais psicopata

Menos tolerante
Mais indifente

Menos sociável
Mais egoísta

Já faz um tempo que eu quero mudar pra melhor, mas eu não sei

Eu só pioro

E se eu melhorar eu morro
E piorando eu sobrevivo, mas mereço mais a morte

Eu queria morrer logo e acabar logo com isso
Toda essa ladainha de que o amor existe
De que eu tenho salvação

Não tenho, moça.
Eu sou o lixo do mundo.
Desistam logo de mim para que eu possa desistir também.
Eu já abandonei todos vocês.

Apenas pensando em como eu queria ser amada
A essa hora da madruga
É, seu moço
Não tá fácil ser eu

quarta-feira, 16 de abril de 2014

E se eu morrer mas viver de novo?

Mas se eu te disser de onde vêm as coisas sem sentido que eu te digo, você vai sair correndo. Você vai sair correndo...
Pro outro lado do mundo.
Se você me entender, só por acaso, em uma esquina qualquer povoada ou não, isso só vai me dizer
Que você também é louco
Que você também é louca
Que você nem mesmo existe
Nem aqui nem acolá
Mas se eu te contar dos meus ciúmes que só surgem de vez em quando, do seu porteiro mas não do namorado,
Você vai ter muito medo
Vai ficar desnorteado.
E se eu te disser das noites em que nem mesmo me lembro, que você sequer existe, talvez você fique triste, porque eu te deixei tão só.
E se um dia você descobrir que minha alma é toda despetalada.
Que eu sou desintegrada.
Talvez você fique puta. Talvez desapareça.
E talvez eu nem me importe.
Ou quem sabe eu volte te pedindo pra passar só uma noite na minha cama.
Sem dizer que me ama.
Só pedindo pra você me espancar.
E se de súbito eu resolver dançar, ou me jogar na frente de um carro
Em alta velocidade. Se eu rir como se fosse noite de sábado, ou se eu tivesse gozado.
Se eu rir como se fosse te matar.
Ou se eu chorar, como se te amasse mesmo, como se você fosse tudo de que eu sempre precisei.
A confusão que eu traria, mas ela seria tanta que você morreria no processo,
E eu também morro todo dia
Me vendo de uma cor diferente no espelho.
Espelho torto
Mas eu morro, e morro sempre
E já não sei o que fazer comigo, então por que é que você saberia?
Essa histeria que me conduz e persegue.
Esse meu ser interminado
Me impede de ser algo com alguém
Com você
E com todos eles também

Não consigo lidar com o mundo
Porque se um dia você me conhecer um pouco direito
Você vai morrer comigo
Ou se matar
Enlouquecer
Ou vai fugir de vez
E aí eu morro de novo
E de novo
E de novo.

domingo, 13 de abril de 2014

Te amo. Teamo. Temo.

Tortura infinita

Eu juro que nunca vou entender por que alguém ia querer me fazer tamanho mal.
Juro que nunca vou entender como se deixa de amar alguém assim desse jeito
Nunca vou entender por que alguém que disse que me amava foi capaz de desaparecer do mapa.
E esse não entender que me destroi
O amor deles evapora. Apodrece na terra. O meu não, o meu nunca.

Meu amor é infinito. Só morre quando se torna mágoa.
Meu amor nunca desaparece, apenas se transforma.
Meu amor é infinito.
Tanto quanto o universo.
Tudo que eu amei se torna medo do passado depois que me condenam e abandonam.
Mas nunca, nunca some.

Quando eu nasci não me foi dada a dádiva do esquecimento.
Foi-me dada a dádiva da incerteza. Foi-me dada a dádiva da empatia.

Eu preferia morrer a ter que viver sem entender por que alguém me odiaria a esse ponto.
Eu preferia morrer.

Não entendo. Não supero.

Não entendo vocês.
Amo vocês.
Não amo vocês.
Temo vocês.
Abomino.
Apavoro.

sábado, 12 de abril de 2014

I couldn't love you less.

Eu nunca poderia amar-te menos que te amo
Sou grata por ser livre para amar-te o quanto for.
Tanto quanto desejo.
O tanto que eu for capaz.
O tanto que for preciso.

Meu amor por ti é a borboleta que eu nunca pude ser em nenhum outro lugar.
Agradeço ao universo por seres tu aquele que me liberta de todos os outros males. De todos os receios.

Entregaria a ti tudo que me fosse possível, e além.
A alma, o gesto, as palavras e o silêncio.
Entregaria mais.
Todo o meu tempo, todos os meus sentimentos.
Todo o meu oxigênio.
A minha eternidade.

Confio-te o poder de me tornar real.
Dissestes, eu sou apenas fruto da tua mente.
E eu o creio. E eu o sou.
E eu te amo.
E eu te amo.
E eu te amo.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Poema desesperado

De minhas palavras colha as letras, e escreva apenas o que quiser ler.
De meus fonemas, eleja apenas os que quiser ouvir.
De minhas cores refletidas, desenhe apenas as que quiser ver.
E guarde na memória apenas o que lhe fizer sorrir.

Me faça modelando a perfeição, eu não me importo.
Sou filha da ilusão.
De todas as mentiras, eu não ligo, eu só quero aquela em que você diz que me ama.
Se deita na minha cama, e me entorpece.
Me engana, me fode, me desce.
Seja tudo que quiser e então finja que eu também sou esse tudo.
O absurdo é minha casa.
Meu lar.
E meu refúgio.

Mas lembra que eu só sobrevivo acompanhada.

Todas as borboletas vão embora, amor. Só eu que fico aqui. Só eu que fico. Eu quero ir também...

Sinto sua falta, Papillon

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Paradoxos existenciais

Cansada das mentiras. Não sou nada disso. Não sou essas pessoas. Eu sou o nascimento e sou a morte. Nada entre um e outro. Sou o orgasmo e o suicídio. Eu sou o grito. A dor. Sou a hora em que se rompe o hímen.

O mundo desmorona. O sol explode de repente. Os mares engolem todos os humanos. Há uma certa paz no caos. E esse paradoxo sou eu. Paradoxos não existem no meio termo. Eu não existo no meio termo.

O que é o comum, a calma e a sociedade? Eu acabo nos poros que vibram. Eu existo no sangue que para.

Não quero mais vocês aqui.
Não me quero mais.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Mundo limitado

Talvez seja culpa dos edifícios.
Das ruas engarrafadas.
Das buzinas.
Da fumaça.

Talvez seja culpa da gritaria.
De acordar todo dia
Às cinco e meia da manhã.

Talvez seja essa roupa apertada.
Esse calor infernal.
E o dinheiro
Que nem todo mundo tem.

Talvez seja esse querer geral
De que eu seja mais humana.
Mais correta.
Mais regrada.

Mais atormentada.
E decidida,
Naturalmente.

Talvez seja a falta da natureza.
Menos borboletas.
Menos árvores.
E menos cachoeiras.

Talvez seja culpa minha.
Toda essa tristeza.
Todo esse vazio.
Todo esse querer.

Talvez não seja por ela
Nem por ele
Nem por não dormir direito
Nem por não comer o que eu devia
Nem por conta dos hormônios femininos.

Talvez não seja o ambiente
Talvez não seja deus
Talvez não seja a sociedade
E nem mesmo seja eu.

Talvez não tenha mesmo explicação.
Como de onde vim,
Aonde vou.
E por que é que eu vim parar aqui.
E onde estou.
Ou quem eu sou.

Mas nada disso resolve a minha necessidade de fugir de todo mundo.
Nenhuma resposta me dá a saída pra ser menos eu.
Pra mudar tudo.
Pra ser feliz,
Ou encontrar alguma paz.

Todo esse talvez não me traz nada.
Mas eu só preciso mesmo é de um planeta.
Um qualquer onde eu possa cambalhotear as coisas.
Onde eu possa ser o que quiser quando eu quiser.
Onde o mundo seja o tudo que devia poder ser.

Falsa realidade por enquanto,
Que de verdades já estamos todos fartos.
Vamos criar um pouco.

Convite

No meu caso me dê
Um elogio
Um texto
Um sexo
E um pedaço daquela coisa que eu sei que você gosta muito

Eu sou criança, que se encanta fácil

Me mostre um medo
Me encoste de uma forma diferente
Me espere quando não souber o que fazer
Aceite

Pergunte
Responda

Eu gosto de dialogar e ler
E gosto de ser lida
Gosto muito de tocar e ser tocada

Sou uma alma aberta e incoerente
Mas se me quiser de dentro,
Eu já to indo
Sorrindo e pronta para o que vier

E para fechar tudo, você tinha um gosto doce. Um doce perfeito. Eu poderia te provar pra sempre.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Ao meu poeta, ao paraíso

Meu amor, me derreto em lágrimas quentes. Estão todas tão lá dentro que eu estou aqui me destruindo.
Eu só consigo pensar que estou morrendo longe de você.
Eu tento de tudo, eu juro. Eu fumo, eu bebo, eu fodo. Eu bato com a cara na parede pra ver se assim eu existo, mas nada é tão bonito quanto te tocar.
Eu fujo eu durmo eu medito. Eu peço ajuda a deus e ao diabo, mas nada, nada aqui no meu mundo sequer se assemelha aos seus fios de cabelo. Aos seus dedos gentis e ao seu amor se derramando em tinta naquela parede branca.
Aqui o ar é mais pesado, aqui eu não respiro. Aqui sem os seus cigarros, sem os seus olhares breves, sem a sua tatuagem com o símbolo da paz.
Eu busco qualquer coisa. Renascer, revolucionar. Busco todas as maneiras que você já encontrou pra se salvar. Sigo seus caminhos, seus tropeços, seus espinhos. Tento me refugiar em você, e só em você que eu me encontro.
Me desespero. Tudo aqui é muito grande, mas é demais pra mim sem sua pele. Sem sua nuca, sem seus cílios e sem os seus tornozelos.
Estou me perdendo sem a lua na minha noite. Mas ainda tuas palavras me tomam a alma e me embalam. Me abalam. Não sei como não me apaixonar por você de novo e de novo. Não sei como ter menos nada do que eu tenho por você. E mesmo as coisas sem nome.
Talvez eu devesse ir lá fora e te admirar no céu. Talvez eu devesse te fazer uma serenata, ou ouvir o teu silêncio mais uma vez. Porque até pelo seu silêncio eu me apaixono sempre. Vou te buscar em todos os cantos, amor. Até voltar pra você. Eu vou te amar pra sempre.