segunda-feira, 30 de março de 2015

Março depois tu

As cicatrizes são tão bonitas desenhadas no meu antebraço.
Não me reconheço.
Não me escondo, tampouco me ponho para exibição.
Não reconheço a tatuagem na minha pele, ou as músicas que eu costumava ouvir.
Sei que existem as minhas mãos e a minha voz. E isso é insano.
Não vos amo desde já.
A lua daqui não é mais tu.
Qual é o propósito?
Não existe mais álcool.
Meu cigarro é como respirar oxigênio.
Não me sufoca nem um pouco.
Monótono.
Não existe mais euforia a teu respeito.
Que tédio.
A chuva nem molha direito.
Morre, março, que há outra porção de nadas me esperando.
Morre, março, que abril me fecha todas as portas.
Acrílica.
Papelão.
Mosquitos.
Fumaça.
Me deixa aqui.
Nem você tem mais graça.
Nem dá mais pra sentir esse amor empoeirado.
O passado foi cremado.
Nem velório teve.
Faz mais um ano que você vive.
Tá tudo muito certo pro pouco de felicidade que me resta.

Laugh

Morda ainda mil vezes a própria língua
antes de falar de mim.
Quão triste tu me tornas.
Pura dor no estômago.
Me dobra as entranhas e ri de longe.
Carrasco.
Te amo e sou louca.
Continuo te esperando aqui.

1, 2, 3.

Eis a minha nova dupla:
Maço de cigarro e copo d'água.
Eis tu na minha anemia.
Eis tu na minha companhia escassa.

Esse trago não te merece.
Esse cigarro que eu fumo é muito fraco.
Esta janela agora é tua.
Como tantos outros lugares que não me pertencem.

Eu, por outro lado, só tenho uma dona.
E essa é a desgraça.
Esporadicamente, eu tento ser boa.
Mas raramente dá em alguma coisa.

Contigo eu farei o mesmo que da última vez.
Serei atenta para equilibrar o agrado com a sutileza.
Serei apenas tu, e cada vez menos eu.
Até que você morra, como ele.

Vai ser mais um luto.
Você estará satisfeito.
Eu não terei culpa.
E o mundo vai voltar à sua rotação original.

Eu procuro outro
Pra acertar a minha derrota.
Tudo bem.
Você ganhou.

Quem ganha de mim
Sempre me perde.
Quer vitória melhor que essa?

Teimoso

Eu entendo as suas manhas.
Ok.
Mas eu não posso lidar com elas.
Eu me importo demais contigo
Pra fazer o que você quer.
Não posso brincar com isso.
Você não entende.
Que se foda que não entende.
Eu já disse o que você queria, não disse?
Eu amo você,
Eu me importo muito,
Eu preciso de você vivo.
Pare com isso.
Por favor.
Eu pedi por favor!
Eu só peço por favor nessa situação.
Você insiste nisso.
Você é teimoso.
Eu queria poder bater na sua cara.
Queria que nós rolássemos no chão.
Uma briga decente.
Não é justo fazer isso.
Não é certo.
Eu sou obrigada a fazer contigo o que você faz comigo todas as vezes.
Até você mudar de ideia.
É isso que eu faço.
E é assim que eu perco as pessoas.
Eu vou acabar perdendo você, não tá vendo?
Eu odeio isso.
Mas é infernal falar com você.

Subnutrida

Eu deleto-te de mim,
Enquanto tu odeias todas as coisas.
Gosto da ânsia que tu tinhas de me destruir,
Por gostar de mim.
Era o que parecia.
Me destruir fisicamente deveria ser
O amor que há por dentro.
Amor demais exige a violência,
Por isso pedia que o fosse.
Mas tu preferes a frieza da ignorância.
Eu nunca entenderia.
Não entendo.
Eu queria que fosses tu,
Mas insistes que o tu que tens é este.
E logo parece que eu quero transformar-te em algo.
Não.
Ah, não, querido.
Queria que fosses fraco.
Uma vez na vida fraco.
Comigo.
Eu não te devoraria.
Ages comigo da mesma maneira que eu ajo.
Há escudos sempre,
Escudos de vidro impenetráveis.
O que pode ser visto nunca pode ser tocado.
Será que entendes algo do que eu digo?
Ou permaneces no jogo de venço-eu-ou-vence-tu?
Vou removendo os teus resquícios no meu ambiente.
Gostaria de ser estúpida novamente.
Porque só faço, em sua maior parte, desfazer-me de todos.
Detesto ficar só.
Prefiro a tua companhia inútil.
Tu és como água para a minha fome.
Definho de qualquer forma.

domingo, 29 de março de 2015

Céu

Esse azul lilás me trouxe de volta.
A melancolia que aconchega a alma
Aí está.
Para poder ouvir batuques e violinos,
Eu precisava existir.
E desse vento incansável lambendo a cara de todo mundo.
Quando a vida não morde,
Não há poesia.
Há brancos me esperando do outro lado, do mesmo.
Não há nada que eu possa fazer.

Esperando o trem

Repulsa pelos dois segundos da minha imagem refletida no espelho.
Domingo de chuva é uma das piores torturas que existem.
Branco no branco,
Preto no preto.
Vermelho no dentro.
Domingo é o fim de tarde da semana.
Eu só quero ficar triste e me achar bonita.
Só quero não sair de mim.
Dá pra morrer assim?
A vida não tem fim
Não tem fim
Não tem fim

S e c r e t o s

Todos os que eu amo escrevem.
Todos os que eu amo existem enquanto escritores.
Esclarecendo o fato,
Eu os amo pelo que escrevem.
Pelo que são quando escrevem.
Eu os amo por seus segredos e suas maneiras de dizê-los,
Sem admitir a confissão.
Todos os que eu amo,
São.
E quem são, basta.
Para que exista esse fogo frio
Na minha compreensão,
Basta que sejam secretos.
Eles sempre se desdizem.
Eles sempre temem algo.
É isso que os faz só meus,
Completamente meus.
Porque posso lê-los só comigo mesma,
E formular segredos à prova de lógica.
Eles alimentam a minha introversão secreta,
Por isso os amo.

Demolição

Você nasceu para mentir.
Tudo bem.
É isso que você faz.
Você mente.

Eu nasci para a infelicidade.
Bem, é isso.
Eu sou infeliz.

Nós nunca nos entenderíamos.
Nós nunca teríamos filhos.
Nós nunca treparíamos na escada do prédio.
Ou tomaríamos cerveja largados na cama.

Eu reclamo da vida,
Bem como tu conquista as tuas putas.
O que te importa é sórdido,
Sórdida sou eu.
Mas somos de sordidezas diferentes.

Tricoto a minha indiferença a tu,
Como tu tricotas as tuas qualidades para exibição.
Não me digas qual é a relevância
Da inconsistência nos meus tratamentos
À tua pessoa.
Ela não é importante.

Bem fazes ao ignorar-me.
Este é o certo,
Que me incomoda, mas ainda certo.
Quando estiver pronto o meu cachecol,
As águas de março terminam.
E tu somes no túnel de mim.

sábado, 28 de março de 2015

Dear N

Estou triste pela nossa briga, querido.
Estou triste por quem você é.
Triste por quem você sempre foi comigo.
Uma parte de mim morre sempre que eu falo com você.
Essa indiferença, essa arrogância.
Às vezes é interessante falar contigo,
Mas nunca vale mesmo a pena.
E pelo que você diz, também não vale pra você
(me corrija se eu estiver errada).
Eu espero coisas irreais de você.
Não sei o que você espera de mim exatamente.
Você nunca parece real.
É sempre uma farsa, seja na doçura ridícula
ou na prepotência desnecessária.
O dia está amanhecendo e eu pensando em você.
Sabe, eu sempre penso nas pessoas.
Eu queria poder confiar em você como meu amigo.
Mas não posso.
É uma pena, não acha?
Que contigo eu tenha sempre que fingir.
Você me fez sentir a pior pessoa na face da Terra.
Obrigada.
Assim eu não preciso te tratar bem quando
Você for o mesmo.
Mas continuo triste a respeito.
Eu queria que você agisse como um ser humano real.
Que sente as coisas.
Que se importa.

Borboleta 2

Quando eu era menor,
Tudo que eu queria era poder mostrar minha idade
Com todos os dedos das mãos.
E alcançar a pia.
Eu queria que a minha mãe me amasse sempre mais,
Pra poder amá-la mais ainda.
E queria que ela sempre cantasse pra mim enquanto eu a abraçava.

Eram os meus desejos mais significativos.

Eu nunca achei que existia vida depois dos dez anos.
Era como se meus pais pertencecem a outra raça, a outra espécie.
Eles seriam sempre pais, e eu sempre Débora.
Eu seria sempre criança.

Nunca sequer pensei que eles poderiam ser como
uma versão mais velha de mim.
Não era, não podia.
Eu achava que eu só poderia existir até ali.
Pois bem.

Quando eu cheguei aos onze anos,
Eu descobri o que havia depois.
Aos onze anos comecei a morrer.
E venho morrendo desde então.

Borboleta 1

Me puseram por engano em um corpo humano.
Talvez não tenha sido tão por engano assim.
No fundo não passo de uma borboleta.
Minha alma é pequena e breve.
Como a alegria.
Não deveria durar mais que dez anos.
Era esse o combinado.
Uma borboleta nunca estaria pronta para viver mais que isso no corpo de um humano.
Nunca aceitei o fardo que este carrega.
A culpa das intenções ruins ou os pecados da falta de ética.
Nunca entendi ou soube lidar com a complexidade dos sentimentos humanos, ou com o tanto que essa espécie de vida pretende durar.
Minha identidade nunca pertenceu a esta espécie.
Mas meu corpo sim.
Minha alma é pouca para tanta carne.
Esse mundo é incrivelmente interessante e novo, mas aos dez anos eu tinha toda a existência de que precisava.
Agora tudo só pesa. Já não posso voar.
Eu nunca nasci com esta previsão de vida tão interminável.
Tudo que eu podia fazer de bom já foi feito,
Agora o cálculo sempre cai pro lado feio da balança.
Eu devia morrer o quanto antes.
Minha idade está exausta a esse ponto.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Sem balde pra me trazer

Você é o cinza no meu quadro, minha decepção do dia.
Só mais uma pedra no meu caminho sem graça.
Quero brigar com você, ainda.
Mas vai passar.
Eu não te devo nada,
Mas você também não me deve.
E isso é tudo.
Não dá mais pra fingir que eu gosto
Quando nada aparece,
Quando eu me faço de tapete pros infelizes limparem os pés.
Não dá mais pra ficar deitada sentindo a lama secar em mim.
Vocês nunca são confiáveis, eu sei.
Mas às vezes acho que ainda posso salvar alguma coisa.
É burrice, eu tô ciente.
Não perde tempo me explicando o que eu sabia desde o início.
Eu quero um cigarro mais forte.
Já que amor não vem tão cedo.
Eu quero um pouquinho só de liberdade.
Três dias, um fim de semana.
Eu quero me salvar de ficar no topo do poço.
Quero mergulhar.
Você é só um visitante.
Um visitante chato.

Titulos amigaveis

Arrogante
Egoísta
Egocêntrica
Dramática
Negligente
Desesperada
Volátil
Insistente
Obsessiva
Invasiva
Manipuladora
Sádica
Surtada
Antiética
Desrespeitosa
Incoerente
Ilógica
Alienada
Pessimista
Crítica
Rabugenta
Orgulhosa
Prepotente
Dependente
Mandona
Insaciável
Destrutiva
Exagerada
Falsa
Expansiva
Venenosa
Insuportável

Vazamento

Sinto falta de ti.
Não sei quem tu és.
Que és tu?
Todos os dias é isso.
O interminável sentimento
De não sentir o que deveria.
A ausência dorme em mim
Todas as noites.
Há momentos que me
Transbordam de vazio.
A tristeza me alcança,
Mas isso não passa.
Não passa, não passa.
Nem doi direito.
Escapa de mim como por
Aquele espaço na fôrma
De bolo que fez sujar
O forno todo de calda.
A vida acontece de não acontecer.
Solidão.
Sempre ela.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Palavras e substâncias

Uso-as, com exagerada frequência.
Afobamento é meu segundo nome.
Escondo-me de tantas coisas que já nem sei mais.
Como se escreve um poema?
Mas elas se recusam.
Não me ajudam mais em nada.
Eu escorrego pra esse caos interno.
Já deu.
De pensar,
De viver,
De escrever.
As palavras não me aguentam mais escritas,
Nesse fundo branco,
Nesse fundo verde.
Queria poder conversar em vez disso.
Eu tô  s u f o c a da
De tanto vazio.
Eu só quero companhia.
Você me dizendo que vai ficar tudo bem.
Eu nunca superei aquelas coisas.
Há muitas delas.

Me deixa em paz,
Me deixa em paz.
Eu não quero ter que beber
Pra vocês irem embora.
Saiam daqui,
Me deixem em paz.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Você me engana, mas a verdade grita

Teimoso insuportável.
Eu te peço verdades e tu me confeita mentiras.
Te peço mentiras e tu me vomita verdades.
Estou triste, triste, triste.
E sozinha.
O que é que você vai fazer agora?
Não vai fazer nada,
Ninguém nunca faz.
É tudo um enorme teatro,
Por que você não me deixa aceitar isso?
Vem com esse teu egoísmo
Me rodear com teus brinquedos.
Teu anestésico nunca cura os meus machucados.
Nem mesmo pretende curar alguma coisa.
Placebo.
Mas eu não creio, eu não creio em nada disso.
Eu queria acreditar nas coisas boas.
Eu morri, não sabe?
Se sabe, porque insiste em me ferir?
Eu tô bem lá no fundo de mim,
Onde a tristeza corre pelada por todos os cantos.
As quatro paredes brancas que a cercam não resolvem muita coisa.
Pare de fazer isso comigo.
Eu preciso mentir.
Eu preciso fingir que não preciso de nada disso.
Eu não posso brincar de inventar mundos com você.
Você nunca vai querer alcançar o meu limo.
Você nunca vai querer entender como funciona dentro de mim.
Isso tudo é tão inútil,
Só serve pra doer.
Essa solidão é tão insuportável quanto você.
Não é só porque eu deixo escapar risadas quando te vejo,
Que te quero aqui.

Sorvete

Me fala da sua mãe,
Fala dos teus cigarros.
Insiste neles,
Reforça a tua obsessão.
Me fala em cocaína,
Me fala de Big Apple,
Smirnoff, baseado.

Me fala da tua raiva, 
Da tua tristeza.
Me fala de suicídio.
Não, de suicídio não.
Acho que ainda não tô pronta.

Some.

Volta.

Me fala dos meus defeitos,
E das tuas qualidades.
Me fala dos teus defeitos,
E das qualidades alheias.

Me fala das músicas chatas que você ouve.
Não se sinta ofendido com isso.
Ou sinta-se. 
Briga comigo. 
Me faz ter raiva de tudo.
Me faz chorar escondido.
Ninguém precisa saber,
Nem você.

Me fala de todas as coisas,
De todos os alimentos.
Me fala de romance,
E de tudo que não é sexo.
Mas não venha me falar de sorvete.
Qualquer coisa, menos isso.
Nunca me fale de sorvete.

Não me fale sobre como doi a garganta
Ou sobre como você pegou esse resfriado.
Não me fale sobre como às vezes gruda na língua e arde,
E incomoda.
Não me fale das suas enxaquecas.
Não me fale sobre como você lambe 
Essa bola de lama congelada
Em cima da casquinha.

Não quero saber.
Eu viro alérgica,
Viro diabética.
Intolerante a lactose.

Prefiro anorexia amorosa
A ter que te ouvir falar sobre sorvete.

Asfalto desbotado

Dia,
Banho,
Caminhada,
Trem.
Me rouba na faca
A vontade de viver.

Sono,
Pão de queijo,
Sede,
Quarta-feira.
Todo dia da semana
Eu tenho um texto pra escrever.

Ensaio para ser
Eu mesma, pela manhã.
Quem sabe, se eu der sorte,
Corto meus pulsos à noite.

Calor dos infernos
E engarrafamento
Na esquina de casa.
É pra eu aprender
A sair de casa na hora.
Atraso grande.

Não tenho
Vontade
Dessa rotina
Chata, de carros
De ônibus,
De aulas perdidas
E café amargo
Demais ou sono
Que não me deixa
Ser boa pessoa.

terça-feira, 24 de março de 2015

Amor, Deus e você

Meu otimismo mora
Numa espécie de zona erógena.
Eu só consigo senti-lo quando tocada.

Há uma receita escondida
Por trás de tudo que eu faço.
E o cara-a-cara é o fermento
De toda possibilidade de relacionamento.

Não é como se eu desistisse.
É apenas falta de fé.
Exatamente como com Deus.
Você não faz ideia do quanto eu já quis
Acreditar no ditocujo.

Há dias em que o odeio,
Dignificando sua existência.
Há dias em que eu declaro friamente
A falsidade no argumento que o sustenta.
Há dias em que o aceito,
Simplesmente isso.
Agradeço e sorrio sem precisar.

Desta mesma forma é o amor.
Queria eu ter fé nas coisas que me movem,
Mas eu tenho medo.
Sou mimada.
Nunca sei lidar com frustrações.

Se Deus não me toca, eu não o creio.
Mais que isso, não deposito nele minha esperança de vida.
Se Deus não me toca, eu paro de orar.

Cantinho da disciplina e lápis

Avalanche de inspiração,
Avalanche de solidão.
Tornado de dor, de amor,
Daquilo que a gente sente quando vai dormir
E não dorme.
Terremoto.
Desastre, catástrofe.
Escrever não me cura nada.
Escrever não me arranca muito
Além da falta de ar.
Não é tudo a mesma coisa?
O mesmo caos, a mesma contradição.
E nem assim eu me encontro.
Eu não encontro ninguém.
As esquinas onde eu deveria esbarrar
Com o amor da minha vida
Estão todas ocupadas.

"Desculpe o transtorno"
Obras em toda parte.

Me ensinam o conformismo,
Mas eu revolto (só por dentro).
Reclamo aqui, mas não lá
(talvez eu esteja aprendendo alguma coisa).
Faz tempo que eu não converso com borboletas,
Mas me chamaram de sol ontem de manhã.
Desenhamos como crianças no jardim de infância.
Não sei se há mesmo uma evolução aí.
As vontades tropeçam umas nas outras,
Se atrapalham.
E as visitas nunca entendem nada.

"Desculpe o transtorno,
Estamos tentando construir uma identidade melhor"

Mate as flores
E as músicas depressivas.
O que te aguarda é a folha de papel (digital).
Mas o ingrediente do bolo de aniversário
Ainda não foi revelado.
Os normais sabem de algo
Que ninguém nunca me contou.

Me puseram de castigo
Sentada olhando pra parede
Morrendo de sono e de tédio
Eu rabisquei num canto que ninguém viu
Mas ainda tô esperando a professora
me mandar voltar pra aula.

Terça-feira, saco vazio

E agora, o que faço?
Onde termino esse poema quando tenho mais dois e meio
Esperando pela sua devida conclusão?
É assim que todos os amores vão se instalando no meu cérebro,
Antigos nômades que se hospedam em mim.
E sedentarizam.
O que eu faço com essa dor de cabeça
E essa carência que não vêm de lugar nenhum?
Escrevo dois textos simultâneos?
Aguardo tua presença?
Durmo?
Esse frio de terça já não me deixa pensar.
Esse agrado de clima e ninguém pra compartilhar...
É chato.
Termino três poemas e me deito.
Mas preferia fazer sexo,
Mas preferia um chocolate quente.
Preferia ter você aqui pra conversar tão baixo
Que quase viraríamos silêncio.
Assim eu não teria vontade de chorar.
Um dia vazio me leva a perguntas.
E perguntas não levam a lugar nenhum.
Eu queria você aqui (mas provavelmente passaria a te odiar).
Não gosto quando você me encanta,
E gosto menos ainda quando não o faz.
Percebe? O meu futuro permanece vazio, sempre.
Não há poema que me mate essa certeza.
E algumas certezas só servem para nos castrar.
Não quero ser sozinha sempre.
Definitivamente não.

Impermanência

Que fosse eu,
Que fosse tu,
O importante era que funcionasse.
Que desse certo para alguém.
Eu, por outro lado, não gostaria também de ser abandonada.
Se tu fosse feliz, me escoraria em ti.
Ao passo que, na minha vez, faria o possível para te trazer comigo.
Que ganhássemos mais do que o esperado dessa simbiose forçada.
Mas a simbiose nunca funciona no mundo humano.
Somos seres independentes, condenados à individualidade.
Usamos pontos e vírgulas, mas nunca há empatia o suficiente.
Queria fazer de tu minha cabana, como faço a todo resto.
Mas não somos compatíveis.
Nunca somos.
Não há compatibilidade que resista à minha impermanência recorrente.

Gozo doado

Declama o teu fascínio estranho
Pelas minhas palavras repetidas
Escondidas, camufladas
Declama com a tua língua entre minhas coxas agitadas

Meu amor verdadeiro descansa
Bem no céu da minha boca
Bem no início da garganta
Ele é teu se o alcança

Me rasga percorrendo a espinha
Desenha da minha nuca à minha guela
Essa tua tristeza que congela
E vira diamante para me riscar

Me guarda na incoerência tua
No baú do teu quarto,
No teu estojo de sentimentos

Me esforço em braços e coxas,
Pra extinguir os teus tormentos,
Te fazer gozar,
Pra você me deixar voltar pra rua


(23/03/2015)

Não flor, tu.

Plantei um quadro no teu correio.
Esperava que ele te olhasse como eu não posso.
E talvez se ele pudesse pescar os sorrisos
Que eu não tenho tempo de te arrancar,
Talvez a felicidade durasse mais um dia.
Presenteei-te com um depósito,
Bem como pequenas alforrias
- ou ao menos algo que se parecesse -
Para que pudesse perder alguns minutos de tristeza.
Queria encontrar-te,
Porque há poucas almas que valham
A queda ou a escalada.
Gostei de ti sem motivo.
Tentei coisas
E depois saí gritando,
Psicótica.
Acho que nunca pretendi ser algo de fato.
Quis provocar-te sentimentos.
E apesar dos defeitos claros no meu medidor,
Queria que aterrissassem só os bons.
Para que tu, de certa forma, gostasse de mim.
Sempre te pedi desculpas,
Porque todas as minhas premissas eram egoístas.
Nasceram assim, tadinhas. E se justificam.
Peço desculpa de novo, qualquer coisa.
Acho importante.
Dessa vez especialmente pela minha inconsistência de ser.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Puta de rosto

Como pode ser tão puta essa alma que se move de poemas, finge que quer cigarros mas na verdade só quer vozes que digam que a amam?
Um frio de outros corpos no próprio, uma insistência em resistir daquilo que deve e que precisa, e só aceita aquilo que quer.
Pavio da vela, sempre queimando, mas nunca acaba, apesar de sempre derreter. Se é louca, claro, e por que não seria? Trata de alforriar-se diariamente, sem falta. Ilude-se na mesma proporção.
A alma puta entrega-se para todas as faces dos corpos que nunca a tocam, e delicia-se de mentira em mentira para chorar bem no meio da noite, sozinha. A carência rege todos os sentimentos, e a solidão os trata de toler.

domingo, 22 de março de 2015

Histeria

Tento ser sincera,
Mas essa tristeza me acelera
Me sufoca, e eu espero pasma
Pelo moço que me prometia a morte
A calma,
O estrangulamento por tesão
E o tesão nada me importa,
Perto do consolo da falta de ar
Mais que a dor,
Mais que qualquer abraço,
Essa é a paz que eu busco
Quando me afogo dentro de mim
Chove,
Chove lá fora
Você sabe quantos cigarros
        eu deixei de fumar hoje?
Pulo mais um agora,
E assim a vida segue,
Enquanto ignoro cada paixão, cada tristeza
Cada vontade
Mas a tristeza é senhora
De todas aquelas coisas
De todo o meu passado
E de todo o meu futuro
E o tempo geralmente ultrapassa a hora
De voltar pro seu devido espaço
A vida acontece tão rápido,
Que eu quase não percebo
Que ainda não aconteceu
Quando vai ver,
Eu enlouqueci,
E tô sozinha de novo,
porque o meu tempo só eu tenho
Isso é uma grande farsa,
Eu não sei lidar com o frio
Eu afobo, eu apavoro, eu entro em pânico

Ansiedade.
E palavras vomitadas na parede do quarto.
Ninguém entende.

Eu choro, eu faço coisas erradas
E nada se aquieta,
Nada se organiza,
Tudo me ocupa
Tudo me cansa

É desespero puro.

Desenredo

Não, não quero ser ela
Não inventa, não me tenta
Não tece essa rede frágil,
Que eu te juro, ela arrebenta.

Entendo a tua raiva torta
Aceito o teu amor leve
Devolve-me a tua falta
Mas não o que não me deve

Reclama das minhas falhas,
Protesta, me exige mais
Eu mordo teu ego frouxo
Até me chutar pra trás

Me arranca do ninho velho
Mata-me a calma, deixa-me o medo
Eu preciso ficar só agora
Vê se me tira desse teu enredo

Incompatível

Aparece, infeliz
Recita teu musical,
Escreve um texto sobre sua foda com ela
Por favor
(nós nunca daríamos certo)
Descreve a agressividade,
E o gozo mal direcionado
Dos amadores, que amam
(nós nunca daríamos certo)
Me fala dela, de qual é o cheiro
Do cabelo dela
Me fala das pernas abertas da moça
E de como ela ri quando grita
(nós nunca daríamos certo)
Me fala da tua felicidade
Patética
Me fala da tua tristeza
Suja
(nós nunca daríamos certo)
Me escuta dizer que te amo, de novo
Me fala de qualquer coisa
Me fala do teu pai,
Da música que tu ouve
Me fala das tuas lágrimas
(nós nunca daríamos certo)
Me conta dos finais felizes
E do passado de merda
Me conta dos teus medos
Me fala dos teus papeis
(e não é por causa dela)
Me explica por que tu termina
Com todas as moças
E por que tenta todas as vezes
Me explica por que gosta tanto de se declarar
(eu também gosto e entendo, não é por isso)
Me explica por que me escreve essas coisas,
Nunca faz sentido,
Me diz por que eu sempre sinto que te conheço,
Mas não a fundo
(nós nunca daríamos certo)
Por que é tão abstrata a tua imagem
Pra mim
E por que eu gosto tanto dela
(mas nós nunca daríamos certo)
Recito-te textos
Aparece em frente ao meu espelho,
Me mostra a tua semelhança inversa
E termina de pedir aquela ajuda que pediu mais cedo
Eu pediria
(somos tão iguais, nós nunca daríamos certo)
Aparece de madrugada pra gente brigar
E discutir coisas
Vem me odiar,
Pra dizer que me ama
(nós nunca daríamos certo, não nos amamos)
Fala comigo indiretamente
Me ignora
Escreve-me textos, poemas, letras
(nós nunca daríamos certo porque nos amamos)
Ah, querido, mente
Fala a verdade
Projeta a tua voz na falsidade
Da minha audição
Me pede dinheiro
Me pede cigarros
Me pede sexo
Diz que daríamos certo
(mas não)

sábado, 21 de março de 2015

Cadeado

Todos os casais eram Talita e Miguel.
Todos os casais eram eu e tu.
Mas nós dois morremos.

Ah, querido.
Este vazio não me cabe.
Essa vida não me pertence,
Nem essa existência.

Como me doi esse vácuo
Onde deveria estar o amor.
Esse buraco me suga,
Me rasga, me seca.

Eu quero morrer,
Eu quero morrer.
Não mente pra mim,
Não inventa que eu posso ser salva.

Não me escreve cartas de amor,
Poemas.
Não fala comigo.
Eu quero ficar só de verdade.

Não quero.
Eu quero ser amada como ela.
Como Talita,
Como Miguel.
Quero ser amada como eu já amei alguém,
Não amo mais.

Mas eu podia, eu podia.
E eu luto contra isso todos os dias,
Até me aparecer alguém pra me desmoronar.

Foi ela,
Foi ele,
Foi tu.

Há sempre alguém pra me bater o peito
Gritar comigo
"Me ame! Me ame agora!"
Mas eu não quero amar sem ser amada,
Não quero ser abandonada aqui de novo.
Não depois de você.

Me deixa ir embora,
Me deixa morrer em paz.
Estou tão triste,
Da tristeza você gosta,
Agora.

Mas eu só quero ficar bem.
Eu só quero tudo aquilo que eu sempre quis.
Eu quero ser quem eu era,
Quero sofrer pelas coisas certas.

Eu quero me resgatar de mim
(eu nunca vou conseguir isso sozinha).

Faz um sanduíche

Sorteia um da tua lista
Dá boa noite
Conversa
Como se não chorasse
Como se não estivesse ali para pedir ajuda

Enche a porra do saco de mais um
Pra ele te odiar
E tu provar seu ponto

Vai, desastre ambulante,
Megafone de si,
Vai falar com todo o mundo o quanto a tua tristeza é importante

É melhor que a morte
Prova que tu não sabe se conter
Que é uma inútil
Que nunca sabe fazer nada pra ninguém

Se mata quieta no canto
Pra falar pra todo mundo
Que a vida não valia mesmo nada
E que foram todos otários
De esperarem algo de você

Faz tudo errado de novo
É isso
Sempre isso
É pra errar que te puseram no mundo
Sofrer foi escolha tua,
Agora te vira aí

Estoque vazio

Tem palavras me afogando.
Estou compulsiva por escrever
E por pintar.
Uma palavra a cada pincelada.
Minha tinta branca tá acabando,
Não vou poder transformar em telas tudo que eu vejo.
Socorro.

Parei de pintar porque minha tristeza desaprofundou-se
Vivia na superfície,
Tranquila,
Incomodada.

Tanto reclamei que aquele menino veio
Maldito seja ele que me mergulhou.
Sempre tem um infeliz pra fingir que me ama.
Todos nós precisamos disso.

Mas eu preciso de verdades que doam,
Eu preciso de coisas que me rasguem
E não de amores falsos.

Eu preciso de mais tintas e mais telas,
Eu preciso de alguém pra me fazer chorar
Até transbordar o poço.
Eu queria que você aparecesse.

Eu preciso de uma cura pra esses sentimentos
E pra minha maneira de lidar com eles.
Eu preciso de voz,
Mas não da minha,
Que fala, fala e não diz nada.

Preciso falar com a ponta do pincel,
Com a ponta dos dedos.
Preciso ouvir vozes para me acalmar.

Eu estou sendo ignorada,
Odiada, rejeitada,
Acusada.
Amada (enganada, iludida).
Amordaçada,
Torturada por mim mesma.

Eu quero morrer
Me tira daqui
Me tira daqui
Eu odeio viver
Eu odeio esse lugar
Eu odeio ser quem eu sou

Apelo de sexta

Como eu te disse, amorzinho
Não quero nunca ser triste
Porque se eu for, a tristeza há de me devorar.
Pinto hoje, bebo amanhã,
Fumo um cigarro,
Fumo milhares deles,
Escrevo o tempo todo.
Nunca nunca peço socorro,
Quando eu peço dá tudo errado
Dá tudo errado sempre
Meu amor eu não fiz aquilo que tu me pediu
Eu não fiz nada do que eu devia
Eu não fui à aula hoje
Eu queria me cortar
Eu queria morrer
Deus não tá me castigando
Deus não existe
O que existe sou eu querendo grandificar
todas as coisas que acontecem
As boas e as ruins
Eu não quero ficar triste
Mas é sexta-feira à noite
A pior hora
Do pior dia da semana
E eu não tenho tela
E a minha tinta vermelha tá acabando
(e isso diz algo sobre mim)
E eu não tenho companhia,
Só culpa e pessimismo
Me afogo nessa derrota, odeio isso
Preciso sair daqui
Me ajuda
Não adianta, eu tô sozinha
Eu preciso entender que eu tô sozinha
o tempo todo
Não tem resgate
Não tem fuga
Não tem você dentro de mim
Não tem dor, não tem amor, não tem socorro
Eu só queria ficar bem
Só queria não sentir todo esse desespero
Me matando
Todo esse medo, toda essa existência vulgar
Eu queria paz
Queria ser inocente
Queria não ser obrigada a sofrer
Queria ser feliz

sexta-feira, 20 de março de 2015

Nada disso existe

Me escreve um poema,
Enquanto eu fumo o teu cigarro.
Toda doçura é ridícula
Quando se trata de mim
E de você.

Bebe o teu café,
Sorri de novo.
Tô afim de encher
meu copo hoje.

É sexta-feira
Não há dose que me salve
Dessa maldição.

Trepa, trepa com ela.
Mas trepa forte,
Como se fosse comigo.
Para lembrar
Que um corpo é sempre um corpo.
Uma foda é sempre uma foda.

Posso assistir dessa vez?
Prometo que não gozo,
Nem me intrometo.
Prometo que não te boto defeito.

Espero
Vocês terminarem,
Ela ir embora,
Você se gabar.

E aí é a tua hora de chorar.
Lá pelas tantas da madrugada
Tu reclama da solidão e desaba.
E pela primeira vez eu tô do seu lado
(mas sempre estive).

Te ofereço meu maço de cigarro,
Um isqueiro, meu colo
E minhas mãos pra te afagar os cabelos.
Te beijo
A testa,
Como se não fosse
Esse monstro de sempre.

Te amo,
Me importo.
Não todas as noites,
Mas quando precisar.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Hipótese

Faz dois drinks pra gente
Tem um estoque de cigarros no armário
Ando nua pela casa só pra te provocar
Encosta tua cabeça pra cá,
Que eu faço um bom carinho na tua nuca
Me conta dos teus feitos incalculáveis
Prometo que te olho apaixonada
Talvez você prefira o teu café,
Deixa que eu faço
Te queria aqui comigo agora
Eu, você, e um pouco de liberdade
Como será que seria?
Eu às vezes tenho medo quando eu acredito mesmo
Volta logo dessa tua faculdade
Pra eu ouvir tuas bobagens
Me socorre dessa monotonia
Mente pra mim
Distrai meus pensamentos
Desse desgosto pela vida

Irmã

Como se eu visse o teu avesso,
Tu chorava
Com teus olhos esbugalhados
Contando-me sobre as dores de todos,
Que eram também as tuas
Em desespero
Aquilo me apavorava
Pensei em como eu poderia suportar aquilo todos os dias
Você me mostrava o teu desgosto e o teu desprezo oculto
Pelo ser humano
E era aquele medo que eu consumia,
É desse medo que me alimento
Você bebia e me cantava o desespero,
E os carinhos que eu te fazia, como irmã mais velha
Eram também fascínio pelos teus segredos

Deus meu

Puta dos lábios mansos
Bochecha que nunca cora
Eu chupo teu pau, risonha
Enquanto minh'alma chora

Te amarro no meu orgasmo
Te prendo na minha cama
Te jogo um feitiço antigo
Te afogo na minha lama

Fica aqui só essa noite
Trepo e te chamo de Deus
Me empresta um dos teus problemas
Que são melhores que os meus

(19/03/2015)

Gas Station

Me visitam as putas
E as bexigas de famílias em viagem
Caminhoneiros atrás de sua santa dose
E os casais que abandonaram sua garagem
Os corpos vão e vem,
Olham feio para a minha imundice
E para o meu abandono
Beira de estrada, por mim todos eles passam
Mas ficar, aqui só ficam os miseráveis
Não há nada de nobre num posto de gasolina,
Senão o sanduíche de linguiça
E a gordura escorre na minha mesa
E o cheiro do combustível inebria os meus visitantes
Todos partem de um lugar para outro
Eu permaneço aqui, só mudo a cor da faixada.
Tu me visitas com um poema e partes
Antes que retorne, meu tanque chora,
Prestes a explodir todo o recinto
Tu vens de novo,
Só chegas no fim da noite
Pra se abastecer em mim
E ir embora

Pós-suicida

A minha nobre ignorância
Se faz a rainha dos mundos
Quando insisto nesse imundo passado
Mal saí de um luto e já busco outro
Amor, amor é morte
Amor é tudo aquilo que eu preciso
Suicídio está sempre no pacote
Sangue quente, adrenalina e overdose
Me prego na madeira de novo
Me declaro insistentemente ao meu algoz
E assim ele se faz
Eu nunca fui daquelas moças que não amam
Que fogem, não acreditam, mentem
Eu sempre fui sincera,
Até ver ele me matar
E o plano foi perfeito
A nossa epopéia linda
Mas agora há outras vidas que eu mereço
E dentro desta, há tu
Me recitando versos de morte
Enquanto me elogia
Ah, eu me mataria
Faria loucuras por você
Por quê?
Porque eu sou suicida,
Masoquista,
Apaixonada
É minha essência cometer enganos
Conscientes
Deito-me aos teus pés,
Mas dessa vez eu peço que não me mate
Da última vez eu pedia o oposto

Amor, café, cigarros

Ato minhas mãos
E te espero seminua na janela
Pra pular assim que deres o sinal
Dá-me logo o tiro da largada

Quanto te importa a mentira
Se a alucinação é nossa?
Quem se importa com a verdade
Quando a religião escrita é a que prevalece?

Sinto-te, Arths
Queimando a minha inspiração como Marijuana
Batalha de poemas round two
Você me faz querer sair da cama

Se não és tu,
És tampouco o Chapeleiro Louco
E tampouco sou Alice
Não me incomoda o que tu és
Desde que esteja aqui, que fique claro

Não te peço o que os normais te pedem
Fode-as com amor, fuma-me com tesão
Espero de ti esta partida breve
Aposto aqui o meu pulmão direito

Para por em ordem toda falsidade que me cabe
Te devoro, absorvo,
Como esponja na primeira vez de uso

Adoro também teus lápis de cor
Que tu cravas no meu crânio, inconsequente
Como amas se o sadismo é o que reina?
Esses versos vão ser sempre incoerentes

Me oferece um café,
Que nunca o bebo
Te entrego todos os meus cigarros,
Mas não as noites de sono

Fala comigo,
Mente.
Que sou tua plantinha carnívora,
Dionéia,
A digerir toda palavra que me escreves.

Qualquer falso alerta me mata,
Sou mais frágil que qualquer outro ser,
Por ser carnívora.
Por só me alimentar de ti
(E de mentir)

Nunca és meu Nicolas. Sou sempre tua Dionéia. Odiamo-nos em frente ao espelho.

Traiçoeiro

Mente como se treinasse
Toda noite em frente ao teu espelho
Me fode como se soubesse
A palavra certa do meu bom orgasmo

Veste todo o açúcar que te falta,
E finge ser um chocolate só
Pra me dar a vontade
De ir te comer
Sufoco, de desejo cego
De te conhecer

I suck you, like a cigarette
Your soul is the smoke I sweallow everytime
You'll kill me, very soon, I bet
Because you're never you, but you still say you're mine

Me entope das tuas falhas programadas,
Me encanta com teus elogios prontos,
Tu sabe quais são meus pontos mais sensíveis
Me quebra na tua cama, amordaçada.

As rimas me perseguem,
Como agora me persegue tu,
Como agora me perseguem teus cigarros.

Me liberta pra eu poder te amar,
Maldito.
Teus poemas assassinam minha calma.

Todo dia

Sempre chego nessa sede
insaciável de mudança
E pinto mentiras tolas,
"eu sou louca, entra na dança"

E não passa de uma farsa,
todo esse caos, todo esse medo
Tu sabe que eu te amo sempre,
mas finjo que isso é segredo

Me arranca da terra seca,
Me planta em um dos teus versos,
Me rega todos os dias,
Me pisa com teus excessos

Eu não termino mais nada
Enquanto falo contigo
Tu chora na minha cama
Reclama mas eu nem ligo

Literatura

Não escrevo para ser reconhecida,
Não escrevo pra morar na prateleira
E ser comida pelas traças.
Escrevo pra morrer na tua arte,
E escrevo pra acalmar o meu orgasmo.

Nenhuma palavra é desprovida de argumento
E tenho sentimentos em excesso para te doar.
Tu poderia vender o que quisesse,
Mas é mesmo para isso que escreve?

Espero a morte e o amor que nunca me acalçam,
Escrevo.
Ignoro os cigarros amassados dentro da bolsa,
Escrevo.
Destruo meu dia, alegre, só por masoquismo,
Escrevo.
Não trepo, não grito, não choro,
Escrevo.

Frustração

És muro, cedes-me brechas.
Sou brecha, cedo-te muros.
No escuro, enfio-te flechas.
No claro, doa-me murros.

Conheço-te muito bem,
Em todo narcisismo e arrogância.
Conheço-te porque o sou,
No inesperado gozo da deselegância.

Ignoro teus fálicos brados,
Para em seguida masturbar a tua queda.
Desprezas o meu verso amarrotado.
Logo, torna-se o silêncio minha moeda.

Aguçastes minha libido ontem à noite.
Mentes tanto que já nem me importo mais.
Mas a falta que me atinge é do açoite.
Sem teus toques nada aqui me satisfaz.

Sentar-me-ia de pernas abertas na tua rua.
Encontrarias-me imunda na tua cama.
A teu comando, aguardaria sempre nua.
Teu canto a mim é de quem fode,
E nunca de quem ama.

Abstinência

Pego um cigarro do meu maço.
Você me assombra.
Desisto.
Odeio narrações.

Repenso o teu desmerecimento
De todos os textos que escrevo.
Escrevo mais um só de pirraça.
E de teimosia não te mando.

Pega um cigarro do meu maço.
Eu não quero mais.
Você sujou eles todos.
Se eu fumar eu morro.

Você precisa deles mais do que eu.
(Mais do que eu preciso de você)

quarta-feira, 18 de março de 2015

Espelho

Não rimo
Não te escrevo mais poemas
Não te amo
Quero só trepar com você
Isso é puro tesão.
Não penso em nós dois jogados na cama
Não penso em você o tempo todo
Quando eu acordo
Quando eu vou dormir
Não estou obcecada dessa vez
Não fico nervosa quando leio aquele texto
Não estou tentando desesperadamente escrever algo naquele nivel
Não me sinto inferior e exposta
Não quero nem preciso ser amada
Sei ficar em silêncio
Quero me matar
Não quero que você me leia
Não tenho medo de você
Te odeio

terça-feira, 17 de março de 2015

A rima forçada

Acontece de novo,

A música de fundo,
A menina pulando do prédio,
Teu amor por um segundo,
Esse maravilhoso tédio.

Tem sempre alguém no meu encosto
Fazendo sempre tudo que me mandam.
Eles bem sabem que eu, sim, saio do posto,
Meus dois pés definham porque nunca, nunca andam.

Rimo aqui essa ironia,
Que é precária por falta de tato,
E me recolho na melancolia.
Tu não serve, então me maltrato.

De raiva, rimo clandestina,
Só pra não te dar o gosto de gostar da minha rima,
Gargalho tanto das tuas pernas tortas,
Que me esqueço que as minhas não são finas.

Trepa, trepa com ela, demônio,
Satisfaz esse teu excesso de hormônio,
Que não é o que me atrai nesse teu cartaz.

Trepa, usa todo o teu desejo,
Que começa num maldito beijo,
E termina em todos nós, como animais.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Brr

Estou fraca, tremendo.
Como na crise de abstinência do dia 26.
Janeiro.
Crise de ansiedade devida à declaração amorosa.
Não consigo.
Vai colher outras margaridas antes que eu ame você.
Antes que isso me machuque.

Eu

Eu sempre soube que tu era tudo aquilo.
Eu sempre soube sim,
Que eras a carne, enquanto sou carnívora.
Mas nunca me devoras.
Apenas me tempera, me assa todas as vezes.
Nunca, nunca me engole,
como engulo a tua sombra falsa.
Eu sempre amei o fato de em ti morar este caos,
essa incoerência turbulenta,
Esse oscilar entre o sadismo e a doçura.
Eu sempre amei que tu pudesses transitar entre os dois lados meus,
mas em ti mesmo.
És heroína na minha veia, agora.
Descarga elétrica na minha devoção.
Eu sempre sei do que tu és capaz,
só não me julgo um alvo relevante.
Nunca me julgo digna do teu pau.
Fujo. Me escondo atrás desse tecido fino.
Não rimo porque não posso,
Porque não combino
Nem contigo, nem comigo mesma.
Porque a minha melodia é desconexa.
Trepo contigo todas as noites,
porque entre outras formas do meu amor irracional
está essa.
Amo-te com meu útero, em desespero.
Calo-me, porque sou boa garota.

scorpio

I know you hate when we get so close
It allows me to see your face.
The real one.
You'd never admit who you really are.
And that's the reason why, years ago
I gave up on loving you.
It never made me stop liking who you are.
The one you never told me,
The one you never show to anyone.

You'd never allow me
to really
fucking
love you.

So, I don't.

I just don't.

Cinza, terra

Põe um cigarro na tua boca.

Quero te ver assim, manchado
pela nuvem de fumaça que te afaga.

Traga, suga essa cor cinza pra dentro de ti.
Carboniza.
Como hei de sugar-te um dia.

Encara-me naquele sussurro de morte.
Adoro. Venero-te enquanto veneno.
Aprendi assim.

O que me deste era o que te doía.
Eu gosto disso.
Gosto daquilo que doi
e não do teu amor.

Vem. Me rasga as roupas.
Me queima com a tua raiva.
Me puxa pelos cabelos.
Me odeia, me odeia.

Assim tu sempre podes me deixar
(eu vou lembrar-te sempre nos meus hematomas).

Não inventes,
que prefiro-te fraco.
Nu e sujo.
E o desprezo escorrendo dos lábios.

Fuma o teu cigarro esnobe,
como eu o faria.
Sopra o teu desgosto nos meus pulmões.
Polui.

Recito que não te amo,
aceito tuas unhas todos os dias.
Não me ponhas no mesmo lugar
que as tuas margaridas.

Sou terra e apenas terra.
Não me caves muito a fundo, por favor.

Moça que trepa sem timing

E mais uma vez vou eu
Queimar até o pão que resolvo esquentar.
Moça pouco prendada, não fui feita pra casar.

Meu problema na cozinha,
Como na hora do banho, de dormir e dos compromissos,
É o mesmo que em quase todo o resto: tempo.

O meu relógio tem um tempo próprio,
Que não respeita regra, ritmo ou simetria.

O tempo da minha vontade
Nunca alcança o tempo
Da exigência alheia.

Está escrito no destino que meu homem há de cozinhar pra mim.
E em troca eu não o amaldiçoo por ter ao menos uma outra pra trepar.

Hei de beijá-lo todas as manhãs como as boas moças fazem.
Hei de fodê-lo todas as noites, como fazem as putas das quais todo homem feito há de gostar um dia.

E pela tarde hei de discordar e discordar de tudo, porque eu posso. Exceto da outra. A outra eu incentivo, porque sou moderna.

E das mulheres modernas eles gostam mais.

domingo, 15 de março de 2015

Emília muda

Você sumiu na minha noite de sexta-feira,
Morreu no meio da semana,
Suicidou no começo do fim do ano,
Da minha vida.

Eu sempre achei que você iria dessa vez
Mas você não conseguiu,
Você nunca conseguiu morrer,
Nem eu.
E olha que a gente tentava todo dia.

Toda vez que alguém que eu amo some,
Eu acho que essa pessoa vai morrer.
E você não muda muita coisa.

É essa dor que me invade nas madrugadas,
A tristeza de perder todos vocês.
A companhia que me abandona por dias,
Por semanas e meses.
Há anos que eu já não falo com alguns.

Às vezes a solidão bem me devora.
Não apenas goteja na têmpora do dia a dia.
Doi. Rasga. Acumula.
Me maltrata e me aperta,
Como lateja o dedão depois da topada na quina.

E um verso pra ser bom tem que machucar.
Como pra existir eu tenho que ficar só.
Muito só.
Completamente só
(e triste).

Está vendo?
Eu abandonei tudo que eu era.
Eu me deito toda noite pensando
em como nunca vai doer na manhã seguinte,
Em como eu não sinto agora
os desesperos da semana passada,
Em como não mais me sufoca amar você.

Tenho tudo de que eu preciso,
Bebidas, cigarros, lâminas.
Tenho material pra suicídio,
Caminhos para as drogas,
Dinheiro.
Tenho você sempre, todos os dias disponível.
Mas não arde,
Não queima nas entranhas,
Não perfura os átrios e ventrículos.
Tenho tudo, mas me falta o desespero por viver.

Viver, viver.
Enquanto eu dizia que queria a morte,
E estava disposta a essa aventura,
Eu buscava enlouquecidamente a vida.
Buscava uma forma de senti-la me atravessando no meio da rua.
Como os carros na frente dos quais
eu me jogava - e ria,
ria louca, ria pela satisfação genuína
de não ser pó.

Hoje eu classifico esse passado como doença.
Deficiência, imaturidade, lapso.
Às vezes eu choro de saudade,
Às vezes choro porque não sei quem sou.
Parei de chorar só porque não sofro de amores por você
(quando eu sofria era mais sorrisos do que choro).

Minha caminhada de gente grande ainda é falha.
Não me deixa aqui sozinha. Não me deixa.
Que eu preciso todos os dias me lembrar que não posso sofrer
Nem me desesperar.
Hoje eu não posso mais pensar em morte
Ou cogitar sentimentos verossímeis
Por mero capricho.

Eu desisti de tudo em que eu acreditava.
Desisti até do amor.
Desisti da graça que eu via em me matar.
Sou Emília, a boneca antes da pílula.
Quieta, morta. Colorida.
A menina matriculada.
Calada, calada. Com sentimentos que nunca ferem.

Alcancei tua calmaria e aceito isso
(não há outro caminho).
Mas ainda preciso encontrar alguma coisa.
Qualquer coisa.
Não sei o que é, mas preciso encontrar.
E vou ter que encontrar sozinha
e muda.

Poema de flor

Gira, gira, girassol.
Gira lá e gira dó.
Só não para de girar,
que assim a dor é menor.

Canta, canta em amarelo,
porque eu gosto de te ouvir.
Nunca importa a melodia
se isso te fizer sorrir.

Eu bagunço a tua gaveta
pois a minha eu já te dei.
Redamoinho só roda.
Não mente, porque eu já sei.

Roda, roda. Gira, gira.
Teu caos me põe pra dormir.
Da labirintite eu venho,
nunca mais saio daqui.

Girassol e Margarida.
De flor eu não tenho nada.
Te rego, semente. Sempre.
Faz tempo que estou plantada.

Terra seca com cimento
que nunca, nunca umidece.
Conta-gotas todo dia.
Você cresce, você cresce.

Sempre amo as tuas flores.
Abre uma, duas, três.
O que eu tenho é muito pouco.
Abro espaço pra vocês.

Vou ali, mas volto logo.
Brevemente eu me despeço.
Te prometo, volto sempre.
Termino com este verso.

(13/03/15)

Tsunami

Não vou jogar este jogo.
Não quero te assistir perder.
Eu só queria ser feliz.
Eu só queria ter um pouco de diversão.

Tudo que eu sempre quis
foi esse sentimento de que eu realmente existo.

Quero morrer.
Porque não trepamos,
Porque não o amo,
Porque nada quero,
Porque não existo.

Porque eu não exatamente vivo,
quero morrer.

Não há amor que resista à queda
Que é a vida adulta.
O conformismo leva todas as riquezas
Como um tsunami.

Um enorme deus grego
devorando os seus filhotes
pra sobreviver.

O que eu sou agora
diz respeito a todas as coisas que eu fui.
Só que todas desbotadas, cozidas.
Organizadas como uma casa nos anos 20.

Se todo esse tédio não for eu,
Se eu não for o caos
E se eu não for o ar,
Nada sou.
Nada sou
E já não posso mais te amar.

A monotonia da leveza

Bem-me-quer,
Mal-me-quer.
Quer-me sempre perto dele.
Não foge da nota lá.
Se esconde num tronco velho.

Floreio, floreio sempre.
Quando não te mordo as pontas.
Te amo,
Mas levemente.
Margaridas não mergulham.

Despetala, moça boba.
Hoje é sexta
E ninguém te espera mais.
Nunca chora,
Que a manhã ensolarada
Há de sempre te obrigar a levantar.

O amor não recita versos
E não canta ao meio-dia.
O amor não moi as entranhas
Nem me tira pra dançar.

Há apenas tipos de vida na existência:
A minha, a sua e a de Deus.
Apenas uma delas conhece a verdade.
Qual delas será?

sexta-feira, 13 de março de 2015

Ladainha

Não vou te pintar um quadro
Ou escrever uma carta.
Dessa vez eu só vou pensar bem alto
Em tudo aquilo que me deixa triste a seu respeito.
Vou susssurrar o meu ciúme bobo do seu amor
Por ela.
E praguejar por cada reclamação que eu leio,
Sem que você veja.

Você é como sal,
Sugando de mim toda vontade de ser feliz.
Eu continuo bebendo
água marinha,
porque estou com sede.
Mas a sede nunca passa.
Você tira toda a graça
Dos meus dias chuvosos.

Me tira o sono a maneira
Como você ama aquela que você conhece.
Mas me deito na cama e finjo
Que a vontade não existe.
Calma, garota. Espera o tempo passar.
É que o meu tempo corre sempre tão depressa...
E sempre tão devagar.

Hoje é o sempre,
Amanhã é o depois.
E assim eu sigo.

Não tendo estado nele,
Você ainda mora no meu passado
E nunca entenderia isso.
Você reúne as minhas falsas esperanças.
Escolheu isso.
E agora não se importa mais assim.

O problema é que eu sou um cão fiel.
Mas pode ir,
Me esquece,
Me esquece.
Eu arrumo outro lar,
Outra flor pra cheirar
E abanar o rabo.
Eu vou lamber outros pés.
Estou torcendo por vocês.

quinta-feira, 12 de março de 2015

A maior dor que alcança uma casa é a desabitação.
Antes o caos da companhia que o silêncio da solidão.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Emudecer

E agora eu ando criando uma certa aversão por aquelas coisas que eu gostava de enfiar na sua guela.
E não é que eu tenha voltado a gostar da cor amarela, é só que não dá mais pra ser o que a gente era.
Às vezes sinto saudades daquela nossa morte. Dourada e adorada. Era ela que a gente vivia todo dia. E era bom.
Não há trégua na hora de mudar de vida.
Ainda te amo, inconformada com essa felicidade que a gente ainda busca.
Talvez tenha sido por sua culpa essa minha mudança insana.
Porque eu não mais podia te obrigar a me jantar todas as vezes.
Antes um amor que metamorfoseia, do que um nada em formato de crisálida.
Não acho certo nem justo fugir todos os dias da dor, visto que a amo.
Mas amar você ainda é maior que tudo.
Mesmo quando é absurdo o que eu estou fazendo.
Mesmo quando eu fico tão dormente que quase não te sinto mais aqui.

terça-feira, 10 de março de 2015

Não é coca-cola dessa vez

Meus demônios me visitam quando eu bebo. O copo depende do dia, o conteúdo também.
Demônios de hoje não são Marie.
Marie? Sinto tua falta. Foste para a luz?
Gostava dela. Costumava vir me visitar e me induzir a coisas. Provocar-me sentimentos. Claramente, sempre pesados, insuportáveis até. Mas eu sentia. Com cada poro da minha existência eu sentia tanto que até o ar me doía. Era bom (era bom quando eu queria me matar).
Atualmente, os demônios que me visitam são movidos a álcool (antes era sangue). Eles me dopam, me entorpecem, e sugam de mim toda a capacidade de sentir alguma coisa. E como retorno, me libertam do histérico sentimento de preocupação. Vomito. Eles me obrigam a vomitá-los pra fora de mim, quando me visitam.
Eu mudei demais.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Semelhança

Ela é céu,
Eu sou mar.
Às vezes conversamos.
Vejo pouco dela,
Que sempre me traz o vento.
Agradeço.

Nunca conheceu-me a fundo,
Mas devolve pedaços meus que eu nunca vi.
Faz com que as palavras voem.

Pássaros,
Que cantam poesia pra me consolar.

Ela é céu,
Eu sempre fui mar,
Desde que me lembro.
E distoamos tanto quanto o fogo distoa da terra.
A natureza às vezes é muito sutil.

domingo, 8 de março de 2015

Carrossel

Branco homogêneo, céu.
Cinza, azul,
Denso fim de tarde.
Flores camufladas na tristeza de domingo.

Sexta-feira, ele diz,
E a noite chora.
Meus olhos se parecem com março.
E chove, e chove.
Meu peito transborda,
Ainda pra dentro de mim.

Cabe.
Porque eu fui treinada,
Cabem três mundos aqui.
A cada dia eu tento
Uma nova lobotomia.
Amanhã eu acordo bem.

Gira-gira, Girassol.
Muda o tempo,
Muda a vida.
Cura o verniz impenetrável
das minhas portas,
Escorrega no toboágua
da própria dor.

Gira,
Gira,
Gira,
Girassol.

Eu, Margarida.
Te espero florescer
Pra te pintar
Em mim.

sábado, 7 de março de 2015

Repetição

Coca-cola e
Cigarros.
Você não,
Você não.

Frida y Diego,
Chuva,
Cerveja.
Beats não,
Beats não.

Profissão,
Girassol.
Solidão,
Solidão.

Montanha,
Vento.
Lençol,
Edredom.
No chão, no chão,
No chão, no chão.

Margarida no campo,
Na mata, no concreto,
No barro, no vaso, na janela.

E ele, e ela, e ele, e ela.
E a manhã de todo dia.
Sorrir para o céu,
Cumprimentar o sol.
Gira, gira,
Que eu te quero bem.

Não anoitece,
Adormece.
Bela adormecida.

Sabe de uma coisa?

"Eu vou te dizer o que eu não vou fazer. Eu não vou beber por enquanto. Eu não vou comer pra caralho. Eu não vou me abandonar. Eu não vou me apaixonar, nem desistir. Eu vou aprender a me conter, e evoluir, e acolher a minha própria solidão. Eu vou fumar os meus cigarros, trocar ideias fajutas e descobrir uma forma de pedir ajuda. Eu não vou ficar triste, nem deprimida, nem deixar que a raiva me consuma. Eu serei uma excelente profissional, uma ótima mentirosa e uma pessoa otimista. É isso que eu vou fazer. E vai ficar tudo bem."

"Pra falar a verdade, ninguém liga."