sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

1 real

Sinto e penso tantas coisas e queria escrevê-las. Não tenho tempo ou forças. Me desculpe por decidir descansar. O silêncio agora vai falar por mim.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

My Little Princess

Me masturbo
De forma perversa
Para esgotar a ira
De ser violentada
Enquanto assisto a um filme
Que retalho
Em meio aos meus suspiros
Agonizantes
E o sol nasce.
Eu me derreto
Um bicho
Pronto para o abate
Enquanto o ar congela
Minhas vias respiratórias
E me infecta por dentro
Eu sou um poço de perversão
E violência
Um demônio em sacrifício
Flechado em seu olho direito
Esperando a morte
Eu sou a combustão
De um material tóxico
Vadia abusada
E destruída
Roubada de si no início
Espírito assassinado
Demolido
Destroçado
Algo entre a podridão e sexo
O chumbo que carrego, a culpa
Por ocupar espaço
No mundo.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Sonhos

Acordei mais uma vez
Com essa rejeição pela realidade
Não que em meus sonhos seja melhor
Não tenho sonhos lindos
É só que neles tudo é tão imediato
Eu não sou responsável pelo meu futuro.
Quando eu acordo
Preciso de energia
E me falta
Preciso de vontade
Não tenho
Preciso satisfazer alguma coisa
Meus desejos estão mortos
Enterrados
Não tenho motivo para levantar
Tenho compromissos
Coisas que me tiram de casa
Que me levantam
A constante necessidade
De comer açúcar
Pra ter energia
Alguma
Não quero ter energia
Ou fazer coisas
Quero fechar os olhos.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Antrax

Eu fracassei.

Desde meu fígado,
Aos prantos,
Ao meu pulmão
Cauterizado-
Eu fracassei em tomar banho
Manter-me limpa de mim
De minhas desesperanças
E desejos desgraçosos

Fracassei em escovar os dentes
Passar fio dental
Acordar pela manhã
Dormir pela madrugada
E sobretudo na exaustiva tentativa
De encontrar um sentido pra viver.

Não tentei.
Por um dia, deixei passar,
Vi se acumularem em meu quarto
Os restos empoeirados
Meu antrax,
Pedaços de alimentos,
Objetos perecíveis,
Roupas contaminadas
De mim,
Da minha sujeira,
Do meu descaso e tristeza
E meu quarto agora carrega
O cheiro morto da minha alma.

Eu não cumpri com meus deveres,
Não fui pontual,
Não organizei minhas coisas,
Estendi a roupa no varal,
Eu não lavei uma louça,
Ou economizei dinheiro,
Ou fui gentil.

Eu desabei no chão da sala
Com aquela garrafa de bebida
Que espatifou dentro de mim
Mastiguei o tabaco cru de meus cigarros
Igual se fosse a carne crua da vida
Da morte e da violência
Da minha vontade de morrer.

Não tenho gosto por isto
Por esta vida vazia
Tudo que sei é pútrido
Corrosivo e doente
Tudo que sei está morto,
Como eu,

Em 30 dias
Deixei de existir.

Happiness

There's something about
This dense sense of happiness
That kills my soul
From inside
The closer I get
To these very living people
In flesh, sweat and sound,
The nearer I find myself
To smell the poisoning herbs
Trapped and anchored
To life,
The less I know
About what happiness really is
And less I know
About who I even want to be.

Death has been
For all these years
My dearest friend
My only companion
To be free
Is to experience
An unending emptyness
A doubtable sort of existance
I never know if I was ever there.

So, I lock myself in.
Turn down the lights in my room.
Pretend I don't exist,
Try to breathe instead.
Because,
If I go out another time,
I will get hurt,
I will wish to get hurt,
And I will search for my pain.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Destoante

Não sou de aparências
Não quero ser
Se perco a linha
Se me perco e peco
Perante meus próprios princípios
Se rogo a morte de outro
Se me revolto
Sou a consequência de meus atos
Não rezo ou peço perdão,
Assumo a culpa
Não sou a vazia justificativa
Daqueles que falseiam o ser
Sou meus machucados, cicatrizes,
Matéria orgância
Excessos expelidos de mim
Sou o sebo, o caos, o medo
Mas não sou a reprodução condenada
Repetição programada
De tudo aquilo que já fracassou
Sou o feio,
O desprezível,
O deplorável.
Aquilo que há de mais humano
Na sociedade,
Sou em mim
O que nos torna todos reais.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Limonada

Eu tento anotar meus sonhos, meditar
Eu não tenho tempo pra te visitar
Entre provas, relatórios
Casa pra arrumar,
Eu não tenho tempo
Para ser saudável
Ou respirar,
Mas cá estamos,
De volta à vida matinal,
Acordar cedo, fazer uma limonada
Chá de hibisco, feijão vermelho,
Ficou aguada e sem açúcar,
Minha limonada
Mas eu tento de novo
Amanhã
Parar de comer carne
Estar em dia com meus compromissos
Eu tento amanhã de novo
Chegar a tempo
Nos meus compromissos
Mesmo criando novos hábitos
Gastando mais tempo
Tentando ter uma vida funcional
E mais saudável,
Se eu tiver essa sorte.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Gente, pessoa, eu.

Por um momento
Você adormece
E eu me vejo
Completamente sozinha
Mais uma vez.

Ninguém entende
O que pra mim significa
Faxinar de uma só vez
As sujeiras da minha infância.
Doi em tudo que sou,
Mas falar de dor
Já perdeu o sentido;
Então, talvez eu devesse falar
Sobre alergia,
Do cheiro de mofo e ácaro,
Poeira e álcool,
Que agora toma
O meu antigo quarto:
Impregnado de memórias antigas
E roupas fedendo a sabão em pó
Em sacos para doação;
Os brinquedos,
Que eu nem me dei ao trabalho de olhar.
Só fui jogando todos no mesmo buraco
No mesmo saco preto
De lixo.
Eu costumava sentir
Que era eu que devia ser jogada ali,
No lixo;
Mas em vez disso,
Minha infância apodrecida
Que vai.

Eu fico.

E eu adoeço,
Sozinha.
Faço meu almoço,
Sozinha.
Tomo vitamina C
E melhoro um pouco.
Tenho crise alérgica,
Sozinha.

E eu me levanto,
Escrevo um relatório
Sobre a minha paciente,
Concretizando que eu agora
Sou cuidadora,
E não um bebê frágil.

É um soco no estômago.

Eu faço listas,
Penso em como a casa precisa de uma limpeza,
Me sinto exausta,
Penso em como meu pai se sente
Tendo que morar aqui,
Sozinho.

Nada do que eu faço é suficiente,
As tralhas, as cartas,
A terapia,
Os remédios,
Que não mais me servem de consolo.
Agora sou só eu e eu.
Não tem mais personalidades
Depressão
Ou redenção.
Sou só eu.

E minha casa de infância
No condomínio
Que fatia por fatia,
Vai me deixando pra trás,
Vai me abandonando
Pra morrer.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Vocação

Não existe mais tempo
Para um romance
Ou livro de poesias.
Não há mais dinheiro,
Crédito em conta no banco
Ou serviço a ser feito
Para ganhá-lo,
E assim, financiar
O romance
Ou as poesias.
A arte, desde que sei
Tem custado o suor e dor
De quem trabalha
Para em sua classe média
Sustentar
Um breve momento de apreço
Pelo vazio perpétuo
Cravado
No ponto cego
Do dentro.
Não existem mais maneiras
De se fazer arte
Sem demandar dinheiro
Ou tempo
Ou a própria vida:
Lágrimas e sangue sob a cova.
Não existe mais esperança
Para nós
Do submundo:
Os sub-humanos,
Filhos frutos
De dinheiro e dor.

Fé, 5am

The sky is a shading purple
The city ain't awake yet
This is the most familiar feeling
The movement of my right hand
When it scratches my neck
The feeling that you've experienced something
No one else did
And therefore,
Will never be able to understand.
There is some sort of beauty in this pain
The loneliness of being one
And only one self
Realizing that it's gonna be it
For the rest of your life.
Everything you feel
And everything you taste
And everything you see
Will be a quick breath.
In a matter of seconds
Will no longer exist.
Anything is but a thought
Inside your confused mind.

But then I walk through the kitchen
Of this so said house
I go through the hall,
Take a peek on the living room,
Scale the stair into your bedroom,
And slowly slide into your your blanket.
It feels warm and soft
Inside your chest, so
I deep breath
And let my shoulders down
And fall asleep.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Alone at house one

Bunny gosta da chupeta de coelhinho que brilha no escuro.
E de uvas verdes sem caroço. E do desodorante que tem cheiro de bala de morango.
E do senhor T.
Patrícia gosta da ideia de morar em sua própria casa.
Alice odeia os insetos. Tem algumas lembranças boas, mas não aparece muito porque a casa a deixa confusa. Não é mais um lugar que ela reconheça. Está estranho. Não é mais como foi antigamente.
Lola brinca com o corpo de T. aproveitando a intimidade que ele e Bunny têm. Acariciá-lo é mais confortável e seguro que deixar que Nadine desabe no sofá da sala ou nas cobertas frias.
Nadine sente calor. Um calor insuportável. Faz quarenta graus em todos os cantos e ela só se acalma em frente ao ar condicionado que no corpo provoca alergia. Nadine odeia a vida. Finge que odeia T; mas ele é sua única saída.
Encontramos uma carta nossa na gaveta do pai.
Uns querem roubar. Outros querem pôr fogo. Fingir que nunca aconteceu. Alguém recomenda que falemos sobre isso. Com quem? Quem iria entender? Nos sentimos sozinhos.

Eu me sinto sozinha.
A dor mora em mim, e eu tenho sobrevivido.
Melhor contigo, mas,
Ainda doi.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Manguinhos

Minha pele descama
Eu sou uma lagarta
Em sua segunda semana de vida
Meu cabelo solta pó
Eu sou um móvel empoeirado
Estou seca demais
Para a chuva que cai lá fora
Estou morta demais
Para manter meus olhos abertos.

Não sinto sono
Ou fome.
Percebo coisas ruins.
Desesperança.
Segunda-feira.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Chá Preto

O dia hoje parou.
Como um músculo cardíaco
Que esquecesse de mover-se,
Silenciou, calou-se,
Em obscuro protesto,
Morreu.
O céu amornou-se
Absteve-se de me gelar os ossos
Ou fritar-me a pele
Como um chá
Que tem que ser bebido quente
E engolido em uma única
E grande dose,
Sem respirar.
Em respeito à minha dor
Os pássaros não cantaram,
Meus pés não fraquejaram,
Lacunas e mais lacunas de tempo
Formaram-se
Para que meu dia queimasse
Mais depressa,
Teia tecida em atalho,
Pavio da vela
Que esqueci-me ontem de acender.
Hoje eu não tomei três doses de veneno
Na esperança de morrer.

domingo, 28 de outubro de 2018

Unbroken toy

Sigo tomando mais banhos
Quando estou contigo
Escovo os dentes mais vezes
Passo fio dental
Você não me faz sentir
Menos como um brinquedo quebrado
Você me faz sentir viva
Com água e oxigênio
Uma planta bem verde
Florescendo em novembro
Uma fruta doce
Que você pega do pé
E morde sem lavar
Eu sou um evento da natureza
Um amor que nasce nos teus olhos
Cresce nos teus braços
E prospera
No teu quintal.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Rex

Eu sou uma criatura revolucionária.

Ele me puxa pelo pescoço
E me manda ajoelhar.
Cada vez que sua violência
Pesa em minha face,
Eu sinto milhões de beijos
Explodirem dentro de mim.

Seus enormes dedos
Me violam os fios de cabelo,
E tentando arrancá-los
Me carregam para onde eu devo ir.
É a minha revolução
Que se deita sobre o carinho
Destes dois olhos.

Porque nasci e pari
Este único propósito:
Desobedecer.

E quanto mais forte a mão
Que me alicerça,
Maior a minha segurança
Ao perfurar os mesmos dois olhos
E resistir.

Ele me leva feito cadela,
Pela coleira, de quatro,
Nua, pelo chão.

Me beija e me fode os lábios
De criatura revolucionária
E dentro deles
Sustenta
E honra
A minha revolução.

Morro da fé

Eu pisco os olhos
E três dias se passaram.
Eu não me lembro quem sou
Ou o que faço,
Além de muito chorar
Entre seus braços,
E tentar sempre comer
Sem derramar.

Eu nunca quis parir
Um filho homem.
Tinha medo
De que criasse um monstro
Pra me devorar.
Mas, aqui pensando
Nos teus olhos
Entrefechados,
Eu criaria um filho
Para ser assim, como você.
Eu criaria um filho com você.

Sinto que estou prestes
A desmaiar e morrer.
Me deito, esperando meus pesadelos.
Nutrindo em meu útero teu nome
Para amar, como fosse parte de mim.

A vida tenta abrir a porta,
Eu passo a chave.
Ligo o ventilador
E fecho os olhos.
Você está aqui comigo
O tempo todo.
Mora dentro de mim.

domingo, 14 de outubro de 2018

But it does get easier

You are like soap to me.
I take three showers in a day
And never felt so clean
My skin's about to peal itself out
Of my broken body
And chest.

I give my heart to you
It feels cliché
And I don't let myself fight it.
Haven't been finishing texts, but
The fear gets smaller
And life goes on.

I go to you
To fall asleep in your arms.

sábado, 13 de outubro de 2018

Bunny

Senti teu cheiro.
Penso em você
E você me visita
Como não tivesse estado aqui
Há quatro dias.
Meus olhos pesam
Prontos a desistir de tudo,
Mas eu me sinto sua.
E me desmaio sua,
Nas tuas mãos que se fecham
Ao redor do meu pescoço,
E dos teus lábios
Que me mandam ajoelhar-me
Igual ao Rex.

A vida tem sido escura
E promete diariamente piorar.
Sinto que você e outros têm mentido
Fingido que o mundo não desaba
Mas o meu sim,
E tem que desabar.
Se desci aqui
Para existir
E doer,
Ora luto,
Ora prego os olhos,
Ora sou tua.

Segue-se o acordo.
Escolho teus dedos de nuvem
E me sinto injusta
Entre as injustiças da vida
Você é a mais bonita.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Gaturamo

Meu dedo finge de morto
Um colibri no fio
Observa a manhã nascer
E eu não quero falar
Sobre o que muda no mundo
Não quero me mover demais
Pra não assustar os pássaros
Mas me sinto calma
E pronta pra seguir a minha vida
Com medo e tudo.

O silêncio que o dia traz
Com tosse, assobios
E nuvens mornas
Não me sufoca
Não arranha minha garganta por dentro
Não me manda fazer nada ruim.

Tenho cometido muitos erros
Desde que me entendo por mim
E mesmo que eu cometa mais um
Quer dizer, você sabe né
Não vai ser o fim do mundo
Além do mais,
Você vale o risco.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Red Dust

Once my heart was shattered
Into very little pieces
And since back then
I'm used to smash it
As I swore
To never feel that pain
Again.

But here you are,
Stealing my ashes
Turning your dew
Into our beautiful mud.
And as I wait for you
To stab me in the front
You grab my wet neck
And trick me into having fun.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Condomínio

Esmago um doce
Em minha língua
E penso comigo
Se vai sentir o gosto daí
Passo meu dia
Carregando em meus lábios
Os teus
Como colados
Como um batom invisível
Algo inteiriço e sensível
Algo seu.

Me invadem
Aos berros
Violências
A vida me rasga
Sem piedade
E eu não esperava menos
Pois teus dois lábios
Seguem colados nos meus
Calando-me
Pois se tenho isto,
Devo suportar.

As vozes dentro de mim
Me guiam aos precipícios
Eu tento me manter sã
Moer um doce
E na minha língua
Que te lambe ainda
Eu ponho um pedaço de algo
Tentando fazer parar
Meus pés retorcidos.

Acordo meu dia
Para o apocalipse
E as nuvens
Não chovem nada de novo.
Em meus lábios
E língua
Você se instala
Eu sou um conjunto habitacional.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Bunny and Mr. T.

I nervously dress up
So my mom won't realize
You've turned me into
A purple pie.
I like the danger
But I'm likely
To run away,
Don't worry
I always come back
Like a bus or
The willing to sleep.
I daily put
A cheap collar
On to nikki's neck
And she's about
To become
Your little cunt.
It feels good
Once in a while
To let the chains
Out of my hand.
I sense disaster coming
To ruin us
I'm a bad bunny
And you know it.
Maybe nikki is just scared.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Uva

Você me pede para te escrever um texto
Não sei se você sabe
Tenho vontade de compartilhar contigo
Todos meus devaneios
Desejos, dores, tudo
Que me for possível
Quero que você me quebre em pedaços
Porque sinto que só você
Pode me colar.

Faz uma torta de mim, amor
Eu te escrevo um quadro
Te pinto um mundo
Te planto flores
Eu só não consigo regá-las
Ou salvá-las da morte

Eu fujo de ti
Esperando você me buscar
Ou meu pé direito arrebentar-se de novo
Esperando você me arrebentar.

Você me pinta igual aquarela
Eu quero você seja mais
Porque tenho gostado do que vejo
E é incrível
Ver alguém existir

Eu tenho estado morta
E tosca
Tenho sido desbotada
E louca
Você faz de mim um presente
Um mimo de viagem, um bibelô
E quanto mais vezes
Você taca sua bonequinha de porcelana
No chão
Me amassa igual pão
Integral, ou pizza
Mais eu tomo gosto
Cor, forma
Mais eu me sinto aqui
Viva
E feliz.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Joãozinho, a sereia

Meus fios de cabelo
Os que sobraram
Tiram sarro de mim
Dá para ouvir as gargalhadas
Manchando o box do chuveiro
Espalhando tristeza
Onde eu passe.

Gosto de fazer
Minhas próprias coisas
Porque não confio
E sou sozinha
E um erro meu pode doer
Infinitamente menos
Que o de outro.

Gosto de ser responsável
Pelos meus próprios desastres.
Cabelo no ralo,
Sangue na coberta,
Quadro quebrado.

Eu sou um furacão
Preso dentro de um quarto
Quatro paredes e vozes
Que o silêncio não corta
Não cala, distrai ou ofusca
Eu sou a tentativa vã
De respirar
Debaixo d'água.

Straps

Gosto das roupas listradas
Porque elas nunca vem em uma cor
E se eu fosse uma cor
Eu seria duas
Três, quatro,
Um arco-íris louco
Eu seria mais.

Your Reality

A realidade é uma secura tão ríspida que racha não apenas lábios ou calcanhares, como toda a nossa pele até que desidratados viremos pólvora para alimentar o fogo da morte.
A realidade nos mata as memórias e nos realiza que não somos absolutamente nada. Nem pó.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Entrega

Cinco e meia da manhã
Eles me trouxeram
Meu sentido de volta.
Era cedo, então
Virei-me de costas
E apaguei.
Às seis e cinco
Despertou-me Monika.
A vida era falsa, ainda,
Eu não queria acordar,
Viver.
Às seis e dez achei
Sobre meu travesseiro,
Espalhado entre minhas cobertas,
Lambuzando meu sono;
Meu sentido de volta.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Eco

A solidão aqui dentro de mim
É o eco do silêncio
Uma lágrima despencando do precipício
Meu vazio se repetindo
De novo
E de novo
E de novo

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Via expressa, Bonsucesso

Vejo minha garganta correndo
Pelos cacos de vidro
De uma mureta
Pra mim o maior absurdo
É o teor humano da violência.
Sou apenas medo.
Um medo tão imenso e paralizante
Que tento cobrir-me de coragem,
Resignação perante a morte
Que iminente me apavora.
Antes ela,
Que meus outros fantasmas.
Meus pés e olhos inchados,
Seco minhas pálpebras,
Sufoco um grito de socorro
Em meu esôfago.
Tenho estado morta,
Mas a dor não finda
Ou findará.

And a phone rings.

A barriga de um
No cotovelo de outro
O cotovelo de alguém
Na minha cara
Meus pés em chamas
Um cadeirante
Tentando abrir
O mar de gente
Uma gestante
E o sol dourado
Que finda a tarde
Minha solidão sonora
Meus ossos estrelados
E o insuperável choque
Perante o poder do homem
Ao desumanizar-se
"Somos apenas
Sobreviventes",
Um me disse
O que é esta decadência, afinal?
"Os outros seres
Não abstraem".
Sou então um sopro,
Neblina ou fumaça,
Algo que se apaga.
Um corpo enlatado,
Resíduo de ser.

domingo, 19 de agosto de 2018

Candles

A minha cama tem cheiro de céu
E em meus pés
Escorre a escuridão;
Tento domar o medo,
A solidão que me abre
E dilacera aguda os meus rituais;
Faço oração;
Escrevo meu texto morno,
Asso meu pranto;
Floresço em meu esôfago
O silêncio
Mantenho meus pés aqui
Aço e verniz.

Oral Fixation

I survive
Another panic attack
Just to see
The shining teeth
Of laughing guests
I eat food
I smile to
Them
And I feel
So fucking comfortable
That they're all around me
Taking care of me
Making me real again
I have some sort
Of oral fixation
Have a few beers
And it's alright
Wish for a cigarette
And a blowjob
But content myself with food
And try for lips,
To fail foward.
I'm exhausted
And come up with a war
Just to stay alive
Stay here
No death, no fall, no fear
Stay here
Happiness doesn't last
So long.

sábado, 18 de agosto de 2018

Fear

My brain and guts
Feel like rotten cake,
I try to piece it all together
But it doesn't fit.
I dry cry,
Like a newborn.
Hoping to get hurt
A little more.
Tasting death
Beneath my tongue,
Terrified of what is next
To come.
I have no hope
To get myself fixed.
I'm a broken toy,
A cup of burnt coffee,
A deep and starving grave.
There's no day or time,
Little light or such,
I'm fully done
With all of it.
Everything is fear.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Gota

Há dias em que a solidão devora
Engole o verso simples
Faz seu berço
Embala em mim o silêncio
E tenta me apagar
Eu viro um sopro de dor
Nota única
Um corpo
Que ao tocar o espaço
Se dissipa
Uma gota de sangue
Diluída no meio do mar

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

One tear

One carrot

Cry cry cry
Cry cry cry

sábado, 4 de agosto de 2018

R.I.P.

Sinto-me cansada
E carregada
Pelo peso
Da falta de identidade
Não tenho sido ninguém
Não tenho gostos
Não tenho sustentação.

Pensei sobre você.
Sobre o teu imenso ser
E teu corpo
Que nunca me tirei da cabeça
Nunca fez sentido
Irreal como as vozes
Que ouço dormindo
Creio que nunca te toquei
E mesmo deste modo
Nunca te esqueci.

Entre meus últimos anexos
Aprendi que não posso ser,
Entre outras coisas, da bebida,
Dos cigarros meus ou nossos,
De drogas e alguns alimentos,
De alguma moça que chegue
E de qualquer outra pessoa
Que não seja você.

Tive um amor,
Se é que posso chamá-lo tal,
Uma casa, um abraço firme,
Que não tinha os teus lábios
E nunca terá.
E como morto, enterrei-o,
Meu coração, que nunca fiel,
Torna a ser completa e exclusivamente seu.
Portanto, morto também, presumo.

Não vejo sentido para continuar aqui,
Insistindo nessa existência vazia,
Cimentada e asfaltada
Sobre as veias de meus sonhos,
Sinto-me um pedaço
De uma calçada antiga,
De algo que ninguém mais conhece.
Não tenho vontade ou ambição
De viver mais um dia
E continuar aqui.

Não quero dar-te bom dia,
Te fazer feliz,
Companhia, risos,
Abraços.
Não quero estar aqui pra você.
Quero e preciso calar-me.
Sou um espírito em luto.
A cada novo dia,
Algo em mim se põe,
E não há volta.

Tenho perdido tudo
Que em mim poderia ser salvo
Alternativas e alegrias,
Possibilidades,
E maior que isso tudo,
Para sempre eu perdi você.

A partir de hoje,
Eu não quero mais ser ninguém.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Jardim

Teu quadro me assiste
Secando em passos lentos
Me sinto uma planta
Encontrando pela manhã
O primeiro raio de sol

Faz pouco tempo que te conheço
Tenho sido seca e morta
Mas teu espírito
Corteja o meu
E me atrevo de novo
A pisar sobre minha dor

Sonhei que te conhecia
Que sentia vida
E roubava os cachorros da morte
Para depois devolvê-los
E partilhar com ela
Os meus estranhos amores

Hoje tive vontade
De estourar o balão que te sufoca
Trazer-te para o chão de volta
Criar raiz, cultivar nosso jardim

Mas o balão é teu
E eu sou uma estranha te observando.

Além de olhos tenho um par de mãos,
Tenho dores que carrego nas costas,
Tenho lábios para te acolher.
Não sou muito,
Não me confio,
Às vezes tenho vontades
E tive algumas quando te vi.

terça-feira, 24 de julho de 2018

sábado, 21 de julho de 2018

Bastidores

Me serve uma bebida
Enche meu copo
Despeja teu corpo torto
Ao meu lado
E sossega o teu enorme peso
Em meus dois olhos.

Eu falo muito de carne
Pouco de espírito
Mas é que sempre fomos tão clichês
Que sempre imprevisíveis

Quando você rugia para mim
E me fincava as garras
Eu gostava e te gritava socorro
Como encenasse
Uma grande comédia

No meio do último ato
Eu fechei as cortinas
E cansada de tantas vaias
A plateia calou-se
Saciada

Pois, agora
Nos bastidores
Onde eles não puderam enxergar
Onde nos calamos nós
E desmontamos as peças
Figurino e maquiagem

Eu te sirvo uma bebida
Em um copo vazio
Sem garras, presas
Ou pupilas dilatadas

Nenhuma tragédia ou ópera
Menino por trás da máscara
Quem sempre foi comigo
Um companheiro de teatro.

terça-feira, 10 de julho de 2018

Carcereiro

O dia cede
E enquanto cessa,
O ímpeto de chorar
Me retorna
Meu universo é um monstro faminto
Que espera alimento
Desde o parto.

Nada é capaz de nutri-lo.
Nada é capaz de matá-lo.

O peso de grossas correntes
Se arrasta
Ferindo o concreto,
Cansando as dobradiças.
O metal de firmes pulseiras
Dilacera-se diante da fúria
Da fome e do isolamento,
Da força como se sustentam
Punhos e pulsos
Dentro de mim.

Meu monstro é sonoro.
Me ocupa o espaço,
Me polui o ser.
Eu sou a sua vontade
E o roncar incessável
De seu estômago.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Cruzoé

Desenha alguma coisa
Bebe um copo d'água
Você não vai morrer
É só uma fase
Lava esse cabelo
Já é tarde
Acende um fogo
Faz uma oração
Pede socorro.
Faz silêncio,
Respira fundo
E resiste
Reside dentro de si
Ocupa o espaço
Sobrevive.

O caos que não te habita
Os seres que não existem
O mundo que para e espera
O seu tempo,
A sua decisão.

Mergulha os tornozelos
Na caneca cheia
Salga as pontas dos dedos
E afoga
Não há resgate vindo
Não há redenção
Enterra o topo da cabeça
Sob a lama
E então respira.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Strawberries

Cortei minhas garras
Para não abrir as feridas
Eu sou um bicho
E não um ser humano
Precisava de vermelho-sangue
Pra repor os nutrientes
Eu sou um bicho doente
Presa num conforto desnecessário
Me levanto como fracassasse
Devia ser bicho manso
Sou selvagem
Não sei por que abro as feridas
E rolo na lama, grama
É o que sei
Grunhir e sangrar
Feito bicho, vivo
Bicho não tenta se matar.

sábado, 16 de junho de 2018

Dor e morangos

Levantei
Com certa dormência mental
E debruçou-se em mim um peso
Desconhecido
Fazia tempo
Que a vida perdera o sentido
Mas eu queria viver.

O socorro não estava a caminho
Abrir os pulsos não adiantaria
E mesmo que eu trancasse meus lábios
Calasse as vozes todas
Que me regiam,
Não havia cura.

Eu seguiria eu.

Um peso empoeirado
Impregnado de medo
E de morte
Um par de pés
Dilacerados
Porque o asfalto
Nunca é convidativo,
Um pouco de pó
E dor
Ilhados
Numa dimensão inacabada
Nem lá nem cá
Incoerente.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Súplica

Por favor, não amarre meus pés
Eu sei que não tenho andado,
Mas não quero tornar-me mobília
Sou carne e osso,
Não madeira ou aço
Por favor,
Me deixe viver.
Sei que não tenho usado
Mãos e dedos para moldar algo novo
Ou minhas palavras para ajudar alguém
Mas não me emudeça
Não tenho um bom motivo
Para te dar
Tudo que tenho é o medo
De deixar de existir
Por favor, me deixe viver.

Eu tenho pedido
Que cesse a minha dor
Mas eu sei que não há luta ou guerra
A ser vencida
A dor é dona de mim,
E todo o meu esforço
Tem sido na tentativa de me silenciar.

Não quero curar-me de minha tristeza
É tudo que sei e tudo que sou
Sei que me afogo e quero aceitá-lo
Âncora, navio fantasma
Eu desisti de me pronunciar.

Sei que não tenho cumprido
Nenhum de meus compromissos
E não tenho pretendido mudar
Não mereço piedade ou conforto,
Não mereço um lugar no mundo
Que não este poço, mas
Me deixe existir dentro dele,
Por favor,
Não me deixe morrer.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Árvore

Sento-me entre as raízes
Forte segue a madeira
Sugando da terra um motivo
Para viver
Despetalada aos poucos
Sob o indecifrável ritmo de ser
Ela me acolhe
Pois não tem escolha
Não fala ou reage
Não se comunica
Então me toma em seus braços
Que machucados me ardem
E em minhas costas debruçadas
Eu me afundo faminta
No solo não cabem meus dedos frágeis
Meu topo não alcança o sol
Quando murmuro algo ao vento
Na espera de ser algo além de um vegetal
Ele me silencia
E tal qual o tronco que me apaga
Eu desisto
Não há espera que cure
O anoitecer.

Toque.

Tomei tuas dores de cabeça
Como fosse curá-lo
Em milagre santo
Ou esforço
Escrevi teu nome
Impronunciável
E me amaldiçoei
Pelo amor que um dia senti
Sentei-me frente ao espelho
Tentando algo
Mas ao passo em que
Não me reconhecia
Eu não era ninguém
E as letras do teu nome
Eram indecifráveis

Te escrevi um quadro
Da minha infinda dor
Insistindo na única vida
Que conheço
Sei que não me cabe sentido
Ou alegria
Aos passos gastos
Quando te soletro
Uma canção morre.

Não é um desejo pravo
Ou mórbida aflição
É que talvez de minha honestidade
Se encurve a linha da verdade
E dos sucessos que conheço
Isto se torne queda.

Se eu tivesse sido outra
Que não coxa
Que não fúnebre e aturdida
Eu não teria um dia
Te rasgado por dentro
Eu não teria nunca te conhecido.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Os pássaros e os pingos

Céu que ladra cinzento
Reluzindo meu medo
Não cala os sopranos intérpretes
Que não sei de beleza ou deboche
Visitam-me categoricamente
A desejar bom dia
Com suas penas ágeis
Cortam-me o espírito
E como um verso
Que finde um poema triste
Eu finco meus pés ao chão
Desejando-lhes
Mais um dia de vida

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Nutrição

Alguns dias são lentos
Morrem como nascem
Sem raiar ou pôr-se o sol
Sem horas contáveis
Ou eventos em qualquer escala
São apenas minutos
Um após o outro
Seguindo-se, qual trilhas de formigas
Buscando alimento em mim

Alguns dias
Desnutrem-se
Pois em mim não há nada

Sou um oco
Um vazio
Uma falta de vida
Ou fim.

terça-feira, 22 de maio de 2018

É

A poesia é para a alma
O que é a vida
Dor que alimenta
Contradiz e quebra
Faz pó de nós
A poesia, como todo o resto
Não faz sentido algum.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Fetish

Você combinou comigo.
Nos encontraríamos às três da tarde, em frente ao portão da garagem do meu prédio.
Eu moro perto da garagem, subsolo, eu te expliquei, mas minha janela dá pra rua.
Às duas e meia eu levanto da cama, lenta e um pouco desmotivada,
É difícil lidar com interações sociais,
Mas eu tenho um bom motivo.
Atrasada, eu resolvo ir tomar um banho.
Tento ser veloz, enquanto meus pensamentos se atropelam.
Será que me sentirei mal?
Será que quero me sentir mal?
Penso se vale a pena me depilar por aquela ocasião,
Se devo seguir os mandamentos feministas,
Se quero gastar o pouco de energia que tenho,
Tentando alcançar um padrão.
A sensação fica melhor quando tá tudo lisinho.
E essa é minha melhor justificativa.
Termino meu banho.
Me enxugo mal, e enquanto pingo pela cozinha, olho o relógio no fogão:
Estranho, ainda faltam dez minutos para as três.
Em exatos nove minutos me visto e me organizo,
Vou até a garagem te esperar.
Repenso e resolvo abrir o portão.
Você está sentado no degrau,
Ao que tudo indica, me esperando faz um tempo.
Me pergunto se você me mandou mensagem,
Se tentou me avisar de alguma forma,
Mas não digo nada.
Sorrio nervosa,
Você sorri de volta.
Quero dizer algo, mas não consigo.
Ainda do lado de fora, nos cumprimentamos com uma espécie de abraço torto,
E então entramos.

Você me observa,
Fecho o portão da garagem,
E você parece estar preparado para este momento,
Porque assim que escuto o clique da tranca,
E me viro na sua direção,
Sinto os seus dedos ásperos tomando meu pescoço
E me prensando contra a superfície acinzentada.
Não sei como reagir,
Tento tossir, mas não consigo,
Você não deixa.
Sinto meu rosto ficando quente e vermelho
E o sangue jorrando pelo meu corpo,
Como se eu estivesse em grande perigo.
Adrenalina.

Escuto passos ecoando no meio do prédio
Tento fugir de você,
Mas estou fraca.
Você coloca a outra mão entre as minhas pernas
E eu deixo.
Você aperta,
Como se eu fosse um objeto,
Como se tivéssemos qualquer tipo de intimidade.
Acho que temos.
Tento gemer, mas tudo que sai de mim é um sussurro.
Não consigo respirar.

O som dos passos de aproxima,
Fica mais rápido
E, antes que eu perceba,
Você me soltou e está encostado na parede distraidamente.
Eu observo tonta uma senhora de salto vir na minha direção
E meio desorientada, percebo que estou no caminho dela.
Levo um tempo para desviar e dar passagem,
Será que ela percebeu alguma coisa?
Ela não parece muito atenta.
Eu respiro como se tivesse acabado de correr uma maratona.
Clique.
Ela saiu pelo portão da garagem.
Eu começo a rir.







domingo, 13 de maio de 2018

Trip vs Isolamento

Eu sou um arbusto
Um amontoado de folhas secas e gravetos
Não quero mais jogar esses jogos contigo
Não sei o que fazer
Não acho que eu vá curar-me
Preferia morar na neblina e nicotina
Dormir ao relento
Com as aranhas e os dogs
Vivo latejando uma dor nas minhas têmporas
O único paleativo que faz sentido
É isolar-me destas pessoas todas
Para manter meu silêncio em 16 linhas

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Habitat

Quarto, roupas e cama
Cheirando a cuidados básicos negligenciados
Depressão
Desjuízo
Vida resolvida
Por dentro o fim
Na rua
Só resoluções
Criando alicerces frágeis
Assistindo a lenta decomposição
de meus quadros
Seguindo aquela pessoa
que não deveria
Por que nunca houve outra
E é essa ofensa
que me rende punição
Por conta dos olhos revirados
E uma falta de ar abstinente
Faço de minha água um corrosivo
E engolindo eu busco
A purificação
É preciso que me dilacere
Célula, partícula
E se pudesse desfaria o átomo
Por que não há maneira
De limpar-me
Eu sou o erro
Eu sou o veneno, vírus
Pessoa má.

terça-feira, 8 de maio de 2018

Antagonia

Os paralelepípedos cheiravam a chuva
O faz de conta era apenas um cano estourado
Viria a tornar-se chuva na manhã seguinte
Dia iluminado
E os bem-te-vis cantariam
Eu não saberia dizer
Se de lamento ou comemoração

Ser quem eu era
Descobrir-me gostando
Do que gostava
E que tinha tanto me tolido
Encolhido sob o tapete
Para não precisar ser

Em um dia chuvoso
Não sentir o gosto de cigarro
Na garganta
Como um desejo crítico
E sim como memória breve
Desgostosa
Do beira-mar de fim de tarde
No dia anterior

Perceber
Que não fazia sentido
Escolher um par de sapatos
Para deteriorarem-se sob meus pés
Ou eleger um nome
E alguma combinação de tecidos
Para me proteger

O cheiro que sentia
No breu da correnteza
E a brisa inacolhedora
Que precedia o pôr do sol
Eram alegorias
Que em seus sorrisos largos
Se debruçavam
Sobre meu ínfimo
E insustentável existir.

domingo, 6 de maio de 2018

Sopa

Fatio meu pulso esquerdo
Como uma cenoura descascada
Fatias finas, lâmina afiada
Legumes para a salada do almoço
Meus olhos não derramam lágrimas
Eu não sinto nada
Afinal, é apenas uma raiz colorida.
Nada dela escorre.
Seca e crocante,
Talvez eu seja um coelho,
Talvez.
Prometi que seria alguém melhor,
Mas nunca teve importância.
Eu não quero morrer,
Pular de um prédio,
Comer cenoura.
Eu só quero seguir sofrendo,
Doendo e só,
Doendo e só.

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Resilient

Em alguns dias
A vida não tem nada para oferecer
Um doce, um alento, um trauma
Algo de que se lembrar

Em alguns dias,
As pedras no chão são apenas pedras
A poeira no céu cinza
É apenas ar
Os degraus não vacilam sob os pés
Não há nenhuma conclusão brilhante
Ou dúvida cruel

Certos dias não são de amor ou de luto
Com qualquer propósito além do mínimo
Seguir respirando
Aguardando o dia acabar.

Alguns dias, em mim
São natimortos.
Não tento revivê-los
Nunca nasceram.
Nunca existiram de fato
Só são algo
Ao morrer.

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Pregobol (ou mais um cemitério)

Uma fotografia esquálida
Carcaça da minha infância
Meu passado sujo,
Ferrugem
Um plástico verde sob cadáveres
Os pregos pretos gastos
Carimbando em minha memória
Meus muitos dias de vida
Se é que posso chamá-lo vida
Mergulho em frustrações ingênuas,
Esperança vã
Como tivesse sido sempre este chumbo
Deformando-me
Em direção ao magma
Paralisada diante da imortalidade
Se morro e descubro
Que esta existência se segue
Tenho medo da morte
Porque este é o fracasso que mais me assombra
Não poder desistir.
Sou uma resistência inconformada
Um eterno dilema
Entre ser ou não ser
Uma versão barata de hamlet
Uma cópia fajuta
Sou o desejo tolo
Insaciável
De descansar.

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Peter's hand held out

Eu sou uma péssima pessoa.
Repito para o espelho:
Eu sou uma péssima pessoa.
Preciso aceitar que sou
esta péssima pessoa,
que me seguem dizendo.
Preciso ser a boa pessoa
que me seguem exigindo.
Fecho os olhos para as súplicas.
Mostro minhas omoplatas contorcidas.
Elas dizem eu tenho tentado ser essa pessoa.
Mas sigo fracassando
sobre meus pés.
Se me entoco, silenciosa e distante,
É gritar o tímpano alheio,
distoar-me.
Se falo, reajo, conquisto território,
Sou exército, que cala os fracos e governa
Até a rebelião.
Não tenho desejado
Governar terra alguma.
Quero é ser só.
Sou covarde.
Me olho e repito ao espelho:
Sou covarde.
Por isso deveria seguir regras,
e não a revolução.
As regras não me respeitam,
não obedecem.
Torno-me deusa, dona de mim.
Não de mais ninguém.
Apenas das minhas omoplatas
corrompidas e tornozelos gastos.
Deviam deixar-me para trás,
Como tenho dito,
Se sou bárbara, homicida, omissa.
Sou algema.
Um peso atado aos pés de escravos.
Qualquer coisa que não humana.
Isto apenas eles são.
Se ele me estende a mão,
para apunhalar-me,
que não muito demore,
pois morrer aqui
é todo o sentido que me restou.
Se não me apunhala,
Se sigo viva,
Te amo até o dia
de minha morte.
Para que eu possa ao menos
Suportar a dor.

Despedida

Cresceu para se tornar
Alguém que eu não amaria
Agora vive as próprias mentiras
E está prestes a pagar as próprias contas
Encontrou um sentido na vida:
Não ser.
Como tenho insistido que ser
É tudo que pra mim há,
Ele há de se tornar
O que desejou para si
Em seu caminho sóbrio
Regado em ódio,
Sacrifício e pedestais.
Não sinto falta
Porque aprendi a ser só.
Achei que não viveria
Mas vivi
E nesta vida que tenho agora
E vivo só
Ele não encontra mais espaço
Para me encontrar.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Errada

Sonhei contigo esta tarde.
Eram três em ponto e eu estava acordada.
Você tocava a minha mão
Me olhava nos olhos,
Como sempre o tivesse feito,
Eu estava errada.
E não tinha problema em estar errada
Mas cometer tamanho erro
Em dada circunstância...
Eu fechei meus olhos
Enquanto acompanhava
Desolada, desabrigada
E enquanto meu mundo desabava
Eu queria te amar.
Não que não amasse,
Pois amar ou não amar
Em nada diferia.
Mas a escolha que eu queria fazer
De te amar
Foi o que me fez de súbito
Bombear no peito o susto
Pra acordar.
Eu sonhei contigo esta tarde.
Meus olhos estavam abertos,
E eu não sei mais quem sou.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Bela Adormecida

Não tem nenhuma blusa preferida
Que valha escrever um texto
Uma noite mal dormida
Uma manhã ruim, um pesadelo
São cinco da manhã
E os demônios das três
Perderam o sentido
Deve ter sido o fusorário
Jet lag satânico
Meu travesseiro
Que me põe a adormecer
Só quando tenho compromisso
Me recuso a sair de casa
Finjo que tenho sucesso
Que tenho coragem
Que sobrevivo no mundo
E me amarro na cama
Cozinhando a minha morte
E algum sacrifício breve
Que me mantenha aqui
Disse que com meus remédios
Dou mais risadas
Acho que eu estava errada
Ou era mentira?
Eu não tenho motivação
Para seguir viva
Para sair de casa
Para me alimentar.
Também não teria tido
Para escrever esse texto,
Mas ele me pediu que eu escrevesse
Não que este valha a pena
Esta sequência apodrecida de letras
Mas por que não?
Acho que nada existe.
Nem eu.

sábado, 21 de abril de 2018

End

Now you don't love me anymore.
It's like we've never met.
I guess it means
I no longer
Exist.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Love is not an option

I had to touch myself to sleep
Wake up in time
Do my part
But then, again
I wasn't ready to another day
That daily solitude
Was still there
And aching
Disintegrating my whole self
And I was still
Toxicly in love
With that dirty man
I bet I couldn't bear him
Getting healthy
And everything
I couldn't bear myself either
I'd rather be
Lost in a sickning sea
Than to be alone

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Another night

I guess when I look at you
And I see everything's over
Still, I am over
That's the most solid thing
In my world
It makes me feel
A little more real
In my pain
I takes my breath away
So I can
I don't know
Keep myself alive
A little more.

sexta-feira, 30 de março de 2018

Para mim

Por isso te escrevo agora
Um texto que já demora
Para terminar
Porque se um dia te amei
E quis ser tua
A qualquer preço ou esforço
Apenas tua,
Do não me pertencer
Que te acolhia
Um dia abri mão
E fui minha
Doloridamente
Apenas minha.

segunda-feira, 19 de março de 2018

Messenger

Ainda te amo.
Ainda também o amo.
Talvez sempre tenha amado aos dois.
Por amá-los
Porque quando amo morro
Sem morrer,
Só vou me machucando,
Perdendo peças
Virando cacos;
Pelo tanto que me feriram,
Não posso tocá-los
Fingir que existiram um dia
Humanizar-nos.
Preciso seguir perdendo
A voz, os laços
E a vontade de existir.
Eu vivo apenas por instinto
Sobreviver, fazer arte,
Enxergar o mundo.
Se eu tivesse escolha
Teria escolhido te amar.
Ou a ele, se você não estivesse.
Mas ninguém escolheu amar-me.
Então sigo só.

domingo, 11 de março de 2018

Dos

O negócio é que eu sou duas
Distintas
Uma quando amo
Absoluta, infinita
Pura magia
Outra quando desaba
O mundo inteiro
Catástrofe
Desilusão

quinta-feira, 8 de março de 2018

Cannabis cura câncer

Não tiro mais fotos pelo chão
Tenho que arrumar minhas tralhas
Empilhadas sobre a mesa branca
A raiva e o desespero
Me tiram de mim
E num dia chuvoso,
Como de costume
Eu desejo morrer.
Não achei que fosse curtir rap
E odiar as drogas
Mas cá estou
Moralista escancarada
Fóbica forçada
Ainda indigna
De qualquer vivência
Nessa "água"
A liberdade
É ensurdecedora
Existo em agonia
Eletrificada pelo ar

terça-feira, 6 de março de 2018

Night

Pensam que não me importo
Talvez nem pensem
Perdidos na batida
E na noite
Que nunca mais termina
Pensam que não noto
Mas meus olhos são secos, sóbrios
Eles me controlam,
Não o contrário
Eu percebo tudo.
Não me desentenda,
Não falo de nomes ou cores
Dados práticos, vida cotidiana,
Sei do ar que respira
Se respira
Da água que não bebeu
Se doi no estômago
E sei porque quero saber
Porque meus olhos procuram
Sei, porque engulo isto
E a dor me contamina
Um vírus, alienígena,
Vitamina
Me importo e noto
E quero
Te fazer o bem

sexta-feira, 2 de março de 2018

Pinduca

Ontem meu filho fincou a unha em mim
Hoje eu me queimei
No azeite quente do hamburguer
Eu acho tudo isso tão interessante
Que a vida facilmente perde o sentido
Eu acabo de nascer, assim que abro os olhos
Tudo é novo e assusta,
Tudo é novo e encanta
Tenho apenas um par de olhos
Para descobrir o universo
E apenas duas mãos
Para tocar o que me alcança
Tenho buscado seres em mim,
E isso não me desconforta
Porque chamo de amor
O que tenho feito nessa última semana
Todos os dias tenho descoberto
Novas maneiras de ser eu e existir
E tenho sido só
Na exaustiva conexão com o mundo
A tríplice do canal aberto
Eu vivo

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Dia 1

Abrir os olhos
Praguejar
Uma noite sem sono
Figurino fajuto
Fechar os olhos
Molhar
Correndo só
Desabando nos degraus
Encolher
Dentro de si
Uma dor aflita
No âmago
Na origem do ser
Não mais querer
Pedir que pare de doer
Esmagar pulmões
O par
De apenas ar
Sem pó preto
Dentro
Só no chão
Rasgando as pernas
O espírito
Querendo ir embora
Embora
Pra fora dali
De si
Longe do copo
E o maço
Longe do cansaço
Estendida
Sobre a cama
Coberta
Ceder
Ao sol
Fugir
Morrer
Enfim
O vento
Para expor
Aviso tardio
Torpor
Vazio
Nos dedos
Nos olhos
No eco
Que deveria escorrer
Pela guela
Não sai
Silêncio
Esconder-se
No âmago
Estômago
Encolher-se
E nunca desaparecer
De si

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Carnaval

Eu não gosto da noite
Não gosto do álcool e do cigarro
Não gosto das drogas, do sexo
Das lamas de urina na rua
Do lixo amontoado nas calçadas
Não gosto de pessoas bêbadas,
Exaustas, caindo no meio da rua,
Passando pneus por cima
De outras pessoas bêbadas,
Drogadas, morrendo por dentro.
Matando o corpo.
Não gosto do escuro que doi,
Da música que força meu peito
A bater mais depressa,
Desesperar-se,
Bombeando socorro
Ao resto de mim.
Não gosto dos carros,
Guimbas de cigarros,
Não gosto do cheiro cinza
E odeio a poluição.
Não gosto de gente.
De suas toxinas predominantes,
De como me toma a onda,
Como a todos os outros,
De como sou como eles.
Não gosto da perdição.
Carpe Diem, fuga,
Autodepredação.
Não gosto do âmago alheio,
Afogado e escasso,
Não gosto da dor que sinto
Em outros olhos.
Não gosto das confissões,
Dos beijos forçados,
Dos abraços não solicitados
E a insistência fóbica dos seres.
Não gosto de ser a mãe.
De doer a dor,
De tossir doente,
De despedaçar os ossos dos pés.
Não gosto de levantar e ver o dia,
Não gosto de ser sozinha,
E não gosto de passar a noite
Ainda enxergando o mundo como é.

Sou a única no mundo que vê
O que eu vejo.
Achei que ele um dia tivesse visto,
Mas a solidão mói minha plantar
E não há nada que eu possa fazer
Eu continuo só
Mas se eu puder mudar
E nunca mais visitar esse ambiente
Eu vou tentar
Ou vou morrer
Tentando.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Matrimônio

Me casei com a depressão
E aceitei o compromisso
Agora abro a porta
Pressiono os dedos demolidos
E não grito.
O mundo é outro
Eu mando nele
Eu sou só minha
E não doi mais tanto
Ser sozinha assim.

Quando encosto meu cigarro na boca
Sou completamente louca
Mas ninguém vai me dizer
Mais quem eu sou

Sempre tentamos
Mudar quem nós amamos
Escolhi amar minha morte
E com a minha esposa
E meu amante
Eu sigo livre
Completamente eu.

domingo, 28 de janeiro de 2018

Best Friends - Amy Whinehouse

I can't wait to get away from you
And surprisingly you hate me too
We only communicate when we need to fight
But we are best friends... right?

You're too good at pretending you don't care
There's enough resentment in the air
Now you don't want me in the flat
When you're home at night
But we're best friends right?

You're Stephanie and I'm Paulette
You know what all my faces mean
And it's easy to smoke it up, forget
Everything that happened in between

Nicky's right when he says I can't win
So I don't wanna tell you anything
I can't even think about
How you feel inside
But we are best friends, right?

I don't like the way you say my name
You're always looking for someone to blame
Now you want me to suffer just cause
You was born wide
But we are best friends right?

You're Stephanie and I'm Paulette
You know what all my faces mean
And its easy to smoke it up, forget
Everything that happened in between

So I had love for you, and I was full
And there's no one I wanna smoke with more
Someday I'll buy the Rizla, so you get the dro
Cause we are best friends right, right, right, right?
Because we are best friends right?
Because we are best friends right?

Tears Dry On Their Own - Amy Whinehouse

All I can ever be to you
Is a darkness that we know
And this regret I got accustomed to

Once it was so right
When we were at our high
Waiting for you in the hotel at night

I knew I hadn't met my match
But every moment we could snatch
I don't know why I got so attached

It's my responsibility
And you don't owe nothing to me
But to walk away I have no capacity

He walks away
The sun goes down
He takes the day, but I'm grown
And in your way
In this blue shade
My tears dry on their own

I don't understand
Why do I stress the men
When there's so many bigger things at hand

We could have never had it all
We had to hit a wall
So this is inevitable withdrawal

Even if I stopped wanting you
A perspective pushes through
I'll be some next man's other woman soon

I cannot play myself again?
I should just be my own best friend
Not fuck myself in the head with stupid men

He walks away
The sun goes down
He takes the day, but I'm grown
And in your way
In this blue shade
My tears dry on their own

So we are history
Your shadow covers me
The sky above ablaze

He walks away
The sun goes down
He takes the day, but I'm grown
And in your way
In this blue shade
My tears dry on their own

I wish I could say no regrets
And no emotional debts
'Cause as we kissed goodbye, the sun sets

So we are history
The shadow covers me
The sky above, a blaze
Only lovers see

He walks away
The sun goes down
He takes the day, but I'm grown
And in your way
My blue shade
My tears dry on their own

Whoa, he walks away
The sun goes down
He takes the day, but I am grown
And in your way
My deep shade
My tears dry on their own

He walks away
The sun goes down
He takes the day, but I'm grown
And in your way
My deep shade
My tears dry

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Lápide

Eu queria escrever,
Mas minha boca está grampeada
Eu tento odiar alguém,
Tento falar do meu corpo
E de como ele se desfaz
De tanto calor,
Tento falar sobre o meu telefone
Me mandando ir dormir
Mas eu não quero dormir
Eu não quero correr atrás
De pessoas que não me querem
Mas é isso que eu tenho feito
Porque eu não sei fazer de outro jeito
Eu rimei sem querer,
Desculpa.
Força do hábito
Eu queria estar escrevendo algo bom
Não pensando em suicídio e morte
De novo
Em depressão e estar sozinha
Ai meu deus não tomei meu remédio hoje
Acho
Tomei, será?
Acho que não
Escrevam na minha lápide assim

"Ela escrevia uns textos."

Pensando bem,
Não quero lápide
Tenho claustrofobia
Quero ser cremada
Fogo é legal
Odeio larvas.

domingo, 21 de janeiro de 2018

Baú

Se você ainda fosse meu,
Eu te dizia
que a minha cama
não range mais.
Talvez você viesse me visitar.
Só pra testar a cama, conferir.
Talvez você me quisesse de novo.
Mas só se você fosse meu.
Se você ainda fosse meu,
Eu trocava os lençois,
fazia janta pra gente,
colocava um filme
pra ter do que te distrair.
Te fazia um convite.
Aqui tem suco roxo, comida,
Aqui tem eu.
Vem me ver.
Se você ainda fosse meu.
Eu podia te mandar uma carta
Dizendo que eu te amo, que sempre amei.
Que não estava te usando
Como estava,
Que meu coração partiu em pedaços
Quando você se foi.
Mas você não sabe que foi.
Você nunca esteve comigo, não é?
Nunca foi meu.
Se você fosse,
Eu te mostrava minha parede nova,
Meus quadros,
Meu quarto decorado,
A cama alta,
Com um baú pra te guardar dentro.
Se você fosse meu eu te escrevia esse texto
Pra você continuar me amando,
Mas você não me ama mais.

Das bruxas da sua idade...
Você é a que conheceu mais gente maluca.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Antialérgicos

Uma bigorna sobre a bacia,
Âncora nas panturrilhas
E a cabeça
Tal qual uma melancia
Enraizada na coberta torta
Dois globos brancos
Perdidos
Girando arritimados
Procurando um sentido no ar
Força pra me levantar
E as cordas apertando
Cada vez mais
As lombadas da cama
Pressionando dores
Que eu nem sabia que existiam
Partes do corpo
Que eu nem lembrava que tinha
Porque já não sentia nada
Ao redor do ponto central
Entre minhas têmporas

Eu não aguento mais
Olhos abertos
Cílios separados
A nuca morrendo
De tanto encolher-se
Esse vazio no meu âmago
Eu não aguento mais.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Lorelei Kai 2

Fez as pazes com o mar.
Quando sumergiu o último fio de cabelo,
Tal qual alga desidratada, esverdeou-se.
Um quase dourado, desbotado do sol.
E antes que descolasse os lábios mais uma vez,
Quase foi possível ver reluzir o azul metálico de sua cauda escorrendo por entre os cardumes prateados.
"Nunca mais eu volto para cá"
Ela balbuciou entre bolhas.

Voltou para o mundo dos homens.
Sem saber muito bem por quê.
Sem justificativa de peso,
Sem nunca se acostumar aos passos tortos,
Sem nunca comer, ou gostar de ver
Em cativeiro seus amigos do mar.
Partiu, para nunca mais voltar.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Van

I ran away.
He had a beautiful name.
I was a fairy witch.
He disgusted me.
I am a lonely angel.
I hate them all.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Lorelei Kai

Quando pela primeira vez teve a chance de por os olhos no mundo dos que pisam o chão, usou toda a força que tinha para descolar os cílios.

A magnificência daquele universo era visível, mesmo aos pequenos olhos desconhecedores do mundo.
Passaram-se dois anos até que fosse seguro voltar.

Não foi um retorno, para ser precisa. Apenas visitas periódicas. Como fosse uma hóspede, que arrogante insistia já estar em casa, não precisar de mais ninguém.

Sempre soube que morava ali, imersa no azul translúcido. Mantinha os olhos abertos, mesmo que naquele mundo eles ardessem.

Queimavam, avermelhados ao fim do dia, mas era ali que morava, e ela sabia. Não podia ignorar.

De tempo em tempo, foi dando passos.
E a cada vez em que tocava os dedos úmidos ao chão, a sola dos novos pés se acomodava.
Foi, toque a toque, brotando raiz.

Terreno fértil, pernas grossas, tronco.
Acostumou-se ao chão.
Passou então a vacilar quando voltava.
Brigava com as quedas frias, carregadas de areia, longe do lar.

As pernas tremiam, temendo deixar de existir para que ela voltasse a ser quem sempre foi.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Don't wear black

Spoiled child
Wine bottle
Droping water
On a cup
Blue candy,
What can I do for you?
Cotton candy,
What can I do for you?
I'm here
A mourning cat
A weird pillow
I'm yours
Big sister
Aching sunset
I'll bring you a bottle of wine
If you need one.