sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Dálmata +++

Não sei quando você nasce.
Você costumava ser doce;
Talvez tenha sido o momento
Em que eu te abri a cabeça,
com uma pancada a ferro
e o peso de meu corpo 
ainda bem pequeno, porém,
o seu ainda menor:
Foi um dia vermelho.

Em que mundo eu te conheci?
Quem você foi antes de eu te matar?
Antes de eles te alcançarem?
De corromperem seu espírito
em uma nuvem letífera?
Quantos anos você já era
quando decidiu que queria ser isto?

Nunca te conheço.
Nem meu sangue,
nem meus ante-nomes,
Menos ainda tua mente,
O que te move,
O que me adormece
ou me embriaga
Teus sussurros e
códigos malditos
O que dá carga aos teus punhos,
contrai tuas mandíbulas
O que te inspira o roxo que as causa,
E os versos que me expele,
E o silêncio que me aprazes,
Frio como a superfície do gelo
fazendo-se uma cola sobre a pele humana,
tentando arrancá-la,
Vazio e distante
Qual o pico do breu da madrugada
De lua nova
Onde a única coisa que se ouve
É um nada tão alto, tão imenso,
Tão sonoro,
Que é quase tateável na brisa
A frequência dos cacos do meu espírito
Se partindo
Antes que eu me parta.

...

Mas você não notaria, não é?

Você não nunca soube meu nome.
Nunca me viu nascer.
Quando você chegou, 
meu mundo já era, e continuou a ser.
Eu te convidei
inúmeras vezes;
Você quase veio,
mas nunca entrou.
Talvez você tenha tentado,
Eu nunca vou saber 
se aquilo foi uma tentativa
de uma invasão
Você não me compreendia.
Eu sentia que sim
Mas era eu que enxergava seus olhos,
E não o contrário.
Eu sempre cometi esse mesmo erro.
Muito você compreendia.
Mas nunca compreenderia
que eu compreendia igual.
Que eu era um espelho estranho da sua existência.
Ao seu ver eu era um extra– :
um extra-vila,
um extra-território,
um extra-associado,
um extra-terráqueo.
Eu nunca soube se
Algum dia você realmente
quis me descobrir
Ou se você estava 
tentando me demolir.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Tesoura

Eu
Sou um punhado de brasa
Que chamusca na sua faísca
Um fuzível que queima
E desarma o painel elétrico
Uma lâmpada que estoura
Salpica seus estilhaços
O molhado gélido do mármore no refratário 
Saído direto do forno
O secador de cabelo na banheira
A corda da cortina...
A corda.

Você é o estampido da bala de festim.
É o que o fogo de artifício é para os cães.
O que são as palmas para os pássaros domesticados
E o que o som do carro é para os pombos domésticos.
É a energia que causa o olhar que eu vejo
nos cachorros que eu conheço, 
ao ver um celular
E bichos silvestres ao se depararem com câmeras
É o motivo pelo qual não se deve fazer movimentos bruscos,
ou correr, perto de animais
É o que era pra ele
Algo caindo no chão,
Um grito,
Qualquer objeto estranho,
Seringas,
Remédios,
Frutas,
Vegetais,
Em geral o escuro,
Lugares desconhecidos,
Ficar só,
Insetos,
Gatos,
Cães,
O que eu era para ele,
O que você me fez ser,
O que você era para mim,
Tudo que,
Eu via, quando olhava pra você.

Você é a brasa
Que causa o meu incêndio
E eu coloco gasolina
Até que a casa venha abaixo
Você é a usina
Que fornece energia
para que eu acenda
Todas as luzes da casa ao mesmo tempo
E os aparelhos na mesma tomada
Até que um pane na fiação dê um apagão geral
Você é o escuro
No qual eu me coloco
ao tatear a parede tentando encaixar a tomada
Sabendo o que me espera, 
com os dedinhos entre o metal e o plástico
A gota no quente do vidro fino.

Você é água.

A água que racha, que explode, 
que conduz à — ✃ ~

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Tempo de Vida Útil

Todos os dias eu acordo
Às sete e meia da manhã
Às sete e quinze
Às sete e quarenta e cinco
Às sete e vinte e sete
Eu tenho sonhos estranhos
Sonhos comigo mesma
Com amigos que nunca tive
Com pessoas que nunca vi
Lugares em que nunca estive
Ou pessoas conhecidas
Com as quais nunca fiz questão de sonhar
Sinto que avancei no tempo
Temo envelhecer
Pois minha vida está passando
E perdi 4 anos em segundos sem sentir
Eu estava deslocada no tempo
Ainda não havia passado para mim
E de repente, 
Assim,
Passou
Tudo de uma vez.
E percebi que agora eu já sou outra
Com outras desvontades
Com outros desgostos
Com outras decepções
Com outras concepções
E outros ideais

Não quero dormir à noite
Temo que não haja tempo
Que eu envelheça antes de achar o caminho
De volta pro meu caminho
Ontem dormi de exausta
Tenho sentido muita fome
Pois passo tempo demais acordada
Acho que é por isso,
Não sei dizer
Pode ser o medo
Às vezes também fujo de comer
Não sei explicar essa parte
;
Temo que ao acordar amanhã,
Às sete e meia da manhã
Já tenha passado muitos anos,
Anos demais,
E que eu não possa mais fazer nada
Para me ajudar
;
Ou quando chega a manhã,
Temo que acorde muy tarde
Tarde da tarde
No fim do dia
Com o sol se pondo
E minha vida findando
Sem ter vivido nada,
Sem ter tido um pingo de alegria.

Acordo em sobressalto
Olhos pesados
Hipervigilante
Estômago aflito
Como passasse semanas vazio
Vá fazer algo
Sobreviva
Tento provar pra mim que está tudo bem
Que tudo bem descansar mais um pouco
Que eu preciso desses minutos de sono
Mas de nada adianta
Às oito e vinte 
Inevitavelmente
Estou acordada,
Gastando minha bateria

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Territorial

I'm like an animal
spraying my urea scent 
over the nest
to mark my space
to recognize
They say I'm supposed to
search for a
grounding stimulation
But any sort of perfume
takes me to fantasy land
And Wonder is a mazespace I can't afford

So I smell my skin;
my sweat drops,
the critical vinegar 
seasoning my armpits;
I smell my hair,
a wild mess, forgotten for days
wishout a wash or brush,
beggin for care, but still 
quite happy to just be 
(and just be alive);
and yet,

All of this,
what,
You may imagine
as a terrible experience;
My misery of being,
The crudity of humanity, that
ends up being animality;

Proves me:
, like no other thing,
no one,
and no other movement
neither activity could,
That I am alive

I Live
And I can only feel
Because I feel myself
The reality is only real
Because I am real
Because I feel myself
Today is only today
Because I am real
And then I feel today
And then 
I am alive again
And I can live again

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Um escorpião nunca ficou calmo na vida

De repente
A rachadura na parede do meu quarto
Pareceu ter aumentado
Não sei se era algo relacionado
Ou se 
Eu só estava sensível demais
Para estar ali naquele ambiente
Naquele dia
Presente
Ali, viva
Pronta pro dia seguinte
Que de fato já tinha começado

Esses aniversariantes
Final de outubro
Início de novembro
Escorpião nunca foi um bicho simpático
Nunca quis conhecer um de perto
Mas vi uma aparição uma vez
Quando era muito pequena
Morri de medo
Prefiro morrer debaixo de um elefante.

Não gosto do que é traiçoeiro
Manipulador
Do que anda nas sombras
E vive pra sobreviver
Sempre na defensiva
Eu quero descansar.

Há certos tipos de bichos
Que precisam sentir a sua energia calma
Porque se eles sentirem a sua insegurança
Eles vão te atacar
Porque no fundo eles sabem que 
Você está sempre pronto pra atacá-los
A qualquer momento
Esses bichos
Precisam que você do lado deles
Só exista
Em paz
Mostre que as coisas vão continuar como estão
Que você mantém a sua palavra
Que é estável nas suas ações
Eu sou esse bicho.

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Olhos miúdos diurnos

Agora em vez de você eu tenho uma bagunça
E nessa bagunça moram traças
As traças vão devorando meus farelinhos de vida
Os últimos
Os que você me deu, e deixou pra trás
Que tirou de você pra me dar
Quando eu nunca fiz por merecer
Sem você
Eu não sei lavar potes
Eu não sei dormir à noite
Eu não sei brincar, ou conversar (não mais)
Eu não sei continuar vivendo
Querendo viver
Olhando além da janela
Enxergar um mundo através dela

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Velório de Papel & 𝕃𝕖𝕕

Você não ouviu? 
As livrarias tão fechando.
E a gente aqui,
Escrevendo livros.
Consegue pensar num tipo mais revolucionário?
Você consegue imaginar alguém mais alienado?
No meio disso tudo,
A gente aqui,
Escrevendo livros.

Bom,
Vamos seguindo.
Vivendo,
Tentando.
Que não de espírito
Sobrevive o corpo.

sábado, 30 de outubro de 2021

Geleia magnética

Me digo um plástico, elástico
Um emborrachado alienígena
Mas racho, um cimento velho, asfalto
Me espatifo em mil pedaços,
Argila, barro, blocos deslocados,
Costurados, pendurados,
Por minhas articulações de pano

Quero fazer uma casa na água
Virar de vez um peixe
Ir morar debaixo
A gravidade doeria menos
Meus pulmões não serviriam de nada
E nadar certamente cairia bem 
Como um exercício

Porém tenho pensado,
Se não desmorono
ou deságuo
Poderia fazer um som nos meus cacos?
Será que se eu criasse alguma melodia,
Faria sentido,
Como as poesias que escuto
até que me explodam os tímpanos
Ou
Eu só faço sentido assim em silêncio 
e invisível;
Uma geleia de nada?

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

It's the little things

Os dias eram como desertos
Os lábios rachados
A gordura ia forrando um manto
Que ao secar esfarelava
Minha tempestade de areia
Uma que me afogava
E não me permitia dormir
Contava contos antigos
Sobre ter sido sereia
Na terra das águas
Mas mal me restavam pernas
Quem diria esta cauda
Que a muito havia esfarinhado
E desaparecido no ar

Habitava um buraco no meio de mim
Que me sugava as entranhas
Em minha cabeça havia essa figura
Feita somente de sal
Aguda e fria, como pimenta
Sei que não fará sentido
Mas esta era ela
Me parasitando branca
Reluzindo, lâmpada fluorescente
Enquanto os dentes afiados
no centro de meu estômago
Tentavam me devorar

Frequentemente eu me sentia
Como se fora desabar
O mundo era um carrossel que não parava
Uma roda gigante da qual eu não podia descer
E eu tinha medo de altura
(dessa vez era eu que tinha)

Vez ou outra pulava um inseto estranho
Um gafanhoto gigante
Ou neon
Uma traça-rainha-dourada
Eu olhava os humanos de longe
Com o estranhamento de nunca ter conhecido a espécie

Eu sentia como se o mundo nunca mais fosse parar de girar

O sol estava a pico
Meio dia e meia
O céu se fechou

Despencou uma tempestade
(de água)
Cheirava a alecrim

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Moletom Vermelho

Não sei nem como começar a descrever
As agulhadas e choques
na pequena eu
A primeira náusea
Que talvez tenha sido aí
que comecei a tentar me limpar
Os meus primeiros tracejados
Intruções de molde
Os testes sobre testes 
de resistência
As experiências
As balas, velas, cubos, objetos
Era uma tela cinética
Sinestésica,
Têxtil,
Virgem,
Inoperada.

Queria voltar no tempo
Não curtir o cheiro de sujo
Como chocolate
Nunca ter cortado aquela fita
Vermelha
Laço de inauguração
Embrulho de presente para ser rasgado
E atirado no lixo
O meu casaco

Se eu fosse nomeá-lo
Restos de etiqueta,
Recortes:
Picote aqui,
Alvejante.
Queria alvejar-me.

Escrevam na minha lápide assim:

******

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Três anos de pôr-do-sol

Os dias nascem,
e cessam.
Poderia ser mais um texto
sobre a banalidade dos dias
Mas não é
Este não é.

Sinto falta do farfalhar 
das folhas ao vento 
do fim da tarde
Do burburinho 
das mentes aflitas
das pessoas 
Na estação Central 
de transporte "público";

Sinto falta das pernas doloridas,
costas arqueadas,
corpo dependurado,
A coluna uma toalha molhada,
torcida e atirada, 
antes de posta no varal;
A cabeça uma âncora,
precipitando-se;
E os olhos como cortinas pesadas,
a forçar o fim 
de uma noite de espetáculo.

Sinto falta de
no queimar de meu pavio
bem no fim, antes que apagasse
encontrar um resquício de pólvora:
Ver algo brilhar na escuridão
do meu fim diário
De existir diariamente
De saber que este morrer
Esta luz e este brilho,
Trariam o profundo escuro da noite
Que me traria outro dia
E eu estaria de volta
E eu teria sempre algo novo
que incendiar. 

As nuvens caminham,
os pássaros colocam seus ovos
nos ninhos,
as mariposas copulam sobre as frutas e fazem filhos,
a terra sofre erosão e a mata queima. 
Partidos políticos mudam,
pessoas nem tanto, 
tenho um dejavu escrevendo um texto;
Se minha casa fosse meu país, 
eu estaria vivendo na guerra,
Se eu estivesse vivendo dentro da minha casa, eu estaria morando no meu país. 

O sol nasce e se põe todos os dias e faz 3 anos que eu mal consigo vê-lo.
Meu quarto tem uma janela, embora eu sempre diga que não,
Mas eu nunca a abro.
Nunca abro as cortinas, e mal tenho estado de olhos abertos quando há luz no céu.
Que tanto o faça.

Os dias nascem e cessam em mim.
E isso basta.

domingo, 24 de outubro de 2021

Joints

He puts me in a cage
And I know
That I shouldn't stay
But 
Damn
It feels so cozy
Damn
And it fits so well
Think: it should feel like hell
But,
Now I live in there
Moved in by free will

And then I realize
I welded by myself
I begged to come in
Yelled at him to lock me in
And threatened him into hurt
So I'd get him scared
And he would rage me out
And I'd get messed up
And blame on him back

Say he locked me in
A cage
And
Wouldn't let me out
But
I didn't wanna' out
I wanted inside him
Slipping between his guts
Scratching it with my plans

Not sure if
The cage was to protect him
From my appetite
Or if that was he
Who was in the cage all along

sábado, 23 de outubro de 2021

Texto Sem Título

Faço em mim
uma salada doce
que arde fria
Porque sou um banquete vermelho
Servido sem prato
Sobre a toalha limpa
sem talheres
Mas com guardanapo
de trapo
azul celeste;
(àspero)

Poderia depois 
de fabricar aroma
e desvendar mistério
pela metade
(sobre escape de confeito
                           irreversível)
Deixar que findasse um branco
Um simples
Um glacê flavorizado
Raspas de limão
Receita da tia

Mas em todo branco
Há um
Há vários
Em todo silêncio
Em tudo que ninguém nunca pensou
Que um dia poderia ser dito
E ninguém disse
Em todos que nunca puderam ser nada
Se não um sopro
Uma gota
Um tropeço na batida do peito
Antes de
Nada mudar;

isso

E eu não sei dar nome a isso
E isso não tem hora
Apenas é
O tempo todo é
E é
E é
E é.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Monsters don't know how to do hygiene

70%, I take a bath of alcohol 
As if I were, myself, the virus
I'm trying to get rid of.

I shower up from dirt
A crystalized, tainted
Sort of sand
That shatters, dusty, 
Between my catty nails 
And my nasty baby chubby fingers.

I bath myself on cream
As if I were a mud cake
Cooked under the hole of my grave,
With the 37°C heat of the sun,
But still somehow managed
to keep the mold freezed between it all.

I guess, I sprinkle a bit of amnesia and insomnia. 
Since I had the last paragraph fully planned, and none of it was this. What was it?

I take a bath of pure adrenaline
And it's so weird
'Cause I don't even recognize this place
anymore.
I only wish for a cup of tea
Cinnamon, please.
But no one offered.

It's getting out of hand, 
I know it is. 
I shouldn't be in place 
to have to hide my feelings like this.
Not like this.
Have I talked already about my
Probably more than — two very close to suicide attempts?

Ha. I dive in.
Fully gone to swim on a suicide ocean.
But I stay alive.

I go into the shower
For another night of a living hell
I take a soap and water 
Kind of soup
First the main course 
Then an icy dessert;

It starts with an endless effort
To untangle my hair noodles
What quickly develops into
Zombie monsters resurrecting
Trying to invade my space
(that of course was locked, because of zombies apocalypse)
And them screaming and hitting at my door trying to get me out of there at like 3h30 a.m. 
What a terrible timing. 
Who would have said at this time you would be safe, right? 
I mean. 
Zombie apocalypse, man.

I take deep deep breaths breaths. 
Deep deep breaths breaths.
Deeeeeep breeeeaaaths.
I breath. 

So I get back my guts
My shower
My life
My body

And I formulate a plan of survival in here. 
If they manage to pick up the lock and force their way into me one more time, 
I'll start seeing them as cockroaches and treating and detetizing them as such.





quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Nights

I now realized
Was it yesterday
Or another
I finally saw the stalking figure that haunts me
It was a colored blur
Someone moving fast
Corner of the eye
Couldn't see much
They seemed to wear red.
Red and black perhaps.
Someone taught me that when you don't know someone's gender you call it they/them.
Is ghost a gender?
Or maybe dead?

It was a silent shock
A lonely one
I couldn't share it
I even tried but
It's not like someone alive would actually listen to me, right?
At least not in this house, anyway.

But then I was reading 
And giving a few thoughts on my
Three steps to thing
Started to count

I could give you two versions
In the first I've had two tries and "the third is the charm" as they say.
On the second, I've had three tries, which confirms that next one will be definitive.

I could of course say I've had several but that certainly lacks poetry and a bit of the so needed enthusiasm we're looking for. 
I aim for universal perfection.
And that can only be done at one way.

Maybe I'm flirting with that blur apparition.
Maybe I'm finally trully loosing it.
I always wondered when that day would come. 
The day I'd go insane with no return.
I think it's time now.
This is my train.

Maybe I've never made sense at all,
You all just invented some sense upon me.

Não funcionou

Há dias em que olho pela janela através das grades, 
como um passarinho tentando escapar.
Há um ninho na jardineira que fica no parapeito de mármore.
Não sei se é uma homenagem.
Agora eles não tem mais como chegar até aqui.


Ele nunca teria conseguido voltar.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

I wish someone could love me so I wouldn't have to love death. :(

Fever

The art fever gets me at 3 a.m.
Predictable time
I'm getting super lazy at writting words
Why would I feel like doing art or
Even expressing myself in the middle of the day?
Or — god forbid! — in the afternoon!
Could you even picture that?
Me, doing things, while there's still sun in the sky
Even if considering that yesterday was a heavy rainy day
And the day before
So all we could see was dark gray coulds but
Still
In my favorite type of weather
Could you imagine me doing anything even?
Being awake and actually intending do move...
I can't even be faithful to myself about my decision to sleep.
Even less about starting activities.

But art 
Art is everything
The only thing
If there was ever a thing to be 

And as it seems I am an anxious vampire 
Or at least a bat with serious sleep problems So
That's when it gets me
At 3
The only moment of the day
When I might possibly exist
Just a little bit

That sick heat
That feeds me,
A shaped darkness
Lost of sight,
So I can puke something shiny
For you to feed
Like it's gold

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Tablatura

Uma flor amarela desabrocha sobre minha cama
Eu coreografo uma performance secreta
Que a nomeio de Salto da Fome
Esse nome omite a palavra sacrifício
E todos os significados fragmentados
Enquanto escuto essa melodia 
Me dedilhar as tripas arregaçadas
Como cordas que imagino
Em um lindo recital
Em um maravilhoso balé 
Que crio em segundos de absoluto tédio
Em minha incrível mente
E me parabenizo, pelo talento
Da minha obra de arte
Meus dedos percorrem a cama simulando
O que seriam as moças
Sendo as cordas violentadas da canção
Cada uma seguindo apenas uma corda
Que se movimenta ao ser tocada
Pelo dedo dele
Um homem, é claro
Sempre um homem
Por que não seria?
Eu sou uma corda arrebentada
Não sirvo mais
Machuquei alguém
Machucaria mais
Quero machucar mais
Eu poderia ficar bem em algum pescoço
Mas você sabe qual meu verdadeiro lugar.


Dias

Meu tempo está quebrado
Não há relojoeiro capaz de consertá-lo
Eu queria que fosse noite nos meus textos,
enquanto escrevo,
Como é em todo o resto
As horas e os dias
E todos os momentos que transitam
Gangorreando
Como se nunca deixassem de ser
exatamente o mesmo 
único instante a acontecer
Eu não sou mais capaz de apalpar o sol
Ou tatear o vento
Discernir o dia 
Ou ouvir os pássaros
Eu me tornei o ser etéreo o qual eu temia
Que vagasse a casa sem rumo
E sem vida
Sem intento
Uma sombra do meu próprio eu
Uma sombra invisível
Inodora, muda,
Inacessível

Inexistente

Estou a três passos de tirar minha vida
Três é meu número preferido
Costumava ser quando eu era humana
Mas eu não sei se eu ainda sei contar até três.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Não pode rir

Flashes dissociativos às 4:27 da manhã
Eu tenho tido medo de escrever
Medo de escrever
Medo de escrever
Medo de viver
Medo de olhar pro lado e descobrir 
Que tem alguém me observando
De me ver no escuro
Uma imagem, o reflexo da minha sombra

Eu tenho pensado em todas aquelas coisas
De novo
E de novo
Estou escrevendo de novo
Como se fosse um texto novo
Como se eu fosse outra
Uma pessoa fênix
Alguém que brotasse de uma metamorfose cíclica
De uma incubação recente

Mas nada mudou

Eu sinto o fim nas minhas entranhas
Crescendo e sendo gerado no meu ventre
Nutrido no meu útero
Corrompendo minhas paredes por dentro
Me arrebentando, 
Apodrecendo os ossos da minha construção,
Demolindo meus órgãos e meu universo,
E engolindo a si mesmo,
Como uma estrela, que ao morrer se explodisse, 
E engolisse a si mesma, abrindo um buraco negro no espaço
Um buraco negro no meio de mim
O meu apocalipse

Eu sinto o medo
Forrar a minha pele
Fechar e abrir meus olhos
Como uma tempestade e ventania
Que sacudisse e batesse as janelas contra as paredes
Como a água que encharcasse toda uma cidade
Alagasse, afogasse
Atlândida
Esse é o medo me cobrindo

Eu tenho desistido todos os dias um pouco
Deprimida
Doente
Transtornada
É só um rótulo
Você não é a sua doença
Há muito mais que isso
Eles não entendem
Eles não entendem
Eles não entendem
Ninguém entende.

Eu sinto a morte respirar nos meus ouvidos
Eu sinto o bafo quente dela no meu pescoço
Quando ando à noite pela casa
Eu sinto o sopro gelado encostar meus tímpanos e me perfurar quando me deito para dormir
Eu sei que ela está ali
Me esperando

E eu estou esperando por ela

A gente tá brincando de quem vai primeiro
É tipo um jogo do sério

sábado, 25 de setembro de 2021

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Semicerrados

Se eu soubesse que você teria
Aqueles dois olhos
De cigana oblíqua dissimulada
De Dom Casmurro
Eu teria comprado ingresso
Para outro teatro
Que não o sapateado
Sobre o meu peito

sábado, 28 de agosto de 2021

domingo, 22 de agosto de 2021

Vermin

Ive been playing, playing many games
So I dont have to play you, with this body
This body is rotten, written underground 
Burried under words
Choked
Choked
Choked
Choked
I feel insane
And that's not news to me
I drown there

Fantasies
Realities
Pseudo truths I construct 
Or 
Make copies along the way
I don't wanna be alive, 
What can I say?
It's better to fake than 
Die
I guess
If that is that
I'm not even dead yet

sábado, 14 de agosto de 2021

Fotografia

A lua dança entre seus dedos como um vagalume branco, translúcido
Você tenta capturá-la como a um inseto pequeno
A vida é um fio fino 
Que corta a neblina 
do fim da tarde
Você reclama sobre como a sua luz está longe 
E eu espremo os olhos para vê-la contigo
O pó dourado que bronzeia o dia 
Esfumaça e recai, forrando o tapete
para minha visita
Perenemente finita, segue tecendo seu fio fino
E me prepara para enlaçar mais um ano de vida

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Lamb

Sonhei com você esta noite
Você aparecia de um lado
E aparecia do outro
Eram dois de você, e um beco
E eu estava no meio
Não queria passar por você
Não tinha outra saída
Eu desviava de um dos seus eus
E aparecia um terceiro
E eu pensava
Meu deus, quantos agora?
Vão continuar aparecendo?
Será que vou precisar matá-lo?
Eu acho que você me ouviu
Um de vocês
Havia outro meio distante na cena, lá pro alto
De repente havia muita água,
Como se fosse uma festa na piscina
Uma enorme festa com várias piscinas
[eu sonho muito com piscinas]
[com você não, ainda bem]
E você sacou uma arma
Como, de onde sacou a arma
Era como se fosse um personagem de jogo
Programado de fábrica com aquela pistola-revólver 
Choviam balas por todo o evento
Algumas me esbarraram, como
bolas de gude que atirassem em mim
Você não viu
Senti que você queria me matar
Mas não fez questão
Eu me escondi
Você tinha que saber onde eu estava, 
Pois estava na minha cabeça
E não veio atrás de mim

A cena mudou
Me tiraram do esconderijo
Fiquei num confronto frente a frente com você
De repente era seu corpo atirado no chão
Todos estavam armados
E você tinha um escudeiro
Um primo meu que mora longe
E nunca, eu nunca o vejo
Deve estar maior que eu
No sonho era uma criança
E mesmo assim, ele te defendeu
Eu disse a ele que ele valia muito mais do que você
O que eu acho que era dizer que eu valia muito mais do que você
Mas ele tinha uma arma
E quase que ele me atira,
Mas em vez disso ele fez uma fusão com você
E você virou uma espécie de transformer
E a partir dali eu pensava 
"eu posso ganhar isso"
"eu só preciso atirar"

E eu peguei no chão uma arma
E tentei de tudo quanto é jeito fazer aquela arma funcionar
Mas não dava
Depois consegui outra
Subi em você
No robô transformer
Tinha medo que saísse um raio laser dali do meio e me matasse
Ou alguma bala
Queria acertar bem no meio
E minha arma desfiava como se fosse feita de brinquedo
E eu pedi aos outros
Se alguém poderia me arrumar uma arma de fogo que prestasse
De repente todos ao meu redor só tinham facas
E de súbito surge meu primo atrás de mim novamente
Com uma arma cortante
E decepa meu braço direito fora
Acho que foi pra eu não te matar
Levei ele até um violão e disse que se ele o tocasse ele morreria
Ele queria o violão
Também era uma linha de trem
Apareceram duas mulheres
Acho que uma era minha psicóloga
Ela queria que eu fizesse amanhã uma apresentação de dança com umas coisas cor de rosa
Eu não queria ou sabia fazer
Mas ela dizia que eu ia dançar
E que isso que eu estava fazendo agora era um jogo
Como se fosse uma atividade super positiva
Eu disse que meu primo era o ganhador 

Voltei pra onde você estava 
Eu acho
Já estava sem armas, sem braço
Talvez com algo cortante na mão
Acordei no caminho

Também sonhei que te via 
E queria ficar contigo
Te ignorei e convidei a outro
Tive medo que você nos fosse assistir
Ou ficasse agradado com a ideia
Me angustiou a ideia de te satisfazer
No meu espaço privado
Então acordei

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Muda

Seu corpo se esticava, perigosamente perto do chão.
Cada pequena dobra, cada aumento, cada sobra, 
Arriscava ralar-se nos percalços,
em pontiagudos e ásperos
Tentava esquivar-se, o rosto perdido entre seu arame estático,
farpado e labiríntico
Tentando livrar-se da terra acumulada, conforme caminhava
E pela espinha vinha o instinto quase secular
De atirar-se contra uma pedra fina, 
uma pedra grande e aguda, 
Que a dividisse ao meio, 
sua galhada
sua carga
Um antes escudo, que ao passar do tempo
Tornar-se-ia inevitavelmente um fardo
Uma velharia
Um pedaço de si, um casco: o seu passado

"My bedroom smells like rotten food and I guess so do I..."

Angels of Porn - Nicole Dollanganger

domingo, 1 de agosto de 2021

Milk

I go to three
It shouldn't be
like this,
It's worrying weird, but
See, 
this is my only way
My only number
The triangle of my,
for lack of better expression,
self

I slip back
For a brief,
Sometimes
For a day, when it lasts
It freaks me out,
At least,
At three who am I?
What is anything?

My mother is a chest
Warm with a curly curtain of hair
Dropping over me 
The soft skin, the nice smell
The taste of milk.

The heartbeats
--!-
Glitch
Grow up
Never trust the heartbeats
---

I am but a piece of lamb
Driving through the womb

They are coming to eat me 
alive
with sauce 
and condiments

--!--

I'm no man's meal
I have no mother
No one gave me birth
Nor have I ever been fed
I despise dairy
of any kind or source.

sábado, 31 de julho de 2021

Ácidas

Minhas lágrimas escaldam meus olhos
Descamam a pele,
Me fazem de uma sereia, um peixe feio
E eu odeio peixes

A manifestação em meu pescoço
Se alastra
Como um incêndio em temporada seca
Fervendo a minha pele em brasas e agonia
Tornando-a irmã
De minha queratina fina

Meus dedos com suas unhas afiadas
As afiam nos móveis, nos cobertores, nas paredes
Nos dentes
Na pele, em si próprias, 
Nos cabelos

Garras de gato, agulhas
Que lanham meus ferimentos
E os abrem e os expõem cada vez mais
Para que entrem seus invasores
Com seus movimentos
Para que mais me queimem, 
Mais me ardam,
Mais me borbulhem
Como um refrigerante triste
Como um refrigerante ácido

Que limpa os azulejos
Os vestígios
Bicarbonato de sódio
Com vinagre
Uma combustão de mim sujando o recinto
E os desinfetantes
Dentro de mim
Tentando me desintegrar

Meu corpo tenta limpar-se de si

Low Standards

comida
casa
e um

ao menos,
dois comigo

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Não pregue os olhos

Não pregue os olhos
Pregue uma cruz
Pregue seus dedos 
E a palma da sua mão
Não pregue o perdão
Ou qualquer tipo de paz
Não finja, não pense
Olhos ultra abertos
Pregue a guerra
Pregue a morte
Pregue as pálpebras nas sobrancelhas
Pra nunca cair no sono
No tédio, o ápice da vida
Pregue o fim da vida
O fim do ápice
O fim dos tempos
Pregue em suas têmporas,
Um em cada
Pregue suas costelas,
Os ossos, as moelas,
Através delas,
Pregue o sangue 
E a dor
Que é a única linguagem
Que lhe resta
Ou restou
Pregue um a cada minuto
Até cobrir o corpo
Até cobrir-se de inimigos
Até encher o recinto
De todas as pragas
Pregue-se à última ideia
A um conforto desesperado
A um puro desespero agonizado
Ou qualquer coisa crítica, aflita, vívida, explícita, obscena,
terrena e ácida
Mas não pregue os olhos.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

A corrida

Velozes os besouros furiosos zuniam aos gritos, passo que as vespas ameaçavam ferroar a todos e eram temidas por seus feitos; As abelhas gritavam como fortes mas não levadas a sério pois todos sabiam seu destino e que não cumpriam suas promessas de ameaças.
E ainda assim corriam no meio do caos e contribuíam com o pânico geral, enquanto os vagalumes acendiam seus traseiros irritantemente como flashers que me tentassem uma desfibrilação luminosa, agulhadas de enxaqueca, e em algum lugar perdida uma cigarra cantava me atordoando os ouvidos, eu quase não ouvia mais nada se não o som neutro daquela cigarra que não se podia enxergar... E então havia essa joaninha perdida no centro de tudo. Os insetos corriam em círculo como uma competição de fórmula um, corrida perigosa, e ela pensava "como vou escapar daqui?" Eu conseguia ouvir seus pensamentos. Eu ouvia todos os pensamentos daquela arena. E eu ouvi seu desespero em tentar sem sucesso encontrar uma saída, uma brecha, um plano de fuga sequer. Uma esperança de escapar. Até que surgiu uma mariposa. Ela grande e misteriosa. Não mostrava as suas asas abertas, não dava pra ver a sua idade, mas ela tinha uma aura de gente muito antiga. Ela se sentia assim, antiga. Saiu das sombras e deu um vôo tão rápido que ninguém conseguiu entender bem o que aconteceu segundos antes que a corrida desmoronasse e a joaninha tivesse a chance de escapar de lá. Eu fui com ela.

As camomilas

Não eram cigarros,
Eram pequenas flores,
Enganchadas em suas folhas-árvores, pinheiros natalinos
Noivas, em véus despedaçados,
Que refletiam a beleza mais pura da vida, do dia, a própria luz,
Me quer ou não, ser ou não ser
Desabrochar, ser um botão, ou
Viuvar-se de si
A alma exposta de todas
Um grupo de almas, um berçário de todas as idades

Da morte uma dose
Para suportar
E acalentar
A dureza da vida

O emaranhado de arames daquela casa crescia inevitavelmente.

Quanto mais podado, mais se fortalecia, uma erva daninha, hera venenosa tomando conta de tudo. 

Eram grossos, curtos e dourados.

Eram pontiagudos, como diamantes que nascessem lapidados.
Ela cheirava a morangos.

Era uma vez... uma garota porco-espinho.

Boneca de porcelana

Queria ter uma estante pra te colocar.

quinta-feira, 8 de julho de 2021

I don't take steps. I float around spaces with the energy of those who half-walk.

Bonedog - Eva H.D.

Recitado por Lucy em I'm Thinking Of Ending Things:

Coming home is terrible

whether the dogs lick your face or not;
whether you have a wife
or just a wife-shaped loneliness waiting for you.
Coming home is terribly lonely,
so that you think
of the oppressive barometric pressure
back where you have just come from
with fondness,
because everything’s worse
once you’re home.

You think of the vermin
clinging to the grass stalks,
long hours on the road,
roadside assistance and ice creams,
and the peculiar shapes of
certain clouds and silences
with longing because you did not want to return.
Coming home is
just awful.

And the home-style silences and clouds
contribute to nothing
but the general malaise.
Clouds, such as they are,
are in fact suspect,
and made from a different material
than those you left behind.
You yourself were cut
from a different cloudy cloth,
returned,
remaindered,
ill-met by moonlight,
unhappy to be back,
slack in all the wrong spots,
seamy suit of clothes
dishrag-ratty, worn.

You return home
moon-landed, foreign;
the Earth’s gravitational pull
an effort now redoubled,
dragging your shoelaces loose
and your shoulders
etching deeper the stanza
of worry on your forehead.
You return home deepened,
a parched well linked to tomorrow
by a frail strand of…

Anyway . . .

You sigh into the onslaught of identical days.
One might as well, at a time . . .

Well . . .
Anyway . . .
You’re back.

The sun goes up and down
like a tired whore,
the weather immobile
like a broken limb
while you just keep getting older.
Nothing moves but
the shifting tides of salt in your body.
Your vision blears.
You carry your weather with you,
the big blue whale,
a skeletal darkness.

You come back
with X-ray vision.
Your eyes have become a hunger.
You come home with your mutant gifts
to a house of bone.
Everything you see now,
all of it: bone.

Recitação de Jessie Buckley interpretando Lucy no filme:

https://youtu.be/KfT5NCALC-g

terça-feira, 22 de junho de 2021

Ovo triste

Tenho estado perturbada
Meus traumas me visitam, ficam,
Trazem companhia
Não requisitados, hóspedes invasores
Moradores de assalto
Me violentam
Revisitolentam
Meus cantos, meus pedaços ermos
Minhas partes íntimas
O que eu quero quieto e intocado
A mente que eu quero pura e inocupada
O que é meu.

Os traumas de outros me visitam
Com suas vidas cheias
Profundas
Carregadas
Do dia a dia, do tudo
Contrário ao meu nada, que deveria ser vazio
Mas meu nada é tão sufocantemente abarrotado
De gente, de caos, uma multidão correndo pro mesmo meio fugindo de um apocalipse zumbi
E eu lá no meio
Sempre no meio de tudo, me afogando
Meu nada é sempre cheio demais

Eu tento buscar uma distração
Não
Eu tento buscar uma atividade
Eu tento tentar um pensamento
Algo feliz que seja
Um mínimo
Um consolo no abrir de meus olhos 
Pela manhã
Eu tento desejar algo bom
Para não querer morrer logo cedo
Eu já não praticava mais isso
Mas de quedas e quedas vive o homem; 
a mulher, a pessoa, como se fala esses dias

Mas em minutos, 
Qualquer coisa que eu possa pensar
Se desanda como um bolo feito sem experiência,
Feito com muito cansaço, exausto
Acho mais uma ferida
Colo no meu álbum de figurinhas
Tiro mais uma lasca de couro do meu corpo
Penduro pra secar com as outras
E fico olhando, inevitável, minha coleção

Eu tenho sido triste 
E não consigo escapar
Da mesma armadilha onde pisei,
Mesmo que eu só precise, para isso, levantar o pé
E continuar andando

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Como una Flor - Francisco, el Hombre

Me agarré del pie de un dios y se cerró mi corazón
Fui de saco al trabajo y se cerró mi corazón
Me cambié a una casa pero ahí no quepo yo
No caben mis zapatos ni la luna ni el sol
Se cerró mi corazón

Me agarré del pie de un dios y se cerró mi corazón
Fui de saco al trabajo y se cerró mi corazón
Me cambié a una casa pero ahí no quepo yo
No caben mis zapatos ni la luna ni el sol

Me amarré una corbata y se cerró mi corazón
Me tapaba todo el pecho escondiendo un dolor
Me arranqué todas las ropas y entonces desnudo
Tomé en mis manos mi corazón y se abrió como una flor
Y se abrió como una flor

Me agarré del pie de un dios y se cerró mi corazón
Fui de saco al trabajo y se cerró mi corazón
Me cambié a una casa pero ahí no quepo yo
No caben mis zapatos ni la luna ni el sol

Me amarré una corbata y se cerró mi corazón
Me tapaba todo el pecho escondiendo un dolor
Me arranqué todas las ropas y entonces desnudo
Tomé en mis manos mi corazón y se abrió como una flor
Y se abrió como una flor
Y se abrió como una flor
Y se abrió como una flor

Somos humanos ou máquinas
Animais ou máquinas
Somos humanos ou máquinas
Não me enferruja a chuva iaiá

Somos humanos ou máquinas
Animais ou máquinas
Somos humanos ou máquinas
Não me enferruja a chuva iaiá

Somos humanos ou máquinas
Animais ou máquinas

Tomé en tus manos tu corazón
Y se vá abrir como una flor

Uma flor rasgou a rua
Desafiando a inércia cinza do ódio
Uma flor, uma flor minha e sua
Florescendo trouxe vida à rua

Soy mi propia luz, mi propria
Soy mi propria luz, mi propria
Soy mi propria luz, mi propria
Soy mi propria luz, mi propria luz

Dose - Jade Baraldo

Se você quiser, eu quero
Pode acontecer, espero
O amor quer me tomar
Quer me sugar, desnortear
De onde vem, não sei
Não sei

Tudo começou do zero
O amor é um mistério
Vai despir, vai engolir
Quando você se distrair
Pra onde vai, não sei
Já foi

Me arrisco só pra te ter
Beijo os seus lábios pela imaginação
Tudo que eu vejo é quase uma ilusão
Entro nos seus sonhos e me encontro nesse vão
É tudo tão na contra mão

Sinto o seu cheiro invadindo o meu colchão
Quase um desespero essa inspiração
Bebo dessa dose como uma boa poção
É quase que uma maldição

Tudo começou do zero
O amor é um mistério
Vai despir, vai engolir
Quando você se distrair
Pra onde vai, não sei
Já foi

Me arrisco só pra te ter
Beijo os seus lábios pela imaginação
Tudo que eu vejo é quase uma ilusão
Entro nos seus sonhos e me encontro nesse vão
É tudo tão na contra mão

Sinto o seu cheiro invadindo o meu colchão
Quase um desespero essa inspiração
Bebo dessa dose como uma boa poção
É quase que uma maldição

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Fé, lá

Andantes surgem fazendo barulho na minha janela
Eu desperto
De meu sono acordado
Meu corpo desperta
Sinto dores que não deveria sentir
Verdades que estou fingindo esquecer
Sinto meu corpo reagir
Sinto ele sofrer
E dopar-se,
Criando uma festa insossa
No meu paladar

Eu não sei explicar
Eu não sei para quem tentar
Algo está errado
Eu não sei se há o que fazer
Se aproveito o momento
Se me deixo morrer

Sinto que quero
Fechar meus olhos
E minha boca
E me deitar
Eu tenho muito a perder
Não é como das outras vezes
Mas esse muito não dá pra agarrar
Tem que correr muito
E correr

E correr


E correr



E correr

Pra alcançar
Pra tentar
Pra continuar a enxergar
Mas eu tô aqui
Correndo

E correndo

E correndo...

...




.




às vezes eu paro um pouco
 muitas vezes  
e não vejo mais nada


mas tá lá

terça-feira, 18 de maio de 2021

Chá de Boldo

Meus olhos não pregam

Como as mãos de cristo

Não sei se tento enxergar algum milagre

Ou só aceito como Buda ou algum sábio

De que outra maneira-?

Meus enormes negros, fundos

Olhos de coruja

A nova voz no meu sonar

Mais alguém em quem confiar...

E meus cílios como cola para postiços,

Colados nas pálpebras,

Arregalada

Laranja Mecânica

Me digo 

Que não desligue

Não desligue

Não, você não pode desligar agora

Mas ao deitar e implorar tudo está em pleno neon

Sigo acesa

E o caos e o caos e eu penso

O que fazer com este caos

Então me sento frágil

Forte

As duas simultâneas, juntas

Acordadas,

Sigo a descascar o caos

Como uma cebola que ardesse os olhos 

Mas dessa vez, mastigo as partes

Engulo

Uma após a outra

Após a outra

E após

Até que não me seja mais possível descamar

Em tamanha náusea, no passado

Alguém me daria um chá

Um chá de boldo, pra enjoar

E colocar tudo de ruim pra fora

Engulo o chá.

domingo, 9 de maio de 2021

Marie Kondô

Para Segurança é preciso limpeza e organização.


Então, te dou uma pá, dez sacos de lixo, uma vassoura piaçava muito usada, uma agenda e uma caneta funcionando.

Esqueço a garrafa cheia de álcool 70 na mesa e um ou três paninhos descartáveis, e talvez uns papeis para limpar a sujeira que a vida acumulou.

A gente volta pra buscar.

Um ventilador, uma máscara. Um celular tocando música. 

O celular interfere e você sabe.

Não vem ninguém te socorrer, pare de esperar na porta.


Visitas são perigosas. Você não quer isso.


Precisamos limpar essa vida inteira. Temos muito trabalho a fazer.

Como achar o caminho de saída no meio dessa bagunça?

Nosso quarto não tem janelas.

Nossas coisas estão desempacotadas.

Você lembra como costumava ser. Segue as antigas regras.

Mas como?

Joga todo esse lixo fora.

Eu não sei fazer isso, eu não sei.

Eu me sinto tão sem nada que esse lixo é tudo que eu tenho.

Quase ter coisas é quase ter pessoas, é fingir que eu tenho alguém. 

Objetos pra mim são os pedaços das pessoas. Como jogar pessoas no lixo?

Como?

Eu sinto falta dele.

Ele curou tudo.

E foi embora.

Agora eu só tenho o desespero.

O desespero puro, o desespero.

Eu vou morrer aqui

Eu vou morrer aqui

Eu vou morrer aqui

Eu não suporto mais

Eu não suporto mais

Eu não suporto o pavor e como estou aterrorizada

O desespero

O panico

Eu vou morrer aqui

Ele vai me matar

Vai me quebrar toda

Me colocar no hospital

Ele vai me matar de tanto bater

E talvez eu mereça

Talvez eu mereça

E tudo que eu faça me leve a apanhar até morrer

Eu não tenho como sair

Não importa o quanto eu limpe

Eu estou suja demais

Eu sou suja demais

Minha vida é suja demais

Desintegrada demais

Muito apocalíptica

Para ser organizada

Eu to condenada

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Corvos

Um olho gigante me observa no escuro

Arregalado, me engolindo

Colado na minha retina 

ofuscando a habilidade de se fecharem as pálpebras

Aquilo me vigia

Eu sou um mar de culpa e crimes, 

Um maremoto, 

A maresia

Eu preciso quebrar no fim da onda

Na beira, na areia

Na borda

Eu preciso quebrar.

No escuro da noite eles comem

E no silêncio da carne desmaiada

Do surdo e do mudo

Da perda de todos os sentidos

E do infinito nada do não-átomo da antimatéria 

Pulsa e pulsa e pulsa como uma maratona que pairasse entre morte e vida

E tento ter olhos para ver

Pele para sentir

Alma para existir

Tento abrir os olhos 

Mas sou um não-átomo do átomo

Do que formou o mundo e o equilíbrio da forma

Não enxergo um átimo, 

Não o percebo

Se não o reflexo dos olhos grandes elétricos 

e a fome das bestas

O tempo e o mundo, se existem, em outro plano

Eu e eles aqui e escolho o ciclo.



sábado, 10 de abril de 2021

Segredos

Tremo sob os degraus de uma possível sobriedade

Como um sanduíche de pão velho com molho de ontem à noite

É de manhã

Me invadem

Não sei de meus pensamentos

Agora estou a mil

Ando pela sala

Pelos cantos

Não sei para onde vou ou o que estou ouvindo

Estou acelerada e distante

Não estou aqui

Me invadem

Não sei das circunstâncias

Não sei se quero saber 

Queria o nada

O nada

O meu nada

Onde meus pensamentos eram a tinta

E eu era o branco

Eles me sujam

Eu tremo e

Sinto desgosto

Quero tremer em silêncio

domingo, 4 de abril de 2021

Cobras

Odeio

quando

você

finge tenta

ser 

minha

amiga

.


Assassinaram a liberdade dos meus pensamentos

Sou uma rocha em pontas despencando em giros

Quinas e saltos ao longo de um morro sem fim

Me ralo e deformo, imagem volátil, circular de mim 

Eu quero um minuto de silêncio

De paz, de alegria, de 

Não precisar ser tanto

Um descanso

Um não precisar fazer

Você sabe o quê

Você entra e me enche de veneno

E eu não sei como

Não faz sentido

Você deveria ser berço

Mas eu só vejo cobra 

Eu me cubro, um escudo improvisado

Mas não tenho para onde fugir 

Do seu abraço


Não ilha, Atlântis

 Me debruço sob o mármore da janela

Fucinho na brisa gelada, pelada

Como um cão de apartamento buscando ansioso a fuga

Uma criança enrolada em sua toalha pequena 

E o lago na sala

Eu sou uma sereia à luz do luar

Buscando o mar

Com meus cabelos molhados

E me escorre o ouro pelos dedos

É tudo tão efêmero

O ar é tão seco, para ser tão fresco

Me racha

Me humanizo

Granizo,

No lugar de chuva ou oceano

E minha cauda, minha capa

Me escondo

Do quê?

De quem?

Por que a criança chora?

E se ela bebe um copo d'água, por que

A fuga continua?

Tomo ar milhares e milhares de vezes

Incessantemente 

Afundo, âncora

Chumbo

Cidade submersa

Oceano puro

sexta-feira, 19 de março de 2021

Pinduca, consanguíneos e o coral

O dia nasce, 

eles gritam

Eu penso que é você

Na minha janela

Gritando pra mim


Você foi embora,

mas ficou aqui

E ficou tanto que não me deixaram 

trazer outro para te substituir


Pelo menos assim eu poderia dizer

Que você voltou pra mim

Renasceu das cinzas

Reencarnou

Que era você de novo, no outro

Que você veio atrás de mim para me proteger


O dia nasce, eles gritam

Eu tento descobrir 

se é você voltando pra mim

Ou se ainda estou esperando você partir



sábado, 13 de março de 2021

Inconsequência

Às vezes, fazer as coisas como se não houvesse amanhã

É ter fé

Nas soluções e no que virá

Às vezes,

Fazer as coisas como se não houvesse amanhã

É tentar fazer

Com que não aconteça o que você acredita que está prestes a acontecer

É ter fé que o fim nas suas ações de alguma forma findará o fim das ações que a sua fé crê que findarão.

Às vezes, fazer as coisas como se não houvesse amanhã

É não ter amanhã

E fé

Apenas na falta do amanhã.

sexta-feira, 12 de março de 2021

Corpo

Lavo meu cabelo com álcool 70

Minha unha vira ao contrário enquanto eu tento me limpar

Passos rápidos, pelada pela cozinha

Torcendo para ninguém me notar, mas

Sigo nessa competição sem nexo

E tenho pedido atenção, como fosse fazer diferença

E decidi me omitir, pois não quero que me notem nua pela cozinha

Digo,

Ao contrário, suja, 

O cheiro que me sobe dos poros e 

A casca que raspo para manter-me achável,

Tolerável, tragável, 

Ma nu se á vel

Me tranco num quarto escuro da mente

Um quarto calmo

Um quarto de morte

Durmo infinitamente

Mas levanto às vezes, pra alimentar o corpo.


quinta-feira, 11 de março de 2021

Quase

Deixei um texto pela metade

Minha vida pela metade

Meus dias sem lavá-los

E as horas, os quadros, os restos jogados no chão

Por todo o chão

Por todo lado

Metade do quarto

Metade de mim

Me sinto um coral

Arrebentado

Pelos rebotes do mar

Macerada, embotada 

Pela força divina das águas

E da seca das nascentes

Da morte de todas

De ambas as minhas metades

E minha cauda

E meu pó

Fechei meus olhos

Porque era março

Um mês qualquer pra se morrer em vão

E eu estava assim por dentro

Partida, ferida

Triste

Deprimida.


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Veneno

 Eu não posso ser eu

Porque ser eu é ruim

Por isso eu tomo veneno para me trancar no calabouço