quarta-feira, 30 de outubro de 2013

sábado, 26 de outubro de 2013

Paz temporária

   Há uma brecha no espaço-tempo que me permite finalmente estar em paz. Por um tempo programado, sem uma gota de álcool, e a tal ponto que não me lembra de precisar ser alimentada. Uma ausência bizarra e confortável de mim mesma, e toda a insegurança que me habita como um caracol habita sua concha.
   Aquela paz que se assemelha ao sexo.

Como vocês esperam que eu saia dessa maldita caixa?

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Palavras são como prostitutas. Seus corpos já estiveram em muitas mãos e em muitos pensamentos, e por isso alguns as consideram banais. Ou até mesmo inferiores. Mas sempre há os que vão amá-las por não encontrarem conforto em nenhum outro lugar.

Eles que disseram

   Disseram-me que eu tenho um dom. Que minha prosa é agradavelmente incomum. Mas fiz uma promessa ao meu espelho, de não acreditar em nada do que eles me dizem ser bom. Um medo preocupante de ser suficiente, de bastar. Quando é o que eu digo desejar, constantemente. Paradoxos lentos, cansativos, tediosos.
   Convenceram-me de que minha singularidade é o desenho das palavras. As ordens, associações e pensamentos deturpados sobre a vida, e principalmente sobre mim. Tudo mergulhado em um certo egocentrismo e um narcisismo inverso. E a vida já começa a perder a lógica.
    Faltou-lhes o aviso de que eu sou a prata envolta em vidro. De que sou apenas reflexo de todo o mundo que eu invejo e que me soa inalcançável. Desenho porque outro alguém desenhou. Escrevo apenas porque desejava ser capaz de tanto. E isso realmente não me faz talentosa. Especialmente quando todo o meu sentido vem de fora. Porque alguém já o fez antes.
    Alguém com um defeito no quesito sanidade, até chegou a me dizer que eu poderia (e deveria!) ser famosa. Mas por esse lado eu sou até um tanto humilde. Queria que apenas alguém entendesse sobre o que eu ando escrevendo. Não que me achasse talentosa, ou que admirasse alguma história. Na verdade eu escrevo porque gostaria que alguém me conhecesse lá de dentro. Porque seria bom alguém bem perto. Alguém que só quisesse estar ali. Perto de mim e das minhas palavras tortas.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Mas que porra?

    Ah, eu estava tão feliz... Essas malditas reviravoltas emocionais. Euforia, depressão e o surto psicótico agressivo com o qual eu recomeço o ciclo. A minha autoestima deu defeito e ninguém sabe como consertar. Ah, meu amor. Você sabe que eu preciso mesmo de alguém pra chamar de amor... Alguém que me entenda. Alguém que me entenda de verdade, cara. E eu tive uma vez. Mas desconfio que ele nunca me entendeu de verdade. Quem me entende? A questão não é simplesmente saber que eu sou uma menina mimada e covarde. A questão não é saber que eu preciso sempre de sexo e que eu sou carente. E a questão não é saber que eu sou chegada ao sadomasoquismo, serial killers e coisas meio dark. E pra falar a verdade, também não é sobre como eu sou maluquinha ou sobre minha tendência a ficar triste ou ser escandalosa e agressiva. O que eles todos não sabem é que boa parte disso são só reputações que eu preciso manter. Como a minha vontade incansável de comer. E como eu abro mão da vontade de ser autêntica para ser bonita magra? Tem algo muito errado por aí. Quem quer me entender (não, isso não existe) precisa entender quem eu nasci. Precisa ver quem eu era quando bebê, quando criança, e quem são meus pais. Quem realmente são meus pais pra mim. E não essa coisa toda que eu falo sobre como eles são egoístas e como eu não devo satisfação pra ninguém. Quem quer me entender precisa me dizer (apenas uma vez!) sobre como eu gosto da minha mãe e como ela deve estar preocupada comigo. Quem me conhece sabe que eu odeio muito ordens, e que não acho que as pessoas podem regular a minha vida. E aí alguém precisa entender que eu sempre fui boa, e sempre quis as coisas boas pra mim e para todo mundo. Eu sei muito bem abrir mão do que importa pra mim quando quero o bem de alguém (ou talvez eu seja masoquista). Eu sei ser boa mesmo dizendo que já não acredito em nada, em ninguém e muito menos em mim.  Alguém que leia os meus textos. Alguém que possa interpretar a minha agressividade como uma necessidade desesperada de atenção. Alguém que não brigue comigo por querer atenção. Ora, que há de mal nisso?
   Realmente ninguém entende que eu preciso tanto ser entendida... Preciso de alguém que diga "eu sei como é isso, às vezes eu também não quero sair do casulo". E que me convença de que não é tão ruim assim, que eu consigo. Mas não, esses seres estúpidos insistem em brigar comigo e jogar na minha cara o quão ruim eu sou por decepcionar todo mundo e só me importar comigo mesma. Por que precisa ser assim? Pressionar não é bom.
    Ó, céus! Agora uma paz triste e uma vontade sonolenta de me dissipar. Desaparecer no ar e fazer meu cérebro dormir. Quem sabe pra sempre? Ah, essas oscilações de humor...

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Declarações.

"- Te amo.
- Te amo."

"- Ok.
 - Ok."

"- Oi.
 - To."

Mania n° 11: Cantar no meio da rua (no metrô, no mercado, no shopping, no táxi... e em qualquer outro lugar).

Mania n° 10: Viver sentada no chão por aí.

Mania n° 9: Demorar demais no banho (fazendo diversas coisas).

Mania n° 8: Viver adverbiando os substantivos.

Um tolo soluçando.

   Te ver hoje tão soluçantemente rubro me partiu o coração. Eu juro. Estava por um fio, a ponto de desandar a chorar contigo. Porque você precisava de mim? Será que precisa? O problema é que a confiança é a base de tudo (frase clichê, eu sei, mas é verdade). E irrecuperável. Especialmente quando se trata se gênios fortes e instabilidade emocional. Eu cometi dois maiores erros na minha vida. Bom, pelo menos foram dois relacionados a você. O primeiro foi te deixar (e acredite, eu o teria feito outra vez do mesmo jeito). O segundo foi te apresentar a ela (esse extremamente desnecessário, eu mudaria). Mas como eu poderia imaginar que chegaria ao ponto de odiá-la tanto? Não se espera esse tipo de sadismo de si mesmo. Eu esperava conseguir resgatar a minha inocência otimista, e não desenvolver o meu lado assassino brutal. Tá cada vez mais difícil, amor. "amor." Inexistente. No meu dicionário não consta.
   A questão é que hoje se tornou ainda mais forte a minha decisão. E cada dia tem sido. Você disse que não queria precisar de mim, então não precise. Disse que não me queria nos momentos ruins, se eu não o quisesse nos bons (diga-se de passagem, depois de me dizer que não queria mais que eu o quisesse). Não me parece justo você sentir minha falta agora. Entenda, você teve sua chance. Você escolheu. Me desculpe se eu sou mais forte que você. Me desculpe se eu preciso disso para sobreviver. Aliás, não me desculpe de porra nenhuma. Eu quero mais é que você suma da minha vida. Para sempre. Quero que suma dos meus pensamentos (e isso não é lá muito difícil de conseguir, já que tenho memória fraca a longo prazo). E que eu esqueça que um dia a conheci também.
   Ah, querido. Deixe de ser tão patético. Fuja de casa, faça qualquer merda, mas não me dê um abraço incômodo de meio século para depois passar um tempo inteiro de aula chorando de soluçar. E depois dizer que não vai contar a ninguém o porquê de estar chorando. Estou cansada de você. Muito cansada. Some de vez. Por favor, desapareça. E vê se aprende alguma coisa com a vida, viu? Em vez de só me dizer que eu tenho que aprender com a minha. Vê se cresce por dentro, e não só na parte ruim.

Curioso perceber que enquanto eu tinha medo que você não fosse mais meu, ela já tinha te roubado e enfeitiçado havia muito tempo.

A  decisão foi mais por mim que por você. Estava tudo tão claro. Você já era dela. Todo dela.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Texto número 375 (ou mais)

   Vou falar sobre você, porque já não tenho mais o que dizer. Porque foi você que agora resolveu se instalar na parede do meu estômago. Mas contra as expectativas, a comida ainda tá me descendo legal. Não é que eu não queira chorar de vez em quando, não me entenda mal. Ainda sou essa manteiga derretida que vive da dramaticidade. Mas é que eu estou realmente decidida dessa vez. A ponto de começar a confundir o que me fazia falta em você. Será que era a euforia do meu ponto G, ou quando você me acalmava de um surto psicótico? Só tenho certeza que sinto falta de te machucar. Isso a gente não encontra em qualquer canto. Seu masoquismo era às vezes uma espécie de entorpecente para a minha alma. Você foi realmente muito mau comigo. Mas eu acho que o que realmente me faz falta é a ideia de ter um namorado. De ter alguém que se importa mesmo. Alguém que me coloca em primeiro lugar e que cuida de mim. É uma ideia meio deturpada, aprendida em muitos filmes não-nacionais que meninas assistem com mais frequência do que deveriam. Mas me faz falta. Ah, romântica incorrigível. Obsessiva e viciada em prazeres físicos. Sou abominavelmente eu, querido. E agora, eu sem você na minha vida. E você nem vai se dar ao trabalho de ler o texto número 375 que eu escrevi pra você. Não que você tenha lido os outros 374. Você não se importa com o que é importante para mim. E isso doi. Porque provavelmente eu nunca vou encontrar o que eu vi naqueles filmes idiotas. Porque nem existe. E talvez nem mesmo eu exista nesse mundo tão sobrecarregado (luto contra a minha terapeuta para existir, eu juro).
   Amor, você nunca entendeu minha filosofia. Nem minhas estranhezas, nem meus sentimentos. Você nunca entendeu minhas necessidades, e provavelmente não entenderia como agora eu não preciso de você. Mas em algum lugar, te quero. E se tudo correr bem, não por muito tempo. E de alguma forma, essa minha decisão ainda me incomoda. Não sei mesmo como você pôde se deixar levar por essa ladainha venenosa, mas quem sou eu pra dizer quando fui a mais intoxicada? Eu sinto muito que você tenha que ir. Sinto mesmo. Mas não há outra saída, se não me livrar do que me atormenta. E vocês dois me atormentam mais que os meus demônios de 2011. Sinto muito que tenhamos os três nos tornado quem nós somos. E, adeus.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Nós

[...]
Eu... sei que me disseram por aí
E foi pessoa séria quem falou
Você tava mais querendo era me ouvir cantar por aí
Eu... sei que você disse por aí
Que não tava muito bem seu novo amor
Você tava mais querendo era me ver passar por aí.

Trecho de Nós,
[...]

Trecho de Nós, de Tião Carvalho, na voz de Cássia Eller.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Talita being Talita

- E se você me matasse?
- Oi?
- E se você fosse meu assassino? Digo, como naqueles livros de serial killers, ou amantes obsessivos. Seria tão bonito...
- Eu não teria coragem.
- É, eu sei. Mas e se eu te obrigasse? Tipo colocar uma faca no seu pescoço e te mandar me matar?
- Você tá com aquele olhar de novo.
- Sei...
- ...
- Me mata?
- Não.
- Por favor.
- Não.
- Me mata!
- Não.
- Por que você é tão mau comigo?
- Eu poderia dizer o mesmo.
- Se eu sou assim tão má, você devia me matar.
- Não vou te matar, desiste.
- Então pelo menos me machuca.
- Vai se sentir melhor se eu te machucar?
- Vou. Bastante.
- Tá bom, então.

- ...

- ...

- Não vai me machucar?
- Podemos fumar um cigarro antes?
- Sim, podemos. Mas por quê?
- Não gosto de te machucar.
- Ah.

- Mas eu te amo.
- É.
- Muito, até.
- Não deveria.
- É, querida, eu sei.

- Cadê o cigarro?

Heart

 Vou amar a todos eles, e fingir que já não sonho. Fingir que já não me importo, e que já não te desejo. Vou amar a todos eles, e até odiar alguns, mas a minha cama sabe quem eu moldo em minha mente. E pesas sobre o meu corpo sempre que me sinto só. Sussurro alguns versos soltos, e te peço pra ficar. Adormeço delirando com a imagem de teus dedos. Carinhosos, sedutores. Meu querido, sabes que é por ti que meu coração tão negro bate. Bate lento, sombrio e decadente. Sinto os olhos assassinos do teu ser invisível frente a mim.
 És a mais real das mentiras que eu me conto. Minha mentira preferida. Aquela pela qual morro de amor.