quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Antrax

Eu fracassei.

Desde meu fígado,
Aos prantos,
Ao meu pulmão
Cauterizado-
Eu fracassei em tomar banho
Manter-me limpa de mim
De minhas desesperanças
E desejos desgraçosos

Fracassei em escovar os dentes
Passar fio dental
Acordar pela manhã
Dormir pela madrugada
E sobretudo na exaustiva tentativa
De encontrar um sentido pra viver.

Não tentei.
Por um dia, deixei passar,
Vi se acumularem em meu quarto
Os restos empoeirados
Meu antrax,
Pedaços de alimentos,
Objetos perecíveis,
Roupas contaminadas
De mim,
Da minha sujeira,
Do meu descaso e tristeza
E meu quarto agora carrega
O cheiro morto da minha alma.

Eu não cumpri com meus deveres,
Não fui pontual,
Não organizei minhas coisas,
Estendi a roupa no varal,
Eu não lavei uma louça,
Ou economizei dinheiro,
Ou fui gentil.

Eu desabei no chão da sala
Com aquela garrafa de bebida
Que espatifou dentro de mim
Mastiguei o tabaco cru de meus cigarros
Igual se fosse a carne crua da vida
Da morte e da violência
Da minha vontade de morrer.

Não tenho gosto por isto
Por esta vida vazia
Tudo que sei é pútrido
Corrosivo e doente
Tudo que sei está morto,
Como eu,

Em 30 dias
Deixei de existir.

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