domingo, 9 de maio de 2021

Marie Kondô

Para Segurança é preciso limpeza e organização.


Então, te dou uma pá, dez sacos de lixo, uma vassoura piaçava muito usada, uma agenda e uma caneta funcionando.

Esqueço a garrafa cheia de álcool 70 na mesa e um ou três paninhos descartáveis, e talvez uns papeis para limpar a sujeira que a vida acumulou.

A gente volta pra buscar.

Um ventilador, uma máscara. Um celular tocando música. 

O celular interfere e você sabe.

Não vem ninguém te socorrer, pare de esperar na porta.


Visitas são perigosas. Você não quer isso.


Precisamos limpar essa vida inteira. Temos muito trabalho a fazer.

Como achar o caminho de saída no meio dessa bagunça?

Nosso quarto não tem janelas.

Nossas coisas estão desempacotadas.

Você lembra como costumava ser. Segue as antigas regras.

Mas como?

Joga todo esse lixo fora.

Eu não sei fazer isso, eu não sei.

Eu me sinto tão sem nada que esse lixo é tudo que eu tenho.

Quase ter coisas é quase ter pessoas, é fingir que eu tenho alguém. 

Objetos pra mim são os pedaços das pessoas. Como jogar pessoas no lixo?

Como?

Eu sinto falta dele.

Ele curou tudo.

E foi embora.

Agora eu só tenho o desespero.

O desespero puro, o desespero.

Eu vou morrer aqui

Eu vou morrer aqui

Eu vou morrer aqui

Eu não suporto mais

Eu não suporto mais

Eu não suporto o pavor e como estou aterrorizada

O desespero

O panico

Eu vou morrer aqui

Ele vai me matar

Vai me quebrar toda

Me colocar no hospital

Ele vai me matar de tanto bater

E talvez eu mereça

Talvez eu mereça

E tudo que eu faça me leve a apanhar até morrer

Eu não tenho como sair

Não importa o quanto eu limpe

Eu estou suja demais

Eu sou suja demais

Minha vida é suja demais

Desintegrada demais

Muito apocalíptica

Para ser organizada

Eu to condenada

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