segunda-feira, 10 de abril de 2023

Altar

A minha memória escassa
Do teu peso quente
Molhado, me escorrendo
Me prensando contra mim
Me ralando, um descascador de legumes
Dos que eu usava quando nova
E fatia por fatia, me trazendo de volta
Pra me mostrar como que eu nasci
Por quê eu nasci

Mas me empurrando enquanto me lembra
De como eu vou acabar:
Com o chumbo do mundo
(como o teu)
Forrando meu fim.

Penso que talvez nunca devesse tê-lo conhecido
Encontrado, me despido
Entranhado seus giros e cíngulos
Por regalia de criança, por egolatria
Sinto que devia tê-lo deixado ser
E poupado-me do vislumbre
Da verdade do corpo
Que talvez vá muito além do sim e do não

Mas de que me servem esses pensamentos
Se meu corpo já foi seu
Eu já fui sua
E você já foi meu

E por mais que minha amnésia vá apagar a isso,
Como a todo o resto
Essa memória é perene
Eu te amei
E você me mostrou todo um universo

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