sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Analgesia fúnebre

    Sentamos lado a lado e olhamos o nada pensando no mesmo, pensando no silêncio. E ao abrir a boca, somos apenas mentiras, e um joguinho sujo fetichista, no qual somos terrivelmente viciados. Tudo se resume a palavras bestas. Lógicas, e metáforas. Dançamos fatalmente pisoteando a nós mesmos, em prol de uma superioridade forjada. No silêncio não pensamos na verdade, porque esta é extremamente perigosa, e sabe-se lá quem pode ler os nossos fracos pensamentos. A verdade não existe. Só existe a dúvida. E assim, somos quem precisamos ser, somos quem é capaz de nos dar mais orgasmos. Orgasmos da mente, e nossos sonhos depravados. A humanidade adoeceu. E nós realmente não somos doentes. Ou talvez sejamos os mais doentes de todos.
    Sentamos e quebramos vários ossos. A violência supera o sexo, e a sutileza paira soterrada, em estado de choque. As carnes pegam fogo, e os gritos ninam as criancinhas indefesas entre nós. Somos a morte. Prédios, e casas, e escadas de emergência. Parques, e praças, e academias podres. As pessoas, os bichos e as plantas. Tudo desmorona, e se corroi ao nosso redor. Nosso veneno é tamanho que tudo se esgota. And we know we're gods. Analgesia. Nem se o próprio sangue escorrer em nossa pele, fará alguma diferença. Nem mesmo se for nosso.
    Enquanto o mundo acaba, somos só palavras. Sussurros obsessivos e conflitos que não falam o que dizem. A sensação da euforia e do poder é maior que tudo, é maior que o mundo, é maior que nós. Dispostos a promover a tragédia em cada coração. A gritar verdades ensandecidas a cada mente fraca. E até a torturar por diversão.
     Psicopatas brincando de confissões tão mórbidas quanto ingênuas. Tão cruamente inocentes. Tão quaisquer e tão vazios, que não nós. E nem ninguém.

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