quarta-feira, 20 de março de 2019

Noite

Meus lábios meio dormentes, meio mortos
intoxicados e transtornados,
invadidos por algum monstro bêbado que puxei pra perto;
As mãos me violando as roupas íntimas,
o hematoma nascendo nos seios
e as unhas sujas, mal cortadas
tentando me partir em duas por dentro da calcinha
amarelada de urina
do banheiro sem papel ou sabonete
com cheiro de vodca vomitada;
Meus cabelos lacerados,
ímpeto destrutivo:
nunca vou me torná-la;
Maquiagem borrada, suada, falha,
batom desbotado dos copos, marcados, latas,
bordas vermelhas, pisoteadas no chão, lameado;
Ponto circular corroído na saia emprestada,
do décimo cigarro da noite,
isqueiro dentro do maço, maço na mão,
pulmões comprometidos;
Pés estraçalhados,
dedos moídos,
garganta seca, voz danificada,
sentada na escada,
num canto qualquer, sentindo uma brecha,
uma brisa, um pedaço de lua,
uma tristeza profunda,
um desespero surreal.

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