sexta-feira, 17 de março de 2023

Frequência

Minha mente passa tanto tempo
aos berros 
que há muito eu havia esquecido
que vivo em constante silêncio
Estou quase sempre nua
porque me incomoda essa indespível
segunda pele 
que me tapa as genitais e que
me abafa por dentro
E quase não percebo
Queria pintar minhas unhas de rosa
e cortá-las curtas
Mas não tenho forças, ou acetona
não tenho o esmalte neon necessário 
E mesmo que o tivesse
Eu desenho pinturas 
que nunca vão chegar no papel
escrevo textos nas gotas de vapor do chuveiro
Na efemeridade de mim
De só existir dentro de mim
E sei que tudo que eu fizer será em vão
mas nem mesmo tento
Não tenho vida para tanto
Tenho passado toda uma vida a conversar com os espíritos
A conversar com as paredes
A conversar com o vento
E enfim percebo que tenho passado
Toda uma vida calada
Sem que ninguém me ouça
Porque mesmo quando falo
Minha voz é um eco que some
Na imensidão do nada
Do deserto de ser eu
Uma única, extraterrestre
Que nunca estive na ilha
E nem fui a ilha
Eu fui uma antena quebrada
Tentando transmitir milhares e milhares de mensagens
Pra milhares e milhares de pessoas
Que nunca vão receber
Mesmo do meu lado
Mesmo me tocando.

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