aos berros
que há muito eu havia esquecido
que vivo em constante silêncio
Estou quase sempre nua
porque me incomoda essa indespível
segunda pele
que me tapa as genitais e que
me abafa por dentro
E quase não percebo
Queria pintar minhas unhas de rosa
e cortá-las curtas
Mas não tenho forças, ou acetona
não tenho o esmalte neon necessário
E mesmo que o tivesse
Eu desenho pinturas
que nunca vão chegar no papel
escrevo textos nas gotas de vapor do chuveiro
Na efemeridade de mim
De só existir dentro de mim
E sei que tudo que eu fizer será em vão
mas nem mesmo tento
Não tenho vida para tanto
Tenho passado toda uma vida a conversar com os espíritos
A conversar com as paredes
A conversar com o vento
E enfim percebo que tenho passado
Toda uma vida calada
Sem que ninguém me ouça
Porque mesmo quando falo
Minha voz é um eco que some
Na imensidão do nada
Do deserto de ser eu
Uma única, extraterrestre
Que nunca estive na ilha
E nem fui a ilha
Eu fui uma antena quebrada
Tentando transmitir milhares e milhares de mensagens
Pra milhares e milhares de pessoas
Que nunca vão receber
Mesmo do meu lado
Mesmo me tocando.
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