domingo, 24 de março de 2013

Pensar talvez não seja uma dádiva

     Talvez estejamos todos tão desesperados e tão aterrorizados ao passo que nos é dado esse excesso de informações, e nele incluídos diversos, e infinitos paradoxos sobre quem devemos ser, que acabamos por querer e necessitar essa alienação forçada e produzida por nós mesmos, onde nos permitimos absorver superficialmente qualquer tipo de informações e escoá-las pela válvula de escape por onde saem também lascas de nossa essência sorrateiramente. Estamos todos tão vazios que somos obrigados a tratar nossas diversões obsessivamente para que elas sejam maiores do que a tal válvula e não nos escapem desapercebidamente.
     Todos esperamos inquietos o encontro com a felicidade e com o amor, sem saber ao certo onde aprendemos a buscar tais importâncias. Nos dizem que tudo que sabemos nos foi ensinado, e que devemos nos libertar dessas ideias fixas que nos "enfiam guela abaixo". Mas ao nos dizerem, tentam também nos ensinar alguma coisa, e isso gera uma desconfiança total no mundo, e uma desesperança insuportável de que exista mesmo a possibilidade de que fiquemos todos bem. As definições não são confiáveis, e nos isolamos em busca de uma verdade que não acreditamos tão fielmente que exista. E quando gritamos porque tamanha confusão já não nos cabe, nos dizem que devemos fugir de tudo. E se fugimos, a confusão nos persegue e nos afoga. Talvez seja mais simples lidar com sentimentos mais primários. Com instintos animais, selvagens, que lidar com tamanho avanço de intelecto. Talvez por isso sejamos tão obcecados com comida e sexo. E talvez por isso, precisamos de imagens belas e de música. Lidar com os sentidos sem ter a necessidade obrigatória de descrevê-los, de defini-los ou de explicá-los, pode trazer uma calma inigualável, especialmente se esses sentidos são tocados tão sutilmente e sem interferência da confusão externa.
    É praticamente impossível tomar decisões, ao receber tal avalanche de conselhos, logo após condicionados a não pensar, e sim obedecer, por tudo ao nosso redor, começando com nossos pais. O excesso é nossa realidade, por mais que essa palavra seja insuportavelmente ambígua, ou vaga. A falta de conclusão que somos nós e que é o mundo é sufocante. Somos cíclicos, e aí encontro um conflito doloroso com minha permanente necessidade e aversão a mudanças. Pontos de interrogação e pontos em trio nos envolvem em meio ao que nos é dito além do que desejamos saber. Como contornar essa insatisfação que sentimos, essa insuficiência imutável que vemos em tudo que chega? Ah, queridos. Somos todos apenas humanos. O que nos falta é o esquecimento.

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