sábado, 30 de março de 2013

Fio

       Sentou-se na janela como de costume. Para ela nunca bastou olhar o mundo de dentro. Aliás, o que ela mais apreciava na janela era uma sensação que se perdia entre o poder e o perigo. Quanto mais alto melhor. Em certo momento, se sentiu acompanhada, como se alguém estivesse a envolvendo. Não era um espírito ou coisa parecida. Era uma espécie de sentimento, do qual ela sentira falta por um bom tempo. Era mais um daqueles que ela era incapaz de nomear. Ela podia fazer uma lista de nomes de pessoas que podiam representar aquele sentimento, mas parecia impossível definir. Um nome especial a marcava mais, mas ela permanecia em dúvida. O nome soava em sua cabeça sistematicamente. Ele a fazia tão bem... Tanta gente a fazia bem. 
         A poesia pairou no céu. Ela quis pular da janela para talvez alcançá-la, e talvez morrer. Mas e se sua queda fosse amortecida por algum colchão intruso? Isso costumava acontecer com ela. Todos interferiam em seus planos. Sussurrou aquele nome persistente. Várias vezes o repetiu quase hipnoticamente. Como podia ser tão difícil para ela escolher pessoas? Ela simplesmente queria todas elas. Todas as pessoas, todas as histórias e todos os sentimentos. 
        O clima era bonito. A temperatura noturna era perfeita. Combinava com seu estado de espírito. Ela sentiu falta da companhia física do dono daquele nome. De alguma forma ele ainda não parecia se encaixar na sua vida. Era uma presença um tanto anômala em seu faz-de-conta. Ainda sim, ela podia sentir nos dedos a beleza das memórias que ele construia com ela. A saudade pesou de maneira inacreditavelmente confortável. Como poderia admitir perder aquilo? Se perguntou o porquê de a poesia ser coisa tão fugaz. Ao passo em que era difícil se manter calma, uma monotonia colorida pairava sobre ela, de maneira que ela parecia estar em algum sonho bonito. Impossível deixar a vida mais bonita. Ela o queria para ela. Com nome, certificado e algum feitiço de livro que tornasse perpétua aquela felicidade cega. Era pedir demais, não era? Ela não o pediria. Só queria um pouco de felicidade... Acreditou nisso, e decidiu não pular dessa vez. Sentou-se no chão frio e adormeceu. Descoberta.

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