Sentou-se na janela como de costume. Para ela
nunca bastou olhar o mundo de dentro. Aliás, o que ela mais apreciava na
janela era uma sensação que se perdia entre o poder e o perigo. Quanto
mais alto melhor. Em certo momento, se sentiu acompanhada, como se
alguém estivesse a envolvendo. Não era um espírito ou coisa parecida.
Era uma espécie de sentimento, do qual ela sentira falta por um bom
tempo. Era mais um daqueles que ela era
incapaz de nomear. Ela podia fazer uma lista de nomes de pessoas que
podiam representar aquele sentimento, mas parecia impossível definir. Um
nome especial a marcava mais, mas ela permanecia em dúvida. O nome
soava em sua cabeça sistematicamente. Ele a fazia tão bem... Tanta gente
a fazia bem.
A poesia pairou no céu. Ela quis pular da janela para
talvez alcançá-la, e talvez morrer. Mas e se sua queda fosse amortecida
por algum colchão intruso? Isso costumava acontecer com ela. Todos
interferiam em seus planos. Sussurrou aquele nome persistente. Várias
vezes o repetiu quase hipnoticamente. Como podia ser tão difícil para
ela escolher pessoas? Ela simplesmente queria todas elas. Todas as
pessoas, todas as histórias e todos os sentimentos.
O clima era bonito. A
temperatura noturna era perfeita. Combinava com seu estado de espírito.
Ela sentiu falta da companhia física do dono daquele nome. De alguma
forma ele ainda não parecia se encaixar na sua vida. Era uma presença um
tanto anômala em seu faz-de-conta. Ainda sim, ela podia sentir nos
dedos a beleza das memórias que ele construia com ela. A saudade pesou
de maneira inacreditavelmente confortável. Como poderia admitir perder
aquilo? Se perguntou o porquê de a poesia ser coisa tão fugaz. Ao passo
em que era difícil se manter calma, uma monotonia colorida pairava sobre
ela, de maneira que ela parecia estar em algum sonho bonito. Impossível
deixar a vida mais bonita. Ela o queria para ela. Com nome, certificado
e algum feitiço de livro que tornasse perpétua aquela felicidade cega.
Era pedir demais, não era? Ela não o pediria. Só queria um pouco de
felicidade... Acreditou nisso, e decidiu não pular dessa vez. Sentou-se
no chão frio e adormeceu. Descoberta.
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