sábado, 21 de junho de 2014

Aviso prévio

- Talita, pare.
- Você não entende. Eu não sou eu se eu não fizer essas coisas.
- Deixa de ser idiota. Nada disso vai te fazer mais feliz.
- E quem disse que eu quero ser feliz? Escuta, eu te amo. Mas eu não consigo viver essa vida, está bem? Essa não sou eu. Esses sorrisos, esse amor, essas margaridas e músicas alegres. Nada disso me pertence. EU NÃO AGUENTO VIVER ASSIM.
- E como você quer viver? Drogada na rua sendo fodida por qualquer um que passar? Sendo espancada, cuspida... ARG. Como você consegue aceitar isso para si, Talita?
- Porque eu sou essa pessoa. Eu já fui antes, e eu posso ser de novo.
- Mas você entende que eu não posso deixar você fazer isso?
- Você não vai ter que deixar. Não tem muito a ser feito. Eu vou acabar fugindo daqui. Admite, você sabia disso desde o início. Sabia que eu ia acabar fugindo.
- Detesto isso.
- O quê?
- Esse sentimento de incapacidade. Eu odeio. Odeio mais que tudo.
- Droga, Miguel. Eu não quero fazer isso pra te machucar. Ah, querido...
- Eu tenho o direito de ficar triste, não tenho?
- Tem, mas... Vem aqui. Fica aqui comigo. Eu não tenho escolha...
- Claro que tem, Ta!
- Não. Eu queria... Arg. Eu vou sentir sua falta. Não agora, mas vou.
- Se você fugir eu vou atrás de você.
- Eu não posso te impedir. Mas seria bom se não perdesse o seu tempo.
- Não vou saber viver sem você.
- O ser humano é capaz de coisas inacreditáveis.
- Eu consegui te encontrar.
- Você é um iludido. Mas eu gosto disso. Ai, meu deus, eu sou uma vadia sádica.
- Você pode ser o que quiser, eu ainda vou te amar. Ainda vou...
- Acho que eu também. Acho que eu vou te amar pra sempre, Miguel... Mesmo que eu nunca mais te veja.
- Como assim?
- Eu tô me despedindo. Mas não vou agora. De qualquer forma, adeus.
- Talita? O que é que você tá dizendo?
- Vai ficar tudo bem, eu prometo.
- Não vá.
- Boa noite, meu amor. Vamos dormir.

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