sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Ladrão descoordenado

Arrancaram todas
As cordas do meu piano
Branco.

E agora,
Toda vez que alguém me toca
Permanece
Um silêncio incurável.

E se me apertam
A tecla preferida,
Aquela com um arranhão no canto,
Não sai dó
Nem lá
Nem sol.

Agora, todo o som
Escandaloso
E desgraçado
Que eu fazia
Quando alguém descompassado
Me curtia
Soa como um baque surdo.

Uma melodia estapafúrdia,
Sem dança,
Sem gente
E sem batida.

Restou apenas
Um punhado de
Brancas e
Pretas
Que cedem
A qualquer dedo,
Sem nenhuma manifestação.

Toda música que eu tinha
Foi-se com o ladrão,
Que me levou três cordas
E me arrebentou o resto
Só por vandalismo.

Se alguém o vir,
Deixe que vá.
Mas ao menos me arrume
Um barbante,
Pra pôr no lugar.

E arrumar o
Ré, o
Mi, e o
Fá.

Porque o Si do canto,
Ninguém toca mais,
E todos acham que ela
Não vai funcionar.

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