sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Solidão amena

Há certos tipos de casas que dialogam comigo. Como se eu pertencesse mais a elas do que à minha própria casa, que já não é minha devido ao excesso de tempo em que permaneço nela.
A cada ano eu pertenço menos a cada uma delas, e em breve não pertencerei mais a lugar algum, senão a essa solidão interminável.
E isso vale para todos os corpos em que me abriguei, todas as paisagens, todos os bancos, toda as sombras, e todos os sons que já me foram lar.
Passo a passo eu vou me desfazendo em cada canto de pássaro, e de cômodo, até que não pertença aos meus próprios joelhos, aos meus próprios quadris, e aos meus próprios pulmões.
Daqui a pouco eu vou embora de vez. Sem casa, sem companhia, sem identidade.

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